quinta-feira, 17 de abril de 2014

O teatro e a existência humana

Os gregos antigos nos legaram uma forma própria de fazer política (a democracia), assim como a beleza das suas esculturas, ou das linhas arquitetônicas inconfundíveis e a sua filosofia, pressupostos da cultura ocidental. Entretanto, juntamente com todas estas contribuições, o povo helênico nos legou aquilo que seria uma das bases da estética ocidental, a arte da encenação, a arte da representação, o teatro. Como um vírus incrustado na alma humana, essa maneira de fazer arte, seguiu a história - desde os gregos ate os nossos dias - hora sendo levada às honras dos castelos, hora sendo perseguida pelas vielas da marginalidade. Dos ditirambos à commedia del'art, às operetas, passando pelos musicais, dramas e tragédias, monólogos ou diálogos, seculares ou religiosos, engajados ou sem qualquer pretensão política, a arte da representação levou multidões á catarse e à reflexão. Certamente, a arte em si não é algo que se encomenda sob tal ou qual medida; e, assim, pode-se pensar em música, em artes plásticas, em balé ou em literatura - aliás, o poeta não faz poesia sob encomenda, perderia a essência. A arte, como tal, deve surgir como o suspiro da alma artista que se expõe diante de um público sensível e esperançoso. Assim é o teatro, a arte mais completa. Isso porque uma encenação para ser elaborada na sua totalidade, precisa contar com as demais concepções  artísticas. A arte de fazer teatro conta com as letras - precisa haver um texto (mesmo que improvisado), precisa haver uma iluminação, precisa haver uma cenografia; e ainda, para que o ator desempenhe sua função precisa buscar a expressão corporal e vocal - a dança e o canto. Mas a arte teatral é completa não só por abraçar as demais expressões artísticas - a concepção estética, mas também pela inserção na política, na antropologia, na psicologia, na sociologia etc. O trabalho é inteiramente de equipe, para que a peça que se complete, é preciso que haja o dramaturgo, o diretor, o ator - passando pelo iluminador, o sonoplasta e o contra-regra.   E é assim que a feitura da encenação e apresentação leva os envolvidos a reflexões a respeito de suas próprias incerssões  no mundo social e mesmo existencial, quer seja este o ator, o diretor, o cenografista ou o publico. Isso acontece, mesmo havendo dicotomia entre os agentes e é natural que aja. Porque? A concepção de um situação teatral obtida pelo dramaturgo, não será a mesma que terá o diretor, que por sua vez nao será a mesma do ator e nao será a mesma do público que assiste. 

Um comentário:

  1. Perfeito. E no grande palco da vida, somos atores, autores e diretores desse espetáculo que nem sempre ganha aplausos.

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