quarta-feira, 31 de maio de 2017

Os Humanos, a Língua e as Sciedades

A língua é o principal veículo de comunicação, nascida com os humanos, responsável pela formação das sociedades e uma das mais importantes fontes de identificação; à frente mesmo das mas antigas identidades religiosas e territoriais. A partir dos primeiros grunhidos, dados de forma que levava o outro identificar como uma expressão da vontade de um emissor, os indivíduos se agruparam e se identificaram como parte de um todo. Só então surgiram as demais identidades culturais e, bem depois, com a sedentarização, a relação mais próxima com com o espaço territorial. Se um povo depende de uma língua que o identifique enquanto tal, ela depende também de um povo para existir como idioma vivo; ou, para sobreviver como origem de outros idiomas. Um exemplo é o Latim, uma língua a falada na antiguidade pelo povo romano, que sobreviveu como língua culta por toda a Idade Média e hoje é morta; talvez possa se dizer que sobrevive em alguns compêndios de Direito e raízes de palavras de cunho científico, juntamente com o Grego e o Árabe, se é que isso se pode dizer sobrevivência. O Latim vive sim, e forte, nas novas línguas como o Italiano, o Espanhol, o Romeno e o Português que nada mais são que o antigo idioma dos romanos alterado de acordo com as regiões para onde fora levado. Refletindo sobre isso o poeta português, Fernando Pessoa, teria chamado a língua portuguesa como "a última flor do Lacio", fazendo referência a uma região da península itálica, onde nascera o idioma. Mas se uma língua é viva, significa que está se moldando a todo instante; as pronúncias e as entonações se alteram no tempo e no espaço, além de o nascimento de novas palavras e, às vezes, com sentidos estranhos. Os brasileiros, os angolanos e os moçambicanos, há muitos anos não falam mais o Português tal qual se fala em Portugal; da mesma forma os estadunidenses e os neozelandeses não falam mais o Inglês falado na Inglaterra. Mesmo dentro de sociedades, instaladas em vastos territórios, falando uma mesma língua, os povos experimentam expressões diferentes de uma região para outra. Não muito raro, as pessoas são identificadas pelo que se chama de sotaque, com cargas de preconceitos de inferioridade ou superioridade. Um país como o Brasil, formado por pessoas de línguas tão diferentes como portugueses, africanos e índios, somando-se aos alemães, ingleses, árabes e japoneses criaram pequenos linguajares, pronúncias e entonações, as mais estranhas possíveis. Claro que nesse caso, a estrutura básica do Português permanece e a comunicação, alterada ou não, acontece.

segunda-feira, 29 de maio de 2017

Os Humanos, as Coisas e a Existência

Os homens vivem em um movimento constante, uma passagem que segue sempre do passado para o futuro, produzindo aquilo que se convencionou chamar de presente. Acontece que a felicidade, ou seus medos e as suas frustrações estão intimamente ligados a essa passagem continua, a esse movimento ininterrupto. Na verdade, os humanos são seres históricos, continuamente presos ao passado, mas que, nos seus fazeres cotidianos, sempre se projetam para o futuro. No entanto, esse último, o futuro, é um famoso desconhecido e, para melhor se projetar para onde ele está, as pessoas precisam mesmo é fincarem-se, firmemente, ao seu passado, às suas memórias. Acontece que, objetivamente, o tempo é uma construção mental, uma racionalidade metodológica, que visa controlar esse caminhar contínuo das existências de si e de tudo ao redor do humano; afinal, os porcos e as flores nada sabem e não se importam com essa tal tempo. Mas existem, vivem. Fincar-se ao passado significa ser fiel a si mesmo, ao seu próprio ser, aos seus valores, à sua cultura e à sua história. Quando alguém, ou uma leva de pessoas, por qualquer motivo, é deslocada de sua territorialidade e posta em novo espaço, vê-se fragilizado, estranho até mesmo de si próprio e, de imediato, cerca-se do que vê pela frente em busca da indispensável segurança. O tempo não existe, mas as coisas que cercam os humanos, e eles mesmos, existem. Isso significa que tudo um dia foi novo e um dia será velho e, então, tudo que existe está preso a um movimento constante. Afinal, se tudo que existe um dia surgiu, também um dia não mais existirá. Ou seja: tudo caminha do nascimento para a morte, cada coisa tem seu próprio movimento de existência; a pedra, a flor, os porcos e os homens, todos têm seus momentos. O futuro é inevitável, mas é um vir-a-ser e, por isso, está no campo do inconsistente, da dúvida, da incerteza e, daí, o medo do desconhecido. Nada se sabe sobre o devir, nem mesmo para um movimento muito próximo, muito curto, como é o caso de um segundo – por exemplo, quanto mais de anos e séculos, a não ser que tudo segue. O que existem nas metodologias são os prognósticos feitos no passado e cheios de expectativas para o futuro.

sexta-feira, 26 de maio de 2017

Da Liberdade

Da Liberdade Os pensadores existencialistas do século 20 afirmavam que "o homem está condenado a liberdade"; isso porque, a todo instante, consciente ou inconscientemente, é levado a tomar decisões. É verdade em parte, pois poderia se perguntar: as decisões foram livres? Afinal, a decisão tomada, por si só, ja define a liberdade? Ou ainda: qual foi, nessa ação, a manifestação da consciência? Acontece que se a razão é o grande instrumento humano de defesa e manutenção da existência - da elaboração de toda a ciência, de todas as teorias - há que se lembrar que, em alguns pontos, ela possui nós que impedem seus entendimentos. Pontos que, por mais que se busque, não há avanços, não há elaboração de conhecimentos, como é o caso da tentativa de explicar o tempo, o espaço, o agente e a liberdade. O pensador alemão, Emanuel Kant, chamou isso de "antinomias da razão". Quando alguém decide por "a" em vez de "b", mesmo que sua decisão, aparentemente, não tenha a determinação de outro no processo, mesmo que não haja alguém dizendo para que se tome essa ou essa decisão, pode-se não estar sendo livre. Ora, tudo que se faz é decidido pela vontade, quer seja daquele que tem a vontade ou daquele que executa. Caso a ação fora feita por aquele que teve a vontade se diz que houve liberdade. Mas essa vontade pode ser dirigida, pode não ter autonomia. Nesse caso o indivíduo pode ser induzido por uma ideologia política ou por preceitos religiosos. Pode também ser determinada por medo, por ambições, por necessidades criadas pela economia e uma série de outros situações. As pessoas gostam de se dizer livres, mas em geral, estão muito distantes daquilo que se poderia chamar de liberdade, por não perceberem a complexidade do conceito que transita pelas dobraduras do real. Nas relações humanas modernas, com seus pensamentos de uso da razão, a noção de liberdade ficou cada vez mais obscura e de difícil entendimento. Se não impossível. Em geral as pessoas deixam de fazer aquilo que de fato querem, deixam de dar autonomia às suas vontades por previdência; ou seja: medo de que aquilo que buscam pode levá-los a situações de sofrimento, de mais insegurança e de frustrações. Afinal, se a previdência é o vislumbre de um sofrimento futuro que leva ao medo há, portanto, a uma alteração da vontade. E havendo uma direção da vontade não há liberdade.

quarta-feira, 24 de maio de 2017

Terrorismo, Conceito e Dominação

A comunicação é o que amarra as pessoas, umas nas outras, e forma o que se chama de sociedade. E é por ela que os indivíduos transmitem as sua angústias, os seus saberes e suas noções de verdade - tanto daquilo que acreditam, quanto daquilo que querem que acreditem. Sempre se disse que as pessoas precisam ser bem informadas pois a comunicação é fundamental para que se entenda o desenlace das coisas a sua volta. O que é uma meia verdade, tendo em vista a complexidade do fenômeno da comunicação: as informações são importantes para a direção de um indivíduo, mas ela pode ser distorcida daquilo que aparece, conscientemente ou não. Dependendo da comunicação que perpassa a sociedade, pôde-se estar fazendo o jogo de um dos lados do conflito. O conceito, por exemplo, é o sentido que se dá a uma determinada palavra e as pessoas dão os sentidos de acordo com suas ideologias, suas crenças, seus costumes etc. Um exemplo disso é a palavra terror e sua extensão, terrorismo, um conceito carregado de desinformações e preconceitos quando usado para se referir às ações dos grupos islâmicos, por exemplo. Em outras situações também: na história do Brasil usava-se a palavra terrorista para designar aquelas pessoas, ativistas políticos, com posições políticas contrárias aos governantes que os perseguia. Aliás, quando se aplica tal palavra, automaticamente está se posicionando em um dos lados do conflito; os jovens que combatiam os governos militares no Brasil dos anos 60 e 70 não se viam como terroristas, mas como brasileiros patriotas a defender a sociedade dos desmandos militares; a mesma coisa entre os povos islâmicos, a única arma de defesa que os ativistas religiosos encontram para combater os ataques de todas as bombas e domínios políticos e econômicos do Ocidente contra eles - matando homens e mulheres, crianças e velhos - é atacando também. Ora, a complexidade da comunicação está exatamente no sentido que se dá aos conceitos, consciente ou não, de acordo com as vontades e os interesses de cada um. Isso quer dizer que a comunicação é sim a única forma de ligar os indivíduos, uns aos outros, mas precisa ser pensada também enquanto instrumento ideológico, já que essa sociedade pode ser coerente, livre de preconceitos, com indivíduos conscientes, sabendo para onde caminham, ou presos em interesses de alguns poucos espertos.

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Habermas, o Estado Moderno e o Direito

Um dos maiores pensadores vivos é o alemão Jürgen Habermas (1929), uma mistura de sociólogo e jurista, pertencente à chamada Escola de Frankfurt, um grupo de filósofos que se associaram a outros pensamentos além do de Marx, como Hegel, Freud, Weber e outros, tecendo o que ficou conhecido como Teoria Crítica. O grupo se organizou como Instituto de Pesquisa Social por volta dos anos 20 em torno de grandes nomes como Theodor Adorno, Herbert Marcuse e Walter Benjamin; se desestruturou durante a Segunda Guerra, mas logo fora refeito no início dos anos 50. A contribuição de Habermas está na crítica às sociedades modernas com sua racionalidade, sua burocracia e seu cientificismo. Para isso, ele divide as sociedades em duas, as tradicionais e as modernas: as primeiras, unidas por um tipo de comunicação estabelecida pelos mesmos tipos de orações, histórias, crenças e rituais; e, as segundas, por uma comunicação orientada pela racionalidade burocrática e científica. Acontece que, com a comunicação das sociedades tradicionais, as pessoas viviam um consenso quando pensavam o que queriam, ou para onde iam; no caso da comunicação das sociedades modernas, as pessoas vivem, ao contrário, um dissenso, uma dispersão. Nesse segundo caso, o direito/democracia será a única possibilidade de coerção social, de consenso, se é que, mesmo assim, seria possível. Dessa forma, o estado de direito é fundamental, inevitável, em uma sociedade moderna, racionalizada, já que as honras, os mitos e as orações não mais conseguem a consonância entre os membros da sociedade. Mas, se ele não faz a crítica exata de Marx de que o estado moderno é um instrumento de dominação burguesa, mostra que é ambíguo: tanto pode abrir-se para a defesa dos interesses das classes menos favorecidas, como pode servir de um engodo, uma farsa que esconde os projetos de dominação de grupos. Nesse caso, de que estado moderno ele estaria falando? Tanto o estado liberal quanto o estado social tem intrinsecamente os seus pecados: o primeiro aprofunda as desigualdades com a não distribuição de riquezas, o segundo, mesmo indo ao encontro das necessidades básicas das pessoas (saúde, educação, segurança etc.), tem se fechado em uma burocracia estatal intocável. Para Habermas, é necessária a participação em grupos, como é o caso dos movimentos de mulheres, de negros, de homossexuais, entre outros, como instrumento de pressão aos políticos e burocratas que comandam o estado.

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Guerras e Transformações

Todas as pessoas, em boas condições mentais, defendem um estágio social de não guerra. Ninguém, em sã consciência, quer uma situação de mortes por todos os lados, de deportações, de torturas e o som ensurdecedor das explosões que eliminam milhares de homens e mulheres, crianças e velhos. Todos são contra a guerra. Mas, para fazer uma análise dessa natureza, é preciso levar em conta que não existe um estágio pleno de paz, de completa harmonia. Alguns defendem com veemência um estágio de não guerra já que são adeptos de uma corrente de pensamento chamada de pacifismo, o que é louvável; alguns acreditam mesmo na possibilidade de um momento em que se viveria em plena harmonia, como em uma terra sem males. Por isso, qualquer análise sobre o fenômeno da guerra exige cuidado não só com o objeto, mas também com o método. Em primeiro lugar é preciso dizer que sim, a guerra é um evento de intenso conflito entre os indivíduos, cruel e é o momento em que as relações políticas já se encerraram e as leis positivas já não dão mais conta de entendimentos e o que vige é a lei da selva: vence o mais forte. Em segundo, é mais que uma situação conflituosa, é momento de mudanças, de alterações de paradigmas, de novas relações, de desmontes das estruturas, de desfazer sistemas e reconstrução de novas linhas de ação. Não se trata aqui de tecer apologias à guerra em si, mas de apontá-la como fenômeno natural e humano, necessário e inevitável, diante das relações sociais, como impulsionador das grandes transformações. Claro que paira aí um paradoxo: de um lado a crueldade, a prepotência e toda a sorte de desacertos e, de outro, o motor social dos grandes avanços e mudanças sociais. Isso significa que as sociedades que não passaram por grandes lutas intestinas, ou com grupos estrangeiros e não viveram os conflitos próprios de um grande evento bélico, mantém em seu seio os conflitos, próprios das relações internas, com pessoas incapazes de perceberem o outro, falta de urbanidade e mesmo de pessoas sem a capacidade de percepção das suas próprias condições existenciais. A guerra, em sua crueldade, arranca boa parte dos preconceitos, dos maus hábitos e provoca nos indivíduos um pouco mais de entendimento de que todos a sua volta são pessoas com as mesmas necessidades que os demais.

quarta-feira, 17 de maio de 2017

Novas Tecnologias, Blogues e Mudanças no Comprtamento

Cada vez são mais perceptíveis os avanços tecnológicos nas mas variadas áreas: das automações industriais às transmissões de comunicação ao vivo de um lado ao outro do Planeta, ou das novas intervenções cirúrgicas médicas às manipulações da internet e de toda a tecnologia de informação. E essas mudanças são fenômenos que impulsionam mais e mais alterações, tanto nos comportamentos e atitudes em relação às informações, quanto nos procedimentos cotidianos, de lazer e dos estudos. Com a queda do jornalismo radiofônico, impresso e/ou televisivo, surgiram as chamadas mídias digitais, os grandes sítios de notícias e os blogues. Muitos blogues. Esses anos, que parecem o final dos tempos modernos, trazem uma nova maneira de ser com mais interatividade nas ações: a partir de um blogue, ou de uma mídia social qualquer, as pessoas podem expor suas maneiras de ver o mundo é o comportamento das pessoas ao seu redor. Isso tem dois lados a serem analisados: de um a possibilidade de interação, com grande facilidade de publicação, de outro, gera-se, uma multiplicação de pensamentos não refletidos, emitidos sem qualquer elaboração mais preocupada. O diferencial nesses tempos é que todos viram agentes ativos no processo de comunicação social. O problema é que a própria ideia de interatividade exige do agente a capacidade de julgar o que deve ser retido na sua mente e o que deve ser descartado, o que pode ser publicado e o que não pode. Aliás, junto com todo o avanço tecnológico que se observa, caminha o avanço do descarte tanto de lixo doméstico, quanto industrial, de equipamentos eletrônico e de ideias e concepções de mundo; seria isso a "modernidade líquida", de Ziegmunt Bauman? A verdade é que a comunicação foi a grande responsável pela formação dos grupos humanos como um fenômeno aglutinador, uma massa que "acimentou" as necessidades da vida em sociedade. Tem sido assim nos grupos tribais e nas civilizações: ou molda os indivíduos em seus mitos e relatos do sobrenatural e do dia a dia, ou racionaliza as ações e os entendimentos, como foi o caso da modernidade. As inovações tecnológicas atuais atingiram a ordem da comunicação humana e quando isso acontece a sociedade muda por completo. Isso porque, se muda a comunicação, mudam os comportamentos, mudam os entendimentos de mundo e, com eles, a ordem econômica, as relações sociais e a estrutura burocrática e concepções políticas.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

O Jornalismo na Berlinda

Os veículos de comunicação social (jornais, revistas, rádios e televisões) que foram um fenômeno nascido no seio da modernidade, como instrumento da racionalidade, e ordenador das sociedades, nesses tempos atuais dão sinais de decadência. Mas é praticamente impossível falar dos chamados meios de comunicação de massa sem levar em conta os avanços científicos e tecnológicos atingidos pelas sociedades, as complexidades burocráticas, os novos tipos de lazer e até de comunicação. Mas ao falar em comunicação social faz-se necessário falar de uma categoria que desde os primeiros tempos foi a responsável em fazer esse novo setor acontecer como profissão destemida na busca de provas, agindo com neutralidade e preocupação social e humanística. Alguns desses jornalistas, foram profissionais que chegaram a condição de grandes intelectuais premiados, respeitados em seus países e mesmo no exterior. No entanto, num ciclo existencial, a comunicação social da era moderna ergueu-se como fenômeno que deu o ponto dos grandes eventos mundiais e vem caindo vertiginosamente a cada dia. Muita discussão tem sido feita a esse respeito, mas o fenômeno da comunicação social não existe em si mesma, quem faz o dia a dia do jornalismo, na turbulência das redações, são os profissionais em uma relação direta com a empresa jornalística e os fatos a serem noticiados. Em outras palavras: a decadência da imprensa tem uma relação direta entre a sede de lucro, e necessidade de influência política, e a atitude de uma categoria que se submete aos caprichos das chefias a ponto de os donos das empresas jornalísticas não mais exigirem obediência. Talvez isso se deve pelas dificuldade no mercado de trabalho, mas também por uma insipiente passagem pela universidade; com uma fraca noção sociológica, política e antropológica, os jornalistas, em sua maioria, têm se mostrado uma categoria servil, parcial e, em alguns momentos, desonesta. A categoria, nos anos 70, foi regulamentada com exigências de formação superior para a atuação e, posteriormente, foi desregulamentada para servir aos interesses dos grandes conglomerados de comunicação e tudo foi aceito passivamente; não há notícia de qualquer movimento contrário. Como resultado, profissionais de determinadas empresas jornalísticas incorporaram um discurso, em uma pratica jornalística, de defesa de teses ideológicas muito além das suas condições sociais, de modo que se tornaram reacionários a qualquer avanço social mais radicalmente que os proprietários dos meios de comunicação, de quem se poderia esperar.

sexta-feira, 12 de maio de 2017

A Desorientação Política e a Sociedade Sem Partido

Desde o inicio das civilizações, quando surgiram os primeiros governantes, surgiram também os primeiros partidos, uma parte da sociedade que se posiciona a favor do príncipe governante e, outra, contrária. Surgiam, os primeiros partidos. Mesmo que sejam posições que desagradam os privilegiados, os bem-nascidos, os que sempre sonharam com a aceitação geral da sua condição, esses esquecem que as sociedades, como uma característica natural, se organizam politicamente em partidos, mesmo involuntariamente, mesmo que o individuo não saiba o que isso signifique. Somente na modernidade foi que as parcelas de lados antagônicos, democraticamente, puderam se organizar em partidos políticos, tal qual se conhece nos dias de hoje. Democraticamente, porque ter um entendimento do que os governos realizam, ou deveriam realizar, faz parte da alma humana que vive em sociedade, independente do nível de instrução da pessoa e havendo ou não uma instituição para chamar de partido. Atualmente, alguns “desorientados políticos” propõem uma Escola Sem Partido, mas quando o fazem esquecem que isso é impossível, já que faz parte, naturalmente, da condição humana. Porque quando alguém defende uma Escola Sem Partido está a tomar partido; mesmo que esse seja o partido dos sem partido. O que se quer com isso, na verdade, é não se posicionar politicamente e fazer o jogo daqueles que querem manter privilégios diante dos demais. Hoje, além de Escola Sem Partido, se fala em Sindicato Sem Partido, OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) Sem Partido, Igreja Sem Partido etc. Certamente que muitos dos que fazem essa defesa o fazem por desconhecimento de causa, por possuir uma visão simplista de relacionar partido com uma determinada sigla partidária em particular. Até porque são pessoas que fazem tais defesas, mas nem de perto fazem parte do núcleo reduzido dos privilegiados. Puro desconhecimento. Puro desconhecimento, porque se fosse para falar dessas instituições sem partido dever-se-ia falar também de outras que, declaradamente, têm demonstrado posições políticas fortes: Judiciário Sem Partido, Exército Sem Partido, Mídia Sem Partido etc. É ingênuo pensar que isso seja possível porque desde os primórdios das civilizações as pessoas se posicionam não só politicamente, mas também partidariamente. As pessoas são dotadas de racionalidade e, naturalmente, tomam um lado de tudo, tomam partido, em qualquer circunstância

quarta-feira, 10 de maio de 2017

O Banco e o Capitalismo

A decadência do sistema capitalista de produção é visível em todos os seus níveis: social, político e econômico. De um lado o estado moderno, feito a sua imagem e semelhança, como forma de lhe dar sustentação, começa a demonstrar suas contradições e fragilidades, de outro, a máquina burocrática do sistema emperra e suas engrenagens comerciais e financeiras dão sinais de desgastes. O único que tem demonstrado condições de sobrevida, muito além dos demais, é o sistema bancário; enquanto outros setores caminham dependendo da capacidade de importação e exportação de cada país, assim como da capacidade de consumo da população, esse consegue aumentar seus lucros sempre. A despeito da situação da indústria, do comércio e dos serviços, o capitalismo financeiro vive das transações de valores de uma pessoa para outra, de modo que, em grande parte, independe da capacidade de produção. Aliás, por mais que os bancários falem "em nossa cesta de produtos", o banco não produz; antes, pelo contrário, vive da produção dos outros setores. Desde os tempos das feiras medievais, quando um corretor financeiro sentava em um banco trocando dinheiro de um feudo pelo de outro e, assim começando a atividade bancária como se conhece hoje, os bancos só cresceram. Isso foi possível porque não se preocupa com preço da mercadoria, com transporte, com depreciação de produtos, tempo de validade, quantidade de estoque etc. Quando se fala que o sistema capitalista de produção está em franca decadência é porque, mesmo esse setor que sempre foi favorecido, como o coração da economia, começa a mostrar suas fragilidades. Os bancos hoje já não querem ganhar mais só na transação estipulada por lei, mas cria a todo instante, artifícios para drenar o dinheiro dos correntistas para as suas contas; e pior, faz isso impondo um discurso de retidão, de coerência e dedicação. Para o usuário do banco provar que aquele dinheiro foi-lhe tirado indevidamente e tentar reave-lo terá que passar por uma "via crucis", de tribunal em tribunal, de forma que se desestimula. O que acaba acontecendo é a sua desistência e o lado mais forte acaba vencendo e o lucro da casa bancária aumenta de forma avassaladora. Mas isso demonstra fragilidade do sistema como um todo porque já corre solto, sem empecilho que lhe entorne, que o direcione. Se em uma época foi necessária a lei para a segurança do sistema, agora demonstra o desmoronamento quando um dado setor consegue fazer a lei que quer e burlar a que não quer, quando assim pensa que deve ser.

segunda-feira, 8 de maio de 2017

Entre a Solidão e a Paz

Dois conceitos necessários para uma análise das condutas humanas e o entendimento do espírito de cada indivíduo: a solidão e a paz. Os dois designam a condição de vida de uma pessoa isolada da multidão; a diferença parece estar na forma como cada um encara a vida na distancia dos demais membros da espécie. Têm-se dito que o que faz os humanos, diferentes dos outros animais é a sua condição de vida em grupo, a sua vida em uma totalidade; ou seja: é no grupo que acontecem os aprendizados necessários para o seu tipo de ser. Sim, se as abelhas e as formigas, ditos animais sociais, têm os seus papéis e funções descritas geneticamente em sua condição natural, as pessoas dotadas da tal racionalidade necessitam de convívios para o aprendizado. Isso quer dizer: as pessoas, naturalmente, são seres individuais. Portanto, a vida em grupo - na construção de uma condição humana - torna-se indispensável para a sua formação. Isso justifica o sentimento de solidão que as pessoas sentem quando vivem por um período muito longo distante das demais; é como se fizessem falta nessa sua construção permanente. A falta das pessoas leva o indivíduo a sentir-se triste e, por vezes, até doente. Mas essa solidão pode ser voluntária também, pode ser oriunda de uma vontade; o que, para muitos, não deve ser classificada como solidão, mas como uma busca de paz de espírito. Mas essa busca da tal paz acontece quando o indivíduo se percebe em uma vida tumultuada, cheia de interesses por parte dos demais. Alguns se isolam completamente ou permanecem em pequenos grupos de monges, numa vida ascética, outros, se isolam totalmente e assim permanecem por longo período, distantes de qualquer traço dos demais de sua espécie. Nesse caso, por mais que os humanos necessitem um do outro para a construção de suas vidas, suas culturas e suas tecnologias, por mais que os humanos sejam construídos socialmente, o excesso de interferências de outras pessoas parece levá-los ao desejo de afastamento. Se o animal homem não é naturalmente social, mas escolhe viver em grupo por melhores condições, em algum momento busca suas origens de animal, individual, e almeja a solidão. Por isso, os dois conceitos estão presos em mesmo paralelo: a paz solitária que se almeja, ou a solidão, da qual alguns se queixam, parecem apenas fruto de uma de posição de indivíduo, uma condição do espírito diante da situação que se apresenta.

sexta-feira, 5 de maio de 2017

O Fim do Capitalismo

O regime capitalista deu as linhas da era moderna, ou porque os objetos e utensílios aos quais se fizeram uso nesse período estiveram sujeitos ao mercado, ou porque os comportamentos das pessoas, suas instituições e suas leis estiveram submissos ao sistema econômico. As práticas do dia a dia, mesmo aquelas mais caras para a população, frutos de antigas tradições milenares, de ordens fraternas e religiosas, sofreram profundas alterações, ao obedecerem aos ditames economicistas. Como uma torrente avassaladora que soergue tudo, e leva consigo o que se encontra pela frente, esse regime moderno arrancou as bases aos quais se fincavam a estrutura social do Ocidente, não só a cara da Europa, mas criou a América e alterou o Planeta. E, mesmo se vendo ao longe a decadência do sistema, não se pode aventurar a analisar a sociedade moderna sem levar em conta todo o sistema de compra e venda de mercadorias. Sendo assim, não é mais possível conceituar arte – música, teatro, cinema, artes plásticas etc. - sem levar em consideração o papel econômico exercido sobre a produção artística; não é possível falar de fé, ou de uma ligação entre criatura e criador, sem levar em conta as diferenças econômicas entre fiéis e o papel institucional de certas igrejas de camuflar tais relações. Se isso não bastasse, nas universidades, centros de excelências científicas, professores se engalfinham na disputa de verbas para os seus projetos nebulosos e, muitas vezes sem qualquer função social. Aliás, alguns se arvoram e gritam em bom tom que a ciência tem a razão em si mesma, que não deve estar submissa a uma função social. Até mesmo a Filosofia, refúgio da alma recôndita da humanidade, por vezes sucumbe diante dos ditames economicistas incrustados nessas mesmas universidades e sedem a busca pelo saber por cargos burocráticos, matérias jornalísticas elogiosas, ou viagens e roupas bonitas. O interessante é que se percebem os desajustes aos quais a sociedade se meteu e alguns gritam por socorro; artistas, religiosos, juristas, sociólogos e filósofos mostram a todo instante o desarranjo social e cultural que se seguem nos dias de hoje. Vê-se a olho nu a decadência do sistema econômico, deixando sem sustentação as relações sociais e políticas trazidas até o presente momento.

quarta-feira, 3 de maio de 2017

Humanos, Mentiras e Frutrasções

O medo, a frustração e a mentira são sentimentos e ações que fazem parte da natureza de homens e mulheres, já que não se percebe da mesma forma nas relações dos demais animais? Uma outra pergunta: seriam as outras espécies, não racionais, por isso, mais felizes? Respostas, talvez, intangíveis, mas a verdade é que, em maior ou menor intensidade, as pessoas sentem medo, se frustram e, por esses motivos, mentem. A razão disso é que, para muito além da vontade de sobrevivência que move os humanos, da necessidade de sexo, de procura por alimentação, de sono e de água, as pessoas necessitam grandemente de se destacarem umas diante das outras, parecerem atraentes, cobiçadas etc. Satisfazem isso se vestindo melhor, se perfumando mais, se penteando adequadamente, procurando morando em uma casa interessante ou dirigindo o melhor carro que consiga comprar e, assim, se consideram acima dos demais. Mas se destacar diante dos demais membros da espécie quase todos os animais parecem querer, principalmente os machos diante das fêmeas, quando estas estão prontas para o acasalamento. Dessa forma, o destaque, o aparecer atraente, o querer ser cobiçado, acaba fazendo parte da luta animal pela existência e manutenção da espécie e os humanos desfilam nesse ranque como outros quaisquer A diferença dos humanos com relação aos demais seres animais é que, de posse dessa tal razão, esses burlam a regra de manutenção da espécie, quando não consegue destacar-se, quando não conseguem parecer interessantes diante dos demais seres da sua espécie, passam a inferiorizar o outro, ou os outros, conforme for a necessidade. E, assim, com o mesmo ímpeto com que se põem a justificar os fracassos cometido em suas lutas, põem-se a desqualificar aquele, ou a sua corporação, que por algum motivo logrou êxito. Se a mentira é realidade própria da condição humana nos seus entreveros, provocados pelo medo, o que não inferioriza ninguém; mas ela também pode advir da frustração de não ter chegado aonde se quis, de não se ter chegado aonde planejou. Nesse segundo caso, é uma degradação da dignidade humana, um paradoxo: um ser que primeiro se eleva à condição de filho, criatura feita a imagem e semelhança de um deus e, a seguir se diminui quando inferioriza o outro como única forma de ele próprio parecer grande.

segunda-feira, 1 de maio de 2017

Tomás de Aquino: Fé e Direito

O pensador italiano, Tomás de Aquino, o grande intérprete do Aristóteles, figura entre os maiores filósofos de todos os tempos; mesmo que seu pensamento esteja vinculado à religião, como bom medieval, e com o título católico de santo, sua obra enveredou por caminhos do direito, da ética, da lógica e da epistemologia. Santo Tomás de Aquino, como ficou conhecido, nasceu em 1225, no castelo de Roccasecca, região do Lacio e, aos 15 anos, tornou-se discípulo de Santo Alberto Magno, na Universidade de Colônia, onde se formou em Teologia. Em sua obra principal, Suma Teológica, ele expôs os assuntos mais relevantes sobre a fé e o conhecimento filosófico ocidental, mostrando a relação entre o Cristianismo e a filosofia clássica grega, tendo o pensamento aristotélico como fundamento. Tomás de Aquino buscou a prova da existência de Deus trazendo à tona a metafísica de Aristoteles: se nada pode surgir do nada, assim como nada pode fazer a si próprio, tudo teve que ter alguém que o faça. Se tudo tiver que ser feito por outro, isso tende ao infinito - 1 foi feito por 2, o 2 feito por 3, já o 3 feito por 4... Mas se o infinito não existe, Aristoteles determina que o começo de tudo é o motor inicial, aquele que é ato puro. Santo Tomás afirmou que aí está a grande prova da existência de Deus, o motor inicial de Aristoteles é Deus, aquele que foi o motor primeiro de tudo o que existe. No campo do Direito o pensador italiano estabeleceu a existência de três leis: a humana, a natural e a divina; os humanos fazem suas leis baseadas nas leis da natureza, nas quais possuem algum conhecimento; as leis naturais são baseadas nas leis divinas, às quais os homens não possuem qualquer domínio. E ainda questiona: "o que é mais conveniente aceitar as leis ou os homens." Nesse caso ele está afirmando que os homens fazem suas leis baseadas nas convenções e necessidades e os homens devem segui-las porque foram feitas para além dos fatos concretos; seguir os ditames dos homens é seguir as suas frustrações, seus medos, suas paixões. No campo da epistemologia ele foi o que seria chamado pelos ingleses, mais tarde, de empirismo; ele afirma que nada vai ao intelecto que não tenha passar antes pelos aparelhos sensoriais. A igreja católica não aceitou de imediato as teses do Dr. Angelicus, como ficara conhecido, mas depois aceitou, santificou-o e pôs seus livros no altar, no século XVI os reformadores o execraram por completo.