segunda-feira, 31 de julho de 2017

Os Estados Undos e a América Latina

Há algumas décadas o mundo estava bipolarizado, eram os tempos da Guerra Fria. Mas, depois, outras potências foram se posicionando no tabuleiro político e se tornaram também de extrema importância para a configuração mundial. Mesmo assim, nos tempos atuais, de múltipla polarização, de uma forma ou de outra, não se pode falar da história mundial sem se referir aos Estados Unidos da América. Baluartes do regime capitalista, esse país impôs ao mundo a sua versão, unilateral, de moda, de arte, de fazer política e até de expressão religiosa; e faz isso de modo muito subliminar, de maneira que passa despercebido as verdadeiras intenções. E o resultado é configuração mundial como se o planeta fosse comandado a partir de um neo-colonialismo, agora muito mais cruel e articulado, de forma tal que não se tem muitas maneiras de fugir. Parece que todas as portas da realidade desses tempos levam a um enaltecimento aos "irmãos do Norte". Nessa força de dominação figura a parte da América que é chamada de Latina que, por força dessa situação, já perdeu a condição de americano e chama mesmo aos estadunidenses de "americanos" - como se eles próprios não fossem - e consomem os produtos daqueles país como sendo, por si só, o melhor. Nessa condição, ser dos Estados Unidos é quase uma marca. Os idiomas Português e Espanhol podem ser falados com erros, mas ninguém pode se atrever a errar o Inglês, pois isso será uma situação vexatória. Se aparecer por essas bandas alguém que, por ventura, carregue um sotaque do idioma daquele país será, de imediato, apreciado e agraciado por essa simples razão. Certamente que s Estados Unidos da América é uma potência econômica e militar mundial e por isso se impõem aos demais países. Nada mais natural, já que muitos povos tem isso como ponto a ser buscado. Os países negociam entre si, trocam seus produtos, compram e vendem. A questão posta é os povos se subjugarem de forma tão fácil, gratuita e reforçada por elites locais que são privilegiadas com essas condições. Esse modo de dominação é uma espécie de um novo escravagismo, agora sem algemas, sem ferros, mas com tendências e pensamentos que penetram na alma das pessoas e se impõem de forma não aparente. Mas dominadora. Acontece que quando um povo declina de sua própria cultura e assume a do outro como sua, ele entrega a própria vida como o condenado sobe ao patíbulo e entrega-se á morte; com a diferença que, nesse caso, louva-se o carrasco e beija-lhe a mão.

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Ciência e Humanidade

Por mais que um professor em sala de aula, ao iniciar uma disciplina, fale de imediato como era na Grécia, na Roma ou no Egito de antigamente, o que se entende como ciência hoje é bem diferente do que fora entendido antes. Na antiguidade o que se chama hoje de Matemática, de História, de Política ou de Física, era um conjunto de conhecimentos, agrupados em uma dada área, estudada por interessados que liam a respeito e viajavam para ouvir de um sábio tópicos relacionados. O que se entende por ciência na atualidade está ligado diretamente com a profissão (o modo de vida a partir da execução de um ofício) e status social de um lado. De outro, é poder, um modo de interferir na vida das pessoas fazendo a execução de trabalhos necessários ao funcionamento da totalidade da sociedade. Algumas áreas são imprescindíveis, sem as quais não seria possível o funcionamento da estrutura burocrática, educacional, sanitária, médica etc. Por sua vez, as diferentes áreas da ciência, com o tempo, foram se fracionando e dando origem a muitas outras; algumas replicando e tomando lugar de destaque no panorama intelectual como é o caso da Oceanografia, Gastronomia, Geologia etc. Outras foram sendo formadas a partir da percepção de necessidade, como é o caso da Sociologia, da Biologia, da Antropologia, da Psicologia etc. Mas algumas áreas de conhecimento sobrevivem no interior de outras, como é a Fenomenologia, a Ontologia, a Genealogia etc. Todas as áreas de conhecimento, e suas subdivisões, por um lado, foram importantes pois tornaram possível os avanços tecnológicos em vários setores e continuam a avançar, por outro, as especializações impedem, cada vez mais, a relação com o todo. O grande perigo é a perda de noção das consequências de grandes descobertas científicas para com a totalidade, já que o especialista sabe tudo sobre uma parte e, em geral, nada sobre outras; nesse caso, outra área que é afetada. A discussão de ordem filosófica do momento é exatamente o pensamento a respeito dos avanços científicos e as suas consequências econômicas, políticas, culturais etc. A humanidade se tornou grande, complexa, com uma população que cresce a todo instante, ficando insuportável a sobrevivência sem os conhecimentos científicos acumulados nesses milênios de civilização. Resultado disso: a racionalidade construiu esse fenômeno que chamou de ciência, perigosa, mas não pode prescindir dela.

quarta-feira, 26 de julho de 2017

O Capitalismo, Seu Fim?

O sistema econômico capitalista é um regime social baseado, fundamentalmente, na acumulação de capital e tem sido um divisor de águas, na história política da humanidade. Um dia abriu confrontos terríveis entre liberais e absolutistas - os primeiros eram revolucionários e, os outros, os reacionários; depois, os antigos liberais viraram reacionários que, então, passaram a reagir às tentativas revolucionárias dos socialistas. Alguns sociólogos, cientistas políticos e economistas tentam entender porque esse regime emplacou no Ocidente e cresceu até tomar conta de todo o Planeta, de modo que as civilizações atuais ou estão totalmente imbricadas com o regime ou, de alguma forma, são dependentes dele. A explicação mais plausível é de que sua sustentação está calcada no egoísmo, um dos piores defeitos da humanidade, a competição com tudo e com todos, na eterna busca por satisfazer as suas próprias necessidades. Mas entre as mais cruéis realidades sociais produzidas pelo regime capitalista, decanta-se alguns pontos relevantes, como a concorrência, por exemplo. A mesma disputa, alojada na essência do sistema econômico, tem feito a humanidade dar a sua vida pela busca desenfreada por mais e mais enriquecimento, mas também é o seu pior defeito, ponto vulnerável, que pode levá-lo sucumbir. O egoísmo é mesmo algo iminentemente humano e as pessoas que não o são, só não o são por um movimento de força contrária, muito forte, na vontade de ir ao encontro da necessidade do outro. Acontece que o regime produziu uma ideologia que potencializa grandemente essa preocupação consigo, esse narcisismo, e encima disso construiu uma maneira de ser e de agir que caracterizou o mundo moderno. No entanto, é esse mesmo pensamento egotista, de busca da competição, de se pensar como único, que acabou construindo o ponto falho do regime econômico, político e social. Como há uma necessidade constante de crescimento, como base de sua sustentação, depois de crescidos os competidores acabam disputando entre si e, numa autofagia constante, se auto destroem. Como todo e qualquer regime social, o capitalismo necessita do maior consenso político possível, as pessoas precisam acreditar que o caminho é esse, por isso constróem-se as ideologias que são mantidas e alimentarás pelos grandes sistemas de comunicação. E aí, com o acirramento das competições, inevitavelmente uma voraz autofagia de todos os controladores surge no processo de produção e haverá uma constante destruição de todos contra todos e o fim do sistema parece inevitável. Dobras, Franjas e Platôs

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Todos Mentem

Das afirmações que as pessoas fazem todos os dias, bem poucas são verdadeiras, mas se perguntar a qualquer uma delas sobre mentira, engano ou traição, todas serão categóricas em condenar tais conceitos em nome de uma ética e dos bons valores. Por outro lado, ao ouvirem uma mentira, algumas pessoas são absolutamente enganadas, e isso acontece a todo instante, mas outras não, ao ouvirem uma afirmação falsa, decidem por fazer de conta que estão vivendo o real. Preferem autoenganar-se. Mas também, se a mentira é o ato ou efeito de dizer o irreal, o falso, o não verdadeiro, não se pode pensá-la como algo sempre reprovável por aqueles que a ouvem, ou a falam. Isso porque pode haver uma naturalidade na mentira e até uma bondade; em alguns momentos as pessoas não só preferem, mas necessitam ouvir a mentira. Afinal, ninguém quer sair apontando as falhas, ou erros, daqueles com quem convivem: "como tu estás linda", "tua apresentação muito foi boa", "demonstrastes muita competência" e todas essas frases de incentivo que se diz comumente. Nesse caso, o ato mentiroso, pode ser um ato de bondade, de aconchego e até de aceitação do outro do jeito que ele é. Mas as pessoas também mentem, traem, enganam umas às outras, para safarem-se das suas contradições e, pior, para não terem de fazer alguns enfrentamentos necessários, ou até para levar algum tipo de vantagem. É essa mentira, é essa enganação, uma atitude contrária a expectativa do outro, prejudicial, a grande traição e que resiste a toda tradição histórica da civilização humana, por milênios. Mas mesmo que se diga que "a verdade vos libertará" e que toda uma civilização fora erguida, com sua cultura, ciência, tecnologia e história, sob a égide de verdades racionais, os humanos mentem. Todos. E o fazem por não saberem lidar com a realidade com que se deparam; quando afirmam as pessoas se auto-induzem a acreditar naquilo que afirmam; e aqueles que ouviram, se afirmam a partir do que ouviram. Nesse caso, duas realidades se apresentam: uma subjetiva, construída pelo imaginário e, a outra, coisa em si. Como os humanos não trabalham, não levam em conta, a coisa em si, mas o fenômeno extraído do objeto - olfato, tato, paladar, audição e visão - que, na mente, constantemente refazem as informações recebidas. Em outras palavras: todos os momentos que o real se impõem para indivíduo como algo difícil de aceitar, foge-se de imediato da coisa em si, constróem-se fantasias e caminham-se por ela.

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Tetã Paraguai: Um Outro País

Tetã Paraguai: Um Outro País Uma coisa é o que se pensa sobre algo, a outra é a coisa em si. Assim é com todos os objetos que se deparam diante das pessoas: uma casa, um livro, uma pessoa ou um país, por exemplo. O que se pensa no Brasil sobre o Paraguai é muito diferente do país verdadeiro, com sua cultura, sua economia, sua história e sua geografia. Pode-se afirmar que quase cem por cento do que se diz desse país central da América do Sul não corresponde com a verdade que se percebe em uma verificação mais apurada. Para boa parte dos brasileiros, o Paraguai é quase uma extensão do Brasil, dependente economicamente, povoado por índios, jagunços e pessoas atrasadas que vivem do comércio de produtos trazidos de países orientais. Essa é uma caricatura obtida por "sacoleiros" que viajam até Ciudad de Leste para fazer compras e a única informação obtida é aquela dos vendedores locais, ávidos de comercializar seus produtos, importados das nações orientais, mas que em nada representa o País como um todo. O Paraguai tem uma população de índios e brancos como tantos outros da América Latina, mas é o único que faz questão de manter o idioma indígena, o Guarani, como um dos idiomas oficiais, juntamente com o Espanhol. O Guarani se ensina, obrigatoriamente, nas escolas como forma de auto-afirmação nacional e, nas identificações oficiais do País, além de aparecer o nome de República del Paraguay, aparece também, em Guarani, Tetã Paraguai. É um país que tem sim uma acentuada divisão de renda, mas não se encontra alguém a pedir esmola nos sinaleiros ou nas praças, nem dormindo nas ruas. Nas últimas décadas é o país que mais cresce nas américas: em 2010 o seu crescimento esteve entre os maiores do mundo, 16% ao ano, abaixo apenas do Qatar e Cingapura. Um tanto impaciente no trânsito (buzinam, um para o outro, em qualquer imperfeição ao dirigir), mas - fora disso - é um povo simples, amigo, inteligente, simpático entre os conterrâneos e para com os visitantes e, aparentemente, muito honesto. Percebe -se que o discurso corrente no País é investimento em educação (imprensa, políticos e pessoas comuns); se isso de fato acontecer, esse povo do centro da América do Sul promete muito em algumas décadas. O Paraguai é mesmo um país muito diferente daquele pintado por muitos, carregado de preconceito e generalizações; é um país que tem muito para mostrar, não só para os vizinhos ao seu redor, mas também para o mundo. Há um diferença entre o que se pensa em uma primeira noção e aquela, de alguma forma apurada com verificação in loco. O Paraguai não é o que muitos pensam dele.

quarta-feira, 19 de julho de 2017

O Turismo e o Conhecimento do Outro

Os animais se deslocam em pequenas e longas distâncias como característica natural, uma relação que estabelece com correntes as aéreas e marítimas, assim como também com o clima e os frutos de cada região. Os humanos, da mesma forma, se deslocam em pequenas e longas distância, desde os primeiros tempos de suas, em uma relação ainda mais complexa, com o meio natural e com os demais grupos de outros indivíduos. No caso humano, é preciso estabelecer os seus deslocamentos em espaços de tempo diferentes, já que o que motivava na pré-história, ou na antiguidade, não é mais exatamente o que motiva na modernidade. Há cerca dois milhões de anos surgiram os primeiros agrupamentos de humanos, sempre em um contínuos deslocamentos a procura de alimento e/ou em rota de fuga de seus adversários. Na antiguidade os motivos eram as invasões inimigas, ou a procura de terras férteis, ou rotas comerciais, onde pudessem desenvolver algum tipo de agricultura e onde pudessem comprar e vender suas mercadorias para outros povos. Já no período medieval, além de tudo que se diz da antiguidade, tem-se fortemente os motivos de ordem religiosa impondo militarmente, uns aos outros, suas concepções de sagrado. Por fim, na modernidade, juntaram-se todos os motivos apresentadas aos outros períodos e se acrescentou o turismo, um motivo que tem como base apenas o conhecimento de uma cultura diferente, estranha à sua, o inusitado. Nesse caso, bastante diferente dos demais períodos, não acontece na totalidade de um povo, mas sempre em pequenos grupos, individualmente, em duplas ou em trio. Todo deslocamento populacional é conflituoso, já que as pessoas além de levarem, nas suas bagagens os seus bens de uso, levam também sua cultura, sua ciência, sua moral e sua religiosidade. No caso do turismo não chega a ocorrer algo que possa ser chamado de conflituoso, mas impactante, sempre; isso porque o turista é aquele que viaja sem motivo maior que a busca de conhecer o outro; o viajante estará de alma aberta esperando o diferente. Mesmo que o turismo seja por motivo religioso, científico, a negocio, ou outro, motivados por elementos a mais que conhecer apenas uma nova cultura propriamente, o diferente será sempre alguém aceito, tanto por aquele que chega quanto pelo que recebe. Uma outra característica daquele que se desloca na modernidade, dentro do gênero turístico, e talvez esteja aí o motivo da paz de espírito, é que o deslocamento ocorre com datas marcadas; o indivíduo sabe a hora de partir, quanto tempo vai ficar fora e a data de retorno.

segunda-feira, 17 de julho de 2017

Santa Catarina, Força e Fraqueza

Santa Catarina tem sido destacada, não só pelos seus habitantes, mas também pelos que a visitam, como tendo um dos territórios mais bonitos do Brasil cortado por um elevado montanhoso, que segue de norte a sul, banhada pelo oceano Atlântico e, no sentido leste-oeste, com campinas, vales e montanhas que entram para o interior da América do Sul. Mas, além da beleza, pode-se acrescentar a diversidade geográfica, apresentando solo, clima, flora e fauna bastante diferentes de um região para outra. Assim também é a sua distribuição geográfica, com tipos humanos apresentando características físicas e culturais bastante diferentes de um grupo para o outro, com trabalhos e vocação empreendedora próprias em cada espaço do território. A visão de mundo e as iniciativas tomadas, ou pensadas, em São Miguel do Oeste, em Lages ou em Caçador, diferem em muito das tomadas, ou pensadas, em Florianópolis, em Joinville, em Chapecó, ou em Blumenau, por exemplo. As expressões étnicas e culturais, espalhadas pelo território, se juntam, ou se separam, e formam os tipos regionais: algumas com mais açorianos, negros, ou alemães e outras com mais índios, italianos ou poloneses. E nessa "colcha de retalhos" ergue-se uma diversidade econômica que torna Santa Catarina um dos estados brasileiros que apresentam os melhores índices sociais em vários quesitos: segurança, educação, saúde, habitação etc. No entanto, essa diversidade toda, ao mesmo tempo que impulsiona o desenvolvimento, por um lado, também emperra, em algum momento, qualquer possibilidade de mais crescimento. Ocorre que havendo diferenças de toda ordem, e esses elementos diferentes não possuindo alguma forma de diálogo entre si, Santa Catarina como um todo não consegue a integração e força necessária para competir com as outras unidades da Federação. Pois, caso não haja diálogo entre grupos, haverá vontades estranhas, caminhos deferentes a serem seguidos e as divergências de interesses serão inevitáveis. Isso porque as divisões, as separações, favorecem a dominação e enfraquece as partes; e, nesse caso, o seu contrário, também é verdadeiro, a unidade fortaleceria o todo. Essa é a única explicação possível para o que acontece com Santa Catarina, um estado rico em diversidades em todos os aspectos, de um povo inteligente, dado ao trabalho, mas que perde em representatividade diante das demais unidades da federação brasileira.

sexta-feira, 14 de julho de 2017

A Felicidade

A felicidade pode ser traduzida como o estado de espírito de diante de algo bom, um regozijo, uma série de articulações mentais e físicas que se desencadeiam no corpo daquele que a experimenta. Para alguns, essa condição pode ser atingida com a simples aquisição de um imóvel, ou de uma roupa nova, de um automóvel novo, ou de outro bem qualquer. Nesses casos, o estágio de felicidade será sempre atingido quando acontecer a satisfação de uma necessidade tão esperada, ou de uma surpresa, provocada por pessoas de muita consideração. Essas são situações são momentâneas, provocam, por hora, a condição de felicidade, mas logo trás o indivíduo ao estado de espírito anterior e o regozijo, esperimentado anteriormente, irá embora. Na sua plenitude a felicidade pode ser experimentada apenas quando se carrega certezas, uma paz de espírito por acreditar que foi feito - ao longo dos tempos - o que deveria ser feito, ou por ter conquistado aquilo que tanto se quis. Isso pode ser uma profissão, um cargo, uma posição almejada, um reconhecimento público etc. Nesse caso, a plenitude virá da certeza de que, no transcorrer da existência, se viveu aquilo que acredita que é digno, merecido, sem medos ou frustrações deixadas. Mas essa paz de espírito, a chamada de felicidade, pode ser conseguida também por viver ao lado daqueles que tanto se quer, das pessoas que são relevantes para a sua vida. Essas pessoas podem ser desde filhos, irmãos, pais e amigos, quanto de um grande amor por quem tanto se lutou para conquistar e ficar perto dele sempre que pode. Isso porque, a paz de espírito só acontece quando se percebe que não há lá fora algo perdido, deixado pelo caminho. Claro que a felicidade de se ter um grande amor, e viver com ele, implica em um relacionamento e isso não depende apenas de um indivíduo, daquele que resolveu pensar sobre a felicidade; além do que, também implica na luta que se desemprenhou pela conquista. Felicidade, por mais que seja o resultado da distribuição hormonal que altera o desempenho da estrutura neuro-cerebral, é mesmo uma condição de satisfação das necessidades pessoais de forma plena e de modo que não pairem frustrações deixadas pelo caminho. A felicidade parece acontecer no mais hermético mundo do ser pensante, daquele que para, reflete sobre sua existência, e sabe que fez o que deveria ser feito ou, caso contrário, se sente um fracassado.

quarta-feira, 12 de julho de 2017

Combate à Violência

A violência é um tema recorrente nos noticiários de jornais e televisões, redes sociais, grupos de amigos e demagogias de candidatos a cargos eletivos, sempre com posições de espanto e soluções de maior repressão policial. Noticia-se as situações dos presídios, as estratégias dos marginais, as balas perdidas, os novos esquemas de segurança, as apreensões de drogas, a morte de policiais etc. Se as discussões pairarem por essa pauta não se vai chegar ao pensamento necessário de diminuir a violência a níveis aceitáveis para uma sociedade que pense em dignidade. Discutir violência morte de policiais, tráfico de drogas, formação de quadrilhas e balas perdidas, em nada ajuda no combate à violência. Alguns chegam a se perguntar, "quando é que se vai acordar para a situação que estamos chegando?"; mas o que será esse acordar? Acordar para fazer o que? O entendimento da violência é mais complexo do que se pode imaginar; é um fenômeno autônomo em si, mas que - ao se implantar - não dá autonomia aos seus agentes. É um fenômeno que não é fruto unicamente de um instinto maléfico, de uma vontade autônoma, ou de uma condição ruim por natureza, mas se assenta nesses seres, ditos racionais, que, por hora, reagem irracionalmente diante de situações adversas, ou por não terem a capacidade de perceber a complexidade de um todo em que estão envolvidos, ou por uma ira que lhe altere a estrutura neurológica/cerebral. Ninguém nasce mau-caráter, assim como ninguém, de bem com a vida, feliz, de uma hora para outra resolve ser bandido e viver à margem da sociedade. Não, tudo caminha dentro de uma sequência natural de fatos que se desencadeiam de acordo com as oportunidades. Para entender a violência é preciso, acima de tudo, entender os enlaces que ocorrem em uma sociedade, os seus conflitos, divisões sociais, relações econômicas, instituições e toda a capacidade de organização. Mas é preciso entender também uma combinação imbricada entre o social e o biológico que se completam, se eliminam e se alteram resultando em uma estrutura de personalidade que pode estar mais ou menos suscetível ao crime, a evitar ou não uma vida de delituosa. É preciso que entenda: combater esse fenômeno implica em uma alteração substancial em toda a ossatura da sociedade, caso contrário não haverá força policial, cerca elétrica, centenas de viaturas e prisões que estanque a violência.

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Trabalho e Ócio

Os humanos não surgiram no planeta Terra para o trabalho, mas foi o seu trabalho, na sua luta pela sobrevivência, na árdua procura por alimento e na construção das ferramentas necessárias, que os transformou nesse ser que, nos tempos atuais, se percebe e se designa como pessoa. Portanto, essa pessoa, esse ser construtor que aprendeu a transformar a natureza em objetos de uso, transformou não só a matéria prima que estava à seu redor, mas transformou-se num ser da razão. Mas, se o trabalho transformou-o em pessoa, essa pessoa não esteve envolvida somente com isso; além da capacidade racional esses humanos desenvolveram potencialidades que, de certa forma, auxiliaram grandemente na formação da sua pessoa. O certo é que essa formação se caracterizou por uma alternância entre o trabalho e o bloco de outras atividades que podem ser, desde o aprendizado das mais variadas atividades técnicas e científicas, como até as práticas artísticas, a confissão religiosa, o esporte, os momentos de lazer etc. Nesses tempos em que as máquinas, cada vez mais, absorvem os trabalhos, as demais atividades passaram a ser mais visadas e as pessoas tendo mais tempo para suas diversões. Parece que o lazer e o trabalho são os dois grandes pontos divergentes: ou as pessoas trabalham muito para manter o sistema econômico em ação e menos tempo para o lazer, ou se trabalham menos e têm mais tempo para o lazer, a diversão. No entanto, ao lazer não deve ser creditado apenas as diversões esporádicas, como o barzinho, o parque, o cinema ou a prática de esporte, mas dentro de uma cultura, as atividades festivas visadas em calendários e repetidas a cada ano. Assim como, também, no arco das comemorações e homenagens, estão os feriados pátrios, ou dias de festas de santos, com todo tipo de atividades comemorativas etc. Com a redução dos tempos de trabalho as relações de classe e todas as teorias sociais, baseadas na relação capital/trabalho, precisa ser refeita por uma série de motivos, mas principalmente porque o capitalismo tomou conta também das atividades de diversão: bares, hotéis, lojas, clubes, parques etc. Enfim, se, nos tempos passados, todas as comemorações existiam dando uma uma folga para o trabalho, aliás - os dias de homenagens eram muitos, nos tempos atuais, com o surgimento da máquina, o trabalho é que se reduziu e deixou espaço para o ócio, para as atividades de diversão e lazer.

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Pequenos e Grandes Países

O grande tamanho de um território, as longas distâncias de uma ponta à outra de um país, estaria ligado diretamente aos benefícios sociais que um povo recebe, um bem viver? O povo russo, por exemplo, por viver no maior país do mundo estaria mais bem assistido que os suíços, que os moradores de Liechtenstein, de Andorra, ou de San Marino? Se não há uma relação direta entre o tamanho de um país e a vida das pessoas, por que tanto proselitismo se faz em torno do tamanho, das vastas extensões territoriais? O elogio ao tamanho reporta os tempos mais antigos em que uma tribo vencia a outra se tivesse um maior número de guerreiros, ou guerreiros eram maiores. Os grandes conquistadores da história se notabilizaram pelas vastas extensões que conquistaram; figuram aí os grandes imperadores como Dário, o Grande, Alexandre, o Grande (a ideia de grandeza sempre significando que estavam a frente dos simples mortais). Em tempos medievais, os senhores eram admirados pelo número de servos que possuíam e pelos vastos territórios que conquistavam e/ou adquiriam em negociações de guerra ou de casamentos. Os povos, formados na América, herdaram essas noções de grandiosidade e as incorporaram ao seu imaginário, fortalecendo a necessidade de obtenção de uma vasta extensão de terra para o seu país, quase uma substituição às necessidades sociais básicas. No Brasil, não foi diferente. Os senhores com maior extensão de terra e maior quantidade de escravos recebiam da Guarda Nacional a patente de coronel, se a extensão de terra e a quantidade de escravos fossem menores, receberiam a patente de capitão. Dessa forma, ficou impregnado na mente das pessoas a beleza, e até a vaidade, por pertencer a um país de dimensões continentais, sem o pensamento de que essa grandeza em nada contribui para sua vida no dia a dia. A última pergunta que se faz necessária: a quem interessa manter uma vontade popular de vastas extensões, se isso não interfere no bem-viver das pessoas. Afinal, cidades autônomas podem proporcionar melhores condições de vida para sua população que os países de dimensões continentais. A resposta é simples. Um certo grupo, sim, leva vantagem com esse ideário de grandeza: para ter um número maior de pessoas sob seu comando, para ter uma grande extensão territorial com reservas de matéria prima, para ter um maior mercado consumidor etc. É preciso parar com esse louvor ao tamanho, às enormes extensões territoriais e pensar: o que esse povo quer de fato? que cultura ele tem? que instrução se quer para as pessoas? E assim, por diante.

quarta-feira, 5 de julho de 2017

América do Sul, Um Território a Ser Descoberto

Os países da América do Sul têm suas particularidades e semelhanças, mas vivem afastados por uma barreira que remonta os tempos da colonização. Se por um lado os povos partilham um mesmo espaço continental, contam com as mesmas origens ibéricas, africanas e indígenas, com isso vivem, mais ou menos, a mesma miscigenação, por outro, pouco se relacionam ou se conhecem. Pouco ou nada sabem um do outro e, quando sabem algo, são visões distorcidas e preconceituosas. Culturalmente, economicamente e politicamente estão todos com suas costas viradas uns para os outros e suas frentes voltadas para países europeus ou norte-americanos. E tentam se comparar e, alguns a se igualar, a países como França, Alemanha ou Itália etc. Um país sul-americano como a Venezuela, por exemplo, tem muito para mostrar aos seus vizinhos, como o berço heróico de líderes como Simon Bolívar ou José Antônio de Sucre, grandes responsáveis pela independência dos países de colonização hispânica; assim como o Peru que tem para mostra mostrar a história de Tupac Amaru (o índio rebelde) ou Atahualpa, o último imperador inca e as antigas construções pre-colombianas. Da mesma forma, a Argentina com a figura icônica do casal tão lembrado, cantado em versos e provas, Juan e Evita Peron, ou o revolucionário Ernesto Guevara, o Chê, assim como Carlos Gardel e seu tango, admirado em todo o mundo como uma dança sensual e encantadora. Pôde-se falar ainda das lutas chilenas dos anos 70, o assassinato de Salvador Allende, líder popular, à frente da construção de uma sociedade mais justa em se país; assim com a efervescência intelectual da Colômbia e o seu escritor maior, Gabriel Garcia Marques, prêmio Nobel de Literatura com o livro Cem Anos de Solidão. O Paraguai, por exemplo, um país central, com características peculiares, tanto da parte de seu povo, quanto de sua história, seus conflitos e da sua geografia, é desconhecido pelos mesmos sul-americanos que tudo sabem sobre os Estados Unidos, sobre a Inglaterra, sobre Suíça e até sobre a distante Nova Zelândia. O que se sabe, quando muito, é que é um país localizado no centro da América do Sul, que tem como língua pátria dois idiomas, o Espanhol e o Guarani, mas toda a beleza da sua cultura - música, teatro arquitetura - passa despercebida. Ora, integração dos povos é a tônica necessária nos tempos atuais. Necessária porque se as pessoas precisam umas das outras dentro de uma mesma sociedade, muito mais entre as sociedades. A relação entre os povos deve ser vista como forma de auto-afirmar-se em seu próprio espaço, porque um povo só se firma em seu território quando se relaciona com os povos das imediações: na compra e venda de seus produtos, nas trocas de informações, de experiências e interações culturais. Nenhum povo pode se pensar como ilha ou voltado apenas para outros continentes que não o seu.

segunda-feira, 3 de julho de 2017

O Absurdo e a Consciência

Os existencialistas, quando romperam com Kant, Hegel e Marx, caminharam para um entendimento filosófico de que viver é um absurdo, tendo em vista que não viam sentido, propriamente, no existir. Ora, nesse caso, não se pode pensar qualquer existência, fundamentada por um sentido, por uma ação lógica aceitável, já que existir é apenas o estar constituído como tal. Portanto, não se pode pensar a existência, simplesmente, como absurdo. A pedra existe e não se pode, portanto, pensar em um absurdo pela sua existência. Como algo que existe, a pedra é o que é. Nesse caso, pode-se pensar que é no viver que reside o absurdo, mas não: a alface vive e, como tal, nasce, existe por um período, morre, se decompõem e seus materiais estarão prontos para fazerem parte de uma outra vida. Estaria o absurdo, então, na vida dos animais, os humanos, os porcos, os cavalos e os ratos? Ora, os humanos vivem, mas o simples fato de viverem não pode ser pensado como um fenômeno lógico ou ilógico. Onde estaria o absurdo, para então os existencialistas estarem certos? Precisamente na consciência. Isso porque, desses seres que existem, alguns são vivos e, deles, alguns têm consciência de suas vidas e de suas existências como seres de pensamento, portanto, se percebem no mundo e vêm, nessa percepção, o absurdo. Pensar que um dia nasceu e um dia vai morrer e que essa memória que o acompanha, não mais vai existir, leva a reflexão: qual o valor de tudo isso? para que existir? Assim como, o pensar que esse mesma consciência se desvirtua, se desconecta com o mundo à sua volta e as pessoas cometem o absurdo de se prenderem a coisas desnecessárias para esse viver e, ás vezes, mesmo prejudiciais a elas próprias. Mas esses absurdos todos não podem ser pensados como o ridículos, como mal elaborados, como anormais, mas como o estranhos para o domínio da consciência. Desde Kant se sabe que a razão, por mais que busque as complexidades do conhecimento, alguns pontos são intransitáveis. Quando não se consegue alcançar o entendimento sobre o início de tudo, sobre o surgimento do universo - ou seu fim, quando não se consegue estabelecer um sistema lógico para o tamanho das coisas, e do mundo como um todo, vê-se nisso um absurdo. O que se mostra estranho, o que se mostra ilógico é o que paira na consciência, bem como toda a sua produção intelectiva: o pensar o absurdo é um absurdo, mais ainda, o querer saber sobre algo é absurdo.