quarta-feira, 26 de novembro de 2014

55 Anos, Nascimento, Vida e Morte

Quando se faz aniversário alguém, imediatamente, lembra: "está ficando mais velho" e um outro diz ainda: "está ficando mais sábio". Entretanto, alguns pontos permanecem pendentes nessas afirmações; não se fica mais velho ou mais sábio a cada ano ou a cada aniversário, bem como, não se explica o porquê de se parabenizar alguém que completa mais um anos,  porque esse é apenas mais um calendário, o gregoriano. Como muito já se disse, os calendários existem como uma construção imaginária da sociedade e oficializada pelo estado, na tentativa de medir os momentos para uso no controle das ações naturais e humanas. Variadas populações humana, distribuídas pela Terra, ao longo de suas historias, criaram os calendários mais diferentes, obedecendo movimentos solares ou lunares, com mais ou menos dias. Ora, com tantos instrumentos criados para  a contagem dos momentos, é possível  que se faça aniversário a cada dia do ano, em um calendário diferente. O que muda mesmo são os momentos que vivemos, numa ininterrupta caminhada do nascimento  para morte que, a cada instante, mais perto dela chegamos. Para os antigos gregos, o que diferencia os humanos dos deuses é que os humanos são mortais, cumprem seus momentos de existências e caminham para o nada. Sim, que ninguém se frustre, mas o fim é eminente para todos; todos os que vivem vão morrer. Alguns já foram, outros irão agora e, ainda outros, irão futuramente. No mais, o existir de um ser vivo é um constante transcorrer dos momentos e como, um castigo dos deuses, não retornam jamais - apenas passam e outros virão tão bons,  tão ruins, ou nada disso. Se o calendário é uma construção imaginária, assim também é a noção de velho ou de novo: quando não se é, caminha-se para o ser e - consequentemente - para o não ser; ou seja: começa-se a ficar velho ainda antes de começar a existir. Enfim, quando um homem de meia idade vive mais um dia de aniversario, ele não sente qualquer coisa estranha que o diferencie, mas apenas a sensação de que fora dormir menino e, no dia seguinte, acordou com 55 anos.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Samba e Oração

Ja se falou que os humanos não vivem sem as inúmeras possibilidades de expressões  artísticas. Pode-se dizer que a música é uma daquelas expressões bastante presentes no dia a dia das pessoas e, no Brasil, entre os seus mais populares ritmos, desponta o samba como um gênero emblemático. Acontece que a música brasileira, e o samba em particular, trás nas ruas raízes as contribuições sócios culturais dos vários povos que ajudaram a formar o que se chama hoje de povo brasileiro. Se por um lado essa forma de arte trás na sua essência uma complexidade, restringindo o samba - as boas composições - a alguns iluminados, por outro, é uma expressão democrática, cuja estética  possibilita a execução e apreciação das mais variadas formas. Nesse primeiro quesito pode-se citar grandes nomes, como Chico Buarque, Noel Rosa, Lamartine Babo e Ari Barroso, entre outros, que se destacaram na confecção dos mais belos sambas e de seus derivados como o choro, o partido alto, o samba canção, a bossa nova etc. O samba tem ritmo basicamente dois por quatro, com andamento variado e aproveitamento consciente das possibilidades dos estribilhos. Esse gênero tanto pode ser cantado ao acompanhamento de grandes orquestras, em grandes teatros, como ao som  de palmas e ritmo batucado na mesa de um botequim. Tradicionalmente o samba é tocado por instrumentos de corda e variados instrumentos de percussão, como o pandeiro, o surdo e o tamborim. Esse gênero é uma expressão musical brasileira, genuinamente urbana e soma traços que atende as características das canções africanas, das canções de rodas portuguesas e das cadências dos cantos indígenas dessas bandas da América. A urbanidade do estilo se dá tanto pelo ritmo, quanto pelas letras, retratando as crenças, o trabalho, o esporte, os relacionamentos amorosos e até os momentos de violência na periferia das cidades.   Enfim, samba é isso: percebe-se nele a preocupação com a existência humana em Lamartine Babo, quando canta Lua Cor de Prata, "Pela estrada do passado / Vou perdendo a mocidade /Na saudade que ficou..."; da mesma forma a preocupação política, em Apesar de Você, de Chico Buarque ao cantar,  "Apesar de você / Amanhã há de ser / Outro dia..." Ou mesmo, a feitura do próprio gênero, quando Vinícius de Moraes explica no seu Samba da Benção que "Fazer samba não é contar piada / E quem faz samba assim não é de nada / O bom samba é uma forma de oração..."

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

A Família e as Transformações Sociais

Se os esteios de uma sociedade, que de acordo com o sociólogo Emmile Durkheim - são as instituições, a pergunta que se faz necessária nos dias de hoje é: como se pode pensar a família, diante de sua importância na formação do indivíduo? Essa pergunta se deve por que, nos tempos dificeis que estamos vivendo, quando novos modelos de estruturas sociais aparecem nas conjunturas do dia a dia, torna-se esse, sem duvida, o centro da discussão.  Para o pensador francês, cada instituição, assim como os órgãos componentes de um corpo humano, devem obedecer sempre os seus papeis -sob pena de um estágio patológica. Se o coração deve ter um papel inalterado diante do corpo, como o pulmão, o cérebro e assim por diante, também as instituições sociais devem ter suas funções pensadas inalteradamente, na formação do indivíduo. Essa é uma linha de pensamento conservadora, em que se põe as instituições sociais de forma perene; posição que nao aceita qualquer possibilidade de mudanças de comportamento ou de novos olhares. Nos tempos  atuais, quando as transformações políticas e econômicas ocorrem aceleradamente, a olhos vistos, não é possível se manter um pensamento dessa natureza. A grande família, aquela que fora originada ainda no clã da antigüidade, recentemente deu o seu lugar á família nuclear, com um fogo de quatro membros, nos dias mais recentes, se vê ainda diante de mais alterações. Desta vez, as alterações são profundas, mudando completamente os antigos papeis do pai, da mãe, ou do avô, figuras imaculadas na cultura ocidental. Sendo assim, sinto dizer aos mais conservadores que "tudo que é sólido desmancha no ar" (como disseram, no Manifesto Comunista, Karl Marx e Friedrich Engels). Se tudo que existe, um dia não existiu e um dia nao vai existir, também a instituição família, um dia teve um aspecto, com uma série de papéis, regras e hierarquias, daqui algum tempo também vai ser bem diferente. Nos dias de hoje a família já houve tantas mudanças, de forma que a Sociologia precisa ser repensada sobre o que afirmara na sua época inicial, assim como é preciso rever o que diz o Código Civil e mesmo as linhas teológicas das várias religiões. Ora,  as famílias atuais já podem ser de mãe e filhos, de avó e netos, só de irmãos, de dois pais e filhos ou de duas mães e filhos. Parece que o que permanece inalterado é o papel da família na vida do indivíduo: o aconchego.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Entre a Lógica e a Razão, o Amor

Uma palavra dotada de múltiplos significados, portanto dotada de imensa complexidade, essa palavra é amor: ela pode ser entendida como compaixão, afeição, misericórdia, atração, apetite sexual, benquerer, energia ou libido. E com tantas definições, o conceito permanece intocado, como algo distante da lógica, mas apenas experimentado e vivido. Assim, sem a luz da razão, o amante abre-se na total obscuridade da paixão e vive ações identificadas com a loucura.   O amante experimenta uma mistura de sensações que vai da dor, do medo e da angústia, ao prazer, à catarse e a felicidade. E assim, toda a cientificidade criada pelos humanos não quebra a barreira que se forma na mente do amante. Isso, porque a ciência não encontra uma linha teórica que dê luz ao amor, mas apenas tenta retratar o seu experimento. E nessas tentativas, a ciência escaneia o cérebro e conclui que se aproxima mesmo de uma doença mental. Seria o amor uma doença dos humanos? Platão, em uma de suas alegorias, pela boca de Aristófanes, falou que os humanos, no início dos tempos, viviam em dupla, como um único gênero, grudados um ao outro. Seria essa a realidade que levaria a uma completude eterna? Nessa teogonia, a totalidade punha os humanos mais fortes, ameaçando os deuses e esses,  num conluio olímpico, separaram-nos cada um dos gêneros, para seu enfraquecimento. Os humanos, desde então, passaram a viver a eterna busca da sua parte que lhe  cabe, a sua outra metade. Talvez a teogonia platônica possa explicar melhor essa ação de penetrar na obscuridade da paixão, num constante desafio a razão. Mas essa energia é inconclusa. Diria para nós o filósofo: quem ama quer sempre o melhor para o seu bem-querer. E aí, uma pergunta se faz necessária:  o que é esse melhor para o outro?  Ora, se a razão não alcança a ideia do amor; busque-se então no lirismo e encontrar-se-á a definição no poema. Pois somente a catarse, somente o sentimento experimentada pelo amante e cantado pelo poeta, ascende a alma. Portanto, amor - o inigualável amor - pode se traduzir no poema de Vinícios de Moraes: “que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”. E hoje, como ontem e como amanhã,  o amor permanece eterno, aquilo que molda-se no peito, molda-se no absoluto.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

O Brasil e o Destino dos Brasileiros

Já se disse que a história é uma profecia virada de costas. O que se quer dizer com isso? Qualquer previsão, qualquer eloqüência sobre os rumos que um povo venha seguir não passam de míticas profecias. Algo parecido com o que falava o pensador alemão Immanuel Kant, o tempo é uma das antinomias da razão; ou seja: o raciocínio lógico nao tem as armas suficientes para o seu domínio, para o seu controle. Por isso, nesses tempos de efervescência  política no Brasil, quando se acabou de eleger uma presidenta que competiu com um outro candidato, de tão diferente posição ideológica, e com uma margem tão estreita de votos, convém que se faça uma análise. E, se por mais que se falem, como um diálogo de surdos, nas possibilidades de algum direcionamentos histórico, a verdade é que esse Pais nunca mais será o mesmo.   Ora, se os prognósticos nao passam de apostas, isso se deve a complexidade da situação, a partir exatamente das transformações que estão sendo ente dadas. Uma série de mudanças sociais estão ocorrendo, como nunca antes e com isso, saltam por todos os lados um medo conservador por tais mudanças.  E essas mudancas são ainda mais fortes devido alguns pontos na conjuntura: a importância do Brasil no cenário latino-americano e, finalmente, presença determinante das chamadas mídias sociais. Não se trata de elogiar os últimos governos brasileiros, mas de reconhecer que não se pode negar as profundas transformações vividas na área social quando milhões de brasileiros foram tirados da linha da pobreza. Certamente que reconhecer ações ocorridas e elogia-las não se trata de baixar a guarda e não mais marcar ponto nas cobranças de sempre melhorar os rumos políticos, na constante reconstrução da sociedade.   Sem dúvida que a situação incomoda alguns conservadores. Como pode o aumento no número de pessoas viajando de avião, comprando nas lojas e de tantos automóvel nas ruas? Mas esses medos logo serão digeridos como já aconteceu em outros países do Norte, num primeiro momento a aristocracia apavorou-se, mas depois assimilou e hoje são sociedades bastante elogiadas por brasileiros. E sobre os rumos da história do Brasil, deixemos aos historiadores do futuro fazerem as suas profecias.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Política e Mídias Sociais

A importância do debate político no Brasil atual, se deve principalmente, pelo fato das eleições presidenciais ocorrerem em um momento que os meios de comunicação tradicional estão enfrentando forte crise. As tentativas tendenciosas de interferir nos resultados das urnas, como claramente percebidas em outras eras, mostraram agora uma falta de fôlego, coincidindo assim, com a forte participação popular através das triunfantes mídias sociais - Facebook, Twitter, Whatsapp e outros. Pode-se dizer que as tais mídias foram as vedetes do momento, já que interferindo nos meios de comunicação tradicionais, alteraram com força e de forma decisiva, os  pontos fundamentais da conjuntura social. A pergunta que se faz nessa altura é como e por que essa alteração na conjuntura foi possível, diante de impérios midiáticos tradicionais, que outrora elegeram presidentes e demitiram presidentes? Certamente que a grande novidade trazida por esse novo veículo de comunicação foi o aumento do poder de interação proporcionado ao indivíduo, como tem ocorrido nas várias áreas de expressão. Isso ocorreu por dois motivos: se por um lado proporcionou um maior interesse como forma comunicacional, por outro, possibilitou ao cidadão uma capacidade de interferência direta no processo político. Os meios de comunicação tradicionais, do rádio ao jornal impresso e a televisão, são sistemas dependentes de uma passividade do interlocutor para a ocorrência da sua ação comunicacional. A televisão, por exemplo, exige do indivíduo não só que ele pare, olhe e escute a programação, mas que ele receba seqüencialmente de forma eletrizante, a catarse com as informações preparadas cuidadosamente por uma equipe de reportagens. A ação forte da campanha política de 2014 se deu, para além dos microfones televisivos ou das páginas jornalísticas, mas no silêncio dos teclados, em uma constante  construção e desconstrução de imagens. Nesse caso, não venceu o melhor programa de governo e articulações políticas, ou apenas isso, mas venceu principalmente a militância mais aguerrida, a mais sistemática.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Manifestações, Democracia e Conselhos Populares

Por mais que se queira explicar, por mais que se queira racionalizar, algumas coisas fogem da normalidade e dificultam qualquer pretensão de entendimento, principalmente quando se trata de questões referentes a política e às relações sociais. Num primeiro momento as pessoas vão pra rua em manifestações que exigem do estado ações concretas no trato da coisa pública, num outro reclamam contra um projeto governamental de criação dos conselhos populares. Quando uma multidão vai paras ruas em manifestação política, vai com um projeto de sociedade bastante delineado, sabendo com clareza as proposições defendidas, ou estará fazendo o jogo de um dos lados do tabuleiro político. Em julho de 2013 o mundo voltou seus olhos para as manifestações brasileiras; por parte da "intelligentsia"  mundial havia uma esperança de consciência política junto ao brasileiro médio. As revoluções burguesas, as guerras por independências, bem como as revoluções socialistas, iniciaram sempre de um desconforto social em que o povo ganha as praças e as ruas em defesa dos interesses populares. Certamente que em meio aos tais movimentos sociais surgem  lideranças populares e revolucionarias, assim como os grupos de vanguarda: foi assim com a Revolução Francesa, com a Revolução Russa, com a Guerra Civil Espanhola, com a Independência dos Estados Unidos etc. Até aí, tudo é natural. O que fica sem nexo é quando um governo quer atender as exigências políticas surgidas das ruas, criando conselhos populares, abrindo espaço para o debate, setores da sociedade passam a fazer oposição sistemática ao projeto, fazendo afirmações irreais. Das duas uma, ou os grupos que foram pra rua, foram  a serviços de partidos políticos - nao sabendo o que ocorre nas franjas da sociedade brasileira, ou é uma política menor do "sou contra por que sou contra".   A criação de conselhos populares é uma abertura política para o diálogo com cada setor da sociedade no molde das já existentes conferências  de educação, de arte, de segurança, de saúde e tantas outras que ocorrem todos os anos. A incongruência reside em ir para as ruas fazendo exigências e depois rejeitar com veemência as propostas que vão ao encontro das tais exigências. 

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

O Brasil e Uma Guerra Para Chamar de Sua

A concepção de mundo do brasileiro precisa contar com as lutas e o sofrimento no trabalho, vivido por sua população, ao longo dos 500 anos de existência do País. Assim, para buscar um entendimento daquilo que é chamado Brasil, é preciso levar em conta que nunca se viveu uma guerra avassaladora em seu território ou um desastre natural, tão intenso, que tenha levado o mais endinheirado dos brasileiros a dividir um mesmo prato de comida com o mais pobre.  Alguém poderia argumentar: "mas as famosas Guerra dos Farrapos, Guerra das  Balaiadas, Guerra das Sabinadas, a Confederação do Equador ou a Guerra dos Emboabas, o que foram então?" Ora, todas elas foram nada mais que revoltas pontuais e cada uma, solucionada a partir de acordos que levaram vantagens aos dois lados do conflito.  Sim, a exploração do homem sobre o homem ocorreu ao longo da história brasileira, com todo o requinte de opressão e mandonismo. Mas isso aconteceu, sempre de forma sublimada: a escravidão, até bem pouco tempo, fora mostrada como algo que ocorrera na tranqüilidade; em Casa Grande e Senzala, Gilberto Freire parece querer mostrar os negros, todos de branco, sorrindo e felizes.  Entretanto, a escravidão brasileira fora escravidão como se é uma escravidão: o indivíduo é propriedade, instrumento de trabalho de um senhor. O que se quer dizer é que o Brasil construiu sua história sob a égide de uma elite branca que calcou na opressão de negros, índios e brancos pobres, assim como a sua tão propalada democracia racial precisa ser revista.  Se por um lado negou-se a crueldade de um sistema escravocrata, por outro, construiu-se uma história de heroísmos com pouco alicerce que lhe dê sustentação. O heroísmo mineiro de Tiradentes que se quis impor como exemplo de amor a pátria, carece de explicações; assim como precisa ser explicado o heroísmo de Duque de Caxias e seus conflitos com o Conde D'Eu. Ou seja: a elite econômica brasileira, branca viveu por estas terras - até os dias de hoje - com uma mentalidade voltada para a Europa ou para a América do Norte. Uma mentalidade colonial (o que se produz na metrópole é melhor). Talvez seja essa a grande divida: uma grande guerra que envolva cada um. Assim, quem sabe, todos quererão pensar o  Brasil, com olhares verdadeiramente de brasileiros.