segunda-feira, 30 de março de 2015

O Pato, a Política e o Governante

Conta uma fábula que se houvesse uma eleição na floresta o escolhido não deveria ser o leão, nem a águia, nem o macaco, mas o pato - já que ele é o único que anda mais ou menos, voa mais ou menos, briga mais ou menos e canta mais ou menos. Nesse caso, o que se está afirmando é que o governante deve deter um pouco das variadas aptidões praticadas pela humanidade. Acontece que a relação entre o saber e a política sempre esteve na berlinda das maiores discussões. A política deve ser exercida pela maioria, através de seus representantes, legitimamente eleitos, ou por um pequeno grupo detentor de profundo saber? Os eleitos devem ser dotados de grandes conhecimentos ou basta serem pessoas responsáveis e honestas? Aliás, se a eleição não for alargada para também o não honesto ou para o não sábio, o próprio conceito de eleição se perde. Sim, se eleito quer dizer escolhido, significa que se um cidadão pode escolher, cabe unicamente a ele decidir a quem escolher. Nesse caso, não se pode proibir as pessoas de se candidatarem, mas se deve cobrar que as pessoas os escolham adequadamente. Quando se fala em democracia está se falando de uma visão política que leva em conta a decisão da maioria; entretanto, essa mesma democracia já sofreu vários revés de pensadores das mais variadas épocas e que propuseram outras formas de comando de uma sociedade. Alias esse sistema sofreu forças contrárias já no seu nascedouro quando, na Grécia antiga, Platão fez oposição frontal, alegando que a maioria não necessariamente detém o bem supremo. Sim, a democracia ateniense havia condenado Sócrates a morte. O mais sábio de Atenas havia sido morto por homens escolhidos democraticamente pela simples razão da maioria. E acrescentava: se, por ventura morresse o timoneiro de um barco, quem deveria ser escolhido para tomar conta do timão e conduzir o barco a seu destino com segurança: o bondoso, o gentil ou o carinhoso? Ou aquele que detém o saber da arte da navegação? Enfim, ninguém pode duvidar que a arte de fazer política é por demais complexa, muito já se escreveu e ninguém esgotou todo um saber a esse respeito. Entretanto, parece que alguns pontos seguem para uma interseção: não basta ser só sábio, é preciso que aja com responsabilidade, mas também deve ter honestidade e também gentileza e também bondade. Ou seja: não podemos optar pela sabedoria do macaco, tanto quanto não se deve optar pela ferocidade do leão, nem apenas pela precisão da águia. Resta o desengonçado pato com todas as qualidade dos seus parceiros e fazendo de tudo um pouco, sempre a sua maneira.

quinta-feira, 26 de março de 2015

Brizola, Um Homem Que Amou o Brasil

Por mais que falemos em democracia, em participação popular, ou em cidadania, alguns homens e mulheres são necessários, tanto na formação política, quanto na condução da sociedade; alguns são intelectuais, outros ativistas e lideres ou estadistas. Outros ainda, reúnem todas essas qualidades, portanto são imprescindíveis; essa condição é o que se pode dizer do grande estadista brasileiro, alguém que tinha uma visão política de esquerda muito a frente do seu tempo, o governador Leonel de Moura Brizola. Engenheiro civil por formação, esse riograndense era governador quando no início dos anos 60 o seu cunhado, João Goulart fazia enfrentamento contra a direita brasileira que não eceitava a sua posse. Brizola, um homem que amou o Brasil, foi para a linha de frente com sua Cadeia da Legalidade alertando os brasileiros do golpe que se gestava e mesmo chamando as lideranças golpistas para o diálogo. Em 1964 era forçado a viajar para o exílio e lá permanecer por uma década e meia, mas em nenhum momento perdeu contato com os encaminhamentos políticos então vividos no Brasil. Quando retornou, os novos partidos estavam sendo criados e o general Golbery de Couto Silva articulou de imediato para que sua antiga sigla, o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) fosse entregue a Ivete Vargas, forçando-o a criar o PDT (Partido Democrático Brasileiro). Leonel Brizola fora um brasileiro que conhecera como ninguém, o seu país, tendo muito claro as necessidades mais prementes e via na educação, o grande caminho para libertar um povo. Aliás, a preocupação com a educação fora sempre o norte que lhe orientou em todas as vezes que esteve a frente dos governos do Rio Grande do Sul ou do Rio de Janeiro. Leonel de Moura Brizola nunca se fixou em divergências pequenas divisionistas que tanto atrasam os movimentos de esquerda. Mas também não se pode falar de seu nome sem mencionar sua luta contra a mídia brasileira, reacionária e golpista. Enfim, não fora ele um herói, já que um povo não precisa de herói; fora sim um brasileiro que dedicou sua vida à política do seu país e teve por demais a sensibilidade das necessidades mais prementes que o povo sente.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Uma Nova Esquerda é Necessaria

Certa vez, ao conversar com alguns agricultores no interior da  França, plantadores de produtos orgânicos e militantes dos movimentos políticos de esquerda, um deles afirmou: "a esquerda mundial precisa ser reinventada". Ora, quando se fala em reinventar a esquerda uma problemática muito intensa se forma e uma aflição toma conta dos militantes das mais variadas linhas. A grande aflição se deve ao fato de que o pensameno político, contrário ao sistema econômico e social vigente, pelo mundo a fora, se caracteriza pela multiplicidade de divisões com divergentes tendências de estratégias e táticas etc. De um lado figuram os social-democratas com uma linha política um tanto branda, ou os trabalhistas com uma militância mais ou menos  sindicalista, assim como os comunistas  posicionados em uma extrema esquerda com suas internacionais e que por sua vez se dividem também em inúmeras outras partes.  Isso sem contar com os anarquistas, uma corrente política que segue por fora das discussões tradicionais e sobrevive incrustado em sindicatos e universidades, mas que também sustenta uma linha política radicalmente contrária ao regime capitalista. Num debate sobre um novo caminho para esquerda mundial,  uma revisitação, não parece que estariam dispostos a repensar seus encaminhamentos políticos. Daí surgem tantas novas perguntas: o que seria esse reinventar a esquerda? Seria um novo sistema político, um novo socialismo, uma nova leitura do pensamento marxista?  Ou seria uma junção de tudo isso, mas considerando também as condições políticas econômicas e sociais dos tempos atuais, visando um novo modelo de enfrentamento ao sistema vigente? Pode ser. Acontece que com a queda do muro de Berlim e a derrocada da União Soviética, houve uma fragilização geral em todo o movimento político de esquerda. Para um grande numero de militantes, esse fato foi como se o chão desabasse e o mundo ficasse órfão de  diretrizes para o enfrentamento. Uma coisa é certa, a direita cresce com o aumento da desinformação política e o capitalismo visivelmente acirrou as desigualdades sociais. Portanto, não há métodos prontos e um novo caminho precisa ser encontrado.  Uma coisa é certa, a conjuntura atual é muito adversa do que acontecera no século 20 e mais ainda do que fora no século 19.  Um repensar a esquerda nos tempos  atuais deve levar em conta os meios de comunicação como grandes conglomerados empresariais com seus interesses econômicos e políticos, a existências das novas tecnologias de informação, a multipolaridade do mundo, a força do debate ambiental e a interatividade como característica da sociedade atual. Mas, alem disso e mais importante que tudo, é preciso acabar com as igrejinhas dentro das esquerdas e a fé perversa de que só as suas seitas levarão aos céus e que todas as demais devem ser expurgadas.

quinta-feira, 19 de março de 2015

Platão e o Amor Platônico

As pessoas falam em amor platônico e quando o fazem, sabem que há nisso uma referência ao filosofo ateniense, mas não se dão conta do exato conceito que aí está estabelecido. Também é comum não se dar conta de como é possível um amor sublimado, fechado para si, como forma de não abrir brechas e assim, não ferir relacionamentos.  Quando duas pessoas estão tomadas por um amor platônico e ao perceberem da impossibilidade de ser levado adiante, ou seja: ao saberem que se derem continuidade à expressão desse amor, pessoas que lhes são caras serão prejudicadas, mantêm um afastamento. Isso quer dizer que diante da impossibilidade de dar vazão a um amor, os amantes resolvem sublimar essa paixão e alimentam esse amor a distância. Platão, pensador grego, discípulo de Sócrates, que viveu no terceiro século antes de Cristo, estabelecia a existência de dois mundos: um mundo sensível e um ideal. Os dois mundos coexistiriam, o primeiro como cópia imperfeita do outro; no mundo sensível estariam as cópias imperfeitas daquilo que existe, em plenitude, no mundo das idéias. As pessoas, de um modo geral estão presas ao mundo sensível e por estarem nessa condição durante toda a sua existência, entendem que estão dentro que é correto, mas ao se libertarem perceberão essas correntes. Nesse caso, havendo a libertação do mundo sensível poderão acessar o mundo das idéias, onde estão as coisas verdadeiras. Somente alguns poderiam se desligar desse mundo sensivel e acessar o mundo das idéias, os filósofos; não alguém que por ventura cursou Filosofia, mas aquele que pelo amor ao saber, consegue se desprender dos interesses materiais e acessar o mundo das idéias. Nesse caso, o discípulo de Sócrates, levava em conta, de forma muito forte a noção de filosofo (aquele que verdadeiramente ama a sabedoria, aquele que vive para o saber). Ora, pensando o o conceito de amor platônico e levando em conta o pensamento de Platão se poderia afirmar que em alguns momentos essa distância pode então ser estreitada. Se aquele que verdadeiramente busca a sabedoria encontrará meio de chegar ao mundo das idéias, onde as coisas verdadeiras jazem eternamente, também aquele que ama verdadeiramente encontrará meios de acessar seu, aparentemente intransponível, verdadeiro amor.

segunda-feira, 16 de março de 2015

Democracia, Golpe e Guerra Civil

Duas formas de trocar o mandatário de uma sociedade: através de um processo democrático - a maioria escolhe o novo candidato de sua preferência, através do voto - e a outra, fora dos padrões institucionais, por golpe palaciano, por golpe militar, guerra civil ou luta armada. No caso da democracia, essa é a implantação, nos tempos atuais, de uma política ateniense, pré-cristã; o golpe, por outro lado, sempre representou a ruptura de um determinado encaminhamento político para a implantação de um outro.  Quem estuda ciência política está acostumado a ouvir sobre intrigas palacianas, conflitos políticos, apoio ou contrariedade das forças militares, confrontos com o legislativo e, nos últimos tempos, sobre o mando (ou desmando) do poder dos meios de comunicação social. Entretanto, se o que se quer é a preservação da democracia, em algum momento os dois lados precisam conversar e encaminhar as suas pautas traçadas no conflito. As oposições podem ser mais aguerridas e organizadas - enraizadas em movimentos sociais - ou mais complacentes, desarticuladas, sem muita representatividade. Isso se deve às características culturais, políticas e sociais de cada povo, bem como o nível de instrução, a renda e até mesmo o nível de sedimentação das instituições. As forças políticas em desalinho demonstram suas contrariedades expressando-as através de discursos no parlamento, em passeatas, comícios, em textos jornalísticos, em panfletos distribuídos etc. Dentro de uma preocupação democrática, as oposições ficam apenas nessas demonstrações; fora da democracia entra o golpe que pode crescer de apenas algumas intrigas a uma cruel, sangrenta e interminável guerra civil. Acontece que entre os grupos que lideram a sociedade, diante de um desacordo entre oposição e situação, inicia-se um jogo de persuasão, atraindo a maioria do povo para um lado ou para outro. Nesse caso, pessoas podem ir para o confronto, mesmo sem muito saber das teias tramadas nos bastidores. Enfim, um simples golpe pode extrapolar suas intenções iniciais e aí fica evidente o que  políticos e militares afirmam categoricamente: "só Deus nos livraria de uma guerra civil".

quinta-feira, 12 de março de 2015

História: Trabalho e Sociedade

Quando se compara o conceito de trabalho que se tem hoje com o que se pensara na antigüidade grega, por exemplo, percebe-se um distanciamento profundo. Se nos dias de hoje usa-se o ditado popular afirmando que "o trabalho dignifica o homem", para os gregos antigos o homem digno é aquele que não trabalhava. Nesse caso, o que não trabalha é o cidadão da polis, aquele homem livre, é aquele que está disposto a pensar filosofia, discutir política e contemplar a arte. Certamente que há uma separação de termo; o conceito que se pensara como trabalho na antigüidade não será o mesmo pensado nos tempos da modernidade. Naqueles tempos o termo designava uma atividade desempenhada manualmente, o que se chamaria hoje de "trabalho braçal"; já nos tempos atuais se inclui qualquer atividade, desde  as manuais que atuam no manuseio do ferro, da madeira, do barro etc, até de comando, do gerenciamento, do ensino ou da comunicação. A etimologia define a palavra trabalho como sendo um antigo instrumento de tortura; três paus (tripalium, no vocábulo latino)  pregados entre si que eram presos ao corpo da pessoa, o que lhes aplicava cruéis suplícios. Como extensão dessa noção, se estabeleceu para trabalho um conceito que definira como a ação humana de transformar a natureza em um bem de uso. Foi nesses termos que o pensador alemão Karl Marx foi ao encontro do que dissera o ingles, Adam Smith, quando esse afirmava que era o trabalho o responsável pela criação de riquezas. Sendo assim, Marx estabeleceu que se o responsável pela criação de riquezas eram os trabalhadores, portanto esses deveriam seri vistos como os grandes responsáveis pela dinâmica da sociedade humana. Certamente que nos tempos atuais se consolidou a idéia de que há uma relação direta entre aquilo que se entende por dignidade e o trabalho. Entretanto, apesar de a classe social mais abastada não trabalhar e ter  maior penetração no comando da sociedade, com poder sobre as demais, são as classes menos favorecidas que movem as fábricas, as escolas, os transportes, as comunicações etc; e, com isso, têm nas suas atividades laborativas uma forma de se elevar e interagir, portanto conduzindo a sociedade. Enfim, verdadeiramente a história tem no seu comando os trabalhadores, isso porque são esses os homens e as mulheres que transformam a natureza, física e social, e quando fazem se transformam. Isso é história.

segunda-feira, 9 de março de 2015

Felicidade, o Sentido da Vida

"Haverá um dia em que você não haverá de ser feliz / Sentirá o ar sem se mexer / Sem desejar como antes sempre quis..." Quando Marcelo Jeneci canta a canção que leva o nome de Felicidade está traduzindo o sentido da vida, a razão da existência humana. Sim, homens e mulheres caminham todos os dias nas suas lutas diárias, trabalhando, produzindo, ensinando e aprendendo, almejando um lugar de júbilo. A felicidade é um estado de plenitude, satisfação e equilíbrio físico e psíquico, um lugar em que o sofrimento e a inquietude são transformados em emoções ou sentimentos que vão desde o contentamento até a alegria intensa. Já os antigos gregos chamavam de eudaimonia, termo pouco usado nos dias de hoje, a não ser em alguns setores da filosofia; para as emoções associadas à felicidade, os pensadores atuais preferem utilizar a palavra prazer.  Se Athur Schopenhauer disse que o sofrimento persegue os indivíduos o tempo inteiro, alegando cruelmente que viver é sofrer, Aristoteles mostrou que o que move a alma humana é a eterna luta na busca pelo prazer, pela felicidade; já Immanuel Kant diria que essa busca deve ser feita dentro de cada um, pois só será feliz aquele que estiver seguro do que quer e do que faz. De tudo o que já se disse nos compêndios filosóficos o que se retém é que para ser feliz não há receitas prontas, mas apenas indicações.  Um dos pontos mais cruéis e que fatalmente leva a infelicidade é o ato de dividir-se em posições que lhe impeçam tomar um rumo. O que se quer dizer é que as pessoas precisam fazer suas escolhas, por mais penosas que sejam, e seguir num esforço continuo perseguindo a felicidade. Entretanto, por mais que se descreva o prazer ou a felicidade, não será a prosa o elemento fundamental que possibilite a sua revelação; talvez o poema possa dar alguma clareza ao sentido de uma alma humana feliz. Pessoas são um conjunto complexo composto de ossos, sangue, pele, desejos, razão e sentimentos; tudo isso junto, tentando dar um sentido as suas vidas. Se o indivíduo não segue para a felicidade, uma ilusão pode estar ditando-lhe outros caminhos, mas essa será sempre a sua intenção. Enfim, é impossível ser feliz em condição contrária ao que almejam os sentimentos e com eles, as vontades e os desejos mais íntimos.

quinta-feira, 5 de março de 2015

Praxis, Um Conceito de Luta

Alguns se perguntam, por que todos os grandes intelectuais, ditos - marxistas, foram também - ou são - militantes políticos revolucionários e alguns até guerrilheiros. A luta política é complexa. O interessante é pensar que os motivos que levam homens e mulheres a se engajarem em lutas políticas pelo mundo a fora, defendendo projetos de direita ou de esquerda são os mais variados, vão de crenças, medos, capricho, excesso de informação ou de desinformação. O pensamento de Karl Marx surgiu envolvido nas lutas dos trabalhadores do século 19, como uma resposta aos resultados que o mundo vivia - a partir da grande revolução industrial. O pensador alemão admitia as afirmações do economista, Adam Smith, de que a riqueza advém do trabalho, a transformação da natureza em bens de uso, mas para sustentar a necessidade da luta revolucionária, ele buscou em Hegel,  o pensamento dialético que por sua vez buscara em Kant, o seu juízo sintético e o tempo na filosofia. Para Marx, se as pessoas transformam a natureza e assim fazendo transformam a si próprias; em outras palavras, fazem suas próprias histórias - é preciso que se tomem consciência disso. Entretanto, ter consciência significa entender o processo de transformação, mas tambem o envolvimento na seqüência das transformações.  É preciso que cada um dos trabalhadores, os reais transformadores da natureza, entenda que é parte importante no processo de transformação e se empenhe na seqüência de mudanças. Mas mais que isso, um conceito marxista que remonta ainda os antigos gregos e que dá vida ao engajamento político do intelectual é a praxis. Uma expressão que é quase uma pergunta: se não aceitas a sociedade do jeito que está, o que fazes para mudar? Assim, esse conceito perturba todo aquele que já percebeu que  o sistema social  vigente é um modo segregador, uma teia envolvente, oportunizando apenas a alguns e gerando fome e miséria para outros. Esse fora o motor que levou pensadores como Vladimir Lenin, Antônio Gramsci, Rosa Luxemburgo, Leon Trotski, Ernesto Guevara, Mao Tze Tung, para citar apenas citar apenas alguns, a abandonarem o aconchego das academias para entregarem-se a uma causa revolucionária. Fora essa tal perturbação na história política mundial que levou inúmeros intelectuais a entrarem de corpo e alma nas lutas revolucionárias.

segunda-feira, 2 de março de 2015

O Saber e o Pensamento Complexo

O que alimentou o pensamento moderno, nas suas mais diferentes correntes, foi a pretensa noção de validade científica, implantada na realidade do mundo ocidental. Acontece que essa sociedade saíra dos mil anos de ensinos sacerdotais de uma Idade Media distante e entrara em uma chamada "era da razão". Havia um mundo a ser desvendado. Por isso, a humanidade exaltava-se por encontrar respostas ás suas angústias existências; eram "verdades inabaláveis", o período das luzes. Fora um momento em que o racionalismo cartesiano dera vazão a uma nova orientação metodológica, com um grau de certeza científica só comparável às verdades divinas daqueles sacerdotes medievais. A partir daí a modernidade entrara em um período de revoluções e guerras mundiais em defesa de determinadas "verdades", num contraditório maniqueismo do bem e do mal. Entretanto, essas noções de validade por mais força que tivessem, mostraram que não eram tão inabaláveis e começaram a sucumbir a partir do momento em que forças antagônicas demonstraram suas fragilidades. Não que o mundo tenha entrado num relativismo individualista, paralisante, mas que novos caminhos metodológicos  procuram entender os lados, aceitando as divergências como partes aglutinadoras de uma mesma realidade. Fala-se nos tempos atuais em um pensamento complexo. E com esse conceito entende-se a multiplicidade das possibilidades como partes constituintes do conhecimento. Ou seja: a nova ciência precisa seguir uma linha de um novo saber, pós-moderno; deve levar em conta que o mundo é constituído de múltiplas realidades divergentes. Por isso complexa. Ora, a ciência moderna trabalhou por séculos sob a ótica de uma realidade simples, cartesiana, sob a qual usava a matemática, se especializava e se aprofundava num campo cada vez mais diminuto. Atualmente, a partir de um pensamento complexo, busca-se, não desprezar os conhecimentos produzidos até então, mas procura-se buscar novos caminhos e aceitar posições diferentes. Ou seja: as ciências precisam ser entendidas como setores do grande conhecimento humano que a partir de métodos rigorosos apresentam noções de validades aceitas para um momento, até que alguma outra o substitua.