quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Governo, Oposição e Coerência

Basta um pouco de leitura na área da Ciência Política pra saber que um sistema governamental se faz com programas que atendam as necessidades da população, com gestão eficiente e com uma oposição coerente e honesta. Acontece que a legitimidade de um governante pode ser dividida em duas partes: uma, a aceitação geral por parte da população, a unanimidade - duas: a gestão da coisa pública acompanhada por uma força de oposição. Ora, toda unanimidade é perigosa, isso porque é decadente e paralisante. Uma sociedade em que a aceitação de uma força política apresenta índices de 90%, ou mais, é na verdade um sistema opressor. Então, um dado governante, ou um grupo de pessoas que se impõe de forma totalitária sobre o restante da população, que age sem críticas, sem a possibilidade de investigar denúncias de corrupção, ou sem qualquer fala contrária é um sistema autoritário, fascista; é uma ditadura. Isso porque sem uma oposição, os males e todos os vícios que são próprios de qualquer governo, se manifestam nas entranhas mais fundas de um sistema, deteriorando o gerenciamento da sociedade e avolumando-se no desmando. Entretanto, se a oposição é salutar fazendo críticas, fiscalizando e apresentando novos projetos, esta deve ser pensada como elemento fundamental para a maturidade política de um povo. Nesse caso, dois elementos inevitáveis que fazem parte do conhecimento profundo das forças políticas em oposição: as diferenças sociais com seus conseqüentes jogos de interesses e a honestidade na hora de confrontar. E isso deve ser pensado por parte de um setor inteiro discordante da sociedade e que não se vê representado. O que não pode acontecer é um seguimento da sociedade em particular, se utilizar dos aparelhos do estado, de setores da mídia e querer fazer oposição como um jogo de indução ao restante do povo. Alguns, em nome de uma oposição, entravam as ações de setores públicos, muitas vezes até com a ajuda de incautos cidadãos que agem para seu próprio prejuízo. Enfim, oposição é necessária, faz parte do jogo democrático, mas não pode ser feita sem responsabilidade, provocando entraves na coisa pública.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Jesus, Cristianismo e Denominações

O cristianismo é todo apostólico. Jesus de Nazaré em nenhum momento solicitou que aqueles o ouviam formassem uma um seita, uma confraria; no máximo, contrariou os judeus que sempre se acharam o povo de deus, os únicos salvos e falou: "vão e preguem a toda criatura! Quem crer e for batizado será salvo." A partir de Paulo é que se começaram a formarem-se os grupos de convertidos: um em Tessalônea, outro em Roma, outro em Corinto, outro no Egito, em Éfeso, ou na Galácia. Com o passar dos anos os grupos perderam a unidade, com a interpretações variadas sobre os livros antigos judaicos, bem como dos textos que traziam a novidade da vinda do messias e mesmo as cartas de Paulo e outros. Com interpretações diferenciadas, alguns grupos passaram a acrescentar novos pontos que não haviam em outros e a cortarem livros ou acrescentarem outros. Não houve unidade entre os cristãos nos três primeiros séculos, até a conversão do imperador romano, dando origem a grupos como o cristianismo copta, existente no Egito ate hoje, sempre com uma teologia completamente a parte dos cristãos ocidentais.    Com a conversão do imperador Constantino, no início do século 4, começou-se um esforço para manter uma unidade entre os adeptos e a unificação de uma bíblia, apenas um de todos os livros, um livro sagrado dos cristãos: o texto aceito nos dias de hoje. Nos séculos seguintes, alguns grupos não aceitaram e continuaram a fazer suas próprias interpretações, acrescentando livros ou ideias, dando origem às chamadas heresias. Esse foi o caso do nestorianismo, uma corrente defendida pelo bispo de Constantinopla - Nestor, mas que fora rechaçada; segundo alguns estudiosos, sobrevive ainda um pequeno grupo de cristãos nestorianos na China. Com a morte de Constantino, o grupo maior se aglutinou com a coordenação do bispo de Roma, sob a nomenclatura de Igreja Católica Apostólica.  A sua unidade vingou até o século 11, quando alguns bispos  do leste europeu rebelaram-se contra uma série de mudanças, como os dogmas da Imaculada Conceição de Maria e da autoridade de Roma sobre a igreja no mundo.  Isso fez surgir o que chamaram de Igreja Católica Apostólica Ortodoxa Grega, Russa,Turca, entre várias outras, em separado da Igreja Católica Apostólica Romana. A fração ocidental sofreu mais uma divisão no início  século 16, surgindo os grupos luteranos, batistas, metodistas, anglicanos, adventistas e outros, agrupados numa única expressão: protestantismo. Há 100 anos surgiram os pentecostais a partir dos batistas e continuam a se fragmentar até hoje, atraindo fieis de todas as outras denominações. Atualmente os cristãos dividem-se em uma miríade de denominações, com as mais variadas teologias e influências culturais, dificultando um entendimento apurado da situação.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Entre o Céu e o Inferno, o Real

Os conflitos reais, difíceis de ser vividos no dia a dia em um mundo cruel levam as pessoas a construírem os seus mundos a parte; fazem isso, ou por necessidade de uma crítica,  ou pela necessidade de uma fuga do real. Da mesma forma a construção de um mundo de fé: um mundo que ao mesmo tempo que não existe é também um mundo verdadeiro. Dante Alighieri, em pleno século 14, quando voltava de Roma, perseguido pelo Partido Preto da sua Florença é condenado ao degredo e se refugia em uma das maiores obras da humanidade, A Divina Comédia. Pensando em Beatriz, sua amada e musa inspiradora, abre as entranhas do pensamento medieval italiano e descreve visitas ao inferno, purgatório e paraíso. Vergílio, o poeta da Roma antiga, representa a razão e só pode acompanhá-lo até o purgatório, mas nao ao paraíso: sim, a fé está na razão, mas a razão não está na fé. Assim como o reverendo anglicano Lewis Carrol, representou a menina Alice Linddel, fugindo do mundo londrino em que vivia no século 19, para abrigar-se em seu Alice no Pais das Maravilhas. A menina corre atrás de um coelho, representando a procriação, a fertilidade e cai em um poço - cujo o fundo tem um mundo reverso de tudo que se encontra na superfície. Estudiosos desse clássico da literatura, afirmam que Carrol apaixonara-se pela menina Alice e representara na sua própria fuga do mundo real. Sob um outro viés, mas não tão distante, nas suas variadas matizes, a religião (cristãos, espíritas, islamitas, judeus, budistas, hindus etc.)  representam essa fuga do mundo, já que a consciência humana se depara diante de um real dado e renega-o. A construção de um outro mundo possível, afável, que dê acalanto ao sempiterno sofrimento humano - como os cristãos católicos ressaltam: "...degredados filhos de Eva, gemendo e chorando nesse vale de lágrimas..." Parece que se a seriedade racional é a grande responsável pela construção de um mundo econômico, político e social viável, são as fugas desse mesmo mundo real que alimentam o humano; quer seja essa uma fuga através da literatura, da arte ou da fé. Aliás, a leitura de um romance, o ato de assistir um filme, a compenetração religiosa ou alguns momentos de brincadeiras, são formas de negar um real que espreita a todos, o tempo inteiro.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

Democracia se Faz Com Liberdade, Mas Também Com Igualdade e Fraternidade

Democracia é uma palavra grega antiga que definia um sistema político em que o governante adquiria legitimidade às suas ações, não por uma força divina, mas por um desejo da maioria da população, expressada no voto. Dos povos antigos que se tem notícias, ninguém mais experimentou essa legitimidade governamental; parece que todos os governantes se definiam como ungidos dos céus e, por muitas vezes, pensavam ser eles mesmos os próprios deuses. Depois dessa experiência grega, somente na era moderna - algo em torno de 2500 anos depois - é que se voltou a buscar o conceito de democracia, agora pensando um governo do povo, para o povo e com o povo; ou na expressão dos revolucionários franceses: liberdade, igualdade e fraternidade. Atualmente, muito tem-se falado a palavra, mas restringem-se o conceito, simplesmente, como participação popular. Certamente que participação popular é democracia, mas seria um egoísmo desmedido pensá-la reduzidamente como apenas isso. Dalmo Dalari, um dos maiores juristas brasileiros, lembra que democracia é educação para todos, é moradia digna, é trabalho com renda suficiente para viver com tranqüilidade, é saúde eficaz e só lá no final é votar e ser votado. Sem dúvida, há uma complexidade maior em torno do conceito e o espaço aqui determinado não permite maiores divagações. Mas mesmo que se restrinja ao voto popular, precisa-se admitir que um sistema eleitoral democrático determina-se que alguém, desse mesmo povo, receba mais votos e alguém receba menos. Pode-se chamar de ditadura da maioria, mas essa é a legitimidade governamental num sistema democrático. Quem perde precisa aceitar o vencedor e fazer dele o seu governante, caso contrário nao será democrático; ora, não ser democrático significa ser totalitário, autoritário, fascista e outras qualificações baixas. Não é possível alguém se posicionar contra uma ação democrática e não ser qualificado como totalitário, autoritário e fascista. Interessante que algumas pessoas sociedade atual enalteçam os feitos revolucionários franceses de 1789 e até estufem o peito e citem o dístico "Igualdade, Liberdade e Fraternidade", mas querem que o governante proteja  apenas a sua liberdade - ou a sua noção de liberdade. Se algum governante insistir em Igualdade ou em Fraternidade, logo sofrerá ações contrárias de todos os lados.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Sociedade e Planejamento Escolar

Alguns professores e burocratas, quando elaboram seus planos de ensino e decidem quais conteúdos devem ser lecionados no ano,  deixam de lado uma pergunta elementar: para que esse conteúdo? Os tópicos são postos ou porque sempre foram esses e não devem ser maculados, ou porque já se tem o material didático pronto, ou aulas já estão preparadas desde de o ano passado.   Para alguns professores é como se as suas disciplinas, lecionadas ano após ano, os seus conteúdos e o curso de um modo geral, fossem deixados por um grande deus ao fazer o mundo e não mais pudessem ser violados. Parece que esse grande deus - parafraseando aqui o conhecimento judaico-cristão - ao dizer "haja oceano", "haja animal de toda ordem", "haja árvore que dê frutos", disse também "haja tal disciplina, com tal conteúdo e tais questões"; e foi a tarde e a manhã e assim foi feito. Alguém argumentaria: há, mas as ementas postas devem ser seguidas, já que são acompanhadas pelo Ministério da Educação. Isso é verdade e muitos burocratas, a frente de setores importantes do ensino, nas três esferas do País, pouco ou nada sabem de educação. Entretanto, o ementário é apenas uma rápida exposição dos conteúdos pretendidos pela burocracia, pequenas frases que podem ser re-interpetadas de acordo com as necessidades do estudante, do curso e do meio, de um modo geral. Enfim, o que se deve ter em mente na elaboração de um conteúdo programático é que a escola - das séries iniciais a pós-graduação - existe para a sociedade, tanto quanto a sociedade existe para a escola. O que isto quer dizer? Não há sociedade digna sem uma escola que se pense como parte indissociável das necessidades de um povo; ou seja: a escola deve dar respostas a essas necessidades. Homens e mulheres a frente da educação devem ter em mente que a escola teve o surgimento e todo seu processo de transformação, acompanhando o que ocorreu com as sociedades: ora se aproximando das necessidades sociais e contribuindo para um processo libertador e ora, fazendo o papel inverso. Não se pode pensar essa instituição fora da história, de forma isolada das questões mais prementes  do seu povo.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

O Empresário e o Estado Patriarcal

Que o brasileiro médio tem uma mentalidade patriarcal, dependente, bem pouco empreendedora, parece consenso nos debates calcados por idéias mais elaboradas: um dia fora o pai - ou o avô - depois, o estado.  E parece que as pessoas que estão a frente desse mesmo estado agem como únicos responsáveis pelos destinos de cada brasileiro: se auto-proclamam, o grande pai, o pai dos pobres, o pai dos descamisados e assim por diante. Essa é a grande diferença entre a estrutura capitalista que se faz acontecer no Brasil e aquelas de outras partes do mundo, principalmente as de países com uma economia mais forte. A força empresarial - no rigor da palavra - não existe por aqui; mesmo  se pensar aquelas pessoas que tecem críticas às ações do estado e discursam sobre a diminuição da força estatal, se dizendo liberais, pois fazem seus projetos de olho no amparo do grande pai, o estado. A palavra empresário/empreender procede etimologicamente do verbo latino "in prehendo-endi-ensum" que significa descobrir, ver, perceber ou dar-se a algo; assim como a expressão latina "in prehensa" que comporta claramente a ideia de ação, no sentido de levar algo até o fim ou agarrar. Parece que o sentido original daquele indivíduo que agarra um empreendimento, aposta seus bens, sua vida e sua saúde para que algo se concretize, está longe de acontecer por essas bandas. A cada nova empresa o grande pai é chamado para dar guarida; é preciso proteger os filhos (os mais próximos do pai) com todo o tipo de apoio. E se o negócio der certo, em menos de uma década o "empreendedor" se acha no direito de empatar algumas somas daquilo que lucrou  nos carros mais caros ou nas viagens mais longínquas.  Ao contrário, em certos países, o empreendedor é um homem destemido que se despoja de seus últimos recursos para que seu projeto siga em frente e, no início do projeto, se coloca ombro a ombro com os demais trabalhadores. Na história do Brasil, foi esse grande pai, o estado brasileiro, o grande empreendedor capitalista que estrategicamente criou a CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), a Vale S.A., a Petrobras, a Embraer S.A. - além de outras. Enfim, fora as multinacionais estrangeiras - operando no território brasileiro, ou os empreendimentos que cresceram com verbas dos fundos internacionais, não há um grande projeto levado a cabo por um grande empreendedor verde e amarelo.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

"Yes": Idioma e Respeito

"Shopping center", "stand up", "noteboock", "short" e "homepage" são apenas algumas palavras inglesas, não aportuguesadas, mas usadas naturalmente no linguajar do brasileiro dos tempos atuais. Algumas palavras entraram no idioma falado no Brasil e expulsaram suas correspondentes portuguesas: "site" (sítio), "bacon" (toucinho), "case" (caso), "mouse" (rato/cursor), entre  tantas outras. Isso sem contar com os nomes dos brasileiros: Willian, Marjurie, Wallace e segue uma extensa  lista. Difícil é explicar ao forasteiro o que acontece no Brasil. Seria uma visão colonialista em que os membros de uma sociedade nascem, vivem e morrem em um determinado território se sentindo estrangeiro? Difícil de dizer. O certo é que se pronuncia errado o Português sem qualquer temor, mas parece ser um pecado mortal o uso inadequado de qualquer expressão no idioma Inglês. Longe de se fazer apologia a sistemas nacionalistas, mas um povo que sabe para onde segue, tem uma dada cultura e respeita-a. Ora, assim como as crenças, as danças, os costumes, o idioma de um povo é estrutura que acimenta uma dada unidade social. Claro, o nacionalismo pode ser um sistema que aglutina um povo em torno de uma luta contra forças imperialistas, como pode ser um sistema excludente e xenófobo. Também é preciso ficar claro a necessidade de que o indivíduo conhecer uma ou mais línguas estrangeiras é uma necessidade premente no mundo atual, de realidade digital e com distâncias cada vez mais curtas. Desde os primórdios da história humana, aqueles que dominaram outros idiomas estiveram a frente das demais membros de sua sociedade, se relacionando com pessoas diferentes. Entretanto,  respeito ao idioma  é elemento agregador, mas isso só acontece com pessoas que se respeitam, defendem seus interesses e lutam verdadeiramente por suas vidas. É preciso que se entenda não ser possível construir uma sociedade respeitosa, dando as costas para a sua realidade social, sua realidade cultural, suas crenças, sua história ou seu idioma. Talvez não se possa separar deficiência econômica, corrupção, patriarcalismo, prepotência midiática ou mandonismo, do uso corrente de expressões como "self service", "fast food", "game", "pet shop", happy hour", "halloween". E assim, no dia a dia, a mentalidade média brasileira se cristaliza: "oh 'yes, my people', a gente vivemos como pode".   

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

Terceiro Mundo, o Que é Isso?

Algumas pessoas continuam a usar as expressões primeiro, segundo e terceiro mundo, mesmo bem depois dos vários eventos mundiais que acabaram com o sentido de tal uso. Certos brasileiros, quando querem enfatizar uma decadência econômica no Pais - falam que "o Brasil já nao é mais terceiro mundo, mas quarto ou quinto mundo". Parece que quando as pessoas falam de tal forma não têm a mínima noção da origem que as expressões possuem. Está claro que quando usam, o fazem para qualificar as condições econômicas de uma dada sociedade e está claro também que os países qualificados como como "terceiromundistas" não possuem uma economia forte, desenvolvida. Entretanto, não foi no desenvolvimento econômico que se originaram as expressões, mas na posição dos governos frente às políticas internacionais. Nos período, logo após a Segunda Guerra, a Guerra Fria dividiu o mundo entre países capitalistas e países comunistas; os primeiros, organizados militarmente a partir da OTAN (Organização para o Tratado Norte) e os segundos, a partir do Pacto de Varsóvia. Os países identificados pela economia de mercado se auto-denominaram Primeiro Mundo e chamaram os países comunistas, organizados por uma economia planificada, de Segundo Mundo. Assim, passaram a chamar de Terceiro Mundo os países que sofriam a influência, mas não estavam a frente de tal disputa; ou seja: não eram identificados como primeiro ou como segundo mundo, como capitalistas ou como comunistas. Na categoria de Terceiro Mundo foram enquadrados o Brasil e praticamente todos os países da América Latina, da África e parte da Ásia.  Acontece que a partir da Queda do Muro de Berlim, em 09 de novembro de 1989, ouve a derrocada da chamada Cortina de Ferro e o Segundo Mundo deixou de existir, acabando o sentido da expressão. Assim, depois dessa data e a seguir, do fim da União Soviética, não haveria mais o Segundo Mundo e não haveria sentido aos países capitalistas se auto-denominarem como Primeiro Mundo. Nesse caso, não haveria mais o por quê de países como o Brasil, Argentina África do Sul, Índia e outros, serem chamados de Terceiro Mundo. Só resta pensar que quem faz de tal expressão dá um atestado de desconhecimento da política internacional ou da história recente.