segunda-feira, 30 de outubro de 2017

A Gênese do Conservadorismo

A falta de leitura leva ao desconhecimento, tal situação - por sua vez - leva ao medo e o medo ao conservadorismo. Essa deve ser pensada como a regra de ouro para a entrada do ser humano em qualquer área do saber e, consequentemente, ao debate sobre os mais variados temas e à sua (in)capacidade de intervenção na vida política. 
Mas essa leitura precisa ser de algo que o leve a ter um pensamento que, mesmo indo fundo em uma especificidade, o indivíduo consiga abrir-se para a de totalidade; ou seja: uma leitura que vá além daquilo que o cérebro comodamente espera. Se por um lado precisa haver provocações ao conjunto dos saberes já detectados, por outro precisa que tais conteúdos acrescentem informações e lhes dê capacidade para sempre outras conexões. 
Não havendo leitura, não haverá busca para além do mundo imediato e surgirá o medo, esse fenômeno que por vezes domina e impede o prosseguimento em uma ação e limita as conexões de sentido. O fenômeno do medo nada mais é que um estranhamento experimentado diante de algo, de modo que o indivíduo se desespera e o rejeita. Acontece que essa situação está intimamente ligada a ausência de certezas, a uma obscuridade e quem vive o medo percebe-se em uma penumbra, uma encruzilhada e por isso procura um porto seguro para sua firmeza.
Na busca desesperada por certezas que lhes deem guarida a pessoa vai atrás de ideias, dados, mas sem bases referenciais se assenta em noções simplistas, fáceis de acesso e que lhes deem respostas às suas angústias. Acontece que as ideias conservadoras, a princípio, são as mais seguras pois, mesmo que depois possam se tornar cruéis e agressivas, o seu nexo causal é a manutenção das coisas do jeito que estão. 
Após se assentar em pensamentos conservadores o que vem a seguir serão suas ações baseadas em tais entendimentos: tratamento com descaso as pessoas com com outros entendimentos, às pessoas com práticas religiosas diferentes, com condição sexual diferente, de raça diferente etc. Se num primeiro momento tudo não passa de discursos raivosos, "cheios de razão", num prosseguimento encaminha para a agressão e toda a sorte de práticas cruéis e agressivas.
Algumas pessoas levam vantagem com atitudes conservadoras, com a ideia de que tudo permaneça do modo que está, são aquelas questão no ápice da pirâmide e detém privilégios com as coisas do jeito que estão. O conservadorismo desses não é a ignorância, mas ao contrário; o medo aqui vem da certeza das mudanças. O conservadorismo nas classes médias e pobres (assalariados, profissionais liberais, professores e pequenas lideranças esse sim é oriundo da ignorância e, por ela, o medo.

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Revolução Russa de 1917

A revolução russa de 1917 foi um marco na história da humanidade por um motivo claro: pela primeira vez um grande país derrubava um regime monárquico que já existia há muito tempo, uma dinastia que ultrapassava a casa dos 300 anos, para experimentar um sistema socialista. A explosão começou quando, liderado por Vladimir Ilich Ulianov, conhecido como Lenin, um grupo de revolucionários saiu de trem de Berlin rumo a Finlândia, entrou na Rússia e marchou até Petrogrado onde encontrava-se o palácio de inverno dos Romanov.
Mas no ano de 1917 já acontecera uma outra convulsão política em fevereiro: um grupo de sociais liberais, liderado por Kerenski, forçou o czar Nicolau II a assinar a carta de renúncia. Mas o governo burguês de Alexander Kerenski não conseguiu contornar o descontentamento das camadas mais prejudicadas da população e os levantes se ampliaram, o que facilitou a entrada triunfal de Vladimir Lenin a frente dos trabalhadores.
Outros pontos que não se pode deixar de citar quando se trata da Revolução Russa são a morte de Lenin e o conflito entre Stalin e Trotski: desses dois últimos, o primeiro tornara-se o governante da agora chamada União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e o último, o grande teórico marxista, criador do Exército Vermelho. Os dois divergiam em vários pontos, mas especialmente no quesito condução estratégica do movimento socialista: enquanto Stalin defendia a consolidação do movimento na Rússia, Trotski pretendia levar as lutas revolucionárias para um nível global, terminando com o assassinato desse último no México anos depois.
As mudanças na Rússia foram profundas: o campo foi coletivizado, a produção urbana foi estatizada, os grupos dos sovietes tornaram-se importantes e o estado forte, com capacidade de levar o movimento para além dos montes Urais. Através dos partidos comunistas pelo mundo a fora o partido russo conseguiu influenciar os movimentos socialistas fomentando revoluções operárias em vários países.
E como resultado, o antigo Império Russo, agora União Soviética que abandonou a primeira Grande Guerra em situação de penúria, com uma economia atrasada e a sociedade com uma expressiva injustiça na divisão de renda, para uma condição de disputar de igual para igual com a maior potência mundial em termos econômico e bélico.
O que se implantou na Rússia, e por hora se completa 100 anos, foi uma releitura de Lenin ao pensamento do alemão, Karl H. Marx. Após isso, novas leituras e suas aplicações foram feitas por todo o Planeta e isso ao longo do século 20. A União Soviética caiu e as lutas revolucionárias recrudesceram, mas os ânimos permanecem em vários cantos do mundo e o sonho por uma sociedade melhor continua.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Universidade, Desenvolvimento e Autonomia

A instituição universitária, uma escola de terceiro e quarto graus, penetrou na vida comum das mais variadas sociedades modernas, de modo que seria praticamente impossível pensa-las separadamente. Portanto, é necessário entender a dinâmica de uma sociedade a partir de um estudo sobre a capacidade da instituição dar retornos tanto em projetos de desenvolvimento para iniciativas governamentais, quanto à preparação dos jovens para o desempenho de funções necessárias.
Um consenso determina o tripé que soergue a universidade - ensino, pesquisa e extensão - que nem sempre é entendido, ou levada em consideração, mas de extrema importância para o entendimento. Nem sempre entendido porque esse tripé não se mantém em uma gama expressiva de instituições em países em desenvolvimento, ou com uma economia mais fragilizada; o que se percebe é um acomodamento a partir das condições culturais de cada sociedade. 
Aí reside um ponto necessário para o entendimento, a condição de sua manutenção. Possui independência financeira, é custeada pelo estado, ou é dependente do pagamento das mensalidades pelos acadêmicos? No primeiro caso, por mais que se fale em autonomia universitária, vive-se uma dependência burocrática de repasses financeiros com atrasos de pagamento o que fragiliza iniciativas académicas; no segundo, sofre o aperto de duas paredes, de um lado precisa mostrar-se como universidade com uma autonomia científica, por outro, inevitavelmente se vê inserida em uma economia de mercado devoradora das melhores vontades. 
Perdendo-se na sua sustentação financeira, o tripé ensino, pesquisa e extensão se desfaz. A lógica universitária é a busca por um ensino de melhor qualidade e, por isso, a pesquisa existe para que esse não seja um constante repasse de informações do que se buscou em outras universidades e, para que não se façam pesquisas sem os pés no chão, sem dar respostas à sociedade, faz-se a extensão.
Não havendo sincronia entre esses três pés, ou mesmo não havendo esse tripé, a intensão essencial da instituição universitária se perde: se não consegue dar uma educação de qualidade elevada aos jovens, também não consegue dar repostas aos projetos governamentais.  O resultado é que se as economias fragilizadas esperam que essas instituições deem retornos necessários, importantes para seus desenvolvimentos, não é isso que acontece, mas sim um peso nos gastos. No  máximo fará ensino, mas não será mais que um repasse dos conhecimentos elaborados nos grandes centros.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Tudo Muda, Sempre

Mesmo que a história mude, que tudo sempre se altere, que o que hoje é um dia não foi e um dia não mais será, a tendência das mentalidades médias é fincar o pé como se pudessem segurar para sempre o modo de ser e de querer. Mas uma coisa é pensar que se pode segurar tudo do jeito que está para que nada mude, a outra é pensar que pode forçar retrocessos com o intuito de fazerem voltar ao que um dia já foi. 
O mundo entrou, nas últimas décadas, em uma dicotomia perversa e de difícil saída, de um lado não se aceita a pecha de conservador, com falas de avanços e inovações, fascinados pelas novas tecnologias, de outro, um agir medroso e uma crença generalizada de que as decisões políticas e institucionais devem retroceder. Um saudosismo. Dicotômica e perversa porque põe a sociedade em uma certa berlinda: de um lado não consegue avançar em um curso natural e, de outro, não sedimenta condutas e relações estáveis necessárias.
Mas o interessante desse conservadorismo é o argumento usado para a defesa da manutenção das coisas do jeito que pensa que sempre deveriam ser; mesmo que sejam país relapsos e que não acompanhem a vida escolar dos filhos, mesmo que não tirem tempo para se dedicar aos filhos, argumentam a defesa da família. Alguns fazem discursos em defesa das instituições nacionais, mas corrompem a ordem na hora de declarar seus impostos; outros transformam a crença do povo em balcão de negócios, mas falam em manutenção de uma "fé viva".
Tanto as coisas materiais quanto às ideias, bem como as relações entre as ideias e a produção material, sofrem alterações constantes e isso sempre influenciou as artes, a filosofia, as ciências, as religiões e a política, de modo que tudo muda. Acontece que essas alterações provocam medos às mentes médias e menores, com dificuldades para perceber que há uma totalidade e, nessa, uma constância de mudanças.
Mas o pavor com às alterações é naturalmente compreensível, desde os tempos mais remotos houve movimentos reacionários com pensamentos de que tudo tem de ser estancado, segurado, contornado. As grandes revoluções transformadoras   da história sempre foram seguidas de períodos restauradores, de retrocessos e, em geral, com terror e crueldades.
O que foge da normalidade não é o querer parar ou diminuir o concurso de mudanças, mas o pensamento de que é possível fazer os pensamentos voltarem às condições que já foram há bastante tempo, há séculos até, como é o caso de discussões recentes na defesa da "terra plana", por exemplo. Talvez isso se explique pelo fato de que conservadores e ciências não se encontrem em uma mesma sintonia: se o conservadorismo tem pavor ao novo, as ciências são implacáveis, as suas existências são marcadas pelo novo, pelo diferente.  O conservador não sabe, mas por mais que grite e esperneie, não é possível segurar, tudo muda,  até ele mesmo.

sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Fim

A ideia de fim é sempre muito trágica para a mente das pessoas. É comum que se ligue esse conceito com a morte, com o final de um relacionamento, com a quebra de um contrato, com uma traição, com a perda de algo importante e assim por diante. A ideia de fim pode trazer uma melancolia pelo encerramento de uma etapa, como se isso, por si só, significasse o final de algo bom; há aí  também um pensamento de perda. Ora, esse pensamento só acontece porque não se leva em conta que o término de uma fase pode significar também o de parar um sofrimento e o início de uma felicidade; no entanto, não é o fim que provoca nas pessoas a melancolia e sim a ideia que as pessoas fazem.
O pensamento de relacionar o fim com algo trágico não se sustenta porque se assim fosse teria que se aceitar que a simples existência de algo seria boa por si só, por extensão, tudo que não existe teria que ser, necessariamente, mal. Nesse caso, haveria uma relação direta entre bondade e existência, assim como maldade e não existência, o que seria ilógico. Afinal, o mundo é composto de coisas boas e ruins já que as ações humanas tanto podem ser boas quanto más. 
Acontece que o conceito de fim é muito amplo para se simplificar com a tristeza pelo encerramento de algo. O fim de uma guerra, o fim de um sequestro, o fim de uma doença etc., é sempre comemorado como algo relevante que acontece entre os humanos; por outro lado, o começo pode ser o de sofrimento, de longas caminhadas, de torturas e assim vai.
O real é um ciclo continuo, tudo que hoje existe no universo um dia não existiu e um dia não vai mais existir em um eterno final e recomeço. Se tudo está em um ciclo constante de vida e morte os conceitos de fim, de começo, bem como o de continuidade, de parada e de recomeço estão todos imbricados em uma mesma complexidade. Não podem ser pensados separadamente.
A aproximação direta entre o fim e o sofrimento, ou tristeza, se deve basicamente pela relação que se estabelece com a morte, o encerramento da existência de um ser consciente; talvez isso ocorra pelo sofrimento diante do desconhecido, diante do que não se domina. O sexo e a morte, por representarem o início da vida e o seu fim, é sempre algo de difícil entendimento, ou de aceitação, para o humano, o que o faz encher de mitos e todo tipo tabus e crenças. Ora, se o fim, o início, a continuidade e o recomeço são conceitos que estão todos imbricados em um mesmo sentido, não há que se ter medo de um encerramento: a luta só começa depois de um preparo exaustivo e quando termina começa um descanso e assim seguem todas as coisas em seu curso natural.

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Ética: o Conceito e a Prática


Para alguns ética se isola como um conceito cuja importância paira em si mesma, muito acima daqueles conceitos elaborados em um regramento da vida humana, para outros, confunde-se com o de moral, como sinônimo, podendo-se usá-lo ao gosto do usuário e, ainda outros, preferem pensá-lo como uma ciência que estuda as condutas morais. De uma forma ou de outra o conceito se impõe como uma necessidade para a orientação humana e, com isso, o seu entendimento leva ao esclarecimento sobre conceitos que lhe seguem, como o de dignidade, o de respeito, o de liberdade, o de verdade etc.
Mas é preciso dizer ainda que o homem que é ético não pensa no conceito quando se depara diante de uma realidades em que se necessita agir fortemente de alguma maneira; ele apenas vai ser bom, respeitoso e verdadeiro porque acredita que assim deve ser. Portanto se ética é um conceito que se usa comumente para qualificar uma atitude virtuosa, teóricos também o usam para estudar as relações das pessoas nas práticas cotidianas e em suas decisões diante de fatos relevantes.
Além do mais, a palavra em si ou mesmo a atitude ética tem uma historicidade, afinal as pessoas usam os conceitos de dignidade, de respeito, de liberdade, de verdade etc., de forma diferenciada ao longo dos tempos. Os antigos estoicos, os cristãos, os liberais ou os socialistas sempre deram uma coloração conceitual própria para cada uma dessas palavras, o que provoca uma alteração ao sentido que se pode ter de ética. 
Porque para cada uma dessa orientações intelectuais pesa o nexo causal de cada uma; por exemplo, respeito: se os estoicos preocupam-se com o prazer é, por extensão a felicidade; nesse caso, o respeito ao outro deve ser medido pela possibilidade de retorno prazeiroso. Mas essa mesma liberdade, se pensada pelos liberais, tende para um liberação do estado diante dos domínios da economia, assim também com os cristão que tendem para a promessa de um galardão celestial como o sentido primeiro  e se interliga com ainda outros conceitos como o de livre-arbítrio e culpa, por exemplo.
E nessa longa jornada pela qual percorre o conceito de ética chega-se aos dias atuais pensando-se para além de uma disciplina, de sinônimos e todas as definições, mas em conduta responsável de respeito à dignidade do outro. Se o homem virtuoso é aquele que passa por cima de suas emoções, de suas vontades pessoais e vai ao encontro daquilo que entende como o bem, isso significa que o virtuoso é ético.

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Os Reacionários e as Mudanças

Tudo segue o seu caminho, as árvores crescem, o sol nasce, as crianças tornam-se adultas, os costumes mudam, as ideologias dão lugar a outras e assim tudo se altera, constantemente, quer queiramos ou não. Mas mesmo que naturalmente as coisas mudem, que tudo se transforme, há pessoas que se posicionam contrárias às novas ideias, aos novos pensamentos e a tudo que é diferente como se pudessem segurar com as mãos um rio que corre para o mar.
A esses chamam-no de reacionários por reagirem contra aquilo que parece tirarem-lhes do conforto em uma  pseudo paralisia. Essas pessoas vivem uma dicotomia: num estágio fazem um discurso de defesa da segurança das instituições alegando a necessidade do seu fortalecimento como forma de manutenção da família, da fé, da constituição e dos bons costumes, num outro, passam por cima das mesmas dando jeito quando os seus interesses são outros e alteram, assim, a função original da instituição. Portanto, praticam as mudanças às quais condenam.
Alguns  indivíduos, mesmo que a título de defesa dos interesses sociais, burlam suas próprias regras e transgridem os princípios que as instituições se compromete. Ora, os meios de comunicação, a todo instante, dão conta da existência de pedofilia praticada por líderes religiosos, por membros das famílias e que pornografias (fotografias de crianças nuas, sensuais, vídeos etc.) são encontradas nos computadores das casas, de empresas e de organizações governamentais, não governamentais e representantes maiores das tais instituições acobertando as práticas.  
Por mais que essas pessoas falem em manutenção da ordem e discursem contra as mudanças, na realidade não é isso que buscam pois eles próprios vivem as mudanças. Acontece que as instituições, como a gênese dos valores das sociedades, é verdade,  reforçam costumes, mantêm  por longos períodos os padrões morais, os costumes etc., e dão a impressão de que tudo pode permanecer parado no tempo. 
Mas tudo muda sempre. E as mudanças que ocorrem em minutos, em horas, em dias meses todos acompanham com certa clarividência, mas quando essas mudanças ocorrem em vários anos, em séculos ou em milênios, algumas pessoas perdem a capacidade de percepção.  O cérebro não acompanha as transformações muito lentas ou muito rápidas, mas apenas as que estão dentro de suas margens, não deixando percebe-las, o que faz acreditar que tudo permanece estável. Portanto, mesmo que alguns não queiram, mesmo que reajam contra as transformações, façam discursos e passeatas, tudo sempre se transforma - igrejas, famílias, escolas, estados, e esses reacionários, sabendo ou não, são também agentes dessa transformação.

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Os Tolos e as Ditaduras

Se todos os povos reivindicam uma democracia para chamar de sua, também todos os povos estão sempre diante da ameaça do surgimento de um "salvador da pátria" que se adone do poder e conduza a sociedade com mãos de ferro. Os governos totalitários, portanto, autoritários, são um fenômeno característico da era moderna e que podem surgir a qualquer momento, no vácuo deixado por algum desencontro político, em geral originado  na desinformação.
Um sistema democrático é frágil por essência e se sustenta no equilíbrio das relações e na aceitação das diferenças; calcado nisso, os setores mais conservadores se aproveitam das condições vividas na sociedade e investem na defesa dos seus interesses, alegando defesa nacional, defesa da família, defesa da raça e daí por diante. Portanto, um sistema autoritário é originado tanto nas necessidades econômicas, quanto na desinformação, na falta de dados referenciais que possibilitem um entendimento das conjunturas políticas.
Ora, se a democracia se caracteriza pela aceitação das diferenças, pela urbanidade, os governos totalitários se caraterizam pelo seu contrário, a exclusão de todos que não comungarem o mesmo pensamento, ou que não estiverem dentro das condições mantidas por uma parcela radical da sociedade. O interessante é que o totalitarismo faz uso de alguns conceitos como liberdade, povo, raça, família, crença, entre outros, e os reforça insistentemente em meios de comunicação, em escolas, em igrejas etc., até fazerem efeito de dominação diante de uma massa ávida de soluções para as suas necessidades.
Na há propriamente uma teoria, pelo menos hegemônica, sobre o que é ou como se comportam os governos totalitários, mas os textos de história estão repletos de exemplos característicos desses dois últimos 200 anos. Na primeira metade do século 20 os governos mundiais se viram invadidos por ditadores,se autoproclamando democráticos, mas mantendo as populações distantes do poder, controlado-as com mãos de ferro: Alemanha, Itália, Espanha, Portugal, Brasil, Argentina e a lista continua. 
É nesses exemplos que se podem traçar linhas sobre as características dos governos e suas estruturas burocráticas, não só totalitários e autoritários (se é que é possível ser uma coisa sem ser outra). Quem espera por um governo totalitário é um desinformado, para não chamar de tolo, ou outros adjetivo, porque isso é querer que alguém, ou um grupo determinado, governe em seu nome e lhe tire os seus direitos mas sagrados, a sua autonomia de cidadão.

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Cientistas: Progressistas e Conservadores

Dois setores da vida moderna, a princípio distintos, mas com uma relação direta: de um lado a maneira de se encarar a ciência, as suas áreas, sua aplicação e suas necessidades, do outro, o pensamento político, a visão ideológica politico-partidária, sua participação na sociedade, aceitação e contrariedades. Parece óbvia esse relação, afinal as pessoas são orientadas politicamente sob um ponto de vista ideológico e entendem a visão e o uso das ciências de uma determinada maneira; no entanto, há que se realçar algumas nuances importantes.
Por um lado, as ciências modernas se caracterizam pelas divisões como forma de aprofundarem os conhecimentos; surgem aí as especializações e as inúmeras subdivisões e, a todo momento, em uma universidade distante, um grupo de estudiosos fazem surgir uma nova  área do conhecimento. Do outro, lideranças e as visões partidárias disputam hegemonias de cientistas, profissionais liberais, jornalistas etc., como forma de implantarem seus pontos ideológicos.
Naturalmente, essa proliferarão de novos conhecimentos, por mais que racionalize os processos de investigação com a delimitação do objeto, cada vez mais os cientistas se afastam de uma universidade humana, de uma totalidade dos saberes. Dessa forma, algumas pessoas tornam-se grandes sábios sobre uma pequena área, dominam como ninguém um ponto específico, mas são analfabetos sobre outras, tão ou mais importantes que os seus conhecimentos para a vida nos grupos.
É esse distanciamento entre totalidade e a particularidade que acaba por moldar politicamente um e outro agente da ciência. Não que haja uma divisão clara entre os pluralistas e os unitaristas, moldados em um maniqueísmo, mas que é preciso estabelecer uma relação entre o todo e a parte; alguns pesquisadores, mesmo se  especializando não deixam de pensar a totalidade.
Acontece que um físico, um jurista, um biólogo, que saiba muito sobre física, sobre direito ou sobre biologia, mas que nada saiba de arte, de política, de ética ou de sociedade, será politicamente conservador e, por vezes, bastante egotista e simplista. Bem diferente dos colegas das mesmas áreas, mas inteirados de conhecimentos artísticos, políticos, éticos e sociológicos; esses estarão mais aptos a um entendimento entre os grupos, a aceitação das diferenças etc, e perceberá com mais clareza o papel de sua área de conhecimento na vida das pessoas. 

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Ciência e Racionalidade

A palavra ciência vem do Latim, scientia, traduzida para o Português como "conhecimento", refere-se a qualquer pesquisa elaborada sistematicamente, com métodos que se pretendam rigorosos. Na era moderna, ciência tornou-se um conceito indispensável para a vida cotidiana levando em conta as ações na área da arte, da comunicação, dos conflitos bélicos, do trabalho etc. Indispensável tanto para entender a vida cotidiana, quanto para fazê-la acontecer.
Acontece que, com toda a pretenção iluminista, os homens da modernidade embrenharam-se em um racionalismo, a acreditar que métodos rigorosos atingem a verdade eternas. Esqueceram, esses senhores, a complexidade do universo que torna os vários saberes, os vários campos do conhecimento diferentes, carecendo não só de diferentes métodos, mas também de diferentes modos de pensar essa tal ciência no que tange a definição do objeto.
Além das várias áreas possíveis de investigação sobre os fenômenos concretos na natureza, como o funcionamento das estruturas vivas ou minerais, ou ainda seus componentes, também há de se pensar os humanos em suas relações políticas, sociais e econômicas. Algumas áreas do saber são aceitas como como verdades absolutas e outras com desconfiança ou com direito de aceitar ou contrariar os resultados das pesquisas.
Com isso, heis aí mais um campo de estudo, a relação das pessoas com as tais de ciências em suas variedades: a aceitação de algumas, ou a negação de outras, os preconceitos com certas descobertas, os medos ao se pensar o sucesso de algumas etc. Além disso, há que se pensar ainda nos comportamentos dos pesquisadores em às suas relações corporativas ou com os sistemas universitários, com o regime econômico e a necessidade de aumentar seus dividendos, o poder etc.
Uma ciência que pretende estudar a própria ciência é a Epistemologia, mas seu desempenho tem ficado na tentativa de entender a relação entre os saberes elaborados e os não elaborados, ou entre a eficiência dos métodos em suas variadas áreas. A Antropologia, por sua vez, faz algumas incursões sobre as descobertas de certos grupos humanos e, a Sociologia, que tem realizado algumas buscas nos comportamentos humanos, diante das novas tecnologias e pára por aí.
Mas a ciência continua a não ser compreendida por mais que ela, em si, se pretenda ser a "vara de condão" para a compreensão de tudo. E o paradoxo está posto, não é compreendida por conta da sua própria racionalidade, o modo como foi pensada para a modernidade e que lhe deu condições de avanços, as suas próprias divisões; pensa tudo e não a si própria.

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Arte, Rebeldia e Conservadorismo

Somente os humanos fazem arte e quando a fazem, se elevam e se projetam para além de sua condição animal; nesse caso, se a cultura é o que balisa o surgimento dos humanos, o nascimento da arte é o início do que se chama de humanidade. Em outras palavras: sem arte resta apenas ao indivíduo a sua condição animalesca e, por outro lado, sem o homem a arte teria impossibilitada a sua existência.
Portanto, se arte e humanidade são dois conceitos interdependentes, a compreensão dela necessariamente interfere na compreensão de nos construímos como humanidade. Prova disso são as correntes artísticas e todo o desenrolar da história da arte ao longo dos tempos, em cada momento traçando linhas diretas com os aspectos sociais, políticos e éticos dos grupos humanos.
Dessa maneira pode-se dizer que a arte é a "locomotiva" que puxa os "vagões" dos mais variados aspectos das sociedades, de maneira que não se pode prescindir dela, mas também é um demonstrativo de que a pessoa do artista e a arte, propriamente, é essencialmente rebelde. Porque o artista age para muito além do que pensam as pessoas de um modo geral. Em outras palavras: a arte como expressão humana tem vida própria, mas o pensamento que se tem da arte denota o entendimento que as pessoas de uma sociedade tem dos mais variados setores. Se politicamente, socialmente e economicamente forem conservadoras, não se sentirem bem com o diferente, da mesma forma vão agir com repúdio a alguns aspectos da arte.
Isso tem acontecido muito quando as pessoas se deparam em frente de obras modernas, com pinturas não fotográficas, ou instalações que mostram pessoas em condições diferentes do que se vê no dia a dia. Corpos nus, por exemplo, ou filmes, músicas e teatro sem uma lógica de começo, meio e fim. E as "doenças" sociais e toda a ordem de desmandos e contradições, estão presentes na arte, ou na expressão crítica do artista, ou na deficiência do espectador, no que se espera dela.
Por outro lado, o não conhecimento sobre a arte, assim como o não conhecimento sobre os fenômenos sociais, e a relação entre eles, leva-se também a uma discordância do que se produz enquanto tal. Se algo for feito para agradar não será arte, o seu propósito é a provocação, é escarafunchar as existências dos humanas e jogar para o alto os amores não correspondidos, as perdas, as traições, os medos e toda a sorte de frustrações e maledicências.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Liberdade Como Processo.

A liberdade não pode ser entendida como um ente, um objeto claro e definido que se busque por todos os cantos, mas sim como uma condição que se vive e se sustenta e, mais que isso, também não é algo parado, mas uma busca constante. Isso quer dizer: a liberdade deve ser pensada a partir de uma construção permanente. Alguns acreditam que a encontraram e, a partir daí, fecham-se em suas culturas, em seus entendimentos e assim prendem-se em uma dada condição e perdem-se em suas essências.
No entanto, há uma diferença importante entre o ser livre e o pensar que se é livre. Como é o caso daquele que nunca experimentou uma outra condição que não a que está vivendo e crê, com todas as forças, que aquilo que possui é a própria concretude da liberdade. Acontece que, se por um relampejo da sorte, ele pudesse viver, mesmo que por um fragmento muito pequeno de tempo, sem as amarras que lhe prendem, perceberia as suas tolices e condições de aprisionamento.
Mas o caminho para a libertação é a filosofia, porque é ela que escarafuncha a existência na tentativa de mostrar aquilo que é. Diante disso, o homem livre vive ao mesmo tempo a satisfação e a angústia: por um lado, sentindo-se em paz consigo por não desejar mais que o quinhão necessário, por outro, a angústia diante da incapacidade de solucionar os descasos pelo qual percebe ao seu redor. Então, esse homem que consegue contemplar-se como ser em si, relacionado com o mundo e com as demais pessoas, satisfaz-se e angústia-se.
Acontece que, como animais, os humanos existem também prisioneiros dos instintos, das suas culturas, mas além disso são de carne e ossos e prendem-se às condições biológicas. Portanto, a libertação, nessa permanente construção, implica em um desgarrar-se das condições, às quais está submetido, e um construir-se como ser divino. 
Para isso é preciso existir sob vigilância e seguir no processo permanente de libertação. Vigilância porque tendenciosamente os humanos buscam o aconchego e quando param, não param, regridem. Acontece que a terra gira, as flores nascem, crescem e morrem, a história não para de acontecer e, se os humanos param e tudo segue, eles ficam para trás.
Liberdade é, portanto, mais que um adjetivo, ou mesmo um substantivo, é um verbo.  Um verbo que se conjuga em todos os tempos e não só na primeira pessoa, mas em todas as pessoas. Porque liberdade é um constante despir-se das condições trazidas até então, em busca de uma nova e melhor condição de existência.

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Religião x Partido

Dois caminhos, duas realidades por onde os humanos, de uma forma ou de outra, percorrem: um, a realidade social a qual são postos tendo em vista que, quase inevitavelmente, são obrigados a viver uns com as outros, por isso, precisam dirimir suas diferenças e, dois, o impacto que esses humanos sentem quando observam a grandiosidade do universo e por isso se enchem de rituais e de magias. 
O primeiro caso pode ser traduzido como atividade política e as suas relações com a burocracia, com o estado e com os partidos e ideologias e, o segundo, as religiões com suas igrejas, suas seitas, livros sagrados e crenças. As perguntas: os humanos necessariamente precisam ter tais atividades? Esses humanos precisam pertencer a um partido, a uma ideologia partidária? Da mesma forma do outro lado, precisam crer em um deus, ter uma fé? Resposta: não necessariamente.
Mas não se trata de ser ou não necessário ter um alinhamento religioso ou pertencer a um partido, mas o que esses têm a ver com as suas necessidades no dia a dia. As pessoas, cujas atitudes não se enquadram em uma religiosidade tal, estão apenas passando por cima da tradição imposta pelas instituições, o que leva alguns seguidores mais exaltados a se revoltarem com a atitude. No entanto, o abandono do acompanhamento político partidário, persistente, daquilo que, efetivamente, acontece com a economia, com a educacao, com a saúde, com a segurança etc. na sua sociedade, estará deixando de lado aquilo que é de seu interesse.
Ora, a política partidária mesmo sendo de extrema importância para a cidadania, não é ensinada nas instituições tradicionais; por isso mesmo, sendo o caminho por donde selam-se os destinos das pessoas, necessariamente deveria ser matéria escolar. Diferente do que alguns reverberam aos quatro quantos, precisa ser aberto aos jovens todo o processo partidário de como as lideranças políticas são escolhidas, as suas implicações e os cuidados necessários.
A contradição é o pensamento de que é necessário o ensino religioso nas escolas e mas não a política partidária já que crença é uma expressão íntima de cada indivíduo, enquanto a política é uma ação junto aos demais membros da sociedade. A lógica cristã de salvação é individual: uma relação direta entre a criatura e o criador; afinal a expressão original do cristianismo é: "quem crer e for batizado será salvo", por outro lado, a política partidária interfere diretamente na vida de todos. Aí, nesse paradoxo, surge mais um ingrediente, a interferência religiosa na vida das pessoas pacifica, acalma o fiel na luta pelas suas necessidades, mas a política, pelo contrário, provoca-lhe o brio e o faz lutar pelos seus interesses e isso provoca a ira de alguns setores privilegiados da sociedade.