No entanto, há uma diferença importante entre o ser livre e o pensar que se é livre. Como é o caso daquele que nunca experimentou uma outra condição que não a que está vivendo e crê, com todas as forças, que aquilo que possui é a própria concretude da liberdade. Acontece que, se por um relampejo da sorte, ele pudesse viver, mesmo que por um fragmento muito pequeno de tempo, sem as amarras que lhe prendem, perceberia as suas tolices e condições de aprisionamento.
Mas o caminho para a libertação é a filosofia, porque é ela que escarafuncha a existência na tentativa de mostrar aquilo que é. Diante disso, o homem livre vive ao mesmo tempo a satisfação e a angústia: por um lado, sentindo-se em paz consigo por não desejar mais que o quinhão necessário, por outro, a angústia diante da incapacidade de solucionar os descasos pelo qual percebe ao seu redor. Então, esse homem que consegue contemplar-se como ser em si, relacionado com o mundo e com as demais pessoas, satisfaz-se e angústia-se.
Acontece que, como animais, os humanos existem também prisioneiros dos instintos, das suas culturas, mas além disso são de carne e ossos e prendem-se às condições biológicas. Portanto, a libertação, nessa permanente construção, implica em um desgarrar-se das condições, às quais está submetido, e um construir-se como ser divino.
Para isso é preciso existir sob vigilância e seguir no processo permanente de libertação. Vigilância porque tendenciosamente os humanos buscam o aconchego e quando param, não param, regridem. Acontece que a terra gira, as flores nascem, crescem e morrem, a história não para de acontecer e, se os humanos param e tudo segue, eles ficam para trás.
Liberdade é, portanto, mais que um adjetivo, ou mesmo um substantivo, é um verbo. Um verbo que se conjuga em todos os tempos e não só na primeira pessoa, mas em todas as pessoas. Porque liberdade é um constante despir-se das condições trazidas até então, em busca de uma nova e melhor condição de existência.
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