segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Sociedades Complexas e Funções Públicas

Os sociólogos separam dois grupos humanos organizados politicamente: de um lado o que eles identificam como sociedades simples, ou tribais, e do outro, as sociedades complexas - como se chamariam as civilizações modernas. Numa, todos fazem parte de uma mesma estrutura política como membros responsáveis, formando um corpo social único e indissociável; na outra, as pessoas são divididas por funções. Os grupos tribais se unem a partir daquilo que Émile Durckeim chamaria de solidariedade orgânica; os indivíduos entram no grupo involuntariamente. A sociedade simples, como o nome já diz, é mantida a partir de um único núcleo populacional que contempla a educação dos membros, assim como a fé, a procriação, a defesa, o lazer etc; todas ligadas diretamente uma a outra.  Já, do outro lado, as sociedades complexas, são formadas por um emaranhado de institutos com funções distintas, criados historicamente ou pensados a partir de necessidades determinadas pela conjuntura. O que bastante caracteriza as sociedades complexas é a separação clara entre as atribuições públicas e privadas, entre os interesses públicos e os privados. Mesmo que sejam públicas todas as funções em uma sociedade, nesse caso em particular, os interesses sociais são servidos por um corpo de funcionários com varias atribuições, controlados por leis e administrados politicamente. O grande problema das sociedades modernas é que, na maioria das vezes, esses servidores, admitidos por concursos, portanto protegidos rigorosamente por lei, encastelam-se em suas corporações tornando-se, em algumas vezes, algozes da população. Algumas dessas áreas possibilitam o surgimento de altos funcionários, agentes públicos importantes que, por dominarem a burocracia, tornam-se aristocratas, no pior estilo medieval.  Em uma sociedade complexa, é impossível prescindir de um copo funcional que atue adequadamente na saúde, na segurança, na educação, na justiça, na previdência e em tantas outras áreas. Nesse caso, vislumbra-se três alternativas: uma, a privatização geral do sistema público; duas, acabar com a estabilidade empregatícia  e criar um sistema periódico de  cinco ou seis anos e a obrigatoriedade sempre de um novo concurso; e três, todo o corpo - do mais baixo funcionário ao mais alto, passando por magistrados, procuradores e diretores executivos - entendam que são servidores e que estão a serviço de todo cidadão.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

O Natal e o Nascimento de Um Deus

A tradição ocidental, vivida através dos anos, unida aos escritos do livro sagrado dos cristãos, dá conta de que há dois mil anos um menino nascera e com ele a redenção da humanidade. Conta-se ainda que esse menino seria o próprio Deus, o ser que fez o céu e a terra e tudo que há no universo. Seria aquele que Santo Agostinho, ao interpretar Aristoteles, disse ser o motor inicial; seria ele o verbo ser, o que se fez carne e nasceu entre as pessoas. Entretanto, uma versão paralela dá conta de que a data é uma tentativa de adequar uma possível comemoração do nascimento do deus cristão a uma antiga festa pagã em honra ao deus do sol, Hélio. A história das religiões dá conta ainda de que, já no antigo Egito, a deusa Isis, conhecida como rainha do céu, dera luz a um deus numa data que se identificaria com a de 25 de dezembro do calendário gregoriano. Outros dois pontos interessantes a serem levados em conta na história do nascimento do deus-menino: um, a tradição de se realizar festas como comemoração da data em que se faz aniversario e, dois, o ato de presentear aquele que completa mais um ano. Conta-se que os reis persas, há muitos séculos antes de Cristo, teriam sido os precursores na realização de festas por conta de seus aniversários, ocasião em que seus súditos costumavam darem-lhe presentes. Esse é o ponto inicial, os elementos básicos, para a fundação de uma fé que transcendeu as suas raízes judaicas e que entranhou até a essência da cultura ocidental, marcando sua ética, sua ciência e sua filosofia. Nos dias atuais é possível se ver festas natalinas por todo os cantos da Terra - da Europa a África, da América a Ásia, mesmo em povos cujas religiões nao lembram o nascimento de um deus salvador. Enfim: se um dia surgira na terra um deus que viera para redimir a humanidade de seus pecados, se a data é correta ou não, torna-se irrelevante para o crente e para o incrédulo: para um basta a fé, para outro, nada justifica. Mas é preciso que se leve em conta algo que será elemento forte nessa dicotomia, o espírito das pessoas no período que envolve o Natal: para alguns, é uma época importante para o aumento nos ganhos, ou de receber presentes, para outros é um período em que começam as férias e, para outros, um momento de introspecção e comemoração ao nascimento do verdadeiro Deus. 

domingo, 21 de dezembro de 2014

Corrupção Nossa de Cada Dia

O mais interessante na discussão da corrupção no Brasil, e um dos principais motivos da dificuldade de se erradicar esse fenômeno, é que os corruptos também fazem um discurso contra. Portanto, para entender o fenômeno faz-se necessário partir da complexidade do conceito, levando em conta a cultura, a educação, a política e a economia da sociedade. A palavra corrupção tem uma origem etimológica no Latim "corruptus", que significa "quebrado em pedaços" e que no verbo correspondente, "corromper" significa "tornar-se podre". Quebrado em várias partes ou algo podre, o termo remete a uma atitude rejeitada pelos membros de uma determinada sociedade, como algo que prejudica o corpo social e, portanto, deve ser execrado.  Se por um lado pode se dizer que corrupção é o ato de corromper, de oferecer algo para obter vantagem em negociatas, em que se favorece uma pessoa e se prejudica outra, mas que também pode ser o ato de tirar vantagem do poder que lhe é atribuído, ou de uma situação qualquer. Isso quer dizer:  o conceito de corrupção pode ser muito elástico e pode significar a açao do agente publico ou político que se utiliza dos bens públicos para levar vantagem, assim como o cidadão que nao informa corretamente o imposto de renda, ou o estudante que "cola" na prova.  Um dos pontos da complexidade do termo, e mais uma vez a dificuldade na sua erradicação, é que, na busca da vantagem, o corrupto não consegue ver maldade da ação, mas apenas um processo de defesa de sua condição de vida. O agente público ou qualquer um que busca vantagem sobre atividades públicas ou privadas, não consegue ver na sua prática uma atitude prejudicial ao investimento em educação, em saúde, segurança ou para o seu parceiro no empreendimento. Por outro lado, há a figura do corruptor, aquele que do outro lado do esquema, também levou vantagem, obteve melhores condições, ou foi favorecido numa atividade frente às ações do estado. Este, percebe menos ainda que suas ações são prejudiciais para a sociedade, encontrando desculpas prontas para as suas ações. Da mesma maneira, a corrupção pode servir aos intentos profissionais e políticos de alguns, quando acusam seus adversários de ações corruptas improváveis, ou para atrair holofotes; assim como a imprensa que repercute uma informação tanto quanto pode de acordo com seus interesses ideológicos e financeiros. Enfim, por mais que se fale e se diga palavras  contrárias a corrupção, não é isso que vai extingui-la, mas o exercício cidadão praticando no dia a dia ações não corruptas.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Ler é Preciso

Um documentário produzido há uns 20 anos, pela BBC de Londres, chamado Muito Alem do Cidadão Kanes dava conta de que o brasileiro é um dos povos que mais vê televisão e um dos que menos lê. Se existe uma correlação entre essas duas situações é difícil de dizer, mas não é difícil constatar que se lê pouco no Brasil e que se perde muito tempo vendo televisão. A realidade não só é de pouca leitura, não se tem o hábito de ler um livro, mas em geral as pessoas não sabem ler e se apavoram dizendo que quando terminam um parágrafo já nao lembram o que dizia o anterior. Isso leva a uma situação de extrema dificuldade em varias áreas. Os estudantes universitários por exemplo, têem dificuldades de aprendizado por pura falta desta prática, não foram introduzidos no mundo da leitura. E há algo ainda mais grave: essa realidade não deve ser pensada como a de cidadãos comuns, mas é possível se detectar tal situação em pessoas que se pretendem intelectuais, que se posicionam a frente da sociedade, ou até professores universitários e mesmo jornalistas que não lêem mais que o jornalizinho adversário. Alguns, quando lêem um livro inteiro, o que lêem é algo do gênero de auto-ajuda, ou de piadas politicamente incorretas, ou ainda textos de orientação religiosa. Outros, quando lêem trechos de livros técnicos, o fazem forçados pela realização de um determinado curso. Mesmo os textos publicados na internet, em geral são de muitas gravuras, bastante coloridas e de apenas um frase ou duas; dificilmente, mais que um parágrafo. O que abundam as redes sociais são pequenos textos religiosos, esperançosos, de orações e graças a serem alcançadas; vêem com uma determinação parecida com isso: "compartilhe (que quer dizer, passe para frente) e alcançará  a graça solicitada" Que há uma diferença entre a pessoa que lê e a que nao lê, entre um povo que lê e um povo que não lê parece claro para todos, mas faz-se necessário pontuar que esta diferença pode ser percebida na economia, na política, na cultura ou na educação deste povo. Ora, leitura leva a mais leitura, assim como não leitura leva a mais não leitura. Afinal, é sim o hábito que faz o monge. Não o hábito que o monge veste, mas o seu dia a dia, a sua persistência, a sua repetição no dia após dia.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Bandidos, de Hobsbawm

Desde a década de 60, até pouco tempo antes de morrer, o pensador ingles, Eric Hobsbawm, falou da figura do bandido social, um conceito novo introduzido nas ciências humanas. Isso culminou no seu famoso livro, Bandidos, um texto em que expõe, ao longo da história humana, as ações daqueles que contrariaram as regras estabelecidas pelo estado, mas que acabaram ocupando o papel deste mesmo estado, assistindo a população mais carente. O trabalho segue linhas transversais que cruzam saberes históricos com Economia, Sociologia, Psicologia, Antropologia e até Filosofia, na busca de uma linearidade na compreensão das relações sociais e a razão da existência dos grandes bandos de homens e mulheres fora da lei. Ao longo da história e nos mais diferentes rincões da Terra, esse fenômeno se deu de forma muito parecida: pessoas que iniciaram ainda muito jovens, de uma origem humilde e todos com motivos muito parecidos. Os estudos de Hobsbawm reúnem os nomes mais destacados desse tipo de banditismo; vai do lendário inglês, Robin Hood, aos mexicanos Pancho Vila e Emiliano Zapata e ao cangaceiro brasileiro, Virgulino Ferreira, o  Lampião. Antes do pensador ingles, a história oficial não dera a atenção necessária, o que dificulta o entendimento; nos dias de hoje as pespquisas são esparsas, já que a fonte documental tem sido, em grande parte, a literatura popular e os romances  que dão conta desses humanos que misturam as condições de herói e de bandido.  O que caracteriza o chamado bandido social são os dois lados de uma mesma moeda: ao passo que comete atrocidades, como um indivíduo que vive fora das leis do estado, também se preocupa em levar aos mais necessitados alguma condição de vida melhor. Assim, esses indivíduos posicionam-se no meio da sociedade, entre os que detém os privilégios da sociedade e os deserdados. O interessante é como fica explicita a origem desse tipo de bandido, onde se busca esse pessoal; segundo Hobsbawm, o recrutamento se dá em grupos de agricultores sem terra, entre ex-soldados, perseguidos pela justiça e entre outros grupos. Mas o mais forte no estudo do livro Bandidos, são os motivos que levam ao surgimento desse fenômeno, a incapacidade do estado de gerir justiça, assistência e leis coerentes com as necessidades básicas da população. Isso tudo, unido à prepotência de uma aristocracia burocrática e parasitária que age sobre a população como se dona fosse daquele setor do estado.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Existências e Rupturas

Os humanos criaram suas bases culturais a partir da crença em um sonho de perenidade para si e para tudo que está a sua volta. Homens e mulheres crêem que tudo a sua volta é como se assim sempre fosse; por mais que se plantem arvores, nunca se a vê como semente, nunca a vê como potência. E são essas certezas, como se algo assim sempre fosse que delineiam as suas vidas e possibilitam previsões e estruturações.  Mas, por mais que isso perturbe suas verdades inabaláveis, somente aos deuses pode-se aceitar o gozo de uma existência de serenidade e perpetuidade. Aos humanos não cabe, nem em seus desejos mais recônditos, a possibilidade de uma vida perene, de uma vida sem cortes, sem rupturas. A realidade que o cerca é de  ganhos e perdas, de vitórias e derrotas, de idas e vindas. Então, se essa falsa consciência de perenidade for a base da cultura, essa será, por conseguinte, a linha mestra de suas noções de verdades; noções que dirigirão alem de  sua economia, também sua ciência, seu direito, sua arte e sua filosofia. Sim, os pensadores, os juristas e os cientistas fazem conjecturas, definem verdades, como se fossem até a eternidade. A infelicidade existe porque os humanos  nao se dão conta da realidade intangível que o cerca, realidade essa que é formada  de começos, meios e sua fins, de chegadas e partidas. Se o sofrimento pode ser encerrado, também pode a felicidade, se as pessoas más passam por nossas vidas, também passam e se vão aquelas que nos são muito queridas. Afinal, a infelicidade é formada pelas frustrações que sentem as pessoas, devido aos distanciamentos vividos entre os desejos e a realidades existentes. Quando se vive a doçura infinita de um momento, deve-se ter como certa também  a ruptura, o corte para um recomeço, vazio num instante, mas preenchido na distancia dos tempos. Talvez deva-se buscar a felicidade pensando nas suas existências como um eterno recomeço, até o fim dos seus dias, uma seqüência de encontros, desencontros e reencontros.

domingo, 7 de dezembro de 2014

Comunicação, Poder e Liberdade

Um dos maiores temas que estão sendo debatidos nos corredores da política, da academia e da sociedade organizada em geral é a possibilidade, ou nao, de se criar um marco regulatório que dê as linhas básicas para a imprensa no Brasil. Alguns defendem a necessidade urgente de uma normatização dos meios de comunicação, tendo em vista a sua importância, enquanto outros, alegam a necessidade de uma "imprensa livre". Independente de ficar de um lado ou do outro, no maniqueismo do bem e do mal, toda sociedade livre - para continuar assim, precisa ter uma imprensa desempedida e forte. O problema é que quando se fala de uma normatização das mídias pensa-se de imediato na famigerada Lei de Imprensa de 1967 que prejudicava de forma crucial a liberdade de expressão, impedindo os órgãos de comunicação  de transmitirem na íntegra todas as ações políticas, sociais e econômicas produzidas pelo estado, a partir da violência de uma censura cruel.   Entretanto, o debate deve ir mais longe. Deve-se analisar ponto a ponto os nós cruciais do tema posto. Primeiro: a imprensa deve ser livre, mas nenhum setor da sociedade pode ser livre de uma lei que o regule; segundo: não se pode pensar que normatizar, estabelecer regras claras, imparciais, possa ser confundido com tolir o direito de uma comunicação integral e democrático; terceiro: os conglomerados midiáticos comandam hoje boa parcela das redes de comunicação de forma dantesca que a vontade de um indivíduo ou de um pequeno grupo, pode ser imposta à maior parte da população. Ora, quando um determinado grupo se organiza dentro de uma dada sociedade e se impõe politicamente, te-se um adjetivo muito usado pela ciência política que é o de aristocracia. E o que mais caracteriza os indivíduos aristocratas, "os bons", "os nobres", são os seus propósitos para se manterem no poder; fazem tudo que  têm a sua disposição. Nesse caso, o que possuem é o mais poderoso instrumento de influência da modernidade, o seu produto de venda, a comunicação. Assim, nao se trata de defender um sistema que possa tolir o sagrado direito de informar a população, mas de enquadrar todos os seguimentos da sociedade ao jugo da lei. Numa sociedade civilizada nada pode ficar fora da lei. Comunicar é poder, portanto a defesa de uma imprensa livre deve ser uma defesa ampla, de todos os lados: para denunciar o poderoso que se apropria dos bens do estado, mas sem esquecer do todo poderoso empresário das mídias que se usa da força de seus veículos de comunicação para impor suas vontades também.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

A Espécie Humana e suas Verdades

Os humanos quando se referem a si próprios costumam tratarem-se como "seres humanos" e aos outros seres do mesmo reino, apenas como animais. Aliás, não soa bem para alguns chamarem homens e mulheres de animais. Esse pensamento determina que todos os demais seres foram criados por um deus, mas os humanos são filhos e filhas, criados a imagem e semelhança desse deus.  Isso denota uma supervalorização dos humanos, o estabelecimento de uma superioridade sobre os demais seres; ocorre que essas condições são estabelecidas pelos próprios supervalorizados. Acontece que todos os seres vivos tendem a defesa de suas próprias existências, lutam naturalmente pela preservação e ampliação da espécie, de modo a defenderem a si e aos seus. Da mesma forma, todos crêem nas suas verdades, mas que as contrariedades são posições que conspiram contra si. Ora, é algo terrivel para todos pensar na possibilidade de se encontrar um bebê humano morto na beira da rua, mas a comoção não será a mesma se o morto for um bebê cachorro, ou mesmo se o morto for um bebê gato, ou um bebê pássaro. Entretanto, o que os humanos não se atentam, é que esse pensamento é o mesmo que legitima todas as formas de discriminação: uma determinada raça, um determinado gênero, uma determinada faixa etária é a mais certa, é a mais correta, é a melhor e a mais bela. Acreditar que por ser da espécie humana, necessariamente se é melhor ou superior, digno de cuidado, em detrimento de outra, é o mesmo pensamento corporativista que faz acreditar que pelo fato de ser advogado deve-se ter algum privilegio, de que sendo médico, magistrado, professor ou policial se deve, de imediato, ter um tratamento diferenciado. Esse pensamento é selvagem, próximo da bestialidade, apenas significa que um determinado grupo defende a sua própria causa. Nada mais. Acreditar que a espécie humana, por algum motivo, possa ser superior às demais é aquilo que os estudiosos de ética chamam de especismo, a supervalorização de uma espécie, em detrimento de outra. Acreditar que os humanos, por serem humanos, possam ser superiores aos seus irmãos seres vivos, é o mesmo de homens que pensam que por serem homens podem maltratar uma mulher, ou de nazistas que acreditavam na superioridade da raça ariana sobre as demais.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Presépio, Papai Noel e Capitalismo

Na língua portuguesa a palavra presépio tanto pode significar estábulo ou curral, o espaço para onde se recolhem os animais no final do dia, quanto o local onde ocorrera o nascimento de Jesus, o Nazareno. Segundo a história da Igreja Católica, o presépio, como se conhece nos dias de hoje, teria sido iniciado no ano de 1223, pelo então jovem monge, Francisco de Assis. Numa aproximação com antigas festas européias, o nascimento do "Menino Deus" passou a ser representado sempre no dia 25 de dezembro e com o nome apenas de Natal. Na cultura brasileira, e boa parte da européia e estadunidense, o presépio entrou como a alegoria máxima, a grande respesentação do nascimento daquele que seria o motivo de toda a fé cristã. A cena é simples, representa-se um estábulo e seus animais - bois, bezerros, carneiros e cavalos -  um cocho que serve de manjedoura, ao centro, onde vê-se a estátua de um bebê, com as de seus pais ajoelhados a cada lado. Nos arredores do rancho pode-se ver ainda, pastores e ovelhas; se for após o dia 25 de dezembro serão vistos também os três reis magos que, conforme os livros do Evangelho, viajaram para conhecer e presentear o menino. Durante séculos, essa representação espalhou-se por todo o Ocidente, até o momento que o Natal como um todo, deixou de ser  apenas uma expressão da fé, mas também uma possibilidade de acumulação de capital. Nesse caso, o presépio perdeu a sua função pedagógica de mostrar para o cristão o nascimento do criador e, no seu lugar, entrou a estranha figura do Papai Noel, uma personagem, também de origem religiosa, mas que fora transformada e distanciada de sua gênese, por grandes empresas capitalistas, interessadas no consumo de produtos que possam ser relacionados com a tal festa. Hoje, a personagem do "bom velhinho" tomou conta não só das mais belas propagandas de refrigerantes, mas também das propagandas de sapatos ou de perfumes, de forma que cristãos e nao cristãos propagam um Natal muito diferente, muito distante do fora pensado inicialmente.  Quanto ao presépio, a representação do nascimento daquele que fora chamado o Filho de Deus, a parte principal da maior festa cristã, hoje jas quase que extinto. Enfim, o presépio  permanece hoje como fé por parte de alguns, mas como resistência política contra o império do capital e da força estadunidense, por parte de outros.