sexta-feira, 30 de junho de 2017

Maquiavel, a Política e o Governante

O texto, O Príncipe, do pensador italiano, Nicolau Maquiavel (1469/1527), figura como um clássico da Política enquanto ciência das humanidades e enquanto prática, complexa, que tanto já se falou, desde os tempos da antiguidade e ao longo de toda a modernidade. Foi a partir dos ensinamentos desse livro que se cunhou o adjetivo "maquiavélico" que é dito quando se quer afirmar que a pessoa é ardilosa, mal-intencionada e, algumas vezes, como diabólico. Esse adjetivo faz sentido em parte, já que não se pode pensar que o secretário e diplomata da cidade de Florença, na época governada pela família Médice, ensinou como ser maldoso. Ensinou sim a ser astuto, diante da arte de fazer política. Acontece que Florença vivia uma série de percalços políticos, com a deposição da família governante e seu retorno em seguida, Maquiavel havia ficado sem emprego e ansiava por retomar suas funções. Todos levavam presentes ao novo governante, ao que ele afirmara: "não tenho presentes materiais para dar ao meu príncipe, mas o que tenho são meus ensinamento" e deu o texto O Príncipe. O texto, dedicado ao então príncipe florentino, Lourenço de Médice, trás uma sequência de ensinamentos de como deve o governante se portar diante das adversidades das ações políticas. Por exemplo: diante dos seus súditos, o príncipe deve ser mais temido do que amado, pois o amor acaba, o temor não; as coisas boas devem ser administradas lentamente para que assim as pessoas as experimentem por longa duração, já as coisas ruins, devem ser entregues à população em um só golpe, para que se experimente por um curto espaço de tempo. Ele não escreveu, mas alguns afirmam que, na totalidade do texto, estaria Maquiavel afirmando que os fins justificam os meios, que essa seria a tônica do seu pensamento. No entanto, parece que o que o intelectual italiano afirmara é que existe a Fortuna (o fado, o destino implacável), com todas as suas adversidades, e o governante precisa ter Virtu (virtude, competência para ação diante das adversidades). Dizem também que isso não refletiria o pensamento exato dele, já que também escreveu, além de tantos textos, um outro chamado, Discurso Sobre a Primeira Década de Tito Lívio, fazendo afirmações bastante diferentes de O Príncipe. Dizem ainda que, quando questionado sobre seus ensinamentos ao soberano serem de como dominar os súditos, ele teria dito que de posse das informações, os súditos também poderiam se defender do soberano. De qualquer forma Nicolau Maquiavel foi o primeiro a pensar a política para além dos cânones cristãos e pensamentos de ética e bons princípios, ele pensou a política como ofício e deu os ensinamentos de como se manter no poder.

quarta-feira, 28 de junho de 2017

O Indivíduo, Entre o Público e o Privado

Dois universos giram em torno do indivíduo humano, de onde emanam todos os seus saberes, assim como todas as suas vontades, felicidades e frustrações: o mundo público e o mundo privado. Por mais que o conceito de indivíduo seja "o que não se divide", esse ser vive, em si, duas entidades, uma carregada das suas necessidades e vontades particulares, portanto privada, que em grande parte são amainadas para dar lugar ao público, ao que é aceito pelo outro indivíduo. No entanto, esses dois universos interferem um no outro, simultaneamente, com maior ou menor intensidade, dependendo de uma pessoa para outra, levando em conta seu modo de pensar, seu grau de instrução, faixa etária, cultura e diferenças de toda ordem. A administração dessas interferências acontece em cada indivíduo a partir de sua capacidade de se perceber no grupo como um ser que se reconhece como indivíduo, um ser em si, mas que tem a necessidade do grupo para manter sua existência com razoável conforto e dignidade. No recôndito de um quarto de dormir a pessoa solitária pode experimentar as suas mais tranquilas particularidades como cantar, mirar-se no espelho em caretas e sorrisos, assim como contemplar seu próprio corpo nu etc. Na medida que uma segunda pessoa adentrar no recinto, por mais íntima que essa seja da primeira, desfaz-se de imediato o mundo privado e começa uma interação com esse outro. No espaço público nunca se é um só - uma pessoa, duas três ou uma multidão estão a volta e isso interfere diretamente nas decisões de cada ação que se vai tomar. Certamente que precisa ser levado em consideração a noção de posse de cada sociedade (propriedade privada ou coletiva), para se pensar o que se pode decidir por uma ação ou outra. Por outro lado, a maior parte das pessoas, quando saem da sociedade, essa sociedade permanece dentro delas. Por exemplo: numa ilha deserta, um náufrago pode ter dificuldades para tirar as roupas molhadas e ficar nu por um período até que as seque. Ou seja: os valores, fenômenos recebidos socialmente, estarão presentes mesmo isoladamente. É a consciência desses dois universos, público e privado, que forma um indivíduo, tanto da pessoa em si, para uma vida de entendimento e dignidade, quanto para o cientista social que busca conhecer esse fenômeno, quanto para o profissional das áreas humanas que busca o conhecimento social para a execução dos seus trabalhos. Acontece que a condição de pessoa, a sua construção, só acontece com mais pessoas, mas no recôndito do seu quarto, ou na ilha deserta, esse continuará a ser pessoa.

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Cinema: a Arte, o Lucro e a Política

Considerado como a sétima arte, o cinema surgiu na virada do século XIX para o XX, num espaço muito curto de tempo se integrou à sociedade moderna e fez história. Para muitos, o seu surgimento provocaria a inevitável decadência do teatro e do mundo das artes dos palcos. Não foi. Os grandes espetáculos teatrais, de dança e de música permanecem fortes, mais de cem anos depois do seu surgimento. A arte cinematográfica mostrou a que veio com grandes obras aclamadas em todo o mundo, como Tempos Modernos, de Charles Chaplin, Noites de Cabíria, de Federico Fellini, Benh-Hur, de Willian Wyle, ou Veludo Azul, de David Lynch, e mesmo no Brasil, com Terra em Transe, de Glauber Rocha. O mesmo foi dito quando surgiu a televisão; seria o fim do cinema, já que as pessoas não precisariam mais sair de casa para uma ver uma projeção. Não foi o que aconteceu. A verdade é que o cinema veio pra ficar e se multiplicou em gêneros que vão das grandes comédias, pantomimas e romances, aos filmes de grandes explosões, de mocinhos e bandidos, mostrando o presente, o passado e se projetando para o futuro. Em todas as cidades e vilarejos - nas décadas que vão de 40 a 70 do século passado - além de uma igreja, um salão de dança e um ponto de comércio, havia um prédio onde acontecia o cinema. Na virada do século o espetáculo cinematográfico saiu das ruas e foi para os “shoppings”; os seus prédios foram ocupados por igrejas pentecostais. Para alguns, o cinema deve ser pensado como uma produção em massa, objetivando arrecadar milhões em bilheterias – aliás, essa tem sido uma das áreas de investimento lucrativo, para outros, é um objeto serio da mais pura arte, com um modo de expressar que leva em conta o enquadramento da câmera, os efeitos especiais, a interpretação dos atores, o texto, a sonorização etc. Ainda para outros, esse é um instrumento poderoso de luta política com intervenções diretas nas relações sociais, com esclarecimentos, tomadas de posição e/ou propaganda ideológica. Nos últimos tempos, com o barateamento dos equipamentos eletrônicos e o advento da internet, essa expressão artística passou a tomar novos rumos, de modo que continua a ser cinema, mas com uma democratização tanto da produção de novos trabalhos, quanto da distribuição. Há muito tem deixado de ser um fenômeno exclusivo de grandes centros urbanos, pelos países a fora, para ser uma possibilidade concreta de centros comunitários e de produções independentes de jovens cineastas.

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Depois Que Ines é Morta?

Algumas personagens históricas são invocadas quando se quer sustentar, contrariar ou negar situações do tempo presente: Savonarola, Luiz XIV, César Borgia, Gandhi, Che e tantos outros. No momento que brasileiros foram para as ruas pedir a saída de governantes, acusados de corrupção e, como consequências, viu a chegada ao poder de outros mandatários, mas percebe que o corrupto era, na verdade, o que entrou - muito mais do que o que saiu - só resta chorar o leite derramado. Se buscar na história uma personagem para refletir a situação, enfrentadas pelo Brasil desses tempos e os conflitos vividos pela classe média, deve-se ater a Inês de Castro, aquela, cantada por Luiz Vaz de Camões n'Os Lusíadas, "depois de morta foi rainha". Relacionar Ines de Castro com a situação política é, mais ou menos, fazer pergunta: "de que adiantaria o desespero, as lamentações depois que Ines é morta". A história remonta o século 14 da era cristã, ainda em plena Idade Média, durante a formação do reino português, e o fim do reino da Galícia, quando Dom Pedro, o herdeiro do trono, se apaixona por Ines, uma galega, com quem decide se casar contra as vontades de seu pai, Afonso IV, influenciado pela nobreza. O rei sentindo-se contrariado e mandou matar a amada de Pedro, para o desespero do infante. Mas eis que, alguns meses depois o rei Afonso falece e quem sobe ao trono é o jovem amante, como Dom Pedro I que, de imediato, mandou executar os assassinos de Ines. Em seguida - para a festa de coroação - mandou retirar os restos mortais da amada, arruma-la com as melhores vestes, para, sentada ao seu lado, ser entronada como rainha. Luiz de Camões conta que, como parte final da cerimônia, todos os nobres presentes foram obrigados a beijar a mão do novo rei, como era de costume, e de sua esposa, a Dona Ines de Castro. Por longos séculos a história da audácia do jovem Pedro e a lealdade a sua amada Ines foi contada pela tradição oral, de vilarejo em vilarejo, por toda a península ibérica, de modo que a ficção e a realidade se misturaram e o que se sabe são informações dispersas. Mas se tem como certeza de que um príncipe, chamado Pedro, teve sua amada assassinada e, ao subir ao trono, desenterrou-a e fez os nobres beija a mão da defunta rainha. A verdade é que em meio às intrigas políticas, defesa de interesses particulares, quer sejam os nobres do início do reino português, ou do Brasil atual, manipulam-se as informações e levam-se as pessoas mais incautas a agirem conforme as suas vontades. Um frase popular diz: "depois do mal feito, chorar não é proveito"; ou: não adianta coroar rainha, depois que Ines é morta.

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Do Estado Moderno aos Conselhos Comunitários

Após um período de ascensão e glória, a decadência do estado moderno já se mostra como uma realidade incontestável quando se observa os caminhos por onde desandam todas as estruturas burocráticas formadas. Quando os contratualistas pensaram um tipo de estado, proporam poderes separados, porém integrados e harmônicos, visando um funcionamento que melhor servisse a população, mas que com o passar do tempo se percebe peças de uma estrutura anacrônica, pesada, contraditória e carregada de uma aristocracia burocrática, sem pudor e sem qualquer sentimento de unidade nacional. Isso, inevitavelmente, leva a reflexões e a uma série de propostas de novos possíveis modelos de governança: um novo estado, ou sua eliminação? Se Montesquieu havia proposto o sistema tal qual se mantém hoje, Hegel propunha apenas dois poderes, de maneira que o judiciário ficasse vinculado ao executivo como era no período dos reis absolutos. Isso porque o pensamento hegeliano determina um legislativo forte, bastante representativo que, fiscalizando o executivo, estará fiscalizando também o sistema jurídico. Acontece que quando os Estados Unidos da América adotaram o sistema de Montesquieu, estava iniciando um novo ciclo nas organizações dos povos, impondo ao mundo um regime que se consagraria com o nome de democrático. A democracia, no entanto, é um conceito muito complexo e retrata não um sistema pronto, acabado, que alguém poderia se autoproclamar como tal, mas uma busca constante por melhores condições de organizar os povos. Nesses tempos de mudanças profundas no universo das governanças é preciso que se leve em conta que se o estado moderno surgiu como proposta de representação maior da população, não é mais isso que se observa ao analisar as estruturas burocráticas. Urge, portanto, que se repense e aí dois caminhos se apresentam: ou se incrementa ainda mais a burocracia, remanejando cargos e papéis, criando novos órgãos e novas leis, ou se pensa em um outro sistema que de maior representatividade à população, que o poder advenha de conselhos comunitários, por exemplo. Um novo conceito precisa ser considerado e que parece tomar um pouco o lugar do de democracia, que é o de interatividade: o controle direto por parte do indivíduo. Acontece que quando o estado moderno descentralizou as ações, não o fez até às últimas consequências e o manteve nas mãos de uma pequena aristocracia política representantes de grupos econômicos. Quando se fala em interatividade se quer extensão das representações e se quer dizer participação completa e direta de cada indivíduo nos destinos da sociedade, mas isso só será possível a partir dos conselhos comunitários.

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Felicidade, a Razão da Vida

Dos monges budistas aos foliões carnavalescos, dos cientistas das grandes universidades às modelos de revistas, a humanidade busca incessantemente o prazer e a felicidade e mesmo quando se procura fazer o outro feliz, o faz por que isso também o deixa. Pode-se dizer que a constante busca da sensação prazeirosa é o combustível do movimento da história da humanidade ao longo dos tempos. Mesmo que se admita cada uma das mais diversas correntes econômicas, históricas e políticas, o fim é sempre a busca por uma condição melhor para viver, de forma que a existência de cada um seja o mais próximo do que se pode chamar de felicidade. Quer chame isso de prazer, de melhores condições de vida, de paz, de tranquilidade de viver. Não importa. O certo é que as pessoas a buscam incessantemente. Se alguns historiadores interpretarem a vida humana a partir de um prisma marxista, vão mostrar a luta dos trabalhadores contra os seus opressores por melhores condições de vida para si e para os seus companheiros. Mas se buscarem um sistema liberal, vão querer mostrar que a satisfação das pessoas está na liberdade de mercado, que o sistema leva as pessoas cada vez mais a empreenderem e, em algum momento, serem felizes. Da mesma forma os mais religiosos procuram mostrar o galardão que espera por aqueles que confiarem em Deus e seguirem mandamentos ensinados pelos livros sagrados e interpretados pelos sacerdotes. Ou o sistema absolutista, propondo que um governo pode fazer melhor as condições de sua população se for centralizado, forte e responsável por todos os destinos. Mesmo que se admita a proposição do pensador alemão, Arthur Schopenhauer, de que viver é sofrer e que se obtém apenas picos de felicidade, essa será sempre a busca fatídica de qualquer pessoa. Que se caminhe para frente e para trás, para um lado ou para o outro, não há como negar que o grego da antiguidade, Epicuro, estava certo: o hedonismo, a eterna busca da felicidade, é a tônica da vida. O que se pode acrescentar, depois de tudo que já se falou, é que os homens e mulheres são os condutores de suas próprias vidas, portanto responsáveis maiores de suas felicidades. A determinação e a busca do bem está em suas próprias consciências. Se a felicidade não fizer parte de suas existências, são os próprios humanos que devem sair do lugar comum, do mesmo de sempre e traçar metas, articular suas vidas e seguir em busca como guerreiros destemidos, crentes da vitória.

sexta-feira, 16 de junho de 2017

A Arte Como Objeto de Mercado

A Arte Como Objeto de Mercado Nesses tempos, de encruzilhadas da história, quando se percebe não muito distante o esfacelamento do sistema político e econômico vigente, faz-se necessário pensar em cada ponto que ergue a estrutura social. A arte, por exemplo, é um desses pontos, precisa ser pensada nas suas mais diversas condições: de um lado uma expressão popularesca, repetitiva, tragada como mercadoria e vendida nos bazares das ruelas de qualquer vilarejo, de outro, as expressões elitizadas, distantes das pessoas, se pretendendo elevadas, vivendo além dos outros mortais. No mínimo é estranho, o que por hora se passa com a arte, tendo em vista que a sua existência se deve a uma necessidade iminentemente humana, como forma de expressar as mais variadas possibilidades, através e para os sentidos: som, imagem, movimento etc. São três os elementos básicos que formam a condição existencial dos humanos, o que os diferencia dos demais animais: a participação política - na decisão do que é importante para a sua sociedade, o espanto por existir que o leva a interrogação filosófica e a expressão artística levando-o à catarse num fazer-se como ser pensante. Mas é nessa mesma encruzilhada que os agentes da arte são parte daqueles que sucumbem diante das ideologias, prometidas pelo sistema, e assumem um pensamento e comportamento que vai ao encontro de tudo aquilo que enquadra, massifica e mistifica as pessoas. Em outras palavras: o que deveria construir os indivíduos como humanos, livres pensantes, acaba se tornando ajudante mor da construção de autômatos, alienados, que pouco ou nada sabem do seu próprio existir. Ora, de um lado uma arte popular que virou objeto de compra e venda, produzida após intensas pesquisas de mercado e de forma repetitiva e instalada na mente das pessoas através dos meios de ditos de comunicação. De outro, uma arte erudita que cada vez mais se distancia com uma linguagem própria, falada apenas nos congressos, nos seminários e colóquios, nos auditórios das universidades. O pessimismo que paira sobre a sociedade atual é, em parte, por saber que a arte tem como fim levar o humano a seguir para além de sua condição pessoal e provoca-lo á reflexão, a viver em liberdade e de, forma fraterna, preocupar-se com o outro. Por isso, quando se massifica, mistifica e se passa a depender da "mão invisível" do mercado, a perspectiva que se tem para os tempos vindouros não são os melhores.

quarta-feira, 14 de junho de 2017

A Decadência do Estado Moderno

Quando se percebe que os alicerces do regime econômico dão sinais de fraqueza, quando se percebe que as estruturas que o soergueram o sistema vigente começam a ruir, entende-se que um fim se vislumbra num horizonte não muito distante. Aparentemente, com todo o fogo que demonstra, o sistema capitalista parece não ter fim e abocanha o que aparece pela frente, mas - inegavelmente - tudo que historicamente lhe deu sustentação nos últimos tempos começa demonstrar fraqueza. O estado moderno, por exemplo, essa estrutura composta de três poderes, uma constituição e uma série de institutos, durante séculos visou a manutenção e a segurança do sistema, mas nas duas últimas décadas começou a mostrar as suas contrariedades e decadência. Os poderes desse estado, que deveriam ser autônomos e harmônicos, não são mais nem uma coisa nem outra; sem contar que todas as instituições ligadas deveriam estar ligadas a eles, reivindicam para si liberdades de ação, afirmando com isso mais agilidade. E o seu esfacelamento é iminente. Da mesma forma a imprensa que teve o se nascimento como um instrumento de contestação e de lutas, dentro desse período, chamado moderno, mas que com o passar dos tempos sucumbiu e passou a dar sustentação ao sistema econômico. Como os outros sustentáculos, também nos últimos tempos começou a perder terreno para as novas formas de comunicação e hoje fraqueja em todas as suas variáveis, como a televisão, o jornal impresso, o rádio e a revista. Por outro lado, setores das igrejas, tanto católica quanto protestantes, lojas maçônicas, teorias econômicas e vastos setores das universidades enfraquecem nas suas proposições de defesa do sistema. Fizeram parte dos saberes modernos e seus indivíduos ainda pertencem a uma ideologia de sustentação, com pensamentos conservadores politicamente, mas já não admitem o encargo de defesa do estado. Os povos sempre se organizaram em instituições diretivas, quer admitam isso como estado ou com outro nome qualquer, variando no tempo e no espaço, ou de acordo com as teorias políticas. Mas a verdade é que esse sistema de direção social, que por essa época chamam de estado, está em decadência e precisa sofrer uma analisa profunda no que concerne a sua função, organização e hierarquias.

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Política e Cultura de Corrupção

Impasses nas relações políticas são fenômenos ocasionados a todo instante, nas mais variadas sociedades ditas complexas; tais situações são naturais, já que motivadas pelo jogo de interesses, próprios dos grupos humanos. Ocorre que o fazer da política naturalmente resume-se em destrinchar problemas, solucionar conflitos; ou seja: negociar interesses contrários e transformar as soluções em leis ou decisões governamentais na áreas da saúde, da educação, da cultura, da justiça etc. As mulheres, por exemplo, se organizam e cobram do estado a manutenção dos seus direitos frente a agressão de homens violentos, do mesmo jeito os homossexuais que enfrentam pessoas preconceituosas, ou os negros que exigem o devido respeito dos vários setores da sociedade, e outros tantos grupos que lutam por dignidade e que provocam descontentamentos. Mas o maior conflito no seio dos grupos diz respeito ao choque maior das desigualdades, a diferença entre os possuidores, os que possuem pouco ou os que nada possuem. Ora, aqueles que são eleitos para ocuparem os variados cargos de deputados, de senadores, de governadores ou de presidente, são pessoas oriundas dos grupos em conflito, com seus erros e acertos, visão de mundo, virtudes e vícios. Portanto, os impasses ocorridos na política - seja lá do tipo que for - são provenientes dos interesses que jazem no seio da sociedade, como um estrato representativo dos acertos e desacertos. Uma sociedade cheia de contradições, de disputas de grupos profundamente sectários, só poderia ser representada por deputados posicionados fortemente nas suas concepções e defesas de tais condições; ou uma sociedade profundamente religiosa, vai ter o que, senão representantes religiosos? ou, uma sociedade profundamente corrupta não poderia ter outros, se não - corruptos em torno do estado. Isso quer dizer que não convém que se fale em crise política, em cultura política de corrupção etc, como se o que ocorresse nesse campo fosse algo distinto do que ocorre na sociedade como um todo: as crises ocorridas em torno do estado nada mais são do que reflexo do que ocorre na sociedade. Afinal, uma sociedade sadia, com pessoas respeitosas, sabedoras dos seus deveres e obrigações, não produz deputados, senadores, governadores e prefeitos corruptos; antes, pelo contrário, produz representantes públicos interessados no que é melhor para os seus representados.

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Em Busca de Marx

Um texto instigante é Espectros de Marx, livro escrito pelo franco-argelino, Jacques Derrida, morto em 2004, na cidade Paris. Instigante porque relaciona muito bem toda a força da produção intelectual do pensador alemão, Karl Marx, com Hamlet, a peça teatral do dramaturgo inglês, Willian Shakespeare, mostrando toda a força e a sua contemporaneidade. A peça de Shakespeare mostra o assassinato do rei da Dinamarca por Claudio, o próprio irmão, que casa com a cunhada rainha e se assenhora do trono. O príncipe Hamlet, filho do rei assassinado, segue por todos os cantos do palco, tentando desvendar o crime e o espectro de seu pai o acompanha por todos os caminhos nas suas investigações e quer lhe falar o que de fato ocorreu, mas não consegue. O rei da Dinamarca está morto. Numa relação com a peça, Jacques Derrida mostra que nesses últimos tempos de conflitos entre populações, desmandos das nações mais ricas, estragos ambientais, a decadência da política e ações terroristas de todos os lados poderiam ser explicados a luz do materialismo histórico. Nessa virada de milênio, quando alguns chegam a pensar que a humanidade chegou ao “fim da história”, que o que se apresenta será para todo o sempre, mas que não admitem que não se resolveram os dilemas mais penosos do sistema e que as pessoas se digladiam pelas cidades a fora. Por mais que se falem em decadência do pensamento de Marx, os tempos atuais são chamados de “era dos extremos”, cujas mortes nas sociedades mais pobres são apresentadas sempre no superlativo, com a displicência das sociedades pelo mundo a fora. É claro que poucos sabem a respeito da obra marxiana. A maior parte dos que fala a respeito leu aqueles que leram alguma coisa a respeito; debruçar sobre um livro como Ideologia Alemã, buscando de fato o seu entendimento, ou a Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, ou mesmo O Capital, são poucos. Bem poucos. Se Hamlet não consegue ouvir o que quer dizer seu pai assassinado, também hoje não se consegue ouvir o que diz o pensamento de Karl Marx sobre tudo que acontece na política, na economia e nas relações sociais. Porque alguns o divinizaram e não aceitam críticas e outros o demonizaram, não aceitando entende-lo. Enfim, não se consegue buscá-lo porque o mataram. Mataram Marx.

quarta-feira, 7 de junho de 2017

O Homem e o Tempo

O Homem é o Tempo Os humanos são possuidores de consciência, uma atuação da estrutura cerebral que dá condições de percepção e reflexão do que acontece sequencialmente consigo, com o mundo à sua volta e da relação sua com os demais seres. É essa consciência, portanto, que o faz perceber as mudanças que seguem do surgimento a encerramento de tudo que existe. Isso o assusta, mas o instiga a entendê-las e a buscá-las mais dando-lhes o nome de tempo. O interessante é que, de posse dessa tal consciência, as várias civilizações criaram formas diferentes de medir a duração das coisas, do seu começa ao seu fim, como se todas pudesse ser comparadas. Os ocidentais,por exemplo, dividiram essa duração em segundos, minutos, horas, dias, meses, anos, séculos, milênios e suas frações, enquanto árabes, chineses e indianos criaram outras maneiras. Povos antigos falavam em um tempo circular, sem relação entre uma noção de antiguidade e de contemporaneidade, tudo permanecia do mesmo jeito, repetindo periodicamente, passando pelo estágio que já fora passado. O Ocidente, e seus calendaristas, quando calculou como ano zero a data de nascimento do seu Deus - antes da sua vinda e o depois de sua vinda; como esse mesmo Deus disse que voltaria, tinha-se agora um novo ponto nessa linha e uma direção por onde se seguiriam as marcações do tempo. Certamente que com essas marcações puderam-se estabelecer precisos comandos políticos e militares, o regramento de complexas organizações burocráticas e uma infinidade de usos técnicos e científicos. No entanto, por mais que se utilizem, e aparelhos as meçam milimetricamente e por mais que se falem da possiblidade de ir para frente ou para traz, essas demarcações não passam de construções lógicas, sistema auxiliar da consciência; ou seja: um instrumento da racionalidade humana. Por isso há uma diferença na percepção das passagens de instantes entre as pessoas, dependendo da idade: dez anos para um velho não é algo tão longo e tudo passa tão rapidamente, mas é uma eternidade para o menino, já que tudo demora tanto. Isso também explica, por exemplo, a sua não percepção durante os períodos de sono diferente da vigília. Por fim, quanto mais racionalizada for uma sociedade, mais obediente será a uma pontualidade cronométrica, já que não consegue se desviar de uma mediação, uma condição social que lhe é imposta. Portanto, esse fenômeno, chamado tempo, não existe no espaço e, nem mesmo no tempo (se é que se pode pensá-lo tal), mas como percepção da consciência.

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Crise, o Motor da Mudança

Se a existência de tudo muda continuamente - as árvores, as teorias, os idiomas, as pessoas, as pedras e os mares - o que se poderia elevar a condição de motor dessa mudança? Uma divindade ou uma energia extraterrena estaria por trás dessa força transformadora, ou tudo seria originado no seio das próprias relações humanos, partindo de uma lógica natural transformadora? Eis a necessidade de uma resposta que não pode ser encontrada em teorias elaboradas pela razão cientificista, mas numa percepção filosófica que busque saber como todas as coisas se configuram, se completam, rompem umas com as outras e se reinventam. Acontece que os humanos, em um mundo natural, criaram um mundo dos humanos, composto de tecnologias, arte, ciência e relações de paz e de conflitos. Sendo assim, na continuidade da primeira pergunta, uma outra: poderia haver mudança se todas as coisas estivessem adormecidas em seus leitos de conforto, em paz consigo mesmas e com os seus? Nesse caso entra o debate o pensador alemão, Georg Friedrich Hegel, que propôs a dialética, um método que afirma tudo estar em constante transformação e que essa transformação ocorre com o ocasionamento de conflitos, das contradições. Naturalmente qualquer pessoa fala em nome do amor, do acordo, da paz entre as pessoas, mas todas as pessoas também entram em guerra com quem quer que seja se seus brios forem tocados, se suas dignidade forem mexidas. Parece que é nessa mesma lógica natural que as pessoas ao mesmo tempo querem a paz, o conforto, também estão prontas para agirem diferentemente do que agiu até então e alterar aquilo que já fora feito. Interessante é que na calmaria, paz e tranquilidade não acontecem mudanças na história, já que se aceita o estado de coisas e assim se quer permanecer. As mudanças viriam exatamente daquilo que em geral se repele, a contrariedade, os desencontros, os conflitos. Isso porque quando os desentendimentos acontecem ambos os lados se sentem contrariados e dispostos ao enfrentamento; ou absorvem o entendimento do outro, ou misturam, ou buscam outras alternativas. Pode-se dizer então que o conflito ou a crise é necessária e sempre deve ser encarada como algo natural e, dependendo do caso, até bem-vinda, pois trás no seu interior a semente da mudança. Certamente que, com o advento da crise, alguns se machucam e até ficam pelo caminho, mas pensando na totalidade das relações é um fenômeno inevitável e benéfico.

sexta-feira, 2 de junho de 2017

Entre o Passado e o Futuro

A compreensão do passado muda a todo instante, os juízos que se faz, as medidas cm que se mede, assim como a expectativa para com o futuro mudam como mundão momento da existência. O que se entende hoje sobre a idade média é diferente do que se entendia há 100 ou 200 anos, assim como é diferente o que se entendia e esperava sobre a vinda das próximas gerações. Afinal, o entendimento que se obtém do que virá é diferente do entendimento que têm aqueles que estiverem vivendo sob o próprio instante e daqueles que viverão depois, já que tudo passa e os entendimentos sobre tudo se altera constantemente. Ora, o passado não existe mais, porque já passou e o futuro também não, já que ainda não aconteceu. Nesse caso, o que é o presente, o instante, esse fio da navalha da existência que se pode chamar de momento? Já se disse que viver é estar, de alguma forma, relacionado a um momento, durante minutos, ou segundos, quando se experimenta algo relevante, diferenciado no entanto, desde que se começa a experimentar algo, logo esse início vira passado e o momento, que deveria terminar no futuro, também virará passado e tudo já não passará de memórias, fração de uma existência. Nesse caso, se o momento não existe, se toda existência não passa de um caminhar continuo, menos que um momento, o presente, em sua infinita pequenez, não passa de um fio de navalha que separa o passado, do futuro. Sendo assim, como todos os seres que existem vieram do passado e terminarão no futuro, seus entendimentos sobre essas duas pontas da existência são transformadas continuamente, conforme essa navalha de corte (passado/futuro) segue. Sendo assim, o instante da existência pode ser entendido como um constante alterar do pensamento que se tem do passado e do futuro. Culturalmente as pessoas são formadas no passado e fazem prognósticos para o futuro e querem que aconteça aquilo que entendem ser o certo. Acontece que nessa eterna passagem inúmeras ocorrências interferem para que as experiências vividas não aconteçam exatamente como se esperava. Ou seja: vive-se a enfrentar as adversidades interpostas continuamente, seguindo o instante, de acordo com o que se entende do passado e do que se espera do futuro, conforme corre o fio da navalha. Isso quer dizer: aquele instante, que se percebe como ser da existência, é um passar constante, refazendo continuamente o entendimento que se tem de passado e que se espera pelo futuro.