segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Sociedades Complexas e Funções Públicas

Os sociólogos separam dois grupos humanos organizados politicamente: de um lado o que eles identificam como sociedades simples, ou tribais, e do outro, as sociedades complexas - como se chamariam as civilizações modernas. Numa, todos fazem parte de uma mesma estrutura política como membros responsáveis, formando um corpo social único e indissociável; na outra, as pessoas são divididas por funções. Os grupos tribais se unem a partir daquilo que Émile Durckeim chamaria de solidariedade orgânica; os indivíduos entram no grupo involuntariamente. A sociedade simples, como o nome já diz, é mantida a partir de um único núcleo populacional que contempla a educação dos membros, assim como a fé, a procriação, a defesa, o lazer etc; todas ligadas diretamente uma a outra.  Já, do outro lado, as sociedades complexas, são formadas por um emaranhado de institutos com funções distintas, criados historicamente ou pensados a partir de necessidades determinadas pela conjuntura. O que bastante caracteriza as sociedades complexas é a separação clara entre as atribuições públicas e privadas, entre os interesses públicos e os privados. Mesmo que sejam públicas todas as funções em uma sociedade, nesse caso em particular, os interesses sociais são servidos por um corpo de funcionários com varias atribuições, controlados por leis e administrados politicamente. O grande problema das sociedades modernas é que, na maioria das vezes, esses servidores, admitidos por concursos, portanto protegidos rigorosamente por lei, encastelam-se em suas corporações tornando-se, em algumas vezes, algozes da população. Algumas dessas áreas possibilitam o surgimento de altos funcionários, agentes públicos importantes que, por dominarem a burocracia, tornam-se aristocratas, no pior estilo medieval.  Em uma sociedade complexa, é impossível prescindir de um copo funcional que atue adequadamente na saúde, na segurança, na educação, na justiça, na previdência e em tantas outras áreas. Nesse caso, vislumbra-se três alternativas: uma, a privatização geral do sistema público; duas, acabar com a estabilidade empregatícia  e criar um sistema periódico de  cinco ou seis anos e a obrigatoriedade sempre de um novo concurso; e três, todo o corpo - do mais baixo funcionário ao mais alto, passando por magistrados, procuradores e diretores executivos - entendam que são servidores e que estão a serviço de todo cidadão.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

O Natal e o Nascimento de Um Deus

A tradição ocidental, vivida através dos anos, unida aos escritos do livro sagrado dos cristãos, dá conta de que há dois mil anos um menino nascera e com ele a redenção da humanidade. Conta-se ainda que esse menino seria o próprio Deus, o ser que fez o céu e a terra e tudo que há no universo. Seria aquele que Santo Agostinho, ao interpretar Aristoteles, disse ser o motor inicial; seria ele o verbo ser, o que se fez carne e nasceu entre as pessoas. Entretanto, uma versão paralela dá conta de que a data é uma tentativa de adequar uma possível comemoração do nascimento do deus cristão a uma antiga festa pagã em honra ao deus do sol, Hélio. A história das religiões dá conta ainda de que, já no antigo Egito, a deusa Isis, conhecida como rainha do céu, dera luz a um deus numa data que se identificaria com a de 25 de dezembro do calendário gregoriano. Outros dois pontos interessantes a serem levados em conta na história do nascimento do deus-menino: um, a tradição de se realizar festas como comemoração da data em que se faz aniversario e, dois, o ato de presentear aquele que completa mais um ano. Conta-se que os reis persas, há muitos séculos antes de Cristo, teriam sido os precursores na realização de festas por conta de seus aniversários, ocasião em que seus súditos costumavam darem-lhe presentes. Esse é o ponto inicial, os elementos básicos, para a fundação de uma fé que transcendeu as suas raízes judaicas e que entranhou até a essência da cultura ocidental, marcando sua ética, sua ciência e sua filosofia. Nos dias atuais é possível se ver festas natalinas por todo os cantos da Terra - da Europa a África, da América a Ásia, mesmo em povos cujas religiões nao lembram o nascimento de um deus salvador. Enfim: se um dia surgira na terra um deus que viera para redimir a humanidade de seus pecados, se a data é correta ou não, torna-se irrelevante para o crente e para o incrédulo: para um basta a fé, para outro, nada justifica. Mas é preciso que se leve em conta algo que será elemento forte nessa dicotomia, o espírito das pessoas no período que envolve o Natal: para alguns, é uma época importante para o aumento nos ganhos, ou de receber presentes, para outros é um período em que começam as férias e, para outros, um momento de introspecção e comemoração ao nascimento do verdadeiro Deus. 

domingo, 21 de dezembro de 2014

Corrupção Nossa de Cada Dia

O mais interessante na discussão da corrupção no Brasil, e um dos principais motivos da dificuldade de se erradicar esse fenômeno, é que os corruptos também fazem um discurso contra. Portanto, para entender o fenômeno faz-se necessário partir da complexidade do conceito, levando em conta a cultura, a educação, a política e a economia da sociedade. A palavra corrupção tem uma origem etimológica no Latim "corruptus", que significa "quebrado em pedaços" e que no verbo correspondente, "corromper" significa "tornar-se podre". Quebrado em várias partes ou algo podre, o termo remete a uma atitude rejeitada pelos membros de uma determinada sociedade, como algo que prejudica o corpo social e, portanto, deve ser execrado.  Se por um lado pode se dizer que corrupção é o ato de corromper, de oferecer algo para obter vantagem em negociatas, em que se favorece uma pessoa e se prejudica outra, mas que também pode ser o ato de tirar vantagem do poder que lhe é atribuído, ou de uma situação qualquer. Isso quer dizer:  o conceito de corrupção pode ser muito elástico e pode significar a açao do agente publico ou político que se utiliza dos bens públicos para levar vantagem, assim como o cidadão que nao informa corretamente o imposto de renda, ou o estudante que "cola" na prova.  Um dos pontos da complexidade do termo, e mais uma vez a dificuldade na sua erradicação, é que, na busca da vantagem, o corrupto não consegue ver maldade da ação, mas apenas um processo de defesa de sua condição de vida. O agente público ou qualquer um que busca vantagem sobre atividades públicas ou privadas, não consegue ver na sua prática uma atitude prejudicial ao investimento em educação, em saúde, segurança ou para o seu parceiro no empreendimento. Por outro lado, há a figura do corruptor, aquele que do outro lado do esquema, também levou vantagem, obteve melhores condições, ou foi favorecido numa atividade frente às ações do estado. Este, percebe menos ainda que suas ações são prejudiciais para a sociedade, encontrando desculpas prontas para as suas ações. Da mesma maneira, a corrupção pode servir aos intentos profissionais e políticos de alguns, quando acusam seus adversários de ações corruptas improváveis, ou para atrair holofotes; assim como a imprensa que repercute uma informação tanto quanto pode de acordo com seus interesses ideológicos e financeiros. Enfim, por mais que se fale e se diga palavras  contrárias a corrupção, não é isso que vai extingui-la, mas o exercício cidadão praticando no dia a dia ações não corruptas.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Ler é Preciso

Um documentário produzido há uns 20 anos, pela BBC de Londres, chamado Muito Alem do Cidadão Kanes dava conta de que o brasileiro é um dos povos que mais vê televisão e um dos que menos lê. Se existe uma correlação entre essas duas situações é difícil de dizer, mas não é difícil constatar que se lê pouco no Brasil e que se perde muito tempo vendo televisão. A realidade não só é de pouca leitura, não se tem o hábito de ler um livro, mas em geral as pessoas não sabem ler e se apavoram dizendo que quando terminam um parágrafo já nao lembram o que dizia o anterior. Isso leva a uma situação de extrema dificuldade em varias áreas. Os estudantes universitários por exemplo, têem dificuldades de aprendizado por pura falta desta prática, não foram introduzidos no mundo da leitura. E há algo ainda mais grave: essa realidade não deve ser pensada como a de cidadãos comuns, mas é possível se detectar tal situação em pessoas que se pretendem intelectuais, que se posicionam a frente da sociedade, ou até professores universitários e mesmo jornalistas que não lêem mais que o jornalizinho adversário. Alguns, quando lêem um livro inteiro, o que lêem é algo do gênero de auto-ajuda, ou de piadas politicamente incorretas, ou ainda textos de orientação religiosa. Outros, quando lêem trechos de livros técnicos, o fazem forçados pela realização de um determinado curso. Mesmo os textos publicados na internet, em geral são de muitas gravuras, bastante coloridas e de apenas um frase ou duas; dificilmente, mais que um parágrafo. O que abundam as redes sociais são pequenos textos religiosos, esperançosos, de orações e graças a serem alcançadas; vêem com uma determinação parecida com isso: "compartilhe (que quer dizer, passe para frente) e alcançará  a graça solicitada" Que há uma diferença entre a pessoa que lê e a que nao lê, entre um povo que lê e um povo que não lê parece claro para todos, mas faz-se necessário pontuar que esta diferença pode ser percebida na economia, na política, na cultura ou na educação deste povo. Ora, leitura leva a mais leitura, assim como não leitura leva a mais não leitura. Afinal, é sim o hábito que faz o monge. Não o hábito que o monge veste, mas o seu dia a dia, a sua persistência, a sua repetição no dia após dia.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Bandidos, de Hobsbawm

Desde a década de 60, até pouco tempo antes de morrer, o pensador ingles, Eric Hobsbawm, falou da figura do bandido social, um conceito novo introduzido nas ciências humanas. Isso culminou no seu famoso livro, Bandidos, um texto em que expõe, ao longo da história humana, as ações daqueles que contrariaram as regras estabelecidas pelo estado, mas que acabaram ocupando o papel deste mesmo estado, assistindo a população mais carente. O trabalho segue linhas transversais que cruzam saberes históricos com Economia, Sociologia, Psicologia, Antropologia e até Filosofia, na busca de uma linearidade na compreensão das relações sociais e a razão da existência dos grandes bandos de homens e mulheres fora da lei. Ao longo da história e nos mais diferentes rincões da Terra, esse fenômeno se deu de forma muito parecida: pessoas que iniciaram ainda muito jovens, de uma origem humilde e todos com motivos muito parecidos. Os estudos de Hobsbawm reúnem os nomes mais destacados desse tipo de banditismo; vai do lendário inglês, Robin Hood, aos mexicanos Pancho Vila e Emiliano Zapata e ao cangaceiro brasileiro, Virgulino Ferreira, o  Lampião. Antes do pensador ingles, a história oficial não dera a atenção necessária, o que dificulta o entendimento; nos dias de hoje as pespquisas são esparsas, já que a fonte documental tem sido, em grande parte, a literatura popular e os romances  que dão conta desses humanos que misturam as condições de herói e de bandido.  O que caracteriza o chamado bandido social são os dois lados de uma mesma moeda: ao passo que comete atrocidades, como um indivíduo que vive fora das leis do estado, também se preocupa em levar aos mais necessitados alguma condição de vida melhor. Assim, esses indivíduos posicionam-se no meio da sociedade, entre os que detém os privilégios da sociedade e os deserdados. O interessante é como fica explicita a origem desse tipo de bandido, onde se busca esse pessoal; segundo Hobsbawm, o recrutamento se dá em grupos de agricultores sem terra, entre ex-soldados, perseguidos pela justiça e entre outros grupos. Mas o mais forte no estudo do livro Bandidos, são os motivos que levam ao surgimento desse fenômeno, a incapacidade do estado de gerir justiça, assistência e leis coerentes com as necessidades básicas da população. Isso tudo, unido à prepotência de uma aristocracia burocrática e parasitária que age sobre a população como se dona fosse daquele setor do estado.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Existências e Rupturas

Os humanos criaram suas bases culturais a partir da crença em um sonho de perenidade para si e para tudo que está a sua volta. Homens e mulheres crêem que tudo a sua volta é como se assim sempre fosse; por mais que se plantem arvores, nunca se a vê como semente, nunca a vê como potência. E são essas certezas, como se algo assim sempre fosse que delineiam as suas vidas e possibilitam previsões e estruturações.  Mas, por mais que isso perturbe suas verdades inabaláveis, somente aos deuses pode-se aceitar o gozo de uma existência de serenidade e perpetuidade. Aos humanos não cabe, nem em seus desejos mais recônditos, a possibilidade de uma vida perene, de uma vida sem cortes, sem rupturas. A realidade que o cerca é de  ganhos e perdas, de vitórias e derrotas, de idas e vindas. Então, se essa falsa consciência de perenidade for a base da cultura, essa será, por conseguinte, a linha mestra de suas noções de verdades; noções que dirigirão alem de  sua economia, também sua ciência, seu direito, sua arte e sua filosofia. Sim, os pensadores, os juristas e os cientistas fazem conjecturas, definem verdades, como se fossem até a eternidade. A infelicidade existe porque os humanos  nao se dão conta da realidade intangível que o cerca, realidade essa que é formada  de começos, meios e sua fins, de chegadas e partidas. Se o sofrimento pode ser encerrado, também pode a felicidade, se as pessoas más passam por nossas vidas, também passam e se vão aquelas que nos são muito queridas. Afinal, a infelicidade é formada pelas frustrações que sentem as pessoas, devido aos distanciamentos vividos entre os desejos e a realidades existentes. Quando se vive a doçura infinita de um momento, deve-se ter como certa também  a ruptura, o corte para um recomeço, vazio num instante, mas preenchido na distancia dos tempos. Talvez deva-se buscar a felicidade pensando nas suas existências como um eterno recomeço, até o fim dos seus dias, uma seqüência de encontros, desencontros e reencontros.

domingo, 7 de dezembro de 2014

Comunicação, Poder e Liberdade

Um dos maiores temas que estão sendo debatidos nos corredores da política, da academia e da sociedade organizada em geral é a possibilidade, ou nao, de se criar um marco regulatório que dê as linhas básicas para a imprensa no Brasil. Alguns defendem a necessidade urgente de uma normatização dos meios de comunicação, tendo em vista a sua importância, enquanto outros, alegam a necessidade de uma "imprensa livre". Independente de ficar de um lado ou do outro, no maniqueismo do bem e do mal, toda sociedade livre - para continuar assim, precisa ter uma imprensa desempedida e forte. O problema é que quando se fala de uma normatização das mídias pensa-se de imediato na famigerada Lei de Imprensa de 1967 que prejudicava de forma crucial a liberdade de expressão, impedindo os órgãos de comunicação  de transmitirem na íntegra todas as ações políticas, sociais e econômicas produzidas pelo estado, a partir da violência de uma censura cruel.   Entretanto, o debate deve ir mais longe. Deve-se analisar ponto a ponto os nós cruciais do tema posto. Primeiro: a imprensa deve ser livre, mas nenhum setor da sociedade pode ser livre de uma lei que o regule; segundo: não se pode pensar que normatizar, estabelecer regras claras, imparciais, possa ser confundido com tolir o direito de uma comunicação integral e democrático; terceiro: os conglomerados midiáticos comandam hoje boa parcela das redes de comunicação de forma dantesca que a vontade de um indivíduo ou de um pequeno grupo, pode ser imposta à maior parte da população. Ora, quando um determinado grupo se organiza dentro de uma dada sociedade e se impõe politicamente, te-se um adjetivo muito usado pela ciência política que é o de aristocracia. E o que mais caracteriza os indivíduos aristocratas, "os bons", "os nobres", são os seus propósitos para se manterem no poder; fazem tudo que  têm a sua disposição. Nesse caso, o que possuem é o mais poderoso instrumento de influência da modernidade, o seu produto de venda, a comunicação. Assim, nao se trata de defender um sistema que possa tolir o sagrado direito de informar a população, mas de enquadrar todos os seguimentos da sociedade ao jugo da lei. Numa sociedade civilizada nada pode ficar fora da lei. Comunicar é poder, portanto a defesa de uma imprensa livre deve ser uma defesa ampla, de todos os lados: para denunciar o poderoso que se apropria dos bens do estado, mas sem esquecer do todo poderoso empresário das mídias que se usa da força de seus veículos de comunicação para impor suas vontades também.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

A Espécie Humana e suas Verdades

Os humanos quando se referem a si próprios costumam tratarem-se como "seres humanos" e aos outros seres do mesmo reino, apenas como animais. Aliás, não soa bem para alguns chamarem homens e mulheres de animais. Esse pensamento determina que todos os demais seres foram criados por um deus, mas os humanos são filhos e filhas, criados a imagem e semelhança desse deus.  Isso denota uma supervalorização dos humanos, o estabelecimento de uma superioridade sobre os demais seres; ocorre que essas condições são estabelecidas pelos próprios supervalorizados. Acontece que todos os seres vivos tendem a defesa de suas próprias existências, lutam naturalmente pela preservação e ampliação da espécie, de modo a defenderem a si e aos seus. Da mesma forma, todos crêem nas suas verdades, mas que as contrariedades são posições que conspiram contra si. Ora, é algo terrivel para todos pensar na possibilidade de se encontrar um bebê humano morto na beira da rua, mas a comoção não será a mesma se o morto for um bebê cachorro, ou mesmo se o morto for um bebê gato, ou um bebê pássaro. Entretanto, o que os humanos não se atentam, é que esse pensamento é o mesmo que legitima todas as formas de discriminação: uma determinada raça, um determinado gênero, uma determinada faixa etária é a mais certa, é a mais correta, é a melhor e a mais bela. Acreditar que por ser da espécie humana, necessariamente se é melhor ou superior, digno de cuidado, em detrimento de outra, é o mesmo pensamento corporativista que faz acreditar que pelo fato de ser advogado deve-se ter algum privilegio, de que sendo médico, magistrado, professor ou policial se deve, de imediato, ter um tratamento diferenciado. Esse pensamento é selvagem, próximo da bestialidade, apenas significa que um determinado grupo defende a sua própria causa. Nada mais. Acreditar que a espécie humana, por algum motivo, possa ser superior às demais é aquilo que os estudiosos de ética chamam de especismo, a supervalorização de uma espécie, em detrimento de outra. Acreditar que os humanos, por serem humanos, possam ser superiores aos seus irmãos seres vivos, é o mesmo de homens que pensam que por serem homens podem maltratar uma mulher, ou de nazistas que acreditavam na superioridade da raça ariana sobre as demais.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Presépio, Papai Noel e Capitalismo

Na língua portuguesa a palavra presépio tanto pode significar estábulo ou curral, o espaço para onde se recolhem os animais no final do dia, quanto o local onde ocorrera o nascimento de Jesus, o Nazareno. Segundo a história da Igreja Católica, o presépio, como se conhece nos dias de hoje, teria sido iniciado no ano de 1223, pelo então jovem monge, Francisco de Assis. Numa aproximação com antigas festas européias, o nascimento do "Menino Deus" passou a ser representado sempre no dia 25 de dezembro e com o nome apenas de Natal. Na cultura brasileira, e boa parte da européia e estadunidense, o presépio entrou como a alegoria máxima, a grande respesentação do nascimento daquele que seria o motivo de toda a fé cristã. A cena é simples, representa-se um estábulo e seus animais - bois, bezerros, carneiros e cavalos -  um cocho que serve de manjedoura, ao centro, onde vê-se a estátua de um bebê, com as de seus pais ajoelhados a cada lado. Nos arredores do rancho pode-se ver ainda, pastores e ovelhas; se for após o dia 25 de dezembro serão vistos também os três reis magos que, conforme os livros do Evangelho, viajaram para conhecer e presentear o menino. Durante séculos, essa representação espalhou-se por todo o Ocidente, até o momento que o Natal como um todo, deixou de ser  apenas uma expressão da fé, mas também uma possibilidade de acumulação de capital. Nesse caso, o presépio perdeu a sua função pedagógica de mostrar para o cristão o nascimento do criador e, no seu lugar, entrou a estranha figura do Papai Noel, uma personagem, também de origem religiosa, mas que fora transformada e distanciada de sua gênese, por grandes empresas capitalistas, interessadas no consumo de produtos que possam ser relacionados com a tal festa. Hoje, a personagem do "bom velhinho" tomou conta não só das mais belas propagandas de refrigerantes, mas também das propagandas de sapatos ou de perfumes, de forma que cristãos e nao cristãos propagam um Natal muito diferente, muito distante do fora pensado inicialmente.  Quanto ao presépio, a representação do nascimento daquele que fora chamado o Filho de Deus, a parte principal da maior festa cristã, hoje jas quase que extinto. Enfim, o presépio  permanece hoje como fé por parte de alguns, mas como resistência política contra o império do capital e da força estadunidense, por parte de outros.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

55 Anos, Nascimento, Vida e Morte

Quando se faz aniversário alguém, imediatamente, lembra: "está ficando mais velho" e um outro diz ainda: "está ficando mais sábio". Entretanto, alguns pontos permanecem pendentes nessas afirmações; não se fica mais velho ou mais sábio a cada ano ou a cada aniversário, bem como, não se explica o porquê de se parabenizar alguém que completa mais um anos,  porque esse é apenas mais um calendário, o gregoriano. Como muito já se disse, os calendários existem como uma construção imaginária da sociedade e oficializada pelo estado, na tentativa de medir os momentos para uso no controle das ações naturais e humanas. Variadas populações humana, distribuídas pela Terra, ao longo de suas historias, criaram os calendários mais diferentes, obedecendo movimentos solares ou lunares, com mais ou menos dias. Ora, com tantos instrumentos criados para  a contagem dos momentos, é possível  que se faça aniversário a cada dia do ano, em um calendário diferente. O que muda mesmo são os momentos que vivemos, numa ininterrupta caminhada do nascimento  para morte que, a cada instante, mais perto dela chegamos. Para os antigos gregos, o que diferencia os humanos dos deuses é que os humanos são mortais, cumprem seus momentos de existências e caminham para o nada. Sim, que ninguém se frustre, mas o fim é eminente para todos; todos os que vivem vão morrer. Alguns já foram, outros irão agora e, ainda outros, irão futuramente. No mais, o existir de um ser vivo é um constante transcorrer dos momentos e como, um castigo dos deuses, não retornam jamais - apenas passam e outros virão tão bons,  tão ruins, ou nada disso. Se o calendário é uma construção imaginária, assim também é a noção de velho ou de novo: quando não se é, caminha-se para o ser e - consequentemente - para o não ser; ou seja: começa-se a ficar velho ainda antes de começar a existir. Enfim, quando um homem de meia idade vive mais um dia de aniversario, ele não sente qualquer coisa estranha que o diferencie, mas apenas a sensação de que fora dormir menino e, no dia seguinte, acordou com 55 anos.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Samba e Oração

Ja se falou que os humanos não vivem sem as inúmeras possibilidades de expressões  artísticas. Pode-se dizer que a música é uma daquelas expressões bastante presentes no dia a dia das pessoas e, no Brasil, entre os seus mais populares ritmos, desponta o samba como um gênero emblemático. Acontece que a música brasileira, e o samba em particular, trás nas ruas raízes as contribuições sócios culturais dos vários povos que ajudaram a formar o que se chama hoje de povo brasileiro. Se por um lado essa forma de arte trás na sua essência uma complexidade, restringindo o samba - as boas composições - a alguns iluminados, por outro, é uma expressão democrática, cuja estética  possibilita a execução e apreciação das mais variadas formas. Nesse primeiro quesito pode-se citar grandes nomes, como Chico Buarque, Noel Rosa, Lamartine Babo e Ari Barroso, entre outros, que se destacaram na confecção dos mais belos sambas e de seus derivados como o choro, o partido alto, o samba canção, a bossa nova etc. O samba tem ritmo basicamente dois por quatro, com andamento variado e aproveitamento consciente das possibilidades dos estribilhos. Esse gênero tanto pode ser cantado ao acompanhamento de grandes orquestras, em grandes teatros, como ao som  de palmas e ritmo batucado na mesa de um botequim. Tradicionalmente o samba é tocado por instrumentos de corda e variados instrumentos de percussão, como o pandeiro, o surdo e o tamborim. Esse gênero é uma expressão musical brasileira, genuinamente urbana e soma traços que atende as características das canções africanas, das canções de rodas portuguesas e das cadências dos cantos indígenas dessas bandas da América. A urbanidade do estilo se dá tanto pelo ritmo, quanto pelas letras, retratando as crenças, o trabalho, o esporte, os relacionamentos amorosos e até os momentos de violência na periferia das cidades.   Enfim, samba é isso: percebe-se nele a preocupação com a existência humana em Lamartine Babo, quando canta Lua Cor de Prata, "Pela estrada do passado / Vou perdendo a mocidade /Na saudade que ficou..."; da mesma forma a preocupação política, em Apesar de Você, de Chico Buarque ao cantar,  "Apesar de você / Amanhã há de ser / Outro dia..." Ou mesmo, a feitura do próprio gênero, quando Vinícius de Moraes explica no seu Samba da Benção que "Fazer samba não é contar piada / E quem faz samba assim não é de nada / O bom samba é uma forma de oração..."

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

A Família e as Transformações Sociais

Se os esteios de uma sociedade, que de acordo com o sociólogo Emmile Durkheim - são as instituições, a pergunta que se faz necessária nos dias de hoje é: como se pode pensar a família, diante de sua importância na formação do indivíduo? Essa pergunta se deve por que, nos tempos dificeis que estamos vivendo, quando novos modelos de estruturas sociais aparecem nas conjunturas do dia a dia, torna-se esse, sem duvida, o centro da discussão.  Para o pensador francês, cada instituição, assim como os órgãos componentes de um corpo humano, devem obedecer sempre os seus papeis -sob pena de um estágio patológica. Se o coração deve ter um papel inalterado diante do corpo, como o pulmão, o cérebro e assim por diante, também as instituições sociais devem ter suas funções pensadas inalteradamente, na formação do indivíduo. Essa é uma linha de pensamento conservadora, em que se põe as instituições sociais de forma perene; posição que nao aceita qualquer possibilidade de mudanças de comportamento ou de novos olhares. Nos tempos  atuais, quando as transformações políticas e econômicas ocorrem aceleradamente, a olhos vistos, não é possível se manter um pensamento dessa natureza. A grande família, aquela que fora originada ainda no clã da antigüidade, recentemente deu o seu lugar á família nuclear, com um fogo de quatro membros, nos dias mais recentes, se vê ainda diante de mais alterações. Desta vez, as alterações são profundas, mudando completamente os antigos papeis do pai, da mãe, ou do avô, figuras imaculadas na cultura ocidental. Sendo assim, sinto dizer aos mais conservadores que "tudo que é sólido desmancha no ar" (como disseram, no Manifesto Comunista, Karl Marx e Friedrich Engels). Se tudo que existe, um dia não existiu e um dia nao vai existir, também a instituição família, um dia teve um aspecto, com uma série de papéis, regras e hierarquias, daqui algum tempo também vai ser bem diferente. Nos dias de hoje a família já houve tantas mudanças, de forma que a Sociologia precisa ser repensada sobre o que afirmara na sua época inicial, assim como é preciso rever o que diz o Código Civil e mesmo as linhas teológicas das várias religiões. Ora,  as famílias atuais já podem ser de mãe e filhos, de avó e netos, só de irmãos, de dois pais e filhos ou de duas mães e filhos. Parece que o que permanece inalterado é o papel da família na vida do indivíduo: o aconchego.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Entre a Lógica e a Razão, o Amor

Uma palavra dotada de múltiplos significados, portanto dotada de imensa complexidade, essa palavra é amor: ela pode ser entendida como compaixão, afeição, misericórdia, atração, apetite sexual, benquerer, energia ou libido. E com tantas definições, o conceito permanece intocado, como algo distante da lógica, mas apenas experimentado e vivido. Assim, sem a luz da razão, o amante abre-se na total obscuridade da paixão e vive ações identificadas com a loucura.   O amante experimenta uma mistura de sensações que vai da dor, do medo e da angústia, ao prazer, à catarse e a felicidade. E assim, toda a cientificidade criada pelos humanos não quebra a barreira que se forma na mente do amante. Isso, porque a ciência não encontra uma linha teórica que dê luz ao amor, mas apenas tenta retratar o seu experimento. E nessas tentativas, a ciência escaneia o cérebro e conclui que se aproxima mesmo de uma doença mental. Seria o amor uma doença dos humanos? Platão, em uma de suas alegorias, pela boca de Aristófanes, falou que os humanos, no início dos tempos, viviam em dupla, como um único gênero, grudados um ao outro. Seria essa a realidade que levaria a uma completude eterna? Nessa teogonia, a totalidade punha os humanos mais fortes, ameaçando os deuses e esses,  num conluio olímpico, separaram-nos cada um dos gêneros, para seu enfraquecimento. Os humanos, desde então, passaram a viver a eterna busca da sua parte que lhe  cabe, a sua outra metade. Talvez a teogonia platônica possa explicar melhor essa ação de penetrar na obscuridade da paixão, num constante desafio a razão. Mas essa energia é inconclusa. Diria para nós o filósofo: quem ama quer sempre o melhor para o seu bem-querer. E aí, uma pergunta se faz necessária:  o que é esse melhor para o outro?  Ora, se a razão não alcança a ideia do amor; busque-se então no lirismo e encontrar-se-á a definição no poema. Pois somente a catarse, somente o sentimento experimentada pelo amante e cantado pelo poeta, ascende a alma. Portanto, amor - o inigualável amor - pode se traduzir no poema de Vinícios de Moraes: “que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure”. E hoje, como ontem e como amanhã,  o amor permanece eterno, aquilo que molda-se no peito, molda-se no absoluto.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

O Brasil e o Destino dos Brasileiros

Já se disse que a história é uma profecia virada de costas. O que se quer dizer com isso? Qualquer previsão, qualquer eloqüência sobre os rumos que um povo venha seguir não passam de míticas profecias. Algo parecido com o que falava o pensador alemão Immanuel Kant, o tempo é uma das antinomias da razão; ou seja: o raciocínio lógico nao tem as armas suficientes para o seu domínio, para o seu controle. Por isso, nesses tempos de efervescência  política no Brasil, quando se acabou de eleger uma presidenta que competiu com um outro candidato, de tão diferente posição ideológica, e com uma margem tão estreita de votos, convém que se faça uma análise. E, se por mais que se falem, como um diálogo de surdos, nas possibilidades de algum direcionamentos histórico, a verdade é que esse Pais nunca mais será o mesmo.   Ora, se os prognósticos nao passam de apostas, isso se deve a complexidade da situação, a partir exatamente das transformações que estão sendo ente dadas. Uma série de mudanças sociais estão ocorrendo, como nunca antes e com isso, saltam por todos os lados um medo conservador por tais mudanças.  E essas mudancas são ainda mais fortes devido alguns pontos na conjuntura: a importância do Brasil no cenário latino-americano e, finalmente, presença determinante das chamadas mídias sociais. Não se trata de elogiar os últimos governos brasileiros, mas de reconhecer que não se pode negar as profundas transformações vividas na área social quando milhões de brasileiros foram tirados da linha da pobreza. Certamente que reconhecer ações ocorridas e elogia-las não se trata de baixar a guarda e não mais marcar ponto nas cobranças de sempre melhorar os rumos políticos, na constante reconstrução da sociedade.   Sem dúvida que a situação incomoda alguns conservadores. Como pode o aumento no número de pessoas viajando de avião, comprando nas lojas e de tantos automóvel nas ruas? Mas esses medos logo serão digeridos como já aconteceu em outros países do Norte, num primeiro momento a aristocracia apavorou-se, mas depois assimilou e hoje são sociedades bastante elogiadas por brasileiros. E sobre os rumos da história do Brasil, deixemos aos historiadores do futuro fazerem as suas profecias.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Política e Mídias Sociais

A importância do debate político no Brasil atual, se deve principalmente, pelo fato das eleições presidenciais ocorrerem em um momento que os meios de comunicação tradicional estão enfrentando forte crise. As tentativas tendenciosas de interferir nos resultados das urnas, como claramente percebidas em outras eras, mostraram agora uma falta de fôlego, coincidindo assim, com a forte participação popular através das triunfantes mídias sociais - Facebook, Twitter, Whatsapp e outros. Pode-se dizer que as tais mídias foram as vedetes do momento, já que interferindo nos meios de comunicação tradicionais, alteraram com força e de forma decisiva, os  pontos fundamentais da conjuntura social. A pergunta que se faz nessa altura é como e por que essa alteração na conjuntura foi possível, diante de impérios midiáticos tradicionais, que outrora elegeram presidentes e demitiram presidentes? Certamente que a grande novidade trazida por esse novo veículo de comunicação foi o aumento do poder de interação proporcionado ao indivíduo, como tem ocorrido nas várias áreas de expressão. Isso ocorreu por dois motivos: se por um lado proporcionou um maior interesse como forma comunicacional, por outro, possibilitou ao cidadão uma capacidade de interferência direta no processo político. Os meios de comunicação tradicionais, do rádio ao jornal impresso e a televisão, são sistemas dependentes de uma passividade do interlocutor para a ocorrência da sua ação comunicacional. A televisão, por exemplo, exige do indivíduo não só que ele pare, olhe e escute a programação, mas que ele receba seqüencialmente de forma eletrizante, a catarse com as informações preparadas cuidadosamente por uma equipe de reportagens. A ação forte da campanha política de 2014 se deu, para além dos microfones televisivos ou das páginas jornalísticas, mas no silêncio dos teclados, em uma constante  construção e desconstrução de imagens. Nesse caso, não venceu o melhor programa de governo e articulações políticas, ou apenas isso, mas venceu principalmente a militância mais aguerrida, a mais sistemática.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Manifestações, Democracia e Conselhos Populares

Por mais que se queira explicar, por mais que se queira racionalizar, algumas coisas fogem da normalidade e dificultam qualquer pretensão de entendimento, principalmente quando se trata de questões referentes a política e às relações sociais. Num primeiro momento as pessoas vão pra rua em manifestações que exigem do estado ações concretas no trato da coisa pública, num outro reclamam contra um projeto governamental de criação dos conselhos populares. Quando uma multidão vai paras ruas em manifestação política, vai com um projeto de sociedade bastante delineado, sabendo com clareza as proposições defendidas, ou estará fazendo o jogo de um dos lados do tabuleiro político. Em julho de 2013 o mundo voltou seus olhos para as manifestações brasileiras; por parte da "intelligentsia"  mundial havia uma esperança de consciência política junto ao brasileiro médio. As revoluções burguesas, as guerras por independências, bem como as revoluções socialistas, iniciaram sempre de um desconforto social em que o povo ganha as praças e as ruas em defesa dos interesses populares. Certamente que em meio aos tais movimentos sociais surgem  lideranças populares e revolucionarias, assim como os grupos de vanguarda: foi assim com a Revolução Francesa, com a Revolução Russa, com a Guerra Civil Espanhola, com a Independência dos Estados Unidos etc. Até aí, tudo é natural. O que fica sem nexo é quando um governo quer atender as exigências políticas surgidas das ruas, criando conselhos populares, abrindo espaço para o debate, setores da sociedade passam a fazer oposição sistemática ao projeto, fazendo afirmações irreais. Das duas uma, ou os grupos que foram pra rua, foram  a serviços de partidos políticos - nao sabendo o que ocorre nas franjas da sociedade brasileira, ou é uma política menor do "sou contra por que sou contra".   A criação de conselhos populares é uma abertura política para o diálogo com cada setor da sociedade no molde das já existentes conferências  de educação, de arte, de segurança, de saúde e tantas outras que ocorrem todos os anos. A incongruência reside em ir para as ruas fazendo exigências e depois rejeitar com veemência as propostas que vão ao encontro das tais exigências. 

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

O Brasil e Uma Guerra Para Chamar de Sua

A concepção de mundo do brasileiro precisa contar com as lutas e o sofrimento no trabalho, vivido por sua população, ao longo dos 500 anos de existência do País. Assim, para buscar um entendimento daquilo que é chamado Brasil, é preciso levar em conta que nunca se viveu uma guerra avassaladora em seu território ou um desastre natural, tão intenso, que tenha levado o mais endinheirado dos brasileiros a dividir um mesmo prato de comida com o mais pobre.  Alguém poderia argumentar: "mas as famosas Guerra dos Farrapos, Guerra das  Balaiadas, Guerra das Sabinadas, a Confederação do Equador ou a Guerra dos Emboabas, o que foram então?" Ora, todas elas foram nada mais que revoltas pontuais e cada uma, solucionada a partir de acordos que levaram vantagens aos dois lados do conflito.  Sim, a exploração do homem sobre o homem ocorreu ao longo da história brasileira, com todo o requinte de opressão e mandonismo. Mas isso aconteceu, sempre de forma sublimada: a escravidão, até bem pouco tempo, fora mostrada como algo que ocorrera na tranqüilidade; em Casa Grande e Senzala, Gilberto Freire parece querer mostrar os negros, todos de branco, sorrindo e felizes.  Entretanto, a escravidão brasileira fora escravidão como se é uma escravidão: o indivíduo é propriedade, instrumento de trabalho de um senhor. O que se quer dizer é que o Brasil construiu sua história sob a égide de uma elite branca que calcou na opressão de negros, índios e brancos pobres, assim como a sua tão propalada democracia racial precisa ser revista.  Se por um lado negou-se a crueldade de um sistema escravocrata, por outro, construiu-se uma história de heroísmos com pouco alicerce que lhe dê sustentação. O heroísmo mineiro de Tiradentes que se quis impor como exemplo de amor a pátria, carece de explicações; assim como precisa ser explicado o heroísmo de Duque de Caxias e seus conflitos com o Conde D'Eu. Ou seja: a elite econômica brasileira, branca viveu por estas terras - até os dias de hoje - com uma mentalidade voltada para a Europa ou para a América do Norte. Uma mentalidade colonial (o que se produz na metrópole é melhor). Talvez seja essa a grande divida: uma grande guerra que envolva cada um. Assim, quem sabe, todos quererão pensar o  Brasil, com olhares verdadeiramente de brasileiros.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Mídia, Política e Dominação

A televisão no Brasil é uma mídia bastante diferente de tudo aquilo que se é mostrado em outras partes do mundo; por aqui, mais que um veículo de comunicação, é um poderoso instrumento político. Até por quê, aquele que controla um canal de tevê, controla mais de um, além de controlar também algum jornal, ou jornais, e rádios. Para se pensar o poder da mídia, ou aquilo que os intelectuais da Escola de Frankfurt chamaram de MCM (meios de comunicação de  massa), precisa que se entenda o fenômeno como meio, como veículo, como mídia. Ou seja: entre o indivíduo e o fato ocorrido precisa-se de um meio. Ocorre que o que o indivíduo fica sabendo nao é o fato em si, mas aquilo que a mídia, o veiculo, ou o meio permitiu que se soubesse. Como ocorre esse poder? Ora, a  mídia tem uma força de massificação, uma força a quebrar as individualidades que naturalmente ocorrem no tecido social, unifica pensamentos, tendências ideológicas e gostos culturais, criando pessoas iguais. O conceito de massa está exatamente na quebra das individualidades, de modo que os membros de um dado grupo passam agir como cópias um do outro, causando o que se poderia chamar de efeito manada. Com a unificação dos pensamentos, das tendências, as pessoas passam a consumir igualmente tudo que o meio de comunicação elabora, inicialmente apenas produtos culturais - música, dança, cinema, teatro. A parti daí, com a homogeneidade dos gostos culturais, vem a segunda etapa, a imposição de necessidades de determinados produtos especificamente: roupa, sapato, refrigerador, carro, salsicha, queijo etc... Interessante que aquele que não tem condições financeiras de adquirir os bens oferecidos pela mídia, se sente inferiorizado ou tentado a consumir pela força. Estudiosos da violência urbana dão conta de que as pessoas, a quem os produtos são oferecidos, podem cair na tentação de conseguir tais produtos a qualquer preço. A mesma meio televisão que diz ao filho do endinheirado que o garoto esperto é aquele que possui o tênis do tipo x, é o que diz ao filho  do não endinheirado que o esperto é quem possui tal tênis. Numa terceira etapa vem os modos de comportamentos, jeito de falar, pronúncias do esse, do erre e assim por diante; a partir daí, as pessoas passam a ter uma mesma tendência por tipos de viagens ou gosto por comidas etc. É nessa etapa, algumas vezes até antes, que surgem as verdades políticas e que passam a ser unificadas, sob um mesmo comando - aquele, ou aqueles, que controlam  o meio de comunicação.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

O Perdão e a Culpa

Os humanos, vivendo em sociedade, falam e realizam ações que, por hora, violentam, agridem ou, simplesmente, deprimem as pessoas do seu entorno; certamente que há uma complexidade no tema, mas em geral a culpabilidade se faz dependendo dos valores vividos pelo grupo. Por outro lado, homens e mulheres agridem-se uns aos outros, física ou simbolicamente, para satisfazerem seus interesses, de toda a ordem. Sabe-se que o que determina o bom e o ruim, o certo e o errado, no jogo das relações sociais, são os valores construídos historicamente e vividos pelos integrantes do grupo. Nesse caso, a ação que se realiza não pode ser um mal em si, mas precisa ser vista como mal pela maioria dos membros da sociedade. A relação social ocorre da seguinte forma: depois de uma prática daquilo que se aceita como mal, pode vir o seu arrependimento, a não mais aceitação daquilo que fora feito, busca-se então um reencontro com aquele que sofreu o mal, pensando na possibilidade de reconciliação e com ela, acontece o pedido de desculpas ou de perdão. Para que haja desculpas ou perdão, necessariamente é preciso se admitir que um erro fora cometido e que, diante do fato, aquele que foi vitimado deve perdoar, precisa ser desculpar. Parece que os dois conceitos se distinguem pela intensidade da busca de erradicar as marcas do ato praticado. A desculpa, mais superficial, trás no peso do conceito a busca pela erradicação de uma culpa, uma condição de aceitação de que algo fora feito errado, na  proposição de uma reconciliação. Diante disso surge a figura do perdão uma expressão mais forte, dita por aquele que fez o desagravo, com o intuito ser readmitido no grupo de convívio ou de ser aceito por aquele que sofreu o desagravo. Ora, o perdão - ou desculpa - é um processo espiritual de cessar os ressentimentos ou raiva, contra outra pessoa ou contra si mesmo, decorrente de uma ofensa percebida, de diferenças, de erros ou de fracassos. Também pode ser como forma de cessar a exigência de castigo ou restituição de um objeto. O perdão pode ser considerado simplesmente em termos dos sentimentos da pessoa que perdoa, ou em termos do relacionamento entre o que perdoa e a pessoa perdoada.    Mas também pode vir através da oferta de alguma forma de desculpa ou restituição, ou mesmo um justo pedido de perdão, dirigido ao ofendido, por acreditar que ele é capaz de perdoar. Para finalizar pode-se dizer que o perdão é o esquecimento completo e absoluto das ofensas, vem do coração - como  diriam os poetas, é sincero, generoso e não fere o amor próprio do o ofensor. O perdão não pode impor condições humilhantes, tampouco pode ser motivado por orgulho ou ostentação; só pode haver perdão onde houver culpa.

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

O Voto e a Força Social

As pessoas não se dão conta, mas o processo eleitoral, a escolha dos novos governantes de uma cidade, de uma província ou de um país, por parte dos cidadãos, é de extrema relevância. As pessoas nao se dão conta porque não conseguem ver a importância de toda estrutura e do funcionamento administrativo do poder publico, a constituição das suas leis, a estrutura burocrática, as hierarquias e todas as suas dificuldades. O que acontece é que, mesmo sabendo que democracia é um conceito muito mais amplo, o que tem caracterizado, na prática, a política da era moderna, é o fenômeno da votação, o processo de eleição que escolhe os representantes em uma dada sociedade. Em geral é a isso que se tem dado mais tem peso e, portanto, deve ser estudado. O que se quer dizer é que o voto é muito mais que uma ação social - no dizer do sociólogo alemão, Max Weber; certo ou errado, o voto traduz a vontade política de cada membro de uma sociedade.  A estrutura de poder de uma população, o grande Leviatã, como fora chamada por Thomas Hobbes, pode estar a mercê de apenas um indivíduo - como são os casos dos reis absolutos e mesmo de sistemas ditatoriais, ou aberto aos interesses da população. Nos primeiros casos, as decisões ocorrem pela deliberação de um indivíduo (ou de um pequeno grupo de indivíduos) ou através do voto, da vontade popular. Ou, como já chamaria atenção o dramaturgo alemão, Bertolt Brecht, em seu Analfabeto Político, quando afirma que é através de uma decisão política que o preço do leite, do pão ou do remédio vai se posto a uma população. Isso significa que o cidadão comum, aquele que deposita o voto na urna, precisa saber que essa ação popular tem a tal força política. Depois de ouvir os candidatos, depois de ouvir as pessoas que defendem este ou aquele candidato, o eleitor elabora uma noção das condições eleitorais que se impõem em uma sociedade e, na solidão da urna, dá o seu voto. Ou seja: o cidadão, na sua individualidade, não tem como intervir na condução dos destinos da administração pública, mas através de um sistema eleitoral que resulta na somatória das vontades particulares, sim. 

domingo, 19 de outubro de 2014

Terroristas ou Soldados Valorosos?

Quando a imprensa trata os conflitos internacionais, usa a palavra terrorismo para designar, deliberadamente, as ações contrárias ao poder hegemônico mundial. Entretanto, o conceito é bastante amplo e complexo: designa - a princípio - uma sensação de medo, provocada por algo medonho, pelo desconhecido. Mas o problema, é que o termo, quando generalizado, dificulta a  compreensão do fenômeno e remete a um preconceito vazio. Ora, quando se ouve a palavra terrorista, de imediato, não se pensa apenas em grupos árabes, em defesa de seus interesses nacionais, territoriais e religiosos. Num primeiro momento, o ouvinte é levado a intuir tais grupos, como pessoas prontas para fazerem o mal pelo mal, pessoas monstruosas que sentem prazer em praticar as maiores atrocidades. E o pior é que o termo, usado indiscriminadamente por parte dos jornalistas responsáveis pela notícia,  induz  o desavisado, a um fortalecimento ideológico. A partir disso, as pessoas comuns, profissionais das variadas áreas, passam a usar o termo desmesuradamente e, como acontece nos dias de hoje, sempre para designar homens de turbantes, islâmicos de armas na mão. Pior ainda é perceber professores, titulares de disciplinas em ciências sociais aplicadas, usarem o termo, sem maiores critérios; sem se dar conta, reforçam um pensamento xenofóbico.  Acontece que alguns conceitos trazem nas suas franjas as que dificultam , sobremaneira, a sua compreensão; sim, terrorismo é a prática corrente do terror. Mas é preciso pensar o tal do terror. O que leva alguém a definir o fenômeno? Em primeiro lugar é preciso ser dito, ninguém se sente terrorista, mas sempre um valoroso soldado, defendendo uma causa justa. De um lado está o Ocidente que historicamente interfere nas políticas sociais e econômicas do povo islâmico; do outro, está o Oriente Próximo, revidando e impondo sua fé. Cria-se então, um pensamento maniqueísta, onde reina o bem o mal, anjos e demônios. O que dificulta a compreensão é que todos se sentem anjos e todos levam ao outro, sempre, à condição de demônio.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

O Linchamento e a Ausência do Estado

Algumas ações coletivas, por mais nocivas que possam ser a uma sociedade, nunca foram estudadas adequadamente: esse é o caso do fenômeno do linchamento, uma prática coletiva, em que pessoas se juntam para fazer o que acreditam ser justo. Essas práticas acontecem a partir da histeria de um grupo de algumas dezenas de pessoas que toma as dores de um dos lados do conflito, manifestando forte sentimento de vingança e se achando no direito de punir os indivíduos. Mas, para além do que se pode pensar na definição do conceito de linchamento, é preciso entender os motivos que levam ao surgimento do tal fenômeno. Sim, aquilo que erroneamente o senso comum chama de "justiça com as próprias mãos", nada mais é que um grupo de pessoas se sobrepondo ás funções do estado.  E erronea, porque a expressão trás, intrinsecamente, uma contradição: ora, não pode haver justiça no mundo privado; só é possível ser justo no espaço público. A justiça só será possível se feita a partir de um terceiro excluído do conflito, neutro, muito além das vontades particulares. Mas, apesar de os estudos sobre o estado, sempre redundarem na máxima, a razão da sua existência está na necessidade de proporcionar aos membros de uma dada sociedade, a segurança para uma vida tranqüila e feliz, na prática há uma distância entre isso e a realidade. Assim, o cidadão comum pode não saber explicar a ineficiência do estado, mas pode muito bem sentir em suas ações do dia a dia. Então, além de uma função executiva do estado, de administrar saúde, proporcionar educação e também segurança pública, deve ter como propósito a produção de leis, bem como a manutenção da ordem. Nesse caso, quanto menos acontece a presença do estado, mais os membros da sociedade acharão meios alternativos de se impor, através daquilo que determinam como ordem. O linchamento acontece então, pelo fato de que nem sempre esta instituição, tão importante em uma sociedade complexa, consegue cumprir o seu papel, além de não dar saúde e educação adequadas, também não dá segurança: não prende o trangressor e não o  pune adequadamente, gerando um sentimento de impunidade e desamparo. Nesse caso, nao basta que o estado puna o trangressor adequadamente, é preciso que também pareça punir adequadamente para que assim o efeito coercitivo aconteça entre os membros da sociedade.

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

A Política, as Palavras e os Sentidos

Atualmente, na sociedade brasileira, vive-se uma verdadeira Babel de expressões ideológicas: socialismo, populismo, comunismo, ambientalismo, liberalismo; além de outras que nao designam necessariamente correntes ideológicas, mas conceitos políticos de um modo geral.  As pessoas usam de forma indiscriminada tais expressões e se auto-intitulam socialistas ou liberais, pelo simples fato de este ser o nome do partido ao qual se está filiado; ou então: chamam uns aos outros de populista, pelo simples fato de ser popular.  Vejamos: durante muito tempo - na modernidade - falou-se de democracia, pensando na sua importância para a construção de uma sociedade justa e livre, mas depois usou-se cidadania, dando o mesmo sentido, e agora já se fala em uma política republicana. Facilmente abandonam- se as origens das palavras e dão-se a elas novos sentidos, novas roupagens. Nesse jogo de palavras, com tantas alterações, em tão pouco tempo, poucos são os que efetivamente dominam tais expressões políticas. São poucos por dois motivos: primeiro, devido a complexidade dos conceitos (há uma ciência rigorosa e de difícil compreensão tratando do tema) - segundo, porque há uma invasão do senso comum. Enfim, até mesmo cientistas políticos enfrentam alguma dificuldade para dominar as ultimas expressões da moda. Ora, se é possível chamar  a todos de socialistas, tal palavra - no ato - deixa de designar o que fora anteriormente pensada e isso impossibilita a compreensão de um tema que é tratado, em uma ciência tão complexa. Ou ainda, se alguém  chama, de forma indiscriminada, um ou outro como populista, pelo fato de este ser popular, aquele conceito do líder político personalista, assistencialista e totalitário, deixa de existir. Ou seja: no trato de um tema em que alguns conceitos são bastante específicos, faz-se necessário uma busca rigorosa da sua compreensão. Não se deveria aventurar no debate, sem mais nem menos. É verdade que a língua é viva e o sentido de democracia, usado nos dias de hoje, nem de perto retrata aquilo que os atenienses viveram, mas é preciso que haja alguma segurança na fala; afinal, se não há um rigor cientifico, não se pode reivindicar uma racionalidade. 

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Mulheres, Homens, Machismo e os Adjetivos

A presença da mulher, cada vez maior, em espaços outrora controlado apenas pelo homem, fez a sociedade, nas ultimas décadas,  voltar-se aos antigos adjetivos que sempre designaram funções masculinas. O que nao é pra menos: as mulheres estão presentes hoje, praticamente em todas as atividades que outrora foram ocupadas exclusivamente por homens. Na língua portuguesa, alguns adjetivos sempre foram usados de forma diferenciada, como é o caso de rei e rainha, de professor e professora, de advogado e advogada, alem de outros. Algumas expressões são usadas igualmente para os dois gêneros, como o de artista ou o de atleta. Ainda outros adjetivos podem ser usados tanto de forma genérica, quanto diferenciados:  pode ser usado apenas poeta, mas também poetisa, pode ser usado apenas soldado, mas também soldada e assim por diante. Em alguns casos existem flexões para o feminino diferenciado, de duas formas; ou seja, um para a mulher que ocupa tal função e outro para a esposa de um homem que ocupa a função. Exemplo: o embaixador - a esposa, a embaixatriz, e a embaixadora, ou o senador - sua esposa, a senatriz, e a senadora.  Também é natural que, quando uma mulher assume um cargo distinto, se saiba da parte dela qual sua vontade de ser chamada; por exemplo, de presidente ou de presidenta. Se o pedido for de presidente, genérico, demonstra não haver, por parte da governante, uma preocupação com a causa da mulher, mas se a solicitação for de que seja chamada de presidenta, a preocupação será de inserir uma posição firme da mulher no mundo do trabalho. Aliás, o pensador alemão, Jurgen Habermas, afirmara existir na fala, o que ele chamara de agir comunicativo. Entretanto, tambem é bastante comum que pessoas com tendências políticas opostas, nao sigam o solicitado pela pessoa distinta e use exatamente o adjetivo oposto, como uma forma de contrariá-la. Enfim, não importa se  chamarmos a mulher que canta, de cantor ou de cantora, mas a sua capacidade de cantar, a beleza da sua voz, a afinação, o timbre e a harmonia. Fora disso, é uma afirmação da mulher num mundo até hoje dominado por homens e ainda tão machista: afinal, há uma prática no discurso.

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Direito, Violência e Sociedade

Muito tem-se falado sobre as implicações sociais, políticas e econômicas de um sistema normativo em toda e qualquer sociedade, mas a frustração é mesmo geral quando se analisa a eficiência, ou não, da norma jurídica brasileira. Pelo menos essa é a realidade de quem estuda a Lei Maria da Penha, pois percebe que, depois de anos de uso, as mulheres continuam a ser agredidas, na mesma medida da época em que a lei fora publicada. É assim também quando se estuda o Código Penal Brasileiro; juristas de todas as vertentes, são categóricos quando afirmam que o Direito Penal não consegue conter a violência. Ou seja: diferente do que se pode imaginar, a Lei  em si, somente ela, não retém a violência na sociedade, nao bota ordem nas relações humanas.  A Lei Maria da Penha, denominação popular da lei número 11,340, fora um dispositivo legal brasileiro que aumentou o rigor das punições aos homens que agridem física ou psicologicamente uma mulher. Entretanto, após uma serie de debates de norte a sul do País, as pesquisas mostraram que tal lei não conseguiu diminuir a violência, como  se pretendeu. As mulheres continuaram a ser agredidas tal qual  eram no período da publicação da lei.  O que não se percebe é que nesse caso, não se pode ser monista - a Lei, por si só, não estanca o fluxo da violência: as necessidades de uma dada sociedade transcendem todo e qualquer ordenamento jurídico. Ora, na Dinamarca não existem placas escritas "Não pise na grama!" e as pessoas não pisam na grama, no Brasil existem placas escritas "Não pise na grama!" e as pessoas pisam na grama. A sociedade brasileira vive  um legalismo muito forte, as pessoas acreditam que a simples construção de uma nova lei, já será o suficiente para estancar uma  determinada realidade delituosa. E o mais interessante nisso, é que essa crença, esse tal legalismo, nao é apenas uma realidade de cidadãos comuns, mas um pensamento partilhado também por autoridades legislativas e judiciárias. Sem dúvida faz-se necessário a efetividade da lei, assim como a força da sua coerção entre os membros de um grupo; entretanto, ela não é suficiente para organizar uma dada sociedade. Isso só será possível com um ajuntamento sim de leis eficientes, mas também  com uma eficiente ação de todas as instituições da sociedade: jurídicas, políticas e culturais. 

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Política: Voto ou Luta Armada

De duas maneiras se pode interferir na condução de uma sociedade: através de um processo democrático com a escolha dos seus representantes ou através de luta armada, em uma guerra civil. Não há uma terceira forma. A Filosofia, a Ciência Política, ou o Direito, mostraram sempre  que o conflito armado, a guerra, é uma extensão da política. O processo eleitoral é comum em democracias com um sistema político consolidado, em que as pessoas, de posse de seus direitos de cidadão, periodicamente vão às urnas para escolherem os seus representantes. Cabe se ressaltar que o simples fato de haver eleição nao credencia um estado como democrático; alguns tipos de votações nao passam de mascaramentos de sistemas autoritários. Quando o sistema democrático eleitoral nao funciona a contento, alguns grupos humanos entendem que a participação política está diretamente ligada a uma intervenção armada. Nesse caso, tanto pode haver intervenção das instituições militares da própria sociedade, quanto pode haver uma organização de grupos paramilitares para o confronto. Assim, havendo o embate, o saldo será o de mortes; em alguns casos, verdadeiras carnificinas. Entretanto, em uma sociedade, politicamente evoluída, respeitosa das condições sociais de seu povo e do jogo democrático, nunca haverá um entrevero armado, por maior que sejam as dificuldades econômicas. Em uma sociedade politicamente evoluída, respeitosa do jogo social e democrático, o que vinga é o respeito às diferenças, ao contraditório. Já numa sociedade, com democracia nao consolidada, é comum que grupos intrigados por perda de poder político, econômico ou prestígio, opte por boicotar o processo eleitoral. Alguns fazem isso através da compra e venda de votos ou mesmo de candidatos, assim como da manipulação de informações  através de uma imprensa encilhada, subserviente. É certo que a democracia tem falhas e facilmente se percebe isso - suas administrações são morosas - e que os sistemas totalitários conseguem fazer uma administração mais célere. Da mesma forma, também se sabe que quem pratica luta armada tem mais convicção política  do que, certos cidadãos, na hora do voto. Entretanto, todo sistema autoritário é ilegitimo e, se a democracia tem falhas, ainda não inventaram nada melhor.

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Dom Quixote e a Fraqueza da Modernidade

Quando Miguel de Cervantes escreveu o seu Dom Quixote de la Mancha não estava preocupado somente em parodiar as histórias pré-modernas  de cavaleiros andantes e heróis salvadores de donzelas indefesas. A obra do pensador espanhol, do período renascentista, estava determinada em mostrar as fraquezas do momento em que se estava vivendo, ainda atrelada aos momentos e tradições medievais.  Outras obras surgiram nesse ínterim com o intuito de questionar a produção intelectual que se pretendia o descobrimento da verdadeira racionalidade, mas que mantinha traços da mítica Idade Media. Seguiam a mesma linha crítica, textos como: Elogio da Loucura - de Erasmo de Roterdã, ou Utopia - de Thomas More; pensadores que se ativeram à loucura existente na pretensa racionalidade. Dom Quixote de la Mancha é o nome adotado por um fidalgo de aproximadamente 50 anos que, após ler inúmeros livros, mostrando grandes feitos de cavaleiros, resolveu juntar uma antiga armadura da família, conserta-la e vesti-la para ganhar o mundo, em busca de aventura.  Quando chega na espelunca de uma estalagem, encontra prostitutas e as concebe como donzelas, pedindo a elas que o levem ao castelão, servindo de motivos de troça para todos o que se encontravam no seu entorno. Atrapalhado nas suas lutas, o fidalgo de lá Mancha enfrentava monstros terríveis e exércitos de inimigos, mas que não passavam de velhos moinhos com suas rodas a moverem-se com o vento e grupos de aldeões no seu trabalho do dia a dia. Ao avistar de longe, a lavadeira Aldonza Lorenzo, uma mulher feia e masculinizada, o cavaleiro não teve dúvidas e escolhe-a para sua amada, chamando-a de a bela Dulcinea del Toboso. Enfim, se as pessoas vivem nos dias atuais o que chamam de pós-modernidade, se percebe com clarividência a grandeza de Cervantes, ao mostrar uma personagem apanhando de sua própria sua ignorância. O exemplo é que o cavaleiro andante permanece querendo defender as donzelas e os exércitos imaginários, cravados em instituições dos dias atuais. Sim, estruturas políticas, midiáticas, religiosas e culturais, procuram a realidade onde não se encontra e se nutri dela, vendo monstros onde tudo não passa de moinhos de vento.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Pandora e a Caixa das Incertezas

Desde os tempos gregos mais remotos, ainda quando a tradição mnemônica repassava os feitos dos deuses, a cultura ocidental se utiliza da Caixa de Pandora, como exemplo de algo fechado e obscuro. Tal mito tem servido para retratar aquelas realidades desconhecidas; realidades que, por mais que se busquem, permanecem na incerteza, no medo e na dificuldade de desvenda-la. Nos tempos atuais, quando se pensa nas pesquisas acadêmicas, nas escolhas dos governantes, na complexidade das invenções ou no ato sublime de uma criação artística, se pensa naquela caixa fechada das incertezas. Tal como nos ensina a teogonia grega, as perguntas nos vêm a mente: como será o amanha? O que nos espera? Além de toda a sorte de males, presos nessa caixa, ainda haverá uma esperança, antes que a mulher de Prometeu a feche? Os poetas gregos antigos, Hesíodo e Homero, cantaram e o trágico Ésquilo, grafou na sua peça teatral, Prometeu Acorrentado, o momento em que os homens receberam das mãos de um deus, o fogo. Juntamente com essa alegoria, os poetas retrataram o momento em que Pandora, a esposa desse deus, carregava em uma caixa - todas as desgraças possíveis para a humanidade. Enquanto Epimeteu fora responsável por criar todos os animais, com suas características, restou a seu irmão gêmeo Prometeu, criar o homem. O primeiro teria dado aos animais, características peculiares e que nada mais restava aos homens, para quem o segundo irmão roubara-lhe o fogo dos deuses. Irado com a atitude desse deus delituoso, Zeus - o chefe supremo dos deuses - condenara Prometeu a prisão em correntes, por um período de 30 mil anos, no monte Cáucaso, onde o abutre Eton, viria todos os dias comer-lhe o fígado. Enquanto isso, sua esposa, Pandora, que - como se disse - estaria de posse da tal caixa com o indicativo dos deuses de que se permanecesse fechada, pois dela poderiam sair as piores mazelas para a humanidade. Entretanto, a indicação não foi suficiente e a curiosa Pandora apostou no incerto, no desconhecido e abriu a caixa, de onde saíram - entre outras desgraças - a fome, as doenças, a loucura, a paixão e a mentira; rapidamente fechou para que não saísse também a esperança.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

O Deus e o Nada

Muito comum, quando alguém se posiciona como ateu, um outro afirmar: "ah, os ateus só o serão, até o momento em que uma grande desgraça lhe aconteça; a partir daí, é um 'ai meu Deus, me ajuda!'" Isso não é totalmente verdadeiro, mas também não é totalmente errôneo. A maioria das pessoas que se autodenominam como tal, são na verdade céticos, não desacreditam totalmente, mas também não conseguem provas cabais da existência de um ser maior. Entretanto, também existe aquele que fez do seu ateísmo uma nova profissão de fé; e, assim como os crentes, passam a tentar convencer os demais da não existência de um ser supremo, um motor inicial. Certa vez, um aluno afirmara: "nós os ateus somos egoístas, sabemos que não existe um deus e não levamos essa verdade às pessoas". Ou seja: o mesmo propósito daqueles que crêem e pensam ser necessário levar a "boa nova" para todos, quase uma religião dos que não crêem. Certamente que também existem aqueles que trocam esse deus - responsável por todas as existências, por um outro, o deus da ciência, o deus do trabalho, o deus do corpo esbelto,  o deus da acumulação de riquezas e até o da ostentação. Para isso, desprendem um conjunto de sacrifícios, desempenhados por si próprios e por aqueles que estão no seu entorno. Mas assim como estes, existem também aqueles que conjugam deuses, aumentando o panteão da loucura humana. Em geral, unem Jaweh (o deus único) com o dinheiro ou com a sua ostentação: há até uma corrente religiosa, muito comum entre pentecostais, chamada de Teologia da Prosperidade. Nesse casso, o deus que fez o céu e a terra, se invocado por pessoas especiais, poderá liberar prosperidade financeira, sorte no amor, saúde etc. Então, assim como existem os crentes, existem os não crentes; e pode-se afirmar que esses dois possuem visões de mundo completamente diferentes. Sim, quem pensa existir uma outra vida após a morte, um julgamento, a possibilidade de um perdão e um grande pai que socorre, pensa diferente daquele que acredita estar sozinho no mundo, degredado, e que precisa enfrentar todas as agruras da vida. Enfim: existem aqueles que crêem em um ser soberano que fez o céu e a terra e pensam, "oh, quanta beleza! é impossível não haver quem a tenha feito". Mas também existem aqueles que não acreditam em deus algum e pensam, "olha para o mundo, quanta beleza! é impossível que alguém tenha feito, as coisas existem porque existem".

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Ética, Estética e os Valores da Vida

Os humanos são dotados de dois elementos que os caracterizam e determinam as suas tomadas de decisão, diante de cada situação que se depare. Na Filosofia, esses dois elementos são denominados de ética e estética. Quando estudados conjuntamente, eles são chamados também de Axiologia, mas nada mais são que um conjunto de estudos sociais e algumas vezes denominados como Teoria dos Valores. Num sentido prático, esses dois conjuntos de valores, são os responsáveis por moldarem as personalidades das pessoas, no que se trata dos aspectos morais, assim como nos aspectos sensoriais. Em outras palavras: o primeiro trata dos conhecimento comportamentais, daquelas noções de verdades sociais, importantes para os indivíduos; o outro trata dos conhecimentos sensíveis, das verdades do gosto, do belo e do feio. A Ética, enquanto um logos do comportamento humano, está preocupada em entender o jogo comportamental, definindo aquilo que é o certo e o errado nas ações do indivíduo, diante da sua sociedade. Nesse caso, entra em cena o debate de alguns conceitos importantes para o relacionamento humano: o respeito, a equidade, a tolerância, entre outros. Quando se aceita ou não um dado comportamento como correto, só se faz - devido ao conjunto de valores existentes dentro de cada um. Enquanto isso, a Estética está preocupada em definir o belo e o feio, a harmonia, o poético  e o sublime. Já nesse caso, a discussão da estética está preocupada em levar à baila os valores humanos para com a arte e sua criação. Se alguém percebe o belo, entendendo que uma flor, uma casa, um cavalo ou um corpo humano é lindo ou é feio, só percebe isso devido aos valores estéticos incrustados no observador. Então, se esses dois conceitos são determinantes para o comportamento humano, pode-se dizer que a beleza não está na peça ou no corpo observado, mas no sujeito observador. Da mesma forma, pode-se dizer que a ação do indivíduo observador, nunca estará certa ou errada, mas apenas de acordo com determinados valores.  E ainda: a vida não tem valor, as pessoas é que dão valor á vida, ou não.

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Primeiro: o Direito de Defesa

A justiça de fato só acontecerá se o julgamento for feito na forma mais imparcial possivel e com amplo direito de defesa do acusado. Essa é a lição número um de todo e qualquer sistema político, social ou econômico que se pretenda coerente, justo e humano. E o mesmo pode ser dito do seu contrário: julgar alguém sem ouvi-lo para que este, com tranqüilidade, conte a sua história, a sua versão, é incoerente, é injusto, é desumano. Isso porque nas sociedades humanas que se pretendem civilizadas, toda acusação de um delito tem de ser investigada, julgada e, se condenada, sancionada rigorosamente na forma da lei. Ou seja: a sociedade vai ser mais adequada ou nao, civilizada, cosmopolita, liberta, dependendo da eficiência do julgamento, o peso adequado da pena dada para cada delito, o local mais próximo que se puder para realizar a execução e o momento, devendo ser o mais célere possível. Mas também, assim como num sistema judiciário de um dado estado precisa-se de eficiencia para a vida reta de um povo, também deve-se pensar para a eficiência de uma vida privada em sociedade. Isso quer dizer, que por parte de cada relacionamento - casais, grupos de amigos e organizações de um modo geral - que se buscar a eficiência, há a necessidade de um julgamento adequado para todos os casos.  Ora, um professor nao pode julgar o seu aluno de forma precipitada, sem antes tomar conta da situação, assim como um repórter não pode tomar as dores de um sem ouvir o outro; ou, nos relacionamentos conjugais, um tomar decisões drásticas, sem que se ouça o parceiro. O próprio senso comum ensina que, para que haja um julgamento coerente, justo, é necessário muita sabedoria ou discernimento, não o calor das emoções imediatas, por mais doloridas que sejam. Enfim, muito distante de ordens religiosas, filosóficas ou ideológicas, por mais evidente que o caso possa parecer, nenhum acusado pode ser condenado, ninguém pode sofrer uma pena, sem antes haver um amplo direito de defesa. As pessoas alteram evidências, documentos são manipulados, testemunhas são compradas e o injusto pode facilmente ser a realidade; para que isso não aconteça, toda pessoa que se pense humana, não tendenciosa, deve aceitar e lutar para que o seu julgamento particular seja ele primeiro, desta forma, justo. 

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Entre a Direita e a Esquerda, o Vômito

Em todas as sociedades humanas, duas posições se contrapõem: de um lado aqueles que pendem para um pensamento político, social e econômico e, do outro, aqueles que pendem para posições contrárias. Isso acontece porque as pessoas divergem umas das outras, nas suas lutas para satisfazer as necessidades, ou os seus interesses, e cada um segue buscando aquilo que lhe faz bem. Esses dois pontos, na política, ficaram consolidados como situação e oposição ou progresistas e conservadores; ou seja: de um lado, aqueles que se aninham junto ao poder instituído - e o alimentam - e, do outro, aqueles que se posicionam como fora do sistema. Durante muitos anos, desde a Revolução Francesa, o contra e o a favor, os dois lados da arte de fazer política - pensando o controle do estado - ficaram conhecidos como direita e esquerda; conceitos esses que se fortaleceram e tomaram corpo nas  ciências humanas. Na luta para mostrar como não sendo nem uma coisa nem outra, criaram-se teorias políticas que se pensaram diferentes, mas que acabaram sempre repetindo as velhas fórmulas ou muito pior. Foi assim com os revisionistas que se pretenderam ser uma nova via para o socialismo e para a democracia e foi assim para os sistemas totalitários da primeira metade do século 20. No inicio daquele século, o fascismo fora pensado por Benito Mussolini como uma alternativa à disputa acirrada entre o capitalismo imperialista e ao socialismo comunista. Na Alemanha, o nazismo não foi diferente, se apresentou como a solução para o confronto entre os dois lados, então pensados como fruto da deteriorada cultura ocidental. Já no final do mesmo século, o pensador inglês Anttony Giddens, propôs algo que chamou de terceira via, agora pretendendo unificar pontos do capitalismo com convergências do socialismo. Suas ideias foram rechaçadas por pensadores dos quatro quantos do mundo sob a alegação de que os dois sistemas são, por natureza, incongruentes.  Ou seja: é preciso atitude. Afinal, as pessoas não podem ser "muristas" ou pensar que se pode servir a dois senhores. Então, como está escrito no livro de Apocalipse, capítulo 3, versículos 15 e 16: "Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente; quem dera foras frio ou quente! Assim, porque és morno, e não és frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca." 

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

O Novo, Por que?

A noção política de novo e velho, ou de progressista e conservador, remontam os tempos ainda do final da Idade Media, quando se confrontava o poder da Igreja, mostrando as necessidades de mudanças. A partir daí se consolidou a idéia de revolução, da necessidade de transformação profunda em uma sociedade e todo aquele indivíduo que se achou adiantado em seu tempo, passou a defender toda e qualquer coisa que representasse o novo. Nesse caso, defender o novo se construiu como algo simpático, algo bom, atraindo pessoas para a causa, em detrimento a tudo que se apresentasse como contrário. Passaram-se a considerar termos como pejorativos, tudo aquilo que não representassem o "statos quo", tudo que não representassem mudanças e assim, artistas e "intelligentzia", de um modo geral, passaram a considerar como antiquado, arcaico e outros termos mais. A verdade  é que o tempo não para e os humanos existem como em uma roda-viva, com toda a sorte de transformações sociais, políticas e econômicas.  Nada é perene. Então, essas transformações são inevitáveis, mas a própria existência deixa marcas que constroem os humanos continuamente como civilização, como cultura e como sociedade.  É preciso então que se discuta, não as inevitáveis mudanças na dinâmica do tempo, se é aceitável ou não, mas a erradicação das marcas construídas pelo tempo. É preciso que se discuta, principalmente, se essa erradicação das marcas do passado, são acompanhadas de uma necessidade plausível, algo que seja claro aos atores sociais da sua importância. Homens e mulheres existem como frutos de suas próprias memórias; transformando a natureza em bens de uso constroem diariamente a si próprios. Homens e mulheres existem como frutos de suas histórias, num fado avassalador, mas não há como erradicar seus passados. Assim, toda mudança é bem-vinda, mesmo porque é inevitalvel e indispensável, entretanto é preciso que se pense para onde essas mudanças estão dirigindo a sociedade, o que se quer com tais mudanças. Ora, se o novo sempre vem, o que não se pode é esperar, e querer sempre o novo, sem saber para onde esse novo está levando. Mudar o que e para que? Dependendo do novo que vem, é melhor ficar com o velho.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

O Poder, Entre o Querer e o Saber

Muito tem-se perguntado sobre o motor que carrega os destinos da humanidade por todos os tempos. Onde reside a força que impulsionou esses seres vivos a pularem dos galhos, largarem seus rabos, passarem a andar sobre as patas traseiras e inventarem de pensar? Seria essa uma força de origem transcendente, um ser extra-mundo que assim determinou, um grande pai formador, um motor inicial?  É uma dúvida que - desde os primórdios dos tempos - ferve nos corações e mentes desses bichos que se autodenominaram, humanos. Se não buscarem as respostas em um ser transcendente, resta a esses humanos encontrá-las em suas próprias capacidades pessoais: o poder, o saber e o querer. Seriam estes os conceitos que, quando conjugados, se tornam instrumentos inabaláveis de profundas forças de transformações mentais, físicas e socais?   Certamente que havendo um deus como motor inicial - ou não - a verdade é que os imensos impérios, as grandes descobertas cientificas  e as maiores peças de arte, só surgiram porque, em algum momento, esses três fatores - esses três conceitos, assim o impulsionaram. Alexandre - o grande, queria expandir seu território, ele sabia o que fazer com suas imensas falanges macedônicas e tinha as condições necessárias para assim proceder. Ou, por outro lado, se apenas um desses verbos existir isoladamente, causará a esse pobre humano, uma grande frustração. Sim, de nada vale o controle social e político, se não souber como agir e mesmo ter um motivo para a ação; assim como de nada vale um querer, isolado de um saber e do domínio das condições para assim proceder. Desde Michel Foucalt, se sabe que o poder se manifesta em todos os grupos humanos, desde os pequenos grupos - o que ele chama de "micro-física do poder" - aos grandes grupos nacionais. Então, este nada mais é que a capacidade de agir sobre as condições que estão dadas: política, social e cultural, mas de nada vale, se nao conjugado com o querer e o saber; alias, de nada vale se pensado isoladamente. Assim, pode-se afirmar que há uma consignação direta entre o poder e seus dois sustentáculos, o querer fazer e o saber fazer, sem eles toda sustentação desaparece.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Política e Desinformação

Os humanos, em todas as suas civilizações, viveram e vivem uma profunda contradição: por mais que debatam acirradamente sobre suas vidas em sociedade, pouco ou nada sabem a respeito. Por exemplo: um tema  que é demasiadamente debatido, mas - ao mesmo tempo - praticamente um desconhecido, é a política.  E essa contradição se deve a dois motivos: por um lado, há uma complexidade inerente ás ciências sociais e, por outro, o próprio fazer político revela-se como dicotômico por excelência. Acontece que no desenrolar da história, esse animal humano, que decidiu fazer história, viveu em sociedade e - com isso - teve de experimentar a difícil arte de fazer política. O que aconteceu? As pessoas tiveram de negociar entre si a satisfação de suas necessidades, de seus interesses; aliás, foi por isso que se distanciaram dos demais animais sociais, que permaneceram completamente dirigidos pelos instintos. Ou seja: tiveram de fazer política, a arte da negociação.  E, na tentativa de definir essa arte, o pensador macedônio, Aristóteles, afirmou que "o homem é, por natureza, um animal social e político"; em outras palavras: é essa difícil arte que os define como homens.  Já o empirista Inglês - filósofo contratualista - John Locke, afirmara que o estado, o contrato social, o sistema, vai ser bom ou ruim, dependendo do estado, do contrato social, do sistema que os membros da sociedade assim o fizerem. Todos os grandes pensadores que trataram do tema são categóricos em admitir a complexidade do conceito de um fazer que é exatamente a decisão dos destinos das pessoas. O problema é que essa dificuldade prejudica a análise de todas as ciências humanas e à politica - em particular; e chega ao cidadão comum de forma invertida, como algo simples e que todos dominam facilmente: o reino do senso comum. Platão estabelecia uma diferença entre a episteme, um conhecimento elaborado, cientifico - e a doxa, um conhecimento nao elaborado, meramente opinativo. Assim, observam-se as mais estranhas afirmações sobre o certo e o errado, em se tratando das ciências sociais; falam-se sobre os destinos da economia do pais, dos procedimentos culturais e das decisões governamentais, sem qualquer conhecimento de causa. Em outras palavras: falam-se de política, sem ter a mínima noção do que estão falando.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

Direita, Volver!

A história tem ensinado que aqueles pensadores que um dia - quando jovens -militaram num partido de direita, mas que depois de um tempo - quando mais velhos - volveram  para uma militância à esquerda, tornaram-se pessoas altamente produtivas e sensatas. Entretanto, aqueles que fizeram o caminho inverso, tornaram-se altamente reacionários, maldosos e cruéis. Alguns exemplos mostram essas afirmações mais claramente; pode-se citar Norberto Bobbio e Jurgen Habbemas. O primeiro, quando jovem,  com sua família, pertenceu ao fachismo italiano, porém  mais tarde abandonou o totalitarismo de Mussolini e tonanou-se reconhecidamente, um socialista-liberal, defendendo igualdades de direitos e oportunidades para todos; o segundo, um dia pertenceu à Juventude Hitlerista, entranto - mais tarde, tornou-se um militante comunista, defendendo a erradicação total das desigualdades sociais. O diferente é que quem sai de um espectro político de esquerda e vai para um de direita, sai motivado por desacordos pessoais; em geral foram grandes estrelas, mas que não encontraram espaços pessoais e se rebelaram. O estranho é que com isso, todas as suas preocupações com transformações sociais, suas lutas por igualdade social e por um mundo melhor, são transformadas em uma frenética busca pela ascensão ao poder ou pela manutenção de privilégios pessoais. Essas pessoas que um dia militaram em agremiações populares e sociais, mas que depois mudaram o seu foco político e que, com isso, ascenderam a altura máxima do poder, viraram tiranos cruéis. A história tem sido clara - em vários momentos - mostrando governantes que outrora foram pessoas preocupadas com o bem estar social do seu povo, mas que se tornaram egoístas e totalitários. Dois grandes exemplo ressaltam isso decisivamente: Benito Mussolini e Adolf Hitler. O primeiro, nos primórdios de sua vida, fora um intelectual de esquerda, até que  deu meia volta e elaborou sua doutrina do Faccio, uma corrente política ultranacionalista e xenofóbica; o segundo, transformou aquele que era o Partido Socialista dos Trabalhadores Alemães, em Partido Nacional Socialista (Nazo). Para finalizar, o que foram ou o que fizeram  o ditador alemão e o ditador italiano, dispensa qualquer comentário.

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Prazer, o Sentido da Vida

Alguns pregadores posicionam-se contrários ao pensamento hedonista, acusando-o de materialista ou afirmando que qualquer corrente filosófica, voltada para o prazer, é demoníaca, em desalinho às leis dos céus. O problema é que bem poucas pessoas sabem conceituar devidamente a palavra hedonismo; alguns sabem, mas de maneira distorcida, o que é ainda pior. Hedonismo é uma corrente filosófica, proposta pelo pensador antigo - Epicuro de Samos (341-270aC) - originada do radical grego, "hedon" que quer dizer prazer ou "hedonikos" que quer dizer prazeiroso. A idéia central dos pensadores enturmados como hedonistas, era que o sentido para a existência dos humanos seria a eterna busca pelo prazer. Mesmo aquele que se desapega das coisas boas, terrenas, estaria na busca por uma força prazeirosa em outra dimensão, em uma vida pós-morte, ou coisa parecida. Mas tambem aquele que se despe dos prazeres mundanos, ou vive a ajudar ao próximo, só o faz porque com isso encontra momentos de regozijo. Nesse caso, o sentido todo da existência humana seria sim, única e exclusivamente, a eterna busca daquilo que lhe é prazeiroso. Entretanto, ensinavam os hedonistas, deve-se buscar o prazer com sabedoria, para que este se manifeste de forma mais intensa e mais duradoura. Para isso, o indivíduo deveria buscar a sabedoria, conhecer a si próprio e àquilo que o cerca,  para assim - agir de acordo com suas possibilidades.  Comer dá prazer?Sim. Então deve-se comer, mas é preciso saber a quantia devida, pois em demasia não acarretará prazer, mas um grande mal-estar. Fazer sexo, dá prazer? Sim. Então deve-se fazer, mas para isso é preciso saber como, quando, com quem e em que condições, pois pode vir a ser um grande sofrimento. Assim, pode-se pensar desta forma com tudo o que nos cerca: a bebida, os estudos, o trabalho, as viagens etc. Da mesma forma nas relações pessoais: ser respeitado é bom? Dá prazer? Sim. Mas como se faz para ser respeitado? Respeitando os outros. Assim, Epicuro ensinava a se ter uma vida regrada, não por uma necessidade advinda de fora da existência, mas para se ter mais prazer, mais felicidade, pois esse é o único sentido da vida.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Um Dia, a Morte

Quando Hamlet, o príncipe da Dinamarca, ergue a caveira de Yorick, um falecido bobo da corte, exclama:  "Ser ou não ser, eis a questão!" Desta forma o dramaturgo inglês, Willian Sheakspeare - na peça homônima - tratou de um dos temas que mais assombra os humanos, o outro lado da vida: a morte; ou, como alguns preferem, o ser e o nada. A verdade é que algo abominável  os espreita a todo instante, em cada esquina das existências;  conscientes disso, os humanos não aceitam, mas tudo que existe, um dia nao existiu e um dia não vai mais existir - de forma que nem deveriam falar a palavra "somos", mas "estamos". Acontece que, a partir do momento que as pessoas tiveram consciência de suas existências e entenderam que suas mortes são inevitáveis, de que mais cedo ou mais tarde todos vão morrer, esses humanos passaram a segurar-se nas ciências ou nas religiões.   Todos aqueles que sabem que existem, lutam pela sua manutenção das suas existências e fazem isso quando suprem suas necessidades de alimento, de bebida, de sono ou de abrigo. Certamente que esses seres, quando humanos - por algum motivo, em algum instante - também podem não levar em conta suas existências, agindo então despreocupadamente, descontrolando suas ações e se aproximando de um momento final. Caminhamos dioturnamente em direção ao suspiro derradeiro, orientados para o fim da existência, para onde nada sabemos, a não ser as orientações religiosas. Aos crentes, o pós-morte é uma continuidade de bom ou de ruim, dependendo das ações dentro das suas existências; aos descrentes, ao contrário, o depois da passagem, da virada, nada mais resta: Jean-Paul Satre falava em "o ser e o nada". A verdade é que o que aconteceu de mais importante até hoje para todos os seres vivos, foi o nascimento e a segunda coisa mais importante que vai acontecer, será a morte; ou seja: cada segundo a mais que se vive, é um segundo a menos na existência  de cada ser. Era disso que Sheakspeare clamava por um entendimento: "Ser ou não ser, eis a questão". Sim, pode ser contraditório, mas é real: os seres nascem para morrer, tudo é pó e tudo ao pó tornará; mas a razão não é suficiente para fazer entender e é sabido que, se tudo tem um fim, até o pó findará. Nada é perene.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Direita e Esquerda, Tudo Outra Vez

Quando se volta a falar das posições políticas de direita e esquerda, parece se ouvir o título da música de Belchior, Tudo Outra Vez, ou o conceito  filosófico de Friedrich Nietzsche, o eterno retorno. Ora, a uma estrutura dada, parece natural que cidadãos se posicionem contra ou a favor; seria aquilo que os cientistas sociais chamam de política de direita ou de esquerda. Que um cidadão comum, alguém que nao tem um maior compromisso com um grande público, confunda os conceitos, se auto-declare de direita ou de esquerda e contradiga com suas afirmações,  vá lá! Afinal, Política é uma ciência complexa e ninguém é obrigado a dominar todas as áreas do conhecimento; as pessoas têm o direito de se confundirem. O que perturba são afirmações de pessoas responsáveis por um grande público, como professores, jornalistas, juristas e mais outros, se auto-declararem de direita ou de esquerda, completamente fora das suas preocupações políticas, completamente fora de seus discursos e de suas práticas. Outros, ainda pior, declararem que isso não existe mais, esses conceitos já estariam acabados. As pessoas podem se declararem de uma ou de outra posição, quem defende um sistema democrático deve aceitar isso, o que não podem é se auto-afirmarem de direita, mas nas suas falas expressarem desejos de mudanças no "statos quo". É inaceitável. Essas pessoas não são nem uma coisa, nem outra; assim como não são intelectuais, mas péssimos professores, péssimos juristas, péssimos jornalistas, ou outra coisa que o valha. Assim como não é aceitável que alguém se diga de esquerda e se posicione contrário a políticas de distribuição de renda ou políticas afirmativas contra os preconceitos de toda a ordem. Certamente, é mais um desorientado, sem a menor condição de desempenhar a função que ocupa, dando apenas palpites sobre isso ou sobre aquilo. Os que afirmam serem esses conceitos defasados, parecem serem eles verdadeiramente os de direita; sim, porque parecem saber exatamente o que é isso e se envergonham de suas posições, portanto afirmam a não existência.  Enfim, a estes últimos não se tem muito a dizer, a não ser que enquanto houver sociedade alguns serão sim a favor do sistema, enquanto outros serão contra. A Ciência Política  tem os conceitos de direita e de esquerda sim e eles traduzem a posição que o cidadão possui frente ao regime econômico, político e social vigente, mas para alguns parece que é necessário eternamente retornar ao ponto; tudo outra vez.

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Viver Para Sofrer

Se tem uma experiência que é inerente aos humanos, que os acompanha por suas existências e que se manifesta voluntária ou involuntariamente, é o sofrimento. Os humanos vivem, portanto experimentam a felicidade, mas também sofrem; uma emoção negativa que se instala nas pessoas quando estas sentem as suas dores, assim como quando presenciam as dores das pessoas queridas ou quando são contrariadas naquilo que defendem para si ou para os outros O pensador alemão, Arthur Schopenhauer, já dizia que os humanos vivem para sofrer e que têm apenas alguns picos de felicidade, mas que ao conquistar o que almejam, ou ao suprirem suas necessidades, logo voltam ao estágio do sofrer. Esse sofrimento pode ser físico - a fadiga, a dor ou sustentação de um peso, e ou mental - a contrariedade de pensamento, os sentimentos de injustiça, de inferioridade e exposição pública de forma indevida de um modo geral. Entretanto, o sofrimento não é um mal por si só. Algumas seitas religiosas ensinam à resignação, como forma de elevação, na corrida da condição humana para um possível além, ou ensinam que o sofrimento é uma forma de provação divina e que depois virão as recompensas. O auto-flagelo em todas as suas formas, como o açoite ao próprio corpo, o jejum (a fome voluntária), o transporte de pedra sobre a cabeça ou a romaria (o ato de percorrer por longo caminho para chegar a um lugar sagrado) - para muitos podem ser uma formas de purificação. Se o sofrimento pode servir ao propósito de provar para si a capacidade de controle ao próprio corpo, a sua manifestação pode também servir para chamar a atenção daqueles que se posicionam em seu entorno. A chamada vitimização, por exemplo. De que forma? Algumas pessoas, ou grupo de pessoas, ou religiões, ou etnias inteiras, se mostram como vítimas sofredoras - pois assim, todos ficam condoídos e eles conseguem seus intentos. Enfim, o estoicismo já ensinava, na Grécia antiga, que uma maneira de elevar-se como pessoa seria suportando as variadas formas de dores; sim, alguns estóicos, provocavam em seus próprios corpos ferimentos para assim, suportarem e provarem para si mesmos suas forças. Para eles, a pessoa elevada é aquela que suporta, não só as suas dores físicas e mentais, mas também todas deliberações e necessidades, provenientes de seus instintos naturais.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Democracia e Complexidade

Democracia é aquele conceito complexo, requerido por todos, batido, realimentado, mas nunca definido satisfatoriamente. É requerido por todos porque é um conceito simpático; além do espaço político partidário, é comum que pessoas, das mais variadas funções, se digam e se pensem, como tal. Assim, alguns representantes do estado, escolhidos por um sistema meritocrático, também se arvoram e tomam determinadas decisões para assim parecerem democráticos. O conceito usado e tão valorizado na modernidade, é uma cópia feita aos antigos gregos, mas de uma forma inadequada. A democracia vingou em Atenas por um período, mas isso não significava participação popular geral. Somente homens, livres, cidadãos e maiores de 21 anos votavam e podiam ser votados; as mulheres, os não nascidos em Atenas, os escravos e os menores de 21 anos ficavam alheios ao processo. Mas mesmo os piores ditadores, comandantes de governos autoritários e totalitários, atraíram para si a pecha de democratas; e mandaram matar aqueles subversivos que ousaram dizer "vocês não são democráticos". Alberto Fujimori, há alguns anos, que fazia no Peru um governo de exceção, ao ser questionado por repórteres brasileiros "quando voltará a democracia ao seu país?", ficou irritado, disse que era um democrata e que tudo fazia pela democracia. Ou seja: todos os sistemas políticos se dizem democráticos. Os liberais conceituam da seguinte forma: quem quer fazer turismo nas ilhas gregas pode ir, a hora que quiser, mas para isso é preciso que tenha dinheiro - se não tem, não vai; os socialistas também, quem quiser passar semanas nas ilhas gregas pode ir, mas para isso precisa ter condições para todos irem, se não há, ninguém vai. Alguns resumem democracia á possibilidade de votar e ser votado, seja na condição que for, seja na forma em que a sociedade estiver. Essa conceituação é frágil; passa pelo voto sim, mas é mais que isso - afinal, pode haver eleição como forma de mascarar um sistema opressor. A democracia deve ser entendida como: moradia digna, educação de qualidade, segurança plena e emprego com renda digna, para todos - e só depois disso, lá no final, é que vem a eleição, o voto.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

Eleição, Democracia e Debate Consciente

A cada dois anos o Brasil passa por um processo eleitoral: num momento elegem-se os representantes municipais - prefeitos, vices e vereadores, num outro, os estaduais e federais - deputados, senadores governadores, presidente e seus vices. Isso acontece há mais de 20 anos, as eleições são democráticas e se dão como um grande evento, mobilizando expressivo exercito de candidatos e seus simpatizantes, por todo o pais. O sistema eleitoral brasileiro ainda possui falhas a serem sanadas e, nos últimos tempos, discute-se intensamente no Congresso Nacional alguns pontos basilares, como o financiamento público (ou privado) de campanha, se os votos devem ser distritais ou por todo o colégio eleitoral. Outros pontos menos fortes - mas também importantes - se discutem, como a reeleição para os cargos do Executivo, a representação de cada partido político no Congresso, assim como os seus respectivos tempos de televisão na chamada propaganda eleitoral gratuita, entre outros. Sem duvida, há algumas diferenças básicas, entre a eleição municipal com suas particularidades e a eleição federal; se numa os conflitos gerais do País entram no debate, como os altos impostos, o salário mínimo, a distribuição de renda pelas classes sociais, a construção de mais portos ou mais rodovias etc; no outro, as questões são locais: o orçamento do município, o saneamento básico, a coleta de lixo, a violência urbana ou o transporte público etc. Só em Santa Catarina, nesse ano de 2014, um número de 4.776.435 eleitores vai escolher, além do presidente e do governador, um novo senador, 16 deputados federais e 40 estaduais. O senso comum já entendeu que o jogo político, de forma democrática, é importante e necessário e que toda a sociedade precisa participar ativamente. Aliás, virou discurso fácil dizer da importância de uma eleição como essa - para todos - quando o destino dos 200 milhões de pessoas será traçado. Entretanto, é preciso dizer que sim, a festa eleitoral democrática é linda, mas o que falta, e em quantidade, é o debate político consciente por de brasileiros e brasileiras. O que isso quer dizer? Falta um debate com conhecimento de causa, para além muito das tendências midiáticas. 

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Classe Média e Ostentação

Uma certa semelhança se percebe entre as duas divisões sociais contrárias, a classe alta e a classe baixa, ficando a classe média existindo como um singular jogo sociológico, na dinâmica das sociedades humanas. Isto porque, esta última tem se mostrado muito diferente das anteriores, de forma que os sociólogos a dividem ainda mais em outras partes. O que a diferencia das demais são suas necessidades, criadas como forma de ostentação, e a possibilidade de suprí-las ou não. O motivo das classes contrárias, alta e baixa, serem semelhantes é que, se por um lado o rico não  necessita da tal ostentação - afinal, seu nome, por si só, se faz aceito, é o seu cartão de visita, o pobre, não tendo poder aquisitivo para ostentar, não sente essa necessidade e, por vezes, nem sabe que isso existe. Por exemplo: se o rico usar uma roupa envelhecida será aceito socialmente, sendo visto como alguém de posse, porém simples - o pobre, por sua vez, se for visto com tal tipo de roupa, também será aceito, tendo em vista as suas devidas necessidades. Então, o grande diferencial nas sociedades modernas ocidentais é sim a chamada classe média que, se por um lado não tem nome de família, por outro, não chega a ser miserável, ou seja: tem algo a perder e algo a ganhar. Esse seguimento necessita desesperadamente ser aceito socialmente, portanto precisa ostentar  e o faz, usando jóias, mostrando o carro do ano, ou a casa nova, falando de bebidas caras ou das viagens que realizou; mesmo que isso lhe cause um caos financeiro e a privação de uma tranqüilidade mental. Ocorre que algumas pessoas de classe média adquirem objetos com preço, muito além das suas possibilidades, com financiamentos de vários anos, comprometendo o seu orçamento, mas que assim poderá ser admirado por seus pares. Esse mesmo segmento também entende que a instrução, a leitura, faz bem para  qualquer pessoa, mas não se dispõem a buscar uma literatura que acrescente um conhecimento com alguma complexidade, reduzindo-se a uma leitura de auto-ajuda ou coisa que o valha.  Enfim, se for um pequeno empresário, profissional liberal, ou um funcionário público, passará a maior parte de seus dias sonhando com melhores momentos ou reclamando contra as decisões governamentais. A maior parte nunca estará contente com a função que executa no momento e se manterá de olho em todo concurso público que encontrar, já que assim poderá ter, além de um possível prestígio, também uma almejada estabilidade.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

A Bíblia, o Cristianismo e a Sociedade

Alguns religiosos cristãos, tentam sustentar suas convicções políticas, sexuais, gastronômicas etc, a partir de descrições bíblicas de forma literal, ou seja: sem qualquer sustentação crítica. Enquanto uns deixam de comer carne de porco, outros não trabalham no sábado, ou são contra o aborto ou são contra a eutanásia; alguns não fazem sexo antes do cansamento, outros não servem ao Exército e, por hora, alguns se mostram racistas ou sexistas.  Sem dúvida, há uma profunda importância histórica, política e sociológica dos textos bíblicos e em toda a tradição cristã; aliás, a civilização ocidental está calcada na Igreja Católica Apostólica, romana ou ortodoxa e em toda linha protestante posterior. Nao se pode pensar a educação, o sistema penal, as artes, a ética, a política e a economia, sem levar em consideração toda a estrutura bíblica cristã. Durante a Idade Media, o analfabetismo impediu a divulgação da Bíblia, afinal os bárbaros germanos desconheciam, qualquer sistema de escrita, tudo dependia da tradição e da oralidade. Na era moderna isso se alterou com o uso da grafia latina em suas línguas pátrias, possibilitando a alfabetização dos povos e, juntamente com o surgimento da imprensa, o acesso popular aos textos bíblicos. Mas é preciso que se diga que todos os povos antigos tambem possuíam os seus textos, mais ou menos sagrados, e estes contavam a formação do povo, as suas regras, os governos e as práticas religiosas. Os romanos - por exemplo - possuíam os livros sibílicos, os egípcios possuíam o Livro dos Mortos - ou Hino Para Osiris, os hindus, os livros védicos, os hebreus, o Talmude e o Torah, assim como os muçulmanos possuem o Al Corão e os cristãos, a Bíblia Sagrada.  Os gregos antigos também  possuíam livros basilares como História, de Heródoto, ou Odisséia e Ilíada, de Homero; livros importantes na formação do povo heleno, apesar de não possuírem a força ascética dos outros povos do entorno. Em geral eram histórias que foram compiladas por intelectuais que passavam a vida a recolher fatos relevantes e - por vezes - fantasiosos, difundidos pela tradição mnemônica. Enfim, se cada povo tem os seus livros sagrados, todos eles retratam um momento histórico, político, militar e religioso, vividos em um determinado momento, isso mostra que tais textos revelam uma realidade estanque. O que se quer dizer com isso? Não se pode moldar uma vida atual, moderna, digital e racionalista, a partir de uma realidade oral, pré-cientifica e mítica.