sexta-feira, 17 de outubro de 2014
O Linchamento e a Ausência do Estado
Algumas ações coletivas, por mais nocivas que possam ser a uma sociedade, nunca foram estudadas adequadamente: esse é o caso do fenômeno do linchamento, uma prática coletiva, em que pessoas se juntam para fazer o que acreditam ser justo. Essas práticas acontecem a partir da histeria de um grupo de algumas dezenas de pessoas que toma as dores de um dos lados do conflito, manifestando forte sentimento de vingança e se achando no direito de punir os indivíduos.
Mas, para além do que se pode pensar na definição do conceito de linchamento, é preciso entender os motivos que levam ao surgimento do tal fenômeno. Sim, aquilo que erroneamente o senso comum chama de "justiça com as próprias mãos", nada mais é que um grupo de pessoas se sobrepondo ás funções do estado.
E erronea, porque a expressão trás, intrinsecamente, uma contradição: ora, não pode haver justiça no mundo privado; só é possível ser justo no espaço público. A justiça só será possível se feita a partir de um terceiro excluído do conflito, neutro, muito além das vontades particulares.
Mas, apesar de os estudos sobre o estado, sempre redundarem na máxima, a razão da sua existência está na necessidade de proporcionar aos membros de uma dada sociedade, a segurança para uma vida tranqüila e feliz, na prática há uma distância entre isso e a realidade. Assim, o cidadão comum pode não saber explicar a ineficiência do estado, mas pode muito bem sentir em suas ações do dia a dia.
Então, além de uma função executiva do estado, de administrar saúde, proporcionar educação e também segurança pública, deve ter como propósito a produção de leis, bem como a manutenção da ordem. Nesse caso, quanto menos acontece a presença do estado, mais os membros da sociedade acharão meios alternativos de se impor, através daquilo que determinam como ordem.
O linchamento acontece então, pelo fato de que nem sempre esta instituição, tão importante em uma sociedade complexa, consegue cumprir o seu papel, além de não dar saúde e educação adequadas, também não dá segurança: não prende o trangressor e não o pune adequadamente, gerando um sentimento de impunidade e desamparo. Nesse caso, nao basta que o estado puna o trangressor adequadamente, é preciso que também pareça punir adequadamente para que assim o efeito coercitivo aconteça entre os membros da sociedade.
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