sexta-feira, 31 de março de 2017

As Diferenças e a Construção de Igualdades

A condição como existência humana, de homens e mulheres, se deve, necessariamente, à convivência com outros homens e mulheres, ou seja: não é algo inerente a cada um. Isso fica provado quando se observam histórias de pessoas que desde bebê foram criadas isoladas dos outros humanos e adquiriram comportamentos de animais com quem conviveram, ou ausência de comportamentos humanos em pessoas que foram trancafiadas e impedidas de conviver com os seus iguais. A necessidade de convivência com humanos, e se construir como tal, traz informação importante, a vida em grupo requer interação constante e sempre novos aprendizados, mas isso só acontece com as diferenças sociais. Sem duvida, toda e qualquer sociedade é composta de diferenças, afinal as pessoas são diferentes na sua natureza: homens e mulheres são diferentes, novos e velhos, homo e heterossexuais, além dos que têm crenças e ideologias divergentes; todos querem algo diferente, necessitam de coisas diferentes, entendem diferentes. No caso brasileiro, em especial, há ainda uma composição multi-étnica, que não é só de brancos, negros e índios, mas de uma multiplicidade de brancos, oriundos de várias nações européias, uma multiplicidade de afro-descendentes, originados nas inúmeras nações e tribos africanas e uma multiplicidade de etnias indígenas espalhados pelo território brasileiro, além de árabes, chineses, japoneses e outros orientais. Colocados todos em um mesmo território criou-se um ambiente rico em experiências, em modos de enfrentar as adversidades, em modos de ver o próprio planeta, assim como as pessoas, os trabalhos e as relações em si. Se essas diferenças são inerente ás sociedades dos homens e esse humano é construído a partir de tais condições e se a sociedade brasileira é formada por ainda mais diferenças étnicas, é preciso dizer que isso amplia muito as tendências, os valores, os tipos de querer, de construir necessidades. Afinal, todo ser que existe busca uma estabilidade e com os humanos não é diferente, todos buscam um modo de vida que lhe de certezas, que lhe dê guarida. Mas para que essa paz de espírito atinja a todos, em meio a tantas diferenças, é preciso que aja um pacto e esse deve ser a partir de condições de igualdade. As pessoas são diferentes, mas só se humanizam na busca constante de igualdades, de convergências, de pontes; não pode haver pacto sem igualdades. O entendimento desses dois conceitos, diferenças e igualdades/desigualdades, é necessário para agir diante da situação. Resumindo: a natureza criou pessoas que tornaram-se diferentes, o que é importante para o crescimento dos povos, mas que esse crescimento só será possível a partir da construção de pactos, de parcerias, em pé de igualdade.

quarta-feira, 29 de março de 2017

O Nada e o Espanto Por Existir

Um fenômeno que causa espanto ao humano, em sua condição de existente, é exatamente a possibilidade de ser, de estar como coisa em algum lugar, cuja única diferença dos demais objetos é a capacidade de se perceber como um ser que é. Então, se o homem está no mundo, pode-se aduzir que algo existe e, se algo existe, não pode não existir. Essa é a questão crucial que na filosofia se apresenta como uma relação entre a existência e a não existência e, na continuação, a relação com o nada: o ser e o não ser. Ora, quando se chega a tal conclusão um ser está a pensar e, nesse caso, já não existe o nada, já que para tal, necessariamente, dependeria de uma totalidade para existir. Em outras palavras: se algo existe, o nada não pode ser levado em consideração por que ao se pensar o nada se associa a ausência de qualquer coisa, ao vazio absoluto. O nada não existe nem poderia um dia ter existido, pois se assim fosse, nada teria existido até agora, já que nada pode surgir do nada. Isso porque, se na linguagem - como é o caso do Português - é o antônimo de tudo, na filosofia é o contrário da existência de qualquer coisa; se algo existe, já não mais há o nada. Nesse caso, o conceito só existe enquanto instrumento de comparação com algo que está no mundo e, de forma hiperbólica, para reforçar uma ideia e nunca como algo absoluto: "nada mais há na dispensa", "nada abate esse homem" ou "ele está em meio ao nada, completamente deserto". Dessa forma, parece inadequado que alguma corrente filosófica pretenda considerar o conceito de nada como base para pensar o cosmo livre de qualquer pretensão ou intenção. Qualquer pensamento nesse sentido cai por terra. Alguns se intitulam niilistas acreditando, com isso, que estão tirando todo e qualquer enlace que entrave o pensamento, como estruturas pré-moldadas que arruínam novas concepções filosóficas. Assim como também não se pode pensar o nada como o grande símbolo das liberdades, pois aquele que se pretende livre está mesmo é carregado de um cem números de proposituras de outros e mais outros pensamentos. Se nada surge do nada; todo novo pensamento veio de um ou de vários velhos outros pensamentos que foram repensados, contrariados, adaptados, criticados e, então, renascidos em uma nova proposição, em uma nova luz a iluminar novos caminhos. Afinal, o espanto por existir que para Aristóteles mostra a necessidade da busca filosófica, já é a primeira prova de que algo está no universo. Algo existe.

segunda-feira, 27 de março de 2017

A Educação, o Sábio e o Bem

Um antigo debate, que os pensadores gregos deixaram, diz respeito á relação entre o conhecimento e a postura ética; o que pode ser traduzido em uma pergunta: o homem sábio, e por ser sábio, é necessariamente bom? Assim, primeiro precisa definir o que se pode entender como sabedoria e o que se pode entender como conhecimento, bem como a relação entre ambos. Nesse caso, entra em cena a discussão sobre o papel da escola e a importância da educação na vida das pessoas. Ora, é comum que se estabeleçam como homem sábio aquele que, no alto de seus conhecimentos, domina os mais variados conteúdos, relaciona-os e avança no entendimento da experiência da vida, mas mantém sua humildade. Sabedoria, então, torna-se uma totalidade de conhecimentos relacionados entre si que dá ao seu detentor uma segurança diante dos fenômenos da existência. Por outro lado, o conhecedor é aquele que conhece algo de forma estanque, cuja finalidade o vê, mas só consegue ver em si mesma. De nada vale um profundo conhecimento de Física, Geografia, Química, História, entre outras áreas do saber, se forem pensadas de maneira estanques, sem relacioná-las entre si, sem buscar suas relações com os humanos, esses indivíduos que são os próprios a fazerem ciência. Entre a Física, a História, a Comunicação, a Química e a Política há uma linha por onde se encontram as pegadas da humanidade. O entendimento do que é bom passa pela compreensão da necessidade dos vários conhecimentos e essa compreensão só acontecerá se houver uma percepção do todo, da relação entre os vários conhecimentos. Bom é aquilo que vai ao encontro das necessidades do maior número possível de pessoas; bom é aquilo que deixa o maior número de pessoas satisfeitas e felizes. Então, se o sábio é aquele que reúne vários conhecimentos e, na sua humildade consegue relacioná-las e perceber o valor da sua vida, das pessoas e do mundo a sua volta, necessariamente ele é bom. Em outras palavras: qualquer conhecimento fechado, alienado do mundo, sem relação com os demais conhecimentos, por profundo que seja, não é ele detentor de um estatuto de bondade. A importância da escola na vida das pessoas não está em administrar conteúdos isolados; assim fazendo não cumpre seu papel. A importância da escola está em reunir os conteúdos, relacioná-los e buscar esse fio condutor com o mundo externo ao qual está inserida.

sexta-feira, 24 de março de 2017

Marx e o Marxismo

O não conhecimento de dois sufixos, na hora da leitura, dificulta o entendimento de alguns textos e, na continuação, os debates de grandes temas filosóficos, políticos ou literários: “ismo” e “ano” – em alguns casos também “ico”; exemplo: maquiavélico, maquiavelismo e maquiaveliano. O sufixo “ico”, quase nunca é usado para discutir a obra de um autor, mas para se referir a pessoas cujas atitudes que lembram o pensador de Florença, Nicolau Maquiavel. No mais, “ismo” se usa aos textos que discutem um dado pensamento, enquanto “ano”, como referência à obra do próprio pensador. Diante disso se entende porque não existe obra cristiana, afinal, Jesus de Nazaré não deixou qualquer literatura para a posteridade. O que se tem, e amplamente divulgado, é o cristianismo, o conjunto dos textos elaborados, posteriormente, por aqueles que interpretaram suas ideias; desse modo, não se pode atribuir ao próprio Cristo a condição de um seguidor do cristianismo. Acontece que, desse desconhecimento, alguns desavisados empolam o peito e falam como se trouxessem uma boa nova: "quer saber? Marx nunca foi marxista". É como se trouxessem uma boa nova porque quem assim expressa tem a ilusão de que está trazendo algo novo, como se aqueles que discutem a filosofia de Marx não soubessem de algo a respeito. Ora, como poderia alguém ser comentador de sua própria obra na posteridade (depois de sua própria morte)? A obra do pensador alemão será sempre marxiana e nunca marxista; não se trata de um conhecimento filosófico, ideológico ou tendência política, mas simplesmente de conhecimento gramatical. Agora existiram, ou existem, os grandes pensadores marxistas que foram também ativistas políticos e revolucionários, por conta do conceito de práxis, tão reforçado pelo pensador alemão: Vladimir Lenin, Leon Trotsky, Ernesto Che Guevara, Mao Tze Tung, Rosa Luxemburgo e tantos mais. Alguns outros foram estudiosos de seu pensamento, simpáticos ao materialismo histórico e deixam isso claro em suas obras, mas não se pode qualificá-los como marxistas, como é o caso de Theodor Adorno, Jurgen Habermas, Jean-Paul Sartre, Michel Foucalt, Edgar Morin e tantos outros mais. Esses últimos, em algum momento de suas vidas, foram militantes do partido comunista em seus países. A Ciência Política, e a Filosofia como um todo, traz em seu bojo alguns pontos de extrema importância para o debate e o seu desconhecimento pode expor de maneira crucial o debatedor. Acontece que as palavras e toda a estrutura gramatical de um idioma são chaves fundamentais e o uso inadequado pode emperrar e não abrir as portas do entendimento como se pretende.

quarta-feira, 22 de março de 2017

Falta de Leitura e Generalizações: Erros no Debate

O grande erro daqueles que não dominam um determinado assunto é a generalização; juntam alguns traços que entendem como fortes e, assim, pensam explicarem a totalidade. As generalizações são comuns àqueles que não dominam as ciências humanas e, mais ainda, à Ciência Política; principalmente quando se trata de definir o que é esquerda ou, o que é direita. Primeiro, é comum denominar alguém de socialista ou de comunista pelo simples fato de a pessoa defender uma melhor divisão da renda, melhores condições de trabalho, moradia para todos, ou educação pública e gratuita. Alguns desavisados, sem qualquer leitura, falam o que ouviram falar que ouviram falar, e generalizam que a defesa do social é marxismo. Não que o marxismo seja algo de ruim, mas não se pode afirmar o que não é real, Fazem falas que expõem o que não sabem e o melhor seria terem ficado em silêncio, pois teriam o benefício da dúvida; algo assim: “diga o que pensas a respeito do tema que direi o que leste a respeito”; ou se lesses. Isso porque se tivessem lido algo de Marx, Ricardo ou Keynes não falariam, não fariam afirmações desencontradas e distorcidas sobre teorias sociais e econômicas, sobre divisões de renda e essas coisas. Isso se chama “mau-caratismo” intelectual, fazer afirmações sem poder comprovar aquilo que fala, algumas vezes, sem ter a mínima noção do que está afirmando, mas quer com isso fazer valer as suas convicções; em algumas circunstâncias pode pegar, alguém acreditar e seguir a sua linha de raciocínio. O que se está querendo dizer é que a leitura é indispensável para o debate político e, assim, não cair em possível vexame ao demonstrar o que não sabe. Mas é preciso dizer é que se a leitura é importante, o simples fato de ler um livro de Proudhon, de Marx, de Lenin, de Mao ou de Trotski não vai deixar alguém comunista como se fossem livros fantásticos, cheios de magias dominadoras. Muita gente, conhecidamente de direita, mas de extrema sabedoria, já leram Marx e utilizam-no em seus estudos políticos e econômicos. A simples generalização é o estabelecimento do preconceito: não é porque alguém tem posições políticas de esquerda que é, necessariamente, socialista ou comunista, como também não pode relacionar diretamente com esse ou com aquele partido; pois, se assim fosse, seria pertinente generalizar todo da direita como fascistas (Hitler era de extrema direita). No entanto, isso não é de se estranhar; em um país que não lê, ou lê muito mal, e as pessoas são orientadas por um sistema de comunicação viciado, com informações tendenciosas. Assim, é comum que os mais ativos, no afã de acertar, de dar alguma contribuição cometam equívocos.

segunda-feira, 20 de março de 2017

O Que é Ser de Esquerda?

Já se disse que filosofar é elaborar conceitos (Gilles Deleuze em, O que é Filosofia), o que é certo já que, ao elaborar o conceito, o filósofo necessita buscar a essência daquilo que por hora pretende definir. E, aí, seguem as questões: o que é belo? o que é felicidade? o que é justiça? Na política não é diferente e os conceitos, postos constantemente na berlinda, são democracia, direita e esquerda; em cada tentativa de compreensão vão as reflexões, a historicidade e tantas outras tentativas de estabelecimento de definições. Por exemplo: direita e esquerda, que tomaram corpo no debate político, servem para estabelecer quem está de acordo com as estruturas sociais e econômicas postas e quem trás consigo um programa contrário. Faz algumas décadas que se afirmavam: tais conceitos estão superados e, talvez, em algumas sociedades estejam mesmo, mas nos movimentos sociais e relações políticas da América Latina estão mais vivos do que nunca. Estão vivos, mas com uma característica surpreendente, nunca antes observada: pessoas humildes, trabalhadoras, deserdadas do sistema, se afirmando de direita. Nesse caso, a análise dos conceitos precisa descer às bases que sustentam e se repensar: como pode alguém se definir por algo que é contrário a si próprio? Certamente que no grande jogo de combate entre capital e trabalho o primeiro, como dono dos meios de produção, assim como também dos meios de comunicação, e todos que, coerentemente, possuem um pensamento a direita leva vantagem pelo poder financeiro que tem, mas também pela atitude relapsa dos movimentos de esquerda. Os movimentos sociais e políticos são relapsos porque se distraem passando a limpo os pormenores de seus programas, quando não são apenas intrigas de estrelas em busca de mais luminosidade. Ao discutir o conceito de direita e esquerda deve-se buscar os grandes embates políticos ao longo da história e tentar entender o que se passava nas cabeças daqueles que defenderam a vigência dos sistemas; porque eram favorecidos? e o que pensaram aqueles que tiveram a petulância se organizar e fazer o enfrentamento. Certamente que o motivo de algum oprimido se dizer de direita é a desinformação; não há outra explicação - já que, na essência, é alguém levantando a voz contra a si mesmo e contra aos seus iguais. O que é um paradoxo.

sexta-feira, 17 de março de 2017

Comunicação: Entre a Construção e a Decadência das Civilizações

Se por um lado a comunicação foi a abertura para construção da humanidade, por outro, tem-se mantida em toda a história da civilização como uma corda bamba que pode também levar à perdição. Em tempos passados os arautos dos soberanos comunicavam aos gritos as decisões governamentais e os contadores de histórias, oralmente, propagavam os grandes feitos dos heróis às multidões reunidas para ouvi-los. Já nos tempos atuais, quando a grande imprensa esboça os primeiros sinais de fadiga e a comunicação passa a ser escrita com a ponta do dedo, quando qualquer indivíduo pode fazer seus pensamentos chegarem a milhões de pessoas, mesmo com os erros gramaticais grosseiros ou sem qualquer compromisso com aquilo que se afirma, tudo fica muito perigoso. Acontece que não há base nessas informações, nada há de comprovações e, num senso comum, se propagam os mais distorcidos e preconceituosos dados. Alguns chegam a se utilizar de números para fortalecerem as tais "informações" que se pretendem verdades, mas sem métodos coerentes os números dizem aquilo que se quer ler. O que entra pela boca pode contaminar o corpo, mas o que sai pode contaminar a sociedade inteira; nesse caso, o que e sai das teclas do pequeno aparelho de mandar, repassar, ou propagar, o que outros mandaram: textos, pequenos, vídeos, fotos etc. Os grupos de interesse, que dominam os dados e acordos econômicos, políticos e jurídicos, atuam pelos bastidores e espalham suas in-verdades que de imediato são digeridas pelos mais desavisados e, assim, propagadas. Os dois lados da comunicação (se é que ambos podem ser chamados de comunicação): de um lado traz a sua majestosa contribuição, capaz de criar as grandes civilizações e toda a sorte de tecnologia, ciência, arte e filosofia e, de outro, a sua capacidade de destruição de todos quando usada de forma inadequada. Os resultados é que as relações estão se encerrando em torno do aparelho de informática e aquilo que poderia ser para a libertação do homem em nome de uma liberdade de expressão, torna-se instrumento de opressão de uns poucos vivaldinos sobre uma massa muito bem moldada. Se a humanidade do bicho homem foi, e é, construída no dia a dia porque os humanos inventaram essa tal comunicação - tanto de um para o outro, quanto em grandes grupos - o certo é que é um fenômeno de alta complexidade, apesar de não aparentar como tal, o que leva todos a se acharem na capacidade de dizer o que pensam. A exposição do que se pensa é necessária, mas deve acontecer juntamente com um senso de humildade, pensando sempre na possibilidade de não estar com a verdade; é preciso sempre duvidar das verdades muito fáceis, do senso comum.

quarta-feira, 15 de março de 2017

O Anarquismo e a Sociedade Sem Governo

De todos os segmentos políticos talvez o movimento anarquista seja aquele que reúna o maior número de controvérsias e desentendimentos a respeito de sua efetividade e funcionamento. A começar pela expressão, que fora cunhada pejorativamente como anarquia quando alguém se depara com um determinado espaço desarrumado, ou não de acordo com o que se espera. Nesse caso, anarquismo virou um sinônimo de bagunça. Acontece que no jogo político, uma das táticas mais usadas para a derrota do adversário é o enfrentamento desfazendo-o nos seus programas, nas suas bases e nos seus conceitos mais caros. Ora, se a política é um jogo, a lógica é que o jogador esconda sua jogada e use de uma série de artimanhas para a derrota do adversário como o escárnio e o redirecionamento de termos. Isso quer dizer, anarquismo deve ser entendido, não pelas paixões dos seus adeptos e entusiastas, bem como de detratores e adversários liberais, ou até mesmo de oponentes oriundos de certas tendências próximas, mas com isenção, a luz da ciência e da filosofia política. Se de um lado nada mais é que um modelo muito bem definido de socialismo revolucionário, é também um modo de vida que valoriza o despojamento e não aceita qualquer forma de comando. A concepção nasceu em meio ao movimento operário, defendida pelo francês Pierre-Joseph Proudhon ainda no seio da Associação Internacional dos Trabalhadores (AIT), no final da década de 1860 e, em seguida, abraçada pelo russo, Mikayl Bacunin. Pensadores da antiguidade como gregos e chineses, bem como os reformadores religiosos, anabatistas e hussistas, já teriam defendido um modo de vida e organização da sociedade que se enquadra com o que defendem os anarquistas; e, em plena Revolução Francesa, Robespierre teria usado o termo para designar os revolucionários mais a esquerda. De um lado não aceitam o regime econômico capitalista, a propriedade privada e, como extensão, a exploração do homem pelo homem, de outro, denunciam o estado como órgão de defesa dos interesses da burguesia. Dessa forma, o Anarquismo é um pensamento político que defende uma produção coletiva e apoio mutuo, igualitário; um regime de disciplina e organização plena de forma tal que dispensa qualquer tipo de mandante, ou de governo.

segunda-feira, 13 de março de 2017

A Infelicidade e o Remédio

A felicidade e a tristeza são dois polos de um mesmo ser, estágios antagônicos que o espírito pode atingir e que são divididos por incontáveis pontos intermediários. Dois estados de espírito, cuja compreensão é buscada por ciências, tão díspares – com objetos e métodos tão estranhos entre si, quanto são a Psiquiatria e a Sociologia. Mas ambas acordam em um ponto, a infelicidade é um estado momentâneo de insatisfação e desequilíbrio, em que o sofrimento e a inquietude existem e que todos os fatos que lhe ocorrem podem ser transformados em emoções ruins ou de desprazer. Os motivos que levam à infelicidade pode ser a falta, ou excesso, de determinadas substâncias no organismo e, nesse sentido, atualmente a Psiquiatria tem evoluído bastante; mas também pode ser de ordem social, política e cultural, ocorridos de acordo com os encaminhamentos, como o modo que, cada um, vê a sua vida ser conduzida. No que tange ao social, pode-se dizer que se dá pela não satisfação das necessidades, sempre comparadas à satisfação já obtida por parte dos seus semelhantes. Isso porque a infelicidade nasce das comparações; o infeliz compara, ou a condição em que está vivendo com uma hipotética, a qual ele gostaria de viver, ou por sustentar a necessidade de algo que entende como importante e que não consegue suprir. Um exemplo: se uma pessoa estiver em uma ilha deserta, a infelicidade não será a falta de um carro, de roupas, de um teto, da esposa ou dos amigos, mas a sua condição de náufrago, de perdido. Nesse caso, não compara com o outro que tem muito ou que não tem, já que está distante de todos, mas compara a sua condição de náufrago com a própria que tivera antes na civilização. Nesse caso, se a infelicidade é mesmo um estado de espírito, a verdade é que ninguém é plenamente feliz, de modo a não experimentar momentos de dissabores e de depressão, até porque – humanamente - viver é estar em meios a um turbilhão de contradições e contrariedades. Remédio existe. Se, por um lado, a indústria farmacêutica desenvolveu um cem números de substâncias que prometem diminuir a depressão e a ansiedade; de outro, a filosofia e as ciências humanas têm a dizer que a infelicidade, se não extinta, pode ser amainada por duas vias: uma, diminuindo em seu modo de vida as necessidades produzidas pelo sistema econômico; duas, correr atrás dos objetivos, daquilo que a mente está a dizer que é o que faz feliz.

sexta-feira, 10 de março de 2017

Mulheres, Bem-Vindas!

Essa era de transição em que a mulher, metade da população que até agora fora relegada a um papel secundário na condução da sociedade, e que no momento passa a se impor nas mais variadas atividades, parece ser, necessariamente, turbulenta, já que toda mudança gera controvérsias de prós e contras. É que mudança é ato de revolver substâncias que estão assentadas para readequá-las em outra configuração, portanto, em condições diferentes. Certamente que esse papel secundário foi-lhe imposto por uma cultura milenar, determinante para o comando dos homens, e a grande prova foram as muitas mulheres que furaram esse bloqueio e, de um forma ou de outra, se fizeram grandiosas, temidas e respeitadas. Mas, a despeito dessas varoas valorosas, muitas foram submetidas a condições inferiores, degradantes, ou funções decorativas e sexuais. Acontece que a mudança que vem ocorrendo em boa parte do Ocidente, e em determinadas outras regiões do Planeta, não se pode pensar apenas na troca de funções para as mulheres no chamado mercado de trabalho. A alteração não acontece só na troca de atividades, mas completamente na ordem instituída, com mudanças nos papeis que tradicionalmente foram imputados ao homem e à mulher (um frente ao outro, os dois frente ao grupo familiar, frente aos compromissos financeiros, frente aos valores morais e estéticos etc). Mesmo que não hajam vozes contrárias ao constante fortalecimento das presenças femininas nos vários setores das sociedades, parece que os entraves acontecem nesses meandros de transição, mas que todos devem ser superados. Os papeis dos agentes deverão cada vez mais ser readequados – e, aí, deve ser lembrado o papel dos homo-afetivos que acabam ajudando a quebrar os antigos paradigmas – e tempos chegarão em que tudo isso será contado distante pela história. Uma coisa é certa, não há retorno e não teria sentido as sociedades voltarem a submeter metade de população às condições anteriores. Portanto, é preciso que a presença das mulheres seja aceita (por homens e mulheres) como efetivas e determinantes, que os preconceitos mais reclusos sejam extintos, que cada vez mais novas leis readequem as relações e que as sociedades aprendam de vez as novas configurações.

quarta-feira, 8 de março de 2017

Apenas a Grandeza da Existência

Se existe uma sabedoria para elem da mente humana, esses mesmos humanos não têm acesso, pois tudo o que sabem é o que as suas ciências e tecnologias lhes proporcionam. No entanto, com isso, se percebem no mundo e, ao se perceberem, se elevam como seres grandiosos, inefáveis e magníficos. Enganam-se, pois, ao se considerarem magníficos, elevados, não se percebem como seres que existem; não percebem que a grandeza maior do ser não pode estar na capacidade que pensar e de se perceber no mundo: apenas em ser. Assim como todas as coisas, o elevado é a existência, é cada indivíduo estar, elemento a elemento, associado de forma a existir como corpo. Tudo que existe é estranho, é complexo e magnífico exatamente porque existe. O simples fato de ser torna o objeto elevado, peculiar, único, mas, como está ao lado de todas as coisas que compõem o universo, todas elevadas porque existem, pelo fato dessas coisas serem vistas a todo o instante, por serem tocadas, manipuladas, tornam-se comuns. Os cavalos, os homens, as árvores, o pequeno grão de areia na praia, assim como o seixo rolado inerte no fundo do rio, têm a sua singularidade e grandeza porque existem. Isso significa que poderiam não existir. Tal coisa poderia não ser, mas é e, para ser, foi preciso uma quantidade imensa de condições favoráveis e necessidades aconteceram de tal forma em sua composição e originalidade. Não se trata de se estabelecer uma condição divina para cada coisa, elevando tudo a uma condição panteísta, assim como também não se trata de se estabelecer a admiração a um ser criador, um motor inicial, necessário para tudo, já que tudo é grandioso, mas, além disso, de admirar à volta a condição de existência das coisas. Trata-se de o ser humano, como pensante que é, se perceber apenas como um ser a mais, assim como tudo que existe está interligado a todas as coisas em uma extensão de tudo o que há, das pedras às árvores, dos manguezais às montanhas etc. Isso porque quando se percebeu como ser magnífico, dotado de sabedoria, e se pretendeu capaz de entender tudo, o homem se desconectou do restante das coisas e se posicionou como um ser além dos demais. Esqueceu que é apenas uma coisa a mais na imensidão de tudo que é e que seus entendimentos nunca serão suficientes para abraçar a grandeza de tudo que está ao seu redor.

segunda-feira, 6 de março de 2017

Dia Disso, Dia Daquilo

Essas datas destinadas a comemorar parte da população como, Dia da Mulher, Dia dos Pais, Dia das Crianças, Dia da Vovó, e assim corre uma lista que segue por todo o ano, existem com dois objetivos: primeiro, para que se consuma mais e mais com presentes, alimentando um mercado sempre voraz; segundo, é uma forma de encurralar e de segmentar parte da sociedade em apenas um dia. O restante do ano parece estar reservado ao homem branco, heterossexual, que não seja velho, nem novo, que não apresente nem uma deficiência, com alguma graduação e, assim, seja o controlador da estrutura social. O mais interessante é que esse homem não se vê como excluído em todas essas comemorações, pelo contrário, vê com bons olhos e participa com presentes aos homenageados de acordo com a relação que tem junto aos demais. Mas essas comemorações têm uma história e um sentido. Até o final da Idade Média existia o chamado de, Dia Santo de Guarda, quando tinha uma conotação religiosa, ou simplesmente Dias de Guarda, quando lembrava uma vitória em uma grande guerra e mesmo a ascensão de um monarca. Com a chegada da Idade Moderna o mundo viu a secularização nas relações e a diminuição dos feriados em honra aos santos, mas essa mesma modernidade trouxe a economia capitalista que converteu as comemorações para dias específicos de pessoas em cada setor da sociedade. Se juntamente com essas homenagens há um viés de dominação e manipulador, as pessoas não precisam, e nem vão, parar de fazerem as comemorações em dias disso ou daquilo, mas devem entender que suas condições sociais e seus papéis vão muito além dos presentes comprados às pressas para não deixar o dia passar em branco. As mulheres precisam saber que, mais que flores e bom-bons, todos os dias são seus e, nos quais, muito lhes são exigidos; pais e mães, homens e mulheres mais velhos, mais que chinelos e lenços, eles precisam de respeito enquanto permanecem vivos e que respeito às crianças é educação, lazer e bons exemplos. Ora, o presente pode e deve ser dado a qualquer instante que se acredite que deve ser comemorado; talvez o idioma Português é onde as palavras nesse sentido são mais emblemáticas: dar uma lembrança significa que em algum momento aquele indivíduo lembrou do outro, ou dar algo como presente significa que se está presente na vida daquele que se quer bem.

sexta-feira, 3 de março de 2017

Subconsciente, Ideologia e Pulsão

Que os humanos têm uma primazia sobre os demais animais no que concerne a estrutura mental é sabido por todos; se os cachorros, por exemplo, sabem que seu amigo humano chegou, mas não sabem disso, enquanto os humanos sabem que aquele é o seu cachorro e sabem que sabem disso. Nesse caso, o homem se utiliza da consciência e, através da razão, dirige o seu destino. Pelo menos é o que se pensa e o que se quer. Já que o austríaco, Sigmund Freud, trouxe a ‘boa nova’, os homens não são dirigidos exatamente pela consciência, mas também, e principalmente, por um outro fenômeno que acontece paralelamente, o subconsciente. Estariam nele os medos, as ansiedades, as frustrações e toda a sorte de freios e impulsos direcionadores da vida humana, mas que não se tem controle. As pessoas comem, bebem, trabalham e estudam acreditando fazerem o que querem e como querem, mas o fazem, em grande parte, de acordo com os traços que lhes foram marcados pelo tempo no subconsciente. Sendo assim, um questionamento: os avanços científicos, as determinações políticas e as decisões jurídicas seriam elaborados a partir de um sistema sem controle? O mundo seria governado, mormente, pelo subconsciente? O alemão Karl Marx vai além e puxa para o lado político ao afirmar que as pessoas dirigem seus destinos por outro fenômeno, a ideologia, um conjunto de verdades elaboradas de forma fechada, absoluta, e que dá ao portador a dimensão do mundo. As pessoas, então, agem e decidem os seus destinos sim, mas o fazem imbuídos de tais elaborações prévias que podem ser de ordem religiosa, econômica ou social; sempre numa convergência para a política. Por outro lado seguiu Friedrich Nietzsche afirmando que a consciência não dirige os destinos das pessoas, mas o corpo como um todo. Para o pensador alemão, todos os órgãos pulsam com vontades, frustrações e desejos para que a pessoa dirija os seus próprios passos. A consciência parece ser apenas um administrador, um organizador, desses pulsos. O que se pode dirimir é que esses pontos são inevitáveis na compreensão das ações humanas, principalmente se a discórdia for sobre liberdade, livre-arbítrio, pecado, pena; essas coisas. É preciso levar em conta que a condição humana com sua capacidade de pensar vai muito além de um raciocínio coerente; em se tratando de pessoas não existe uma lógica matemática determinante, de verdades absolutas.

quarta-feira, 1 de março de 2017

Estados Unidos, Um Dia Uma Potência

Se tudo o que hoje é um dia não mais será, pode-se pensar que as correntes filosóficas, religiosas, econômicas e políticas que hoje se pretendem verdadeiras, um dia não mais serão. Assim também se pode pensar com as potências mundiais, os grandes impérios que um dia existiram, dominaram inúmeros povos, mas que em seu tempo sucumbiram; desapareceram completamente ou tornaram-se de dimensões exíguas. Isso é o que se percebe hoje com as constantes demonstrações de fraqueza (econômica, política, cultural e social) do maior império dos tempos atuais, os Estados Unidos da América. Há menos de três décadas competia com outra grande potência, a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (império russo), mas que, com a queda dessa potência, tornou-se isoladamente soberana sobre todo o planeta. Se as últimas décadas do século 20 foram marcadas pela grandeza estadunidense, o ‘11 de setembro, de 2001’ foi o marco inicial de uma queda perfeitamente perceptível nos últimos tempos. Tudo começou com uma crise imobiliária, quando o governo incentivou a compra de imóveis como forma de estimular a economia, mas fracassou e o endividamento foi geral, levando a quebra de casas comerciais, indústrias e bancos nacionais e internacionais. O resultado foi o desemprego e o empobrecimento de parcela considerável da população, juntamente com aumento da criminalidade e crescimento do número de moradores de rua. Somam-se a isso a profunda segregação racial, vivida historicamente, e a seqüência de atentados como resultado de políticas internacionais mal-feitas. No momento continuam gastando alto em guerras, mas já não mais vencem há décadas, na continuação, pararam com as corridas espaciais e quando precisam ir até a estação espacial pegam carona com naves russas. Como resultado de tudo isso, aconteceu algo que é natural em qualquer sociedade quando uma parcela da população se sente acuada: eleger um governante autoritário, com um discurso de fortalecimento nacional e apontando o estrangeiro como o culpado por todos os desmandos pelo qual o País vive. A história não se desenrola com datas fixas, fechadas, para aquilo que vai, ou pode, acontecer, mas a ascensão e o declínio das grandes potências são perceptíveis. Se impérios do passado como Babilônia, Pérsia, Macedônia, Roma, Bizâncio, Inglaterra, entre outros, um dia dominaram boa parte da humanidade e um dia se foram, também os Estado Unidos irão. E já é perceptível nos áreas.