quarta-feira, 29 de março de 2017

O Nada e o Espanto Por Existir

Um fenômeno que causa espanto ao humano, em sua condição de existente, é exatamente a possibilidade de ser, de estar como coisa em algum lugar, cuja única diferença dos demais objetos é a capacidade de se perceber como um ser que é. Então, se o homem está no mundo, pode-se aduzir que algo existe e, se algo existe, não pode não existir. Essa é a questão crucial que na filosofia se apresenta como uma relação entre a existência e a não existência e, na continuação, a relação com o nada: o ser e o não ser. Ora, quando se chega a tal conclusão um ser está a pensar e, nesse caso, já não existe o nada, já que para tal, necessariamente, dependeria de uma totalidade para existir. Em outras palavras: se algo existe, o nada não pode ser levado em consideração por que ao se pensar o nada se associa a ausência de qualquer coisa, ao vazio absoluto. O nada não existe nem poderia um dia ter existido, pois se assim fosse, nada teria existido até agora, já que nada pode surgir do nada. Isso porque, se na linguagem - como é o caso do Português - é o antônimo de tudo, na filosofia é o contrário da existência de qualquer coisa; se algo existe, já não mais há o nada. Nesse caso, o conceito só existe enquanto instrumento de comparação com algo que está no mundo e, de forma hiperbólica, para reforçar uma ideia e nunca como algo absoluto: "nada mais há na dispensa", "nada abate esse homem" ou "ele está em meio ao nada, completamente deserto". Dessa forma, parece inadequado que alguma corrente filosófica pretenda considerar o conceito de nada como base para pensar o cosmo livre de qualquer pretensão ou intenção. Qualquer pensamento nesse sentido cai por terra. Alguns se intitulam niilistas acreditando, com isso, que estão tirando todo e qualquer enlace que entrave o pensamento, como estruturas pré-moldadas que arruínam novas concepções filosóficas. Assim como também não se pode pensar o nada como o grande símbolo das liberdades, pois aquele que se pretende livre está mesmo é carregado de um cem números de proposituras de outros e mais outros pensamentos. Se nada surge do nada; todo novo pensamento veio de um ou de vários velhos outros pensamentos que foram repensados, contrariados, adaptados, criticados e, então, renascidos em uma nova proposição, em uma nova luz a iluminar novos caminhos. Afinal, o espanto por existir que para Aristóteles mostra a necessidade da busca filosófica, já é a primeira prova de que algo está no universo. Algo existe.

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