quinta-feira, 30 de abril de 2015

Razão, Moderno e Modernidade

Moderno, contemporâneo, modernidade ou modernismo são conceitos que se atropelam nos vários entendimentos do senso comum, mas estritamente se definem como momentos históricos, correntes filosóficas e movimentos artísticos etc. É certo que alguns pontos em comum convergem para um pretenso rompimento com toda sorte de misticismo, com os dogmas e as ideologias, como elementos alienantes e manipuladores da consciência humana. O conceito de moderno apareceu pela primeira vez no século 19 como sendo um período histórico, definido entre o século 15, que fora marcado pela Tomada de Constantinopla e o século 18, quando explodiu a Revolução Francesa. O que os historiadores pretenderam com essa definição era denominar o período como algo novo, do último momento, como aquilo que está acontecendo aqui e agora. Os estudiosos da cultura, da ciência e da arte costumam mostrar a modernidade como um ideário, ou uma visão de mundo, relacionada ao projeto empreendido pelo racionalismo cartesiano. A ideia é que o francês, Rene Descartes, desenvolveu seu pensamento a partir de uma ruptura com a tradição herdada do pensamento medieval - dominado pela escolástica - e o estabelecimento da autonomia da razão. E que a partir daí, essa sua forma de pensamento teve enormes repercussões sobre a filosofia, a cultura e nas sociedades ocidentais dos séculos seguintes. Ora, o método cartesiano ensinou aos intelectuais modernos que é necessário a divisão dos problemas no maior número de partes de acordo com as dificuldades e isso levou a um intenso fracionamento dos conhecimentos, fazendo surgir as inúmeras ciências dos tempos atuais. Não se pode negar que isso foi salutar porque especializou o conhecimento, aprofundando-o, levando a humanidade a um avanço tecnológico. Entretanto, também levou-os a um afastamento do conhecimento geral, de uma noção do todo e de um necessário "link" entre o fazer e o por que fazer. No computo geral o projeto moderno consolidou-se com a revolução industrial, com a cultura de massa, com a produção em série e está diretamente relacionado com o desenvolvimento do capitalismo. A modernidade se caracterizou por um intenso cientificismo e todas as suas verdades oriundas de um rigor metodológico; ou seja: se caracterizou por uma crença demasiada na razão, algo quase irracional.

segunda-feira, 27 de abril de 2015

A Vida é a Necessidade da Arte

Uma atividade que sempre esteve presente em toda a existência humana, entre as necessidades mais elementares, é a arte. Por mais que se viva fazendo ou consumindo a arte que os outros fazem, esses mesmo humanos não conseguem dimensionar a sua importância e por isso mesmo a inferiorizam e não dão a ela o seu lugar devido na sociedade. As pessoas a produzem e a consomem, mas pouco ou nada sabem a seu respeito. Algumas perguntas podem auxiliar nessa análise: a arte pode ser qualificada como útil? O que é necessário para que uma atividade seja encaixada na condição de arte? O artista faz seu trabalho para si ou para público? O trabalho que se faz, segundo as regras de um mecenas, é arte? Pode-se aqui tecer um elenco imenso de questões, todas importantes e necessárias, mas apenas se tem uma certeza, a sua importância dela própria para os humanos. As pessoas não sabem responder e mesmo os maiores especialistas têm dificuldades para isso. A arte é inútil. Essa é a afirmação primeira quando se estuda a filosofia da arte e se busca para ela um sentido. Ou seja: a arte não pode ser qualificada como um atividade utilitária, como algo que existe para servir a um propósito fora de si. Afinal, essa atividade é uma manifestação de um humano que sente por dentro a perplexidade da existência, de um humano que se transforma e põe-se a transformar a natureza, a si próprio e ao mundo a sua volta. O espectador, ou aquele que contempla a arte, a recebe como um bálsamo que o alivia das amarras existenciais. Nesse caso, o pensador macedônio da Antiguidade, Aristoteles, afirmou que a arte é aquilo que provoca nas pessoas a catarse, limpa a alma humana; assim como a psicanálise que fala em depuração, em aliviar a mente das aflições para um viver feliz. Aristoteles afirmava que o teatro tinha para o ser humano essa capacidade de libertação, pois quando os dramas e as tragédias eram representados, os gregos conseguiam se libertar. Assim, pode-se afirmar que a arte é a manifestação dos cinco sentidos e como tal, quanto mais se faz e se contempla a arte mais os sentidos são aguçados. Isso quer dizer: na estética da existência, aquele que tem a arte como um valor, tem também as suas sensibilidades mais elevadas. Ora, a violência urbana, como fruto da ganância material e das lutas pelo poder, deve ser traduzida como uma situação motivada pela falta de arte. A verdade é que homens e mulheres fazem arte, fazem política e fazem filosofia como necessidades existenciais, não pode haver figura humana se não existem esses três elementos. Ou seja: a falta de arte na vida de homens e mulheres pode ser observada pelas suas ações desumanas, ou pela própria "bestificação".

quinta-feira, 23 de abril de 2015

Nova Comunicação e Novos Tempos

Nos tempos atuais sociólogos, jornalistas, filósofos e antropólogos debruçam-se exaustivamente na busca de uma explicação para os encaminhamentos que a comunicação social está seguindo pelo mundo a fora. As perguntas que esses intelectuais fazem procuram determinadas respostas em particular: esses novos veículos de comunicação, as chamadas mídias sociais (facebook, twitter, linkedin, entre outros) tomarão o lugar dos meios tradicionais como o jornal impresso, a televisão, a revista, o cinema ou rádio? Um dado interessante é que a um toque de dedo as pessoas se comunicam entre distâncias cada vez mais longínquas, publicam textos que expõem suas ideias e acompanham quase em tempo real os acontecimentos que ocorrem ao redor do mundo. Além disso, com a interatividade e o encurtamento das distâncias, um novo tipo de comércio surgiu, é possível comprar objetos, os mais variados, oriundos do outro lado do globo, alem de várias outras possibilidades. Entretanto, se o que se quer é buscar um entendimento, alguns pontos devem ser postos no debate: a ação social em rede, a infiltração e destruição de antigas paredes - até pouco tempo intransponíveis, a dificuldade de controle por parte do estado e a interatividade nos tempos de pós-modernidade. Além disso, precisa se levar em conta o aumento da publicidade da vida privada - mesmo que de forma remodelada - com a publicação das ações do dia a dia em pequenos textos, muitas fotografias e vídeos. Que as pessoas se entusiasmem e queiram experimentar formas diferentes de mídia, publicando o que entendem ser interessante parece algo natural, já que durante quase seis séculos a humanidade viveu sob a ditadura de uma imprensa direcionada, preconceituosa e tendenciosa. Enfim, o que se vislumbra é um anarquismo comunicacional, uma comunicação libertária, sem amarras ou donos. Ou seja: os mais entusiastas projetam para os próximos anos um sistema de comunicação interativo, com suas ações em rede. Não se quer com isso dizer que logo logo se vai acabar com a profissão do jornalismo, mas sim que os tablets e os celulares são aparelhos que a qualquer momento transformam-se em cinema, em televisão, em rádio, em revista, em câmera de vídeo ou em gravador de voz etc. O mundo vive, nos tempos atuais, em uma esquina da sua história e os novos encaminhamentos, muito diferentes, se mostram inevitáveis em um futuro não tão distante. A comunicação está em transformação e a sociedade de um modo geral.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Santo Agostinho, o Doutor da Igreja

O que poucos sabem é da importância de Santo Agostinho, o grande pensador do norte da África, para a sedimentação do pensamento cristão e do mundo ocidental de um modo geral. Antes dele os pensadores cristãos - chamados padres da Igreja - tateavam sobre os escritos dos evangelistas tentando dar um sentido à fé cristã, mas o que conseguiam era apenas elaborar textos apologéticos, louvações, ao mestre Jesus. Aurélio Agostinho nasceu no norte da África - atual Argélia, e viveu entre os anos de 354 e 430. Contam seus biógrafos que era filho de família abastada, desde cedo fora posto para conhecer as primeiras letras e quando na juventude tivera contato com diversas correntes filosóficas de sua época como, o maniqueísmo, o neoplatonismo, o estoicismo e o gnosticismo. Alem disso, sempre se fala de sua vida de gozo e diversão na juventude, a fascinação por sexo, sua concubina e seu filho. Numa das suas viagens a Itália, centro do Império Romano, em Milão, ouviu as práticas do bispo Ambrósio e, para felicidade de Mônica sua mãe, que era cristã, se converteu ao Cristianismo. A partir daí põe todo seu conhecimento filosófico a serviço da Igreja, desenvolvendo uma abordagem original, com uma variedade de métodos e perspectivas que dava uma lógica para a teologia cristã. Acreditava ele que a graça de Cristo era indispensável para a liberdade humana e ajudou a formular a doutrina do pecado original. Ao perceber que o Império Romano do Ocidente começara a ruir, escreveu A Cidade de Deus onde desenvolveu o conceito de Igreja Católica como uma Cidade de Deus, distinta da cidade terrena e material. Esse texto estava também intimamente ligada ao segmento da Igreja que aderiu ao conceito da Trindade Divina como fora postulado pelo Concilio de Niceia e o de Constantinopla. Agostinho afirmara que Platão fora um enviado de Deus para antecipar a verdadeira filosofia que viria mais tarde, o Cristianismo. Acontece que ele transformou a teoria dos dois mundos de Platão em um sentido lógico para o Cristianismo: o mundo sensível passara a ser a terra e o mundo das ideias o céu; se para Platão o filósofo consegue acessar o mundo das ideias, para Agostinho quem consegue acessar o céu é o santo. Atualmente na Igreja Católica e na Igreja Anglicana, Agostinho é venerado como um Santo, um Doutor da Igreja. Sua festa é celebrada no dia de sua morte, 28 de agosto. Mesmo protestantes, especialmente os de origem calvinistas, consideram Aurélio Agostinho como um dos pais teológicos da Reforma Protestante devido às suas doutrinas sobre a salvação e graça divina.

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Judiciário e Contrle externo

Uma sociedade que se queira democrática precisa primeiro que suas instituições estejam consolidadas e que seus representantes legais se conscientizem dos papéis que exercem, de seus direitos e de seus deveres, caso contrário haverá uma série de desencontros que desembocarão na inoperância do estado. Nesse caso, põe-se na berlinda o poder judiciário, o único cujo os membros são escolhidos via meritocrática; portanto, de quem se pode cobrar um conhecimento mais aprofundado de tais papéis. No entanto, o que transparece ao cidadão que acompanha é que há um desconhecimento total das funções. Fica latente, por parte de alguns magistrados, que não há uma certeza se sua função é jurídica ou política, se o direito é um real instrumento de justiça ou uma simples forma de legitimar a injustiça. O que se quer dizer é que para o observador externo mais atento, alguns magistrados conhecem sim todo o cruzamento das leis, suas hierarquias e as relações dessas com a constituição federal, mas nada sabem das pessoas a quem se aplicam tais leis. O mais difícil no pensamento de uma readequação no judiciário brasileiro ou, mais profundamente, uma reforma propriamente dita, é saber que isso fatalmente interferia no andamento do processo democrático. Sim, o setor é peça fundamental na segurança no estado de direito. Segurança porque se espera dos juízes a manutenção e a defesa dos interesses mais profundos de uma sociedade. Nesse caso, uma reforma precisa levar em conta os interesses corporativos, com toda a defesa dos seus proventos, das suas condições laborais e suas representações frente aos outros setores da sociedade. Ora, o salário de juiz é atraente para um jovem da classe média, mas não é para um senhor, já há alguns anos na profissão e que tem amigos bem próximos que recebem mensalmente dez, vinte ou trinta vezes o que ele recebe. Pesquisas recentes, feitas pela ONU (Organização das Nações Unidas) e Banco Mundial que comparam o poder judiciário de todos os países, mostram a situação do Brasil de forma desalentadora. O problema é que o judiciário brasileiro tornou-se um setor completamente blindado, sem controle externo - político ou social; ora, qualquer estrutura só muda, só avança, quando algo lhe incomoda internamente e se o incômodo não acontece por dentro precisa vir de fora. Portanto, urge um controle externo ao judiciário brasileiro.

segunda-feira, 13 de abril de 2015

A Eterna Busca Pela Felicidade

Alguns pregadores dizem: "no mundo atual as pessoas estão perdidas no hedonismo e nada querem com o amor pelo próximo, com a fé ou com a vida contemplativa". Certamente que aí se encontra um equívoco em relação ao conceito de hedonismo; pelo menos àquele encontrado na origem do termo com Epicuro de Samos, lá pelo século 4 aC. Talvez o desentendimento venha da origem etimológica do termo hedonê que no Grego antigo se define como prazer, ou vontade. Ou seja: o hedonismo nada mais é que uma corrente filosófica que explica o sentido da vida a partir da busca pela felicidade. Só pode ser feliz aquele que aprende a dominar seus medos, frustrações, desejos e ódio; assim, se visitas indesejáveis entrarem em tua casa não se aborreça, vá para o jardim! O pensador grego usou ainda a palavra tetrafármaco para designar a filosofia, afirmando que poderia ser estabelecida com os quatro remédios que curam a alma humana em suas ansiedades. Primeiro: os humanos não devem temer os deuses, já que deles não se pode esperar nada de bom ou de mau; segundo: da mesma forma não se deve temer a morte, já que essa, nada mais é que o fim de todas sensações; terceiro: todos os males um dia acabam, pois a história tem mudanças contínuas; e quarta: ser bom é muito fácil, basta educar os sentidos, limitando os desejos e disciplinando as necessidades. Para Epicuro, o sentido da vida humana é a eterna busca pelo prazer e a felicidade, mas isso não será encontrado em uma moral, em um sistema político, em uma convicção religiosa, em um grande herói, mas dentro de si mesmo. Portanto, vive-se para o prazer, para a felicidade e assim, todas as ações são dirigidas nesse sentido; nesse caso, deve-se buscar o prazer com toda intensidade, mas com sabedoria para que seja, ao mesmo tempo, o mais intenso e o mais duradouro possível. Comer é prazeiroso, então deve-se comer, mas sabendo o que comer e a quantidade tal que o prazer do momento não venha a acarretar em um sofrimento futuro. Da mesma forma o beber, pode acontecer, desde que com regras tais que aquilo que num momento é um ato prazeiroso não venha a ser no futuro motivo de sofrimento. Assim como o sexo, pode e deve ser feito sem qualquer receio, mas de um modo tal que mais tarde não se transforme em conseqüências tristes. Se toda a vida humana pode ser regrada, também as relações sociais. Ora, ser respeitado por aqueles que fazem parte do convívio é algo prazeroso e só há uma forma de ser respeitado: respeitando a todos. Assim, cada homem e cada mulher luta naturalmente pela sua própria felicidade, portanto é natural que se busque plenamente por ela, mas essa sempre só será encontrada com amplo regramento das ações, nunca fora de si mesmo.

quinta-feira, 9 de abril de 2015

O Brasil, as Mudanças e a Imprensa

Nesses tempos em que os brasileiros consolidam a sua democracia, quando as liberdades individuais efetivamente acontecem e as críticas podem ser feitas para cada governo que entra e sai, se faz necessário uma análise de um ofício, o jornalismo e toda a sua extensão midiática. É importância que se faça uma crítica apurada e criteriosa a toda produção das comunicações feitas no País e os seus direcionamentos sociais, políticos e econômicos. Importância essa que muitos dos próprios profissionais da área - diante da luta por sobrevivência - não se dão conta das suas matérias e de suas produções artísticas e acabam reproduzindo vontades que não são de suas consciências, mas de uma elite econômica detentora das empresas produtoras. Nesses tempos cruciais para um novo rumo ao País, percebe-se falhas quiméricas na execução do jornalismo brasileiro, não por incompetência na execução da produção, mas na falta de visão social e política. Assim, o que se vê é um jornalismo tendencioso. De um lado, uma empresa jornalística posiciona-se vergonhosamente a favor do poder executivo estadual e contra os professores em greve, do outro, contra o governo federal e a favor dos seus opositores. Por outro lado, em um mesmo tema - a corrupção - jornalistas ressaltam matérias de um dado grupo de corruptos e corruptores e nada falam de outros; a produção é elaborada, editada e mostrada de acordo com os interesses da empresa jornalística. Não se está clamando por aliviarem as costas de quem está apanhando todos os dias com as sarrafadas recebidas, mas que se busque o princípio mais elementar da ética profissional, a imparcialidade. Sim, todos os humanos são falhos e são mesmo parciais, tendenciosos, mas se faz necessário que se compreenda e admita essa parcialidade para lutar contra ela o tempo todo. Não cabe ao jornalista dizer ao leitor o que é certo e o que é errado, mas apenas informar, ser a média, aquele que diz o que aconteceu, sem expressar suas vontades, seus interesses, ou de quem quer que seja. Os tempos mudaram e a imprensa tradicional se vê em uma encruzilhada determinante, ninguém mais pode se dar ao luxo de usar os meios de comunicação de massa, jornal, televisão, rádio etc, como instrumento de defesa das tendências a, b ou c. O mundo mudou e o Brasil mudou, mas parece que a produção midiática local ainda não se deu conta de que sua sobrevivência está ligada diretamente também a essas mudanças.

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Entre Sócrates e Jesus, a Verdade

Um era grego e o outro, judeu - trezentos e cinquenta anos de distância no tempo - um marcou o início do pensamento filosófico ocidental e o outro, o início do pensamento religioso. O Ocidente não seria o mesmo sem os dois: Sócrates e Jesus. Dois homens que, cada um a seu tempo, marcaram os seus dias de existências com semelhanças de pensamento, de comportamentos e de caráter. Sócrates vivera em Atenas, centro efervescente do pensamento antigo e lutou com todas as suas forças contra os mercenários do saber, contra a mediocridade de sua época e a indigência mental. Jesus perambulara pelas principais cidades da Judeia - de Nazaré a Samaria e a Jerusalém - combatera os hipócritas e gananciosos que tudo faziam para serem vistos e se sobreporem aos outros. Nenhum dos dois deixou algo escrito. Tudo o que se sabe sobre Jesus foi elaborado por seus discípulos nos livros que ficaram conhecidos como evangelhos, ou relatados por esses à outros que por sua vez escreveram o que ouviram. Aliás, o cristianismo foi montado a partir de livros escritos por Mateus, Marcos, Lucas e João e por apologistas como Paulo, por exemplo, além dos textos apócrifos que sobreviveram. Tudo que se sabe sobre Sócrates fora escrito por seu discípulo Platão, tanto que para alguns ele pode não ter existido e não passar de uma personagem dos diálogos platônicos. Os filósofos atuais se confundem quando tentam estabelecer uma linha que separe o pensamento de Sócrates e o pensamento de Platão. A certeza se estabelece quando se le em Xenofonte a defesa do mestre ou em Aristófanes, quando esse o descreve severamente em As Nuvens. O grego propôs a humildade com a frase "só sei que nada sei", era o seu método de busca do conhecimento; enquanto o judeu ensinara aos seus discípulos que para herdar o céu o homem precisa nascer de novo, seria preciso se fazer criança. Aquele defendeu a verdade e afirmou que toda sua vida fora estabelecida na sua defesa, enquanto esse afirmara em seus ensinamentos: "e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará". Se Jesus de Nazaré fora aclamado o rei dos judeus, o messias, o verbo que ser carne e habitou entre os homens, Sócrates de Atenas é aceito como a razão central do pensamento do Ocidente. Enfim, os dois foram condenados a pena de morte sob a acusação de blasfêmias, de corromperem as pessoas com seus ensinamentos, mas na verdade foram condenados por defenderem ideias que mexiam na posição de privilegiados na sociedade em que viviam.

quinta-feira, 2 de abril de 2015

A Felicidade Dentro de Cada Um

O céu para os cristãos, o comunismo para os socialistas, a condição de brahma para os hindus ou o mbia - a terra sem males - para os guaranis é assim seguem os humanos em suas lutas pela felicidade. Todas são vontades de herdar ou de construir um mundo melhor para viver. Depois de Thomas Morus, um conceito tomou posição e definiu essa condição: os humanos buscam eternamente pela felicidade, por uma vida prazeirosa e estabelecem, como num ponto de fuga, a utopia e seguem as linhas que levam ao seu encontro. Nesse sentido, algumas perguntas se formam a partir de então: o que é felicidade? felicidade é possível? ou, como se encontra a tal felicidade? Questões intransponíveis. Mas mesmo sabendo que ninguém tem as respostas finais é possível dissertar a respeito, no sentido de analisar tanto o conceito, quanto essa estranha condição humana a que tanto se busca. Então, se o conceito de felicidade pode ser estabelecido como uma condição humana de aceitação das situações postas pela vida, a partir da satisfação de necessidades, essa é, portanto, uma condição prazeirosa. Assim, a felicidade só é possível se condicionada a momentos determinados, a picos, e que logo desaparecerá. Neste caso, é preciso que se busque uma felicidade mais duradoura e intensa possível. Se alguns chamam de comunismo e outros de céu, se para alguns é preciso que se aja adequadamente em vida para assim herdar numa outra dimensão, a felicidade - para outros, há a necessidade de se fazer uma revolução. A verdade é que o que move a consciência humana é a eterna busca pela felicidade. Entretanto, se os picos encontram-se na satisfação das necessidades, a felicidade pode ser adquirida a partir da desconstrução de necessidades; pelo menos das necessidades impostas, aquelas que não fazem parte da condição humana. Para ser feliz é preciso favorecer e, assim, maximizar o prazer. O que isso quer dizer: a felicidade precisa ser pensada de forma a entender que essa ocorre na independência diante dos desejos e na limitação das necessidades. Ora, comer, beber, receber carinho ou dormir, fazem parte das necessidades mais prementes dos humanos, mas deve ser pensadas juntamente com uma outra que coroa e faz parte de todas essas anteriores, a liberdade. Certamente que se não houver liberdade é possível ser feliz, caso haja ignorância da sua falta; ou seja: se não for livre é preciso pensar que é livre. Enfim, a felicidade não pode ser encontrada na religião, no emprego, no partido ou no relacionamento amoroso, mas apenas dentro de si mesmo.