domingo, 31 de maio de 2015

Legislativo, Desrespeito e Cidadania

Na modernidade a função do poder legislativo está diretamente ligado a um regime que se pretenda democrático, isso porque sempre foi pensado como peça fundamental para o bom andamento da coisa pública. Afinal, quando o filósofo francês Charles de Montesquieu pensou a divisão dos poderes estabeleceu-o como órgão responsável pela elaboração das leis e pela fiscalização dos bens públicos. Assim, o parlamento como ficara conhecido, fora dividido em dois: a câmara do lordes, cujos membros seriam indicados pelo rei - representando a aristocracia - e a câmara dos comuns, composta por representantes eleitos diretamente pelo povo. No caso brasileiro - seguindo essa premissa - o parlamento é também bicameral: o Senado Federal, representando as unidades da federação e o estado brasileiro em si, e a Câmara dos Deputados, representando a população em geral. Esse parlamento, como também ficara conhecido nos tempos atuais, fora pensado como peça fundamental no combate ao absolutismo, à tirania, à prepotência de alguns governos; enfim, ao mandonismo. Aliás, a primeira atitude de qualquer tirano ao assumir o controle do estado é destituir o parlamento, para assim impor suas regras, suas vontades e administração. Entretanto, mesmo sem um executivo que o destitua, pode-se deduzir que qualquer atitude decadente por parte de membros do parlamento, como o desrespeito aos procedimentos legislativos, aos acertos firmados e às votações nas comissões específicas, é perniciosa para uma sociedade. Ainda mais quando essas atitudes obedecem a uma pauta estranha, desconhecida da imprensa e dos líderes de bancadas, sem debates e com parlamentares trocando de posições - mudando o voto - em questão de horas. Por mais que se queira incentivar o esclarecimento de uma sociedade para a cidadania, ou estimular os jovens para a participação política, pouco ou nada se consegue tendo em vista que a estrutura armada acabou abrigando os mais estranhos interesses. O problema é que isso afugenta a participação popular, fazendo surgir o paradoxo: não havendo participação popular os interesses espúrios aumentam, esses aumentando, afugentam a participação popular e assim segue crescendo como bola de neve.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

Tudo Muda, Tudo Segue

O que hoje é um dia não foi e um dia também não será. Essa é a grande máxima da existência, não só dos humanos e dos seus pensamentos, suas ideologias, seus costumes e suas tradições, mas do universo de um modo geral. As montanhas um dia não serão mais montanhas e as cachoeiras não serão mais cachoeiras, assim como os rios um dia secarão e outros ainda haverão de surgir caudalosos e o universo seguirá assim o seu movimento eterno desafiando a pretensa razão humana. Refletindo a esse respeito, o pensador grego antigo, chamado Heráclito, fundamentava seu pensamento dizendo que ninguém pode tomar banho no mesmo rio duas vezes, pois na segunda, a água já terá passado e o rio já não mais serà o mesmo. Seus discípulos completavam que ninguém toma banheiro nem mesmo rio que vê, pois as águas passam e esse se transforma num outro a todo instante. Acontece que esses seres racionais, por mais que busquem o funcionamento de tudo que está a sua volta e por mais que tentem dar sustentação teórica a tudo, não se dão conta da constância transformadora universal a que está inserido. Vive-se então uma ilusão do ser, como se isso fosse estático. Ilusão porque os cérebros humanos só se dão conta dos movimentos adequados às suas capacidades mentais; ou seja: qualquer movimento além ou aquém dessa tal capacidade não será percebido. Na sociedade moderna os pensamentos, pretensamente avançados, estão calcados numa determinação de que as pessoas precisam realizar mudanças, como se isso fosse acontecer a partir de uma decisão voluntária, individual, e acusam umas às outras de estarem paradas, de não aceitarem as transformações necessárias para a sociedade. Nesse caso, a mudança faria parte de uma decisão privada, ignorando a sequencia a sua volta. Acontece que essas mesmas pessoas não percebem que todos, mesmo o maior conservador, estão sofrendo mudanças de forma ininterrupta. Assim, os humanos com suas casas, as montanhas e os arranha-céus estavam todos juntos no momento da grande explosão inicial que deu origem ao universo; sim, perene mesmo somente as partículas originais, formadoras de tudo. Disso denota-se que viver é estar envolvido pela mudança necessária: todo velho um dia foi menino e todo menino - se não sofrer uma interrupção - será um velho; assim, toda verdade dos dias de hoje um dia não foi aceita e um dia não mais será. Nada surgiu do nada, tudo um dia começou e tudo um dia findará.

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Frei Beto, Um Humano Acima de Seu Tempo

Pode-se crer em Deus ou não, pode-se seguir uma ou outra denominação religiosa, mas nenhum homem e nenhuma mulher de boa vontade poderia prescindir de ler ou ouvir esse que é um dos maiores pensadores brasileiros e que humildemente atende por Frei Beto. Adepto da Teologia da Libertação e militante nos movimentos pastorais e sociais, ocupou há alguns anos o cargo de assessor especial do governo Luiz Inácio Lula da Silva quando coordenou o programa programa Fome Zero, entre os anos de 2003 e 2004. Na sua juventude esteve preso por duas vezes sob a ditadura militar, em 1964 e entre 1969 e1973, cuja experiência ele relatou nos livros Cartas da Prisão, lançado pela editora Agir, Diário de Fernando - nos cárceres da ditadura militar brasileira, lançado pela Rocco e Batismo de Sangue, lançado também pela Rocco. Com esse último livro, Frei Beto foi premiado com o troféu Jabuti de 1983, texto traduzido para diversas línguas, onde descreve os bastidores do regime militar, bem como a participação dos frades dominicanos na resistência à ditadura, incluindo a morte de Carlos Mariguela e as torturas sofridas por Frei Tito; lançado também como filme em 2007. Frei dominicano, nascido com o nome de Carlos Alberto Libânio Christo, Frei Beto atualmente já passou dos sessenta livros editados no Brasil e no exterior que falam desde fé, a movimentos sociais e a política. Seus livros, artigos, pregações e entrevistas mostram uma mente perspicaz que elucida com com profundidade teórica os caminhos possíveis nas lutas pela construção de um mundo melhor. Mas, para além do homem sociólogo, do teólogo ou do filósofo, Frei Beto se mostra mais como um homem de fé e é aí que reside a beleza do seu pensamento. Sua crença não está dirigida a um Deus, comumente pregado, que se deve temer pois pode castigar a todos ou que tem alguns humanos como seus ungidos ou predestinados, mas um Deus de amor por suas criaturas, na mais pura acepção da palavra. Para ele, o grande exemplo de Jesus a ser seguido está nas suas palavras e atitudes quando esse disse que é preciso "amar ao próximo como a ti mesmo" ou quando distribuiu o pão e o vinho entre os discípulos e avisou: "fazei isso quando lembrarem de mim". Enfim, Frei Beto vê na fé cristã um motivo de luta política para que todos tenham pão, para que todos tenham trabalho, educação e um teto digno para se abrigar. Um dia, quando questionado sobre o fim dos tempos e o julgamento final, ele disse: "Deus é tão bom, mas tão bom, que não haverá juízo final, mas sim uma anistia geral e todos serão salvos".

quinta-feira, 21 de maio de 2015

A Morte e a Eternidade

A coisa mais importante que aconteceu com cada homem e cada mulher, até o presente momento, foi ter nascido e a segunda coisa mais importante será a morte. Nesse caso, vive-se para morrer? Mas não é contraditório, viver para morrer? Se assim for, qual o sentido em nascer, já que o existir é uma ação grandiosa, um mistério profundo e que se encerra logo na frente, com um parar de viver? Sim, encerrar o debate com uma explicação dizendo ser isso apenas um milagre da natureza é aceitar a metafísica como constituinte do saber humano. Isso porque são perguntas difíceis, quase indecifráveis; é uma daquelas questões que o pensador alemão, Emanoel Kant, chamaria de antinomias da razão. Ou seja: a racionalidade explica o funcionamento dos átomos, leva o homem à lua, cria equipamentos sofisticados e pretensiosamente quer explicar o passo a passo de todo o funcionamento do corpo humano, mas nada sabe, nada fundamenta, sobre a existência desse mesmo humano. Tudo morre, tudo acaba, mas a morte só se faz notada e ganha um destaque especial ao ocorrer em seres humanos. Acontece que não há evidência científica de que a consciência possuída pelos humanos continue a existir após a morte, apesar de várias crenças em diversas culturas e momentos históricos diferentes acreditarem em vida no pós-morte. Enfim, resta apenas a sua certeza e isso parece atormentar os viventes, já que em uma das curvas da existência, suas vidas podem encerrar e nada sabem a respeito. A forma como as sociedades encaram a morte tem notórias consequências nas suas culturas e suscitam interesses da filosofia, da sociologia e da antropologia. Existem diversas concepções sobre o destino final da consciência: são várias as crenças na ressurreição entre as religiões abraâmicas ou crença na reencarnação entre as religiões orientais e espíritas etc. Alguns preferem mesmo o eternal oblívio (esquecimento eterno), conceito muito comum na neuro-psicologia e atrelado à ideia de fim permanente da consciência no pós-morte. A verdade é que nada se tem a fazer na longa, ou curta, espera pelo fado que nos espera, a não ser saborear as delícias que os momentos oferecem; ou seja: ao esperar na fila do coletivo, da farmácia ou do mercado não se deve desejar que o instante se acelere. Nessa linha reta que segue do nascer para o morrer cada minuto que se vive é um minuto a menos que se irá viver. Ou seja: ao terminar de ler esse artigo o leitor estará mais velho e, inevitavelmente, mais perto da morte.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

PSB e PPS: Era Uma Vez Dois Partidos

Hoje, quando o PPS (Partido Popular Socialista) anuncia fusão com o PSB (Partido Socialista Brasileiro), convém que se faça uma análise e isso pode acontecer a partir de dois pontos. O primeiro é sobre o fazer político, sobre a ética partidária, bem como sobre as ideologias políticas no Brasil; o segundo, diz respeito ao comunismo e socialismo, conceitos que estão intimamente entrelaçados de modo a se confundirem como até mesmo como sinônimos. A situação dos dois partidos nesse momento de fusão é emblemática. São iguais ideologicamente e representam o que há de mais atrasado no espectro político; o chamado caciquismo, em que alguns indivíduos se adonam de uma agremiação partidária e a conduzem, independente das vontades dos demais membros. Entretanto, os dois partidos são originários de uma história do movimento comunista e socialista, com programas claros, uma militância aguerria e voltados para as necessidades mais prementes da sociedade. O PPS um dia foi PCB (Partido Comunista Brasileiro), foi fundado em 1922 em meio às lutas operárias, alinhado ao PCUS (Partido Comunista da União Soviética), esteve à frente de vários movimentos sociais, urbanos e camponeses, pelo Brasil a fora. Em 1956 o famoso discurso do líder russo, Nikita Kruchev, levaria a uma cisão interna, dando origem agora a um outro, o PCdoB (Partido Comunista do Brasil) e que persiste até os dias de hoje. Em 1992, o Partido que já fora liderado por figuras como Luiz Carlos Prestes, Werner Herzog e Oscar Niemeyer, completamente descaracterizado, tentava a fusão com outros partidos, mas sem sucesso, trocou seu nome para PPS. Já o PSB que nasceu de um movimento brasileiro de esquerda, se posicionara politicamente como socialista, mas negando uma submissão aos movimentos internacionais. Sua origem se deu em 1945, com o movimento Esquerda Democrática, liderado por João Mangabeira e em 1947, seria fundado como partido e com a sigla que trás até os dias de hoje. Durante toda a sua existência o Partido teve entre suas lideranças personalidades de reputação inabalável como o próprio Mangabeira ou Miguel Arraes e Jamil Hadad, entre outros. No afã das disputas políticas, os dois partidos abriram suas portas a quem quer que seja, sendo invadidos por pessoas com perfil muito diferente do que se propôs originariamente. Se por um lado o PPS hoje não passa de uma sigla de aluguel a mais no balcão dos negócios políticos, o PSB trouxe para os seus quadros antigas figuras oligarcas que sempre estiveram identificadas com o que existe de mais espúrio no trato da coisa pública. Parece que a fusão dessas duas agremiações está correta porque são iguais e nisso não há nada de estranho, já que representam o que há de mais condenável na política partidária brasileira: o caciquismo, o distanciamento dos programas e a falta de uma base militante.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Alexandre: Um Começo é Um Fim

Após planejar sua inovadora arma de guerra, Felipe II da Macedônia, iniciou o que seria o maior empreendimento bélico conhecido em toda a sociedade antiga. Iniciou ele, mas não foi muito longe. Com a sua morte, subiu ao trono seu filho, o jovem Alexandre, aquele que seria lembrado na posteridade como o magno, ou o grande; aquele que se tornaria um dos maiores imperadores e generais de toda história humana. A grande arma dos macedônios que possibilitaram as conquistas era o posicionamento de soldados em uma longa fileira, armados de lanças muito compridas, posicionadas de forma a impossibilitar a aproximação do inimigo. Essa tática da guerra, em particular, ficaria conhecida na história como a Falange Macedônica. Foi assim que Alexandre, o Grande, e seus generais invadiram cada povo que encontraram, subjugando-os; saqueavam tudo, desde alimentos, depósitos de ouro, a joias e até pergaminhos com textos de pensadores da região. Num primeiro momento Alexandre unificou toda a Hélade, a seguir invadiu a Ásia Menor e toda a região da Capadócia; desceu até a Fenícia, a Palestina e a Síria. Seguiu para o Leste, em direção á longínqua Pérsia, onde subjugou Passárgada e Persépolis, destronando o grande imperador Dário e conquistando a belíssima Estatira. E assim continuou ele a sua saga de conquistas, quase alcançando a Cachemira, quando finalmente encerraria suas ações, morrendo aos 32 anos de idade em 323 aC. O grande imperador morreu, mas quase nada fez por sua terra natal, preferiu criar a distante cidade de Alexandria, com seu Farol, seu Museu e sua Biblioteca no Egito, litoral do Mediterrâneo, para onde eram levadas as obras literárias saqueadas por seus generais nessas andanças. Conta-se que Alexandria tornara-se o grande centro intelectual do passado antigo, com pensadores oriundos até da Índia e da China. Mas como tudo na vida um dia fenece, a grandeza de Alexandre Magno teve um começo, um esplendor e um fim. O grande general padecera violentamente de uma estranha febre que até os dias de hoje tem provocado os maiores debates de historiadores. Morreu Alexandre, o grande general invasor, o grande líder conquistador. Os frutos de suas incontáveis vitórias agora jazem inertes; fechou-se um ciclo. Após muitas disputas, os territórios invadidos foram distribuídos por seus generais, mas que logo os perderam ou seus descendentes os perderam.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Tristeza, Sofrimento e Nojo

Mesmo que a vida seja uma expressão da eterna busca pela felicidade, mesmo que os seres vivos busquem sempre um lugar melhor para viver, não se pode negar que a existência humana é carregada também de contrariedades, de coisas desagradáveis e de tristezas. Se a felicidade é um estado durável de plenitude, de satisfação e de equilíbrio físico e psíquico em que o sofrimento e a inquietude são transformados em paixão que vão desde o contentamento até a alegria intensa ou júbilo, também a felicidade pode ser transformada em sofrimento, tristeza, inquietude e desespero. A felicidade é o que os antigos gregos chamavam de eudaimonia, termo ainda hoje empregado no debate sobre a ética já que para as emoções associadas à felicidade, os filósofos preferem a palavra prazer porque que é difícil conceituar rigorosamente, a felicidade e sua medida. Mas para haver felicidade necessariamente tem de haver a tristeza; tanto na passagem de uma condição para a outra, quanto entre a condição de um indivíduo e a de outro. Ou seja: a tristeza de um pode ser a felicidade de outro e vice versa; ou ainda, a tristeza de imediato pode ser felicidade a longo prazo e assim por diante. Ora, sofrimento é qualquer experiência adversa e sua emoção negativa correspondente; geralmente associado à dor e com a infelicidade, mas qualquer condição pode gerar sofrimento se ele for subjetivamente contrário aos interesses dos agentes. Em uma frase como "sofrendo de uma doença grave", a ênfase está mais em ter a doença e menos no desprazer que ela lhe causa. Os termos relacionados ao sofrimento são: tristeza, pesar e dor. Alguns estudiosos entendem a raiva como também um tipo de sofrimento, ou o tédio, como um sofrimento causado pela falta de fazer algo, de experimentar coisas interessantes. A palavra tristeza vem do Latim (tristia - aflição) que quer dizer, um estado afetivo caracterizado por insatisfação e uma desvalorização da existência e das coisas reais. A tristeza é uma das seis emoções básicas preconizadas por esses estudiosos, juntamente com a felicidade, a raiva, a surpresa, o medo e o nojo. Numa relação entre pessoas, entre casais, e mesmo na existência humana como um todo, parece que os seis conceitos de emoções tendem a caminharem juntos: primeiro se passa pela surpresa, depois vem a felicidade, em seguida o medo, depois a tristeza, que é seguida pela raiva, mas que no final desemboca no nojo.

quinta-feira, 7 de maio de 2015

Educação em Greve: e o Apoio?

Há algumas semanas, e até meses, havia uma sequência de passeatas por todo o Brasil com pessoas portando cartazes e faixas tecendo críticas aos políticos partidários, com gritos de guerra clamando pelo fim da corrupção, pelo impedimento da presidente e por melhores condições na saúde, na segurança e na educação. Uma pauta extensa para ser para ser executada no passo a passo e até inviável, mas os pedidos por mais investimentos na educação entrou no gosto e na simpatia do povo e chamou a atenção até da imprensa internacional Acontece que o clamor por melhores condições na educação acertava em cheio numa necessidade central do país, afinal não pode haver uma sociedade soberana se o povo que a compõe não for devidamente educado e não só nas ciências, mas também na vida social, econômica e política. Na época criou-se então um bordão, "o gigante acordou" fazendo referencia ao Hino Nacional Brasileiro e a extensão territorial do país. O evento foi bastante divulgado não só pelas mídias sociais, mas principalmente pelos canais de televisão de todo o Brasil. O estranho é que apenas alguns dia se passaram, os professores das redes estaduais de Santa Catarina, do Paraná e de São Paulo entraram em greve com uma pauta de reivindicação justa, estão sofrendo com perseguições dos governadores de toda ordem e poucos cidadãos, para não dizer ninguém, manifestam seu apoio. De duas coisas uma: ou quem foi para rua pedindo investimento em educação na verdade não estava querendo investimento em educação ou os professores ganham um excelente salário e estão fazendo uma greve desnecessária. É muito estranho, pessoas que pareciam tão preocupadas com a educação e sua relação com o desenvolvimento político, econômico e social do país, não expressem agora nem mesmo uma frase de apoio aos professores. As mídias sociais se calaram e ninguém mais fala da importância da educação, assim como os meios de comunicação tradicionais - rádios, televisões e jornais - só publicam quando acontece um algo de alta magnitude, em que grande número de pessoas sairam gravemente feridas. Enfim, educar é preciso, assim como também se faz necessário que o povo se organize socialmente e vá para as ruas pedindo melhores condições para a educação já que essa é fundamental para o desenvolvimento humano e político em uma sociedade. Entretanto, é preciso que isso seja feito de forma completa, apoio total aos professores e principalmente por aqueles que foram para a rua pedindo melhores condições na saúde, na segurança, educação etc. Ou o motivo das passeatas não eram bem esses?

segunda-feira, 4 de maio de 2015

O Brasileiro é o Brasil

No estudo das sociedades algo muito difícil é entender o pensamento político, social e econômico do povo brasileiro quando se trata da sua relação com o estado. Numa espécie de "farinha pouca, meu pirão primeiro", os indivíduos cobram muito da burocracia estatal, exigem ações fortes com soluções imediatas para saúde, para educação ou para segurança, mas também ficam contrariados na hora de fazerem suas partes, na hora de agirem como cidadãos. Ora, pensar a função do estado é um empreendimento muito difícil tendo em vista as controversas existentes por parte dos inúmeros especialistas. Entretanto, pensando a maior parte dos países, e baseado na literatura que trata do tema, pode-se afirmar que a função é ordenar, dirigir e amparar os membros da sociedade. Entende-se aqui o estado como organização política de um povo, com soberania. Alguns teóricos utilizam categorias de hoje para dizer que este é ao mesmo tempo estado-comunidade - politicamente organizado como república ou monarquia - e estado-aparelho, como instrumento de controle e administração. Quando se trata de brasileiros a relação é um tanto conturbada: todas as classes sociais, a sua maneira, sonha em algum amparo financeiro ou, propriamente, em fazer parte da estrutura burocrática. Para começar, o sonho maior dos membros da classe alta é vender seus produtos ou serviços para o estado, bem como conseguir junto ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) polpudos empréstimos para azeitar as engrenagens de suas empresas. Para os filhos da classe média o sonho para com o estado é outro: fazer concurso público e assim desempenhar alguma função dentro da estrutura burocrática e com isso ter proventos ou soldos garantidos e uma estabilidade empregatícia. Já, na base da pirâmide social, as classes mais pobres sonham em ser assistidas pelo estado com o Bolsa Família, por exemplo. Por outro lado, se a relação dos brasileiros com o estado é conturbada, isso se deve porque, ao passo que se exige soluções para a educação, para a saúde, para a segurança, para o transporte etc, também se renega ao pagamento dos tributos devidos, mas se quer fazer parte do mesmo. Parece que a noção de cidadania não está clara para todos, bem como a relação do indivíduo com sua própria sociedade; vive-se um individualismo imediato, em um pensamento que mais parece o retratado no ditado popular catarinense, "farinha pouca, meu pirão primeiro".