sexta-feira, 29 de julho de 2016

A Ciência, a Verdade e o Homem

Com o advento da modernidade e, com ele, o chamado, Período das Luzes, o conceito de ciência se moldou aos novos tempos e trouxe a noção de verdade a conjuntos de saberes, aglutinados em um dado objeto investigado através de métodos rigorosos. Durante muito tempo, intelectuais racionalistas – mas atingindo até o senso comum – acreditaram terem chegado a verdades absolutas. A natureza, na sua totalidade passa a ser encarada como um grande livro a ser descoberto. Nele, o homem, com métodos rigorosos, conseguiria descobrir as suas verdades mais reclusas. Mesmo nos dias de hoje pessoas em geral, quando querem dar fé a um argumento, costumam alardear que tal ou tal afirmação já fora provada cientificamente. Mas, como nada é para sempre – mesmo as verdades científicas Immanuel Kant, em 1787, na Crítica da Razão Pura, ensinou que existem as antinomias da razão, pontos na natureza que o homem, de forma alguma, poderá entender. Acontece que, na busca de entendimento, esse mesmo homem, um ser da razão, encontra paradoxos, cujas explicações são contrárias umas às outras e, por mais que busque, não encontrará solução. Em algo parecido chegou Karl Marx, com A Ideologia Alemã: Crítica da Mais Recente Filosofia Alemã, de 1846, quando mostrou que aquilo que se pensa e se acredita pode não passar de apenas uma ideologia, um conjunto de ideias, resultado das relações sociais. Um pouco mais tarde, Sigmund Freud seguiu na mesma linha quando mostrou em seu livro, Interpretação dos Sonhos, de 1899, que o que se pensa é apenas uma parte da mente, o que ele chamou de consciente, e que, por vezes, é dominada pela outra parte, até então não conhecida, o inconsciente. Nessa mesma época Max Planck propôs a Física Quântica, repensando o universo para muito além daquilo que as informações dos sentidos fornecem às pessoas; ou, da mesma forma e, na mesma época, mas seguindo outra linha, Albert Einstein trouxe ao mundo as suas ideias da Teoria da Relatividade. Percebe-se então, que o grande livro da natureza, por mais que se brade pelos quatro cantos, não é de tão fácil leitura. O homem é sim um ser da ciência, assim como um ser da filosofia e um ser da arte, setores do conhecimento que dão respostas à razão da sua existência. Foi com a ciência que ele fez as inúmeras descobertas, importantes e necessárias para a sua vida, ao longo da história. Entretanto, dois pontos precisam ser levados em conta; um: não há verdade absoluta que não se possa mais buscar outras respostas; dois: os conhecimentos produzidos precisam dar respostas às necessidades humanas na sua totalidade; não de alguém ou de um grupo.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Justiça

Ao longo dos anos, desde que o estado moderno foi iniciado, o conceito de justiça se transforma ininterruptamente de modo a não se aceitar mais que apenas um setor seja o seu responsável, o judiciário. Se com isso é preciso repensar e estabelecer adjetivos – justiça social, justiça política, justiça econômica etc. – é verdade, mas tudo isso demonstra a complexidade do tema. Acontece que desde os tempos mais remotos, a ciência do Direito estabeleceu que a função de fazer justiça é do judiciário: uma parte do estado que, regularmente, é incumbida de julgar os conflitos ocorridos na sociedade. Isso, de acordo com o modelo dos três poderes, proposto pelo filósofo francês Montesquieu em seu estudo sobre o Estado Moderno, através do que ficou conhecido como a "teoria da separação dos poderes". Assim, muitos acabam entendendo o judiciário como um sinônimo de justiça, como se fosse o único responsável, mas não; esse setor é responsável sim pela justiça, como uma parcela de um todo, enquanto julgamento dos conflitos. Para muito além das definições comuns, justiça trás no seu bojo a ideia primordial que é a de se aplicar o justo em uma sociedade; nesse caso, a noção se torna enorme, escapa das definições comuns, cabendo o esforço da filosofia buscar um entendimento. Espera-se das pessoas a virtude da justiça e muitas o são, mas muitas não e continuam sendo pessoas; isso porque não é a virtude que define um indivíduo: gerações nascem, vivem e morrem e são pessoas. Assim como os sistemas econômicos e sociais são aquilo que os definem, sendo ou não injustos. Diferente do estado que a sua existência tem como premissa básica a organização política, a distribuição da riqueza e a solução para os conflitos: isso é a justiça. É preciso que se pense o estado na sua totalidade de poder e, conseqüentemente, as suas ingerências na vida dos indivíduos, bem como o conceito, a historicidade e a razão de sua existência. Um setor de extrema importância é o judiciário, mas apenas uma das pontas do sistema: faz justiça em uma linha que inicia com a legislação, passa pela atuação dos advogados, dos promotores e culmina com a decisão do magistrado, mas – para isso - a legislação precisa ser efetivamente justa e o executivo precisa ser justo na distribuição da riqueza, no fornecimento de educação, saúde, saneamento, cultura, enfim: perspectivas de uma vida com qualidades. Ou seja: o estado inteiro existe para a justiça, ou não é estado, mas um comitê de defesa dos interesses de alguns.

segunda-feira, 25 de julho de 2016

Educação: Escola e Família

Atualmente parece consenso pelo mundo a fora que a solução para as sociedades que esperam resolver seus problemas políticos, econômicos e sociais seja a educação. Alguns até estabelecem uma relação direta entre a construção de escolas e a de presídios como se os governantes tivessem que optar de imediato, nesse sentido, sobre quais os caminhos a seguirem. Certamente que a solução para as sociedades subdesenvolvidas é a educação; entretanto, é preciso que se pense: o que é isso, a educação? O primeiro embate é no estabelecimento da diferença, ou semelhança, entre aquilo que os pais fazem, em relação aos seus filhos, e o que se pratica nas escolas. Se os professores são educadores, alguns pais entendem que a educação deve vir, primordialmente, da escola; por outro lado, se a criança tem pais e tem casa, alguns professores entendem que a educação deve vir primordialmente de casa. E assim por diante. Ora, é preciso que se pense a diferença entre o conceito de ensinar e o de educar; nesse caso, explicitando a correlação entre a educação que se espera ser realizada na escola e a que se espera vir de casa. Certamente que as duas instituições – casa e escola - são fundamentais na formação do indivíduo, mas o que não tem sido claro são as suas funções, enquanto ações racionalizadas visando preparar o novo indivíduo para a sociedade. As funções da escola estão divididas entre o ensino das variadas ciências, das artes e dos ofícios, e a educação no sentido da formação social do indivíduo pensando os seus valores. Acontece que é na casa que o indivíduo surge como ser do mundo e que as personagens encontradas são as responsáveis pelos seus primeiros contatos com a sociedade; é ali que se dá ao novo indivíduo (ou deveria dar) as primeiras instruções de existência, de normas morais, de valores; é ali que se deve ouvir os primeiros sim e os primeiros não. À escola cabe, além das ciências, das artes e dos ofícios, um segundo passo – porém não menos importante. A escola deve mostrar ao indivíduo que, além da família, o mundo é formado por uma sociedade mais ampla e complexa, que ele vai ter de conviver com pessoas muito diferentes e que é apenas mais um. Cabe a instituição escolar mostrar, mais profundamente, que existem limites nas relações dentro dessa sociedade, agora mais ampla e que algumas coisas lhes são lícitas, aceitas pelo grupo, mas que outras não. A educação é sim um rico instrumento de elevação das sociedades, desde que mostre a esse novo indivíduo que as suas as ações devem ser livres, criativas e transformadoras, porém que nunca venham ferir os interesses do grupo.

sexta-feira, 22 de julho de 2016

Pessoas Cinzas, Normais

Algumas pessoas vivem um dia após o outro sem dar qualquer sentido as suas existências como seres que seguem uma caminhada, sem saber ao certo para onde vai, ou porque vai; seguem sem projetos, resolvendo cada situação que aparece da forma que lhe for possível. São existências cinzas, inodoras e insípidas, muito diferentes das pessoas que estabelecem projetos para suas vidas e lutam por eles a cada dia, a cada instante. Essas pessoas são cinzas porque seguem não os seus projetos, mas os projetos de outros, de sistemas prontos e difundidos, como se fossem a própria verdade; se não lutam pelos seus próprios projetos, mas fazem seus os projetos que lhe são apresentados. Entretanto, não sabem disso e vivem cada dia como se todos fossem iguais; são cinzas porque não passam pela vida, antes a vida passa por eles. E mais, essas pessoas acreditam serem livres, mas não o são porque não percebem a história acontecendo fora de sua janela. Tais pessoas repetem o que outras iguais também já ouviram, repetiram e acreditaram em pontos também repetidos; seguem como suas verdades aquilo que a turba midiática expôs e, assim, faz tudo seguindo a multidão atônita. As pessoas cinzas, normais, se desesperam quando se olham nos espelhos e percebem que os cabelos embranqueceram ou caíram, que as rugas chegaram e a carne flácida denota que o tempo passou, mas que seus projetos não aconteceram. E o tempo inclemente não para; antes, pelo contrário, passa a todo instante carregando a tudo e a todos do nascimento para a morte. Os humanos devem ser os únicos seres que se percebem enquanto seres dessa caminhada. Se não levarem a cabo os seus próprios projetos, se não se percebem enquanto seres dessa caminhada, seres da história, são o mesmo que as pedras, as árvores e os porcos, seres sem história que caminham do nascimento para morte, mas não se percebem enquanto tal. A única forma de ser livre é se perceber como ser da cultura, fazer história e lutar por seus próprios projetos Homens e mulheres são seres que existem e se percebem como seres da existência; se nessa percepção dão sentidos às suas vidas vivem no que se poderia designar como a verdadeira liberdade. Caso contrário, serão apenas mais um número nas estatísticas governamentais: pessoas que nascem, vivem e morrem sem saber porque, como ou qual o sentido de tudo isso.

quarta-feira, 20 de julho de 2016

Heidegger, Nazismo e Filosofia

Um dos maiores pensadores de um passado recente foi o alemão, Martin Heidegger, um estudioso que se debruçou sobre a existência do humano – esse ser que pensa e tem consciência de si. Foi Heidegger quem criou o conceito de “dasein”, uma expressão originada do Alemão para o “ser aí”, o ser que pensa, que entende o que se passa ao seu redor, que se angustia “como um ser que caminha para morte”. A sua obra principal foi Ser e Tempo, mas outras foram também bastante importantes como Introdução à Metafísica, 1953, Que Significa Pensar?, 1964, e Fenomenologia e Teologia, de 1970; a obra completa foi editada na Alemanha em 70 volumes. Mesmo que cedo tenha se tornado um dos filósofos mais conhecidos recusou uma proposta para atuar em Berlim, e sua influência se estendeu – além da Filosofia – à Teologia, à Psicologia, à Antropologia, ao Direito e às recentes linhas pós-modernas. No entanto, a sua disponibilidade em colaborar com o regime nazista, em 1933, aceitando o cargo de reitor da Universidade de Friburgo, em substituição a um colega, opositor ao regime, abalou o seu prestígio. Também contribuiu para esse abalo o fato de comparar o serviço do saber na escola superior ao serviço militar e funcional. Em 1946 as autoridades francesas de ocupação alemã retiraram-lhe a docência, mas lhe foi restituída em 1951. O certo é que, mesmo sendo indiscutível a sua contribuição para o pensamento filosófico na busca do entendimento da existência, quando afirma que primeiro vem a existência e depois a essência, a sua passagem pelo momento nazista maculou-o como filósofo. Muitos pensadores que surgiram nas décadas seguintes e que utilizaram suas descobertas filosóficas, souberam distinguir muito bem (como foi o caso de Sartre) aquele alemão que esteve junto ao Partido Nazista e o grande filósofo do século, mas muitos não o aceitam até hoje, principalmente os de ascendência judaica. Inúmeros livros foram escritos denunciando aquilo que seria o escândalo do século: o grande pensador alemão, citado e estudado pelo mundo a fora, foi um intelectual que colaborou com o regime de Hitler. Para esses, o seu pensamento do “dasein” (o ser aí) a consciência do ser, trás incrustado o vírus fortalecedor e estruturador de uma ideologia germanófila. Na verdade algumas pessoas encontram em tudo aquilo que querem encontrar; a filosofia de Martin Heidegger é um profundo estudo do humano enquanto único ser que existe e que pensa na sua existência, no seu nascimento e na sua morte e até imagina uma vida pós-morte, se alegra e se angustia. Suas descobertas são uma arma poderosa de entendimento do homem; uma arma que pode ser usada nas mais variadas possibilidades.

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Saudade

A existência dos humanos é acompanhada de uma mistura de sentimentos que direciona seus pensamentos para um “bem querer” posicionado no passado e uma espera contínua de voltar a encontrá-lo: a saudade. Diz-se que tal palavra só existe no idioma Português, mas isso não livra aqueles que usam outro idioma da experiência do sentimento; mesmo que tais pessoas, na tentativa de se aproximarem do conceito com palavras como nostalgia, lembrança ou memória, essas nada mais são que os conteúdos da saudade. Por que a expressão só existe no Português? Ninguém tem uma informação definitiva e clara. Mas se sabe que saudade é uma das palavras mais presentes na poesia de amor da língua portuguesa, bem como na música popular brasileira e portuguesa; talvez surjam das inúmeras histórias lusas do “além mar” e as lembranças da terra pátria, da amada e dos filhos. Saudade descreve um sentimento que, por sua vez, trás um conjunto de outros sentimentos, como o de perda, de falta, de distância e de “bem querer”. A palavra vem de solidão que no latim era "solitas” ou “solitatis", que no Português arcaico se usava a palavra “soledade”, mas que teria se transformado em "sodade” e que viria a ser, mais tarde, a saudade; é bem provável que tenha ainda a influência das palavras saúde e saudar. Isso porque, na formação do termo, o vocábulo sofreu uma aproximação entre o sentimento de solidão e solitário com o ato de receber, de acalentar e que, por sua vez, é um sentimento traduzido com os termos oriundos de "salute” e “salutate". Saudade se sente de algum lugar, de algo, ou de alguém que esteve presente na vida do agente, mas que, por algum momento, se foi; quando esse sentimento acontece com relação a algum lugar se espera continuamente um retorno, mas que - enquanto não volta - o som e o cheiro permanecem presos na memória, se aguçam e, com isso, a pessoa experimenta uma vontade imensa de voltar a vê-lo; quando acontece com relação a objetos mantém-se uma contínua necessidade de reencontrá-lo ou readquiri-lo. Mas, de tudo isso, o mais forte é quando o sentimento acontece com relação a pessoas que fizeram parte importante na vida de alguém. Algumas pessoas se vão para sempre e, nesse caso, a tristeza é forte e permanente já que não mais retornarão, mas, outras se espera, um dia voltarão e o seu retorno é sempre um alívio e vem sempre acompanhado de uma felicidade muito grande, impossível de se narrar em prosa.

sexta-feira, 15 de julho de 2016

A Segunda Guerra e o Tripé Ideológico

Um tema que, mesmo tanto tempo depois, permanece obscuro nas discussões históricas e políticas, são os motivos que levaram o mundo à primeira e à segunda guerra, bem como suas ideologias implicadas e os interesses econômicos envolvidos. Para entender seria necessário, alem do conhecimento histórico, econômico e cultural, também os conceitos políticos de direita, esquerda, estados totalitários e autoritários. Primeiramente é preciso saber que os membros participantes do grande teatro de guerra que marcou a o século 20 foram três: os socialistas, os fascistas e os imperialistas. De um lado estavam os primeiros dessa lista - um grupo composto dos países da União Soviética, do outro, a Alemanha, a Itália, o Japão e, por fim, do lado, estavam os Estados Unidos, Inglaterra e França; lembrando que todos contavam ainda com países sob suas influências. O circo armou-se ainda no século 19, quando países passaram a ser chamados de imperialistas devido às suas políticas expansionistas, de exploração da matéria prima e mercado consumidor para além de suas fronteiras; na mesma época que outros, entravam em luta armada com o propósito de fazer uma revolução socialista. Nesse período, mesmo prezando por uma economia de mercado, mas desconfiados dos encaminhamentos de um capitalismo liberal que dominava os mais variados mercados pelo mundo a fora, posicionavam-se contra os outros dois os então chamados fascistas. Aliás, formava-se aí um tripé de países com posições econômicas, sociais e políticas antagônicas entre si. No princípio, mesmos desconfiados entre si, os grupos celebraram os acordos mais variados: os ingleses fizeram uma série de pactos com Berlin e Roma, Moscou celebrou tratados com Berlin e Londres etc; mas a verdade é que ninguém estava interessado em obedecer os tais acordos. No fim das contas, com a segunda guerra em curso, prevaleceu a aproximação entre socialistas e imperialistas, ou seja: Estados Unidos e Inglaterra (a França estava completamente tomada) se aproximaram da Rússia e suas repúblicas soviéticas, com o intuito de vencerem o inimigo comum, Alemanha, Itália e Japão; uma frase do primeiro-ministro inglês a época, Winston Churchill, caracteriza bem essa realidade: “Se Hitler invadisse o inferno, eu faria pelo menos uma referência favorável ao diabo na Câmara dos Deputados”. Enfim, os derrotados foram os fascistas com suas políticas nacionalistas de limpeza étnica, levando os vitoriosos a repartirem entre si os territórios de influência e, no final do grande evento, ditarem ao mundo as suas verdades.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

O Jovem e a Força Transformadora

Politicamente, em uma democracia participativa, é um processo natural a divisão entre esquerda e direita, entre progressistas e conservadores, ou entre revolucionários e reacionários, como queiram. Nos sistemas totalitários essas posições não ficam muito claras tendo em vista a repressão aos sistemas de comunicação, bem como aos órgãos formadores de opinião como as escolas, os sindicatos e os partidos políticos. Até o momento não se tem notícia de estudos acadêmicos dando conta de que uma determinada sociedade seja mais ou menos conservadora, assim como, se existe ou não, alguém mais ou menos conservador nas relações de gênero. O que existe mesmo é uma percepção nítida de que os jovens tendem a uma busca desenfreada por mudanças sociais e políticas, militando desde cedo nos centros acadêmicos, enquanto os mais velhos tendem a uma maior ponderação e cautela. Essa percepção fica mais clara quando se observa determinados pensadores em que se detectam profundamente a diferença entre suas juventudes e, eles mesmos, nas vidas – ditas – maduras: Wittgenstein, Marx, Kant, Platão e tantos outros, se costuma estudar citando-os como o jovem e o velho. Isso acontece porque na juventude os sonhos se afloram e o homem tem profunda sede de viver; acredita ele ser possível fazer algo melhor do que aquilo ao qual se depara. A grande tristeza ocorre é quando o jovem se mostra conservador, medroso e reacionário; são como homens emasculados a serviço dos seus senhores, podados em suas forças naturais. Alguns se tornam reacionários por influências de famílias, de escolas ou de igrejas, outros por interesse de suas classes, mas sempre com a pura desinformação da história. Nenhum assume tal posição por deduções lógicas. É tristeza porque, se do velho se espera o cuidado e a cautela das ações, é do jovem que se espera o impulso vivo que derruba as muralhas do medo, do preconceito e do conservadorismo. Se a esquerda é uma força política, vanguarda que tem como ponta de lança as transformações da ordem política, social e econômica e a direita, uma força reacionária a essas mesmas transformações, é inconcebível ouvir jovens se auto-proclamando de direita. Cortar do jovem a sua força transformadora é como matá-lo ainda na adolescência é pô-lo a viver em uma velhice antecipada; alimentar o jovem com ideias conservadoras é o mesmo que roubar-lhe a sua juventude.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

O Hábito e o Monge

Um dito popular, muito lembrado no Brasil, afirma que “não é o hábito que faz o monge”; uma referência aos religiosos católicos que usam vestes diferentes, de acordo com suas congregações. Mas a frase vai muito além do catolicismo fazendo inferência aos trajes de qualquer indivíduo e afirmando que esses não determinam sua retidão, honradez, capacidade intelectual e dedicação. Mesmo que repitam a frase com insistência, a verdade é que as pessoas continuam a acreditar que, necessariamente, o hábito determina quem é o monge. Uma pessoa com roupas novas, passadas, barba feita e sapatos lustrados tem acesso permitido, mais facilmente, em diversos setores, e será mais facilmente contratado para os melhores cargos que aquela que, por ventura, não esteja nessas condições. Alguns órgãos públicos não permitem o acesso de pessoas vestindo camisetas, bermudas, calçando chinelos de dedos ou descalças, acreditando que em determinados recintos as pessoas devem vestir-se “de acordo com o ambiente”. Entretanto, esse “de acordo” é de acordo com o pensamento daquele que entende que o “hábito faz o monge” e que a parte exterior expressa algo do íntimo das pessoas. Aliás, padres e pastores não celebram suas missas sem as devidas indumentárias, como se essas os aproximassem das vontades dos seres divinos; assim como juízes, promotores e advogados insistem em realizar julgamentos populares envoltos em capas pretas, como se essas os aproximassem mais do sentido de justo ou da essência do direito. Da mesma forma são os deputados e senadores se vestem de terno e gravata como se assim estivessem mais próximos da vontade do povo que, por sua vez, dificilmente se veste de tal maneira. De outro lado, alguns intelectuais, cientistas e artistas acreditam que devem deixar suas barbas e cabelos crescidos ou pintados de forma diferente - alguns mudam as vestes – tentando, com isso, se diferenciarem dos outros, como se assim expressassem mais aquilo que querem ou que pensam. Isso remonta os períodos mais antigos e medievais em que as túnicas determinavam as origens sociais e públicas de cada um; ou, com o surgimento do capitalismo em que a burguesia enriquecera, mas sem importância dentro da sociedade, fazia-se necessário a ostentação com vestes riquíssimas e jóias para assim serem aceitos entre os nobres.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

O Amor e o Ódio

O amor e o ódio são dois daqueles conceitos de tal complexidade que já levaram inúmeros psicólogos e filósofos a se debruçarem sobre o tema, assim como tantos dramaturgos, romancistas e poetas já os cantaram, mas todos já sabiam de antemão que, nem de perto, chegariam a esboçar algo que os explicassem. Os dois conceitos são provenientes da paixão, um sentimento que embriaga o agente de tal modo que obscurece os seus sentidos fazendo-o tomar as decisões que seriam estranhas caso agisse com a razão. Acontece que a paixão e a razão são os dois braços de uma mesma existência; dois vetores andando lado a lado, mas antagônicos, nos direcionamentos das ações: pontos eminentemente humanos tendo em vista que são determinações que fogem do controle dos instintos. Ou seja: a ação oriunda da razão é fria, é aquela que dirige os destinos do indivíduo calculando todos os passos, todas as decisões, enquanto a paixão surge como uma força interna que, quando intensa, acontece de forma tal que o homem, contraditoriamente, se desumaniza. O amor e o ódio são, então, os dois componentes da paixão também expressos como duas forças antagônicas – uma de coesão e, outra, de repulsão; quer dizer: se um quer o objeto para si o outro, pelo contrário, luta para desfazê-lo. O que faz uma pessoa se tornar amorosa é a mesma força que o faz odiar; aquele que ama intensamente seu objeto pode de alguma forma, torná-lo odioso dependendo das relações que se estabelecem. Mas se o ódio pode ser estabelecido como uma força de repulsão; ou seja: quem odeia, odeia de uma forma só: as pessoas podem agir diferentemente, mas seus sentimentos são os mesmos, o que não acontece com seu contrário. Diferente, o amor, que sendo uma coesão, pode acontecer de inúmeras formas: o amor filial, o fraterno, o amor erógeno (amantes) e a amizade e todos podem acontecer com diferentes intensidades e disposição para atendê-los. A intensidade pode ser mais forte em algumas pessoas enquanto, em outras, pode ser mais amena; tudo indica que isso acontece a partir de origens biológicas e culturais: parte, fruto da herança e, parte, do convívio social. Mas o mais estranho naquele que ama, como naquele que odeia, é que, quanto mais intenso for, mais haverá fuga da razão de tal modo que o agente não consegue medir as conseqüências de suas ações, bem com perderá sua capacidade de entendimento estético: o objeto de amor do amoroso é sempre belo, assim como o objeto de ódio do odioso sempre será feio.

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Os Humanos e a Violência

Se violência é o ato de violar significa dizer que esse ato deve ser desempenhado por uma vontade da razão; sim, porque aos leões e aos tigres não se pode atribuir tal ato já que suas ações são resultados de uma determinação biológica ou de uma necessidade existencial. Da mesma forma, não se pode atribuir violência às cheias, ao terremoto, ou à ventania já que esses fenômenos são frutos de uma fatalidade, um evento natural, o mesmo que fez surgir tudo que existe e do jeito que existe; o que se atribui o nome de violência natural é, na verdade, o resultado sofrido por rios, lagos e córregos, com os dejetos lançados nesses locais, desmatamentos ou encostas ocupadas irregularmente. Sendo assim, algumas questões aparecem: seria a violência uma condição humana? Quais as ações que se pode qualificar como tal? Ou ainda, se a resposta da primeira pergunta é afirmativa, o que leva os humanos a atitudes violentas? Ora, se os humanos são os seres dotados de razão, necessariamente apenas os humanos são violentos. Nesse caso, a noção de humano e desumano, como parâmetro do bem e do mal, cai por terra. Acontece que as atitudes desse humano são ações deliberadas por necessidades decorridas de situações sociais do mundo que o cerca, bem como da estrutura biológica herdada que segue o seu curso natural. Isso porque ninguém está sozinho no mundo e a sua arte, os seus mitos ou as suas ações – de um modo geral – contaminam aos outros e se contaminam, de modo que ninguém fica fora dessa construção permanente. Quer dizer: se os humanos são seres da razão isso não significa uma autonomia da vontade já que essa razão não age liberadamente, mas que cada humano experimenta fenômenos recebidos pelos aparelhos sensoriais diferentes e vivem momentos diferentemente entre um e outro. E é nesse jogo das experiências individuais, dessa percepção individual, que se constrói o mundo social; nesse mundo se encontra a violência. A repressão ao crime, mais efetivos policiais, mais presídios, mas armamentos, são importantes, mas nada mais são que uma tentativa de estancar a realidade produzida naturalmente pela sociedade. Toda sociedade produz violência e de toda forma; é preciso que se entenda a história de um dado grupo para conhecer os resultados que se seguiram. Algumas sociedades tomaram seus caminhos e são o que são devido a uma serie de fatores que desembocam na maneira de querer, de respeitar, de obedecer ou de decidir etc; outras tomaram outros caminhos parecidos ou muito diferentes.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Como as Pedras Que Rolam

Se tudo que existe segue uma ordem, aparentemente não de alguém ou de algum sistema, mas de uma fatalidade organizadora, significa que é indecifrável, muito além das deliberações da razão. Assim, explicações das origens das coisas são de ordem dogmática e teológica pela impossibilidade do estabelecimento de parâmetros e como forma de acalmar os espíritos sofredores que buscam respostas sobre suas existências. Físicos, biólogos e antropólogos debruçam-se encima de casos querendo explicar racionalmente cada coisa, suas origens e seus funcionamentos; com isso, a humanidade avançou tecnologicamente, mas esses cientistas nada conseguem dizer dos porquês de tudo funcionar do modo como funciona, ou de tudo ser aquilo que é. Acontece que as angustias humanas pairam exatamente encima de suas perguntas mais fundamentais e que, desde a sua origem, dirigem a humanidade na sua tentativa de entender a própria existência: o como? e o por que? A primeira pergunta está preocupada em destrinchar o funcionamento de algo, é uma busca para entender de que maneira se processa tal evento utilizando-se de perguntas: como se estuda isso? como o som se propaga? como os seres se agrupam? etc. A satisfação dessa busca tem acontecido, ao longo dos tempos, com a construção de um entendimento que possibilita o controle dos fenômenos. Já a segunda pergunta amplia a angustia formando um vazio na consciência pela inexistência de respostas satisfatórias, de modo que distancia os humanos de um entendimento de si. Essa pergunta quer saber por qual razão são as coisas do jeito que são ou, qual motivo de tal coisa ser o que é; mas as respostas não satisfazem, dando origem a ainda mais angustia. Acontece que as mais apuradas pesquisas empíricas nada explicam sobre isso aos humanos, nada acrescentam ontologicamente. A razão de tudo que existe pode-se estabelecer assim como as pedras que rolam ladeira abaixo e que fatalmente irão se adequar umas às outras, algumas por cima, outras por baixo ou lado a lado, de modo a formarem uma ordem independente de suas vontades. E é dessa maneira que a existência de todos os elementos do universo que se agrupam, se deslocam e se adéquam de forma a serem aquilo que são. Os humanos são os seres que seus cérebros construíram, uma mente, e - essa - uma consciência de suas existências que, por sua vez, se angustia com a inexistência de respostas de si e de tudo que está a sua volta. Esquecem que suas existências, com toda a carga biológica e sociológica, fazem com que sejam aquilo que são, assim como as pedras que rolaram, elemento a elemento formaram-se aquilo que se são. Se as pedras rolassem de modo diferente, tudo seria diferente, tudo seria outro e não aquilo que é.

sexta-feira, 1 de julho de 2016

Ontem e Hoje, História e Mudanças

Que a história do mundo está passando por momentos cruciais, muito parecidos com aqueles de outrora que mudaram substancialmente os rumos da população todo mundo sabe: as grandes navegações, a revolução francesa, a revolução russa, a primeira e a segunda guerra mundial e outros. Não se quer dizer que a história seja previsível, ou que a roda da Fortuna siga sempre o mesmo percurso, de modo que se possa afirmar uma situação apenas observando as ocorrências anteriores, mas que seu estudo pode levar a percepção de fatos semelhantes e que, se leva a crer, vai desembocar em outras mudanças tão ou mais profundas. Isso porque o mundo hoje passa por ocorrências importantes como o desligamento da Inglaterra da União Européia, o acirramento de ânimos entre países ocidentais e o Oriente Médio, além da emergência de sociedades que até pouco tempo não passavam de meras economias subdesenvolvidas. Fatos esses que evidenciam mudanças profundas, verdadeiramente nos moldes do que se viveu em outros momentos. Além do mais, e como conseqüência desses fatos, observa-se o retorno de posições políticas xenófobas e programas governamentais nos moldes fascistas, de exclusão daqueles, com os quais, não se comungam as idéias. Por exemplo, as explosões ocorridas nos últimos anos em países europeus e estadunidense mostram o acirramento dessas concepções, muito próximas do que se viveu no período das duas grandes guerras mundiais. Acontece que os fatos vividos em uma época projetam-se em outros, mas que esses, por sua vez, acontecerão de forma diferenciada já que encontram sempre outros ingredientes. E, como se fosse um fio, a história segue tornando inevitáveis algumas preocupações, naturais a todo aquele que espera paz e justiça social. Isso porque, numa seqüência de ação e reação, a dominação de povos ricos sobre pobres obedece uma lógica perversa que explode em rebeldia, mas que os resultados são sempre uma constância de ainda mais miséria, mais segregação, mais fome e mais morte. E, se tais fatos não fossem suficientes, pode-se por nesse caldeirão do mundo atual as pitadas de fragilidade das instituições (tanto internacionais quanto nacionais) como nunca vistas na sociedade moderna. Homens e mulheres são seres da história, isso quer dizer: suas ações, seus discursos e posições políticas fazem ou não uma história melhor; fazem ou não uma sociedade melhor. E, assim, a história segue seu percurso com os seus inevitáveis confrontos, avanços e retrocessos sem se repetir em modelos exatos; aos seus atores, resta saber que precisam de entendimento para se posicionar.