segunda-feira, 4 de julho de 2016

Como as Pedras Que Rolam

Se tudo que existe segue uma ordem, aparentemente não de alguém ou de algum sistema, mas de uma fatalidade organizadora, significa que é indecifrável, muito além das deliberações da razão. Assim, explicações das origens das coisas são de ordem dogmática e teológica pela impossibilidade do estabelecimento de parâmetros e como forma de acalmar os espíritos sofredores que buscam respostas sobre suas existências. Físicos, biólogos e antropólogos debruçam-se encima de casos querendo explicar racionalmente cada coisa, suas origens e seus funcionamentos; com isso, a humanidade avançou tecnologicamente, mas esses cientistas nada conseguem dizer dos porquês de tudo funcionar do modo como funciona, ou de tudo ser aquilo que é. Acontece que as angustias humanas pairam exatamente encima de suas perguntas mais fundamentais e que, desde a sua origem, dirigem a humanidade na sua tentativa de entender a própria existência: o como? e o por que? A primeira pergunta está preocupada em destrinchar o funcionamento de algo, é uma busca para entender de que maneira se processa tal evento utilizando-se de perguntas: como se estuda isso? como o som se propaga? como os seres se agrupam? etc. A satisfação dessa busca tem acontecido, ao longo dos tempos, com a construção de um entendimento que possibilita o controle dos fenômenos. Já a segunda pergunta amplia a angustia formando um vazio na consciência pela inexistência de respostas satisfatórias, de modo que distancia os humanos de um entendimento de si. Essa pergunta quer saber por qual razão são as coisas do jeito que são ou, qual motivo de tal coisa ser o que é; mas as respostas não satisfazem, dando origem a ainda mais angustia. Acontece que as mais apuradas pesquisas empíricas nada explicam sobre isso aos humanos, nada acrescentam ontologicamente. A razão de tudo que existe pode-se estabelecer assim como as pedras que rolam ladeira abaixo e que fatalmente irão se adequar umas às outras, algumas por cima, outras por baixo ou lado a lado, de modo a formarem uma ordem independente de suas vontades. E é dessa maneira que a existência de todos os elementos do universo que se agrupam, se deslocam e se adéquam de forma a serem aquilo que são. Os humanos são os seres que seus cérebros construíram, uma mente, e - essa - uma consciência de suas existências que, por sua vez, se angustia com a inexistência de respostas de si e de tudo que está a sua volta. Esquecem que suas existências, com toda a carga biológica e sociológica, fazem com que sejam aquilo que são, assim como as pedras que rolaram, elemento a elemento formaram-se aquilo que se são. Se as pedras rolassem de modo diferente, tudo seria diferente, tudo seria outro e não aquilo que é.

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