sexta-feira, 8 de julho de 2016

O Amor e o Ódio

O amor e o ódio são dois daqueles conceitos de tal complexidade que já levaram inúmeros psicólogos e filósofos a se debruçarem sobre o tema, assim como tantos dramaturgos, romancistas e poetas já os cantaram, mas todos já sabiam de antemão que, nem de perto, chegariam a esboçar algo que os explicassem. Os dois conceitos são provenientes da paixão, um sentimento que embriaga o agente de tal modo que obscurece os seus sentidos fazendo-o tomar as decisões que seriam estranhas caso agisse com a razão. Acontece que a paixão e a razão são os dois braços de uma mesma existência; dois vetores andando lado a lado, mas antagônicos, nos direcionamentos das ações: pontos eminentemente humanos tendo em vista que são determinações que fogem do controle dos instintos. Ou seja: a ação oriunda da razão é fria, é aquela que dirige os destinos do indivíduo calculando todos os passos, todas as decisões, enquanto a paixão surge como uma força interna que, quando intensa, acontece de forma tal que o homem, contraditoriamente, se desumaniza. O amor e o ódio são, então, os dois componentes da paixão também expressos como duas forças antagônicas – uma de coesão e, outra, de repulsão; quer dizer: se um quer o objeto para si o outro, pelo contrário, luta para desfazê-lo. O que faz uma pessoa se tornar amorosa é a mesma força que o faz odiar; aquele que ama intensamente seu objeto pode de alguma forma, torná-lo odioso dependendo das relações que se estabelecem. Mas se o ódio pode ser estabelecido como uma força de repulsão; ou seja: quem odeia, odeia de uma forma só: as pessoas podem agir diferentemente, mas seus sentimentos são os mesmos, o que não acontece com seu contrário. Diferente, o amor, que sendo uma coesão, pode acontecer de inúmeras formas: o amor filial, o fraterno, o amor erógeno (amantes) e a amizade e todos podem acontecer com diferentes intensidades e disposição para atendê-los. A intensidade pode ser mais forte em algumas pessoas enquanto, em outras, pode ser mais amena; tudo indica que isso acontece a partir de origens biológicas e culturais: parte, fruto da herança e, parte, do convívio social. Mas o mais estranho naquele que ama, como naquele que odeia, é que, quanto mais intenso for, mais haverá fuga da razão de tal modo que o agente não consegue medir as conseqüências de suas ações, bem com perderá sua capacidade de entendimento estético: o objeto de amor do amoroso é sempre belo, assim como o objeto de ódio do odioso sempre será feio.

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