quarta-feira, 30 de novembro de 2016

A Morte, o Sentido da Vida

Atônitos, os homens tentam entender a efemeridade do seu existir. Ele percebe que tudo passa tão rapidamente. Parece que há poucos anos ainda era jovem, moço e, agora, desponta para uma idade avançada, quarenta, cinqüenta, sessenta anos. E, com isso, as perguntas fatais lhe percorrem a mente: como é o fim, a morte, o não existir? Por que viver se o sentido é o não existir? Perguntas comuns a qualquer ser que existe e insiste em pensar. Acontece que todos morrem. Por mais que se estique a pele, que se implante cabelo, ou que se perfume muito ou tome banho de rosas, cada um vai morrer. Por mais que se lute contra um câncer, contra a AIDS, que se faça fisioterapias, exercícios na academia, ou que se coma verduras e carne branca, cada um vai morrer. Cada um vai morrer porque o caminho natural de todos os que existem é, em algum momento, o não existir. E o interessante é que as pessoas passam todo o seu tempo tentando caminhar ao longe de tais questões e se, por ventura, alguém trazê-las à baila, de pronto é rechaçado. Alguns vivem apenas poucos minutos e param ali mesmo, outros demoram mais, chegam a juventude ou a vida adulta; outros chegam perto dos cem anos e, alguns até ultrapassam. Certas pessoas carregam uma doença por determinado tempo e se percebem definhando no dia a dia, enquanto outros enfrentam o peso do tempo e ficam perplexos com a chegada da velhice. Alguns morrem sem esperar, sem perceber que o tempo findou, muito rapidamente deixam de existir em meio às ferragens ou outros destroços. Mas se a morte é o destino que aguarda a todos, talvez o segredo da eficiência no seu combate seja um viver da forma melhor possível, um viver que atenda os próprios anseios e necessidades. E, assim, como um florista que arruma cada flor, com cada vaso nos seus lugares e borrifa água, dando mais expressão às flores, para que o conjunto agrade o freguês, assim também é preciso que se pense na estética da própria existência: cumprindo direitos e deveres como membro da sociedade, mas com respeito próprio, com dignidade. É preciso entender que o contraste do dia é a noite, assim também o que contrasta com a morte é a vida. Portanto, é preciso que se viva liberto das convenções culturais, ideológicas ou de mercado (apesar de que algumas dessas também podem dar sentido a vida), mas ocupando os espaços de sua própria existência, fazendo e buscando o sentido do que está a volta. E isso precisa ser feito antes que tudo se vá; ou: antes que as luzes se apaguem.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Os EUA e a Liberdade Entre os Povos

Após a Segunda Guerra Mundial, o novo alinhamento político e econômico dos países estabeleceu um novo conceito de liberdade entre os povos: estar ou não alinhado ao que pregam os Estados Unidos da América. Esse país se utilizou de todas as armas possíveis e imagináveis para dirimir os destinos dos povos e, ao longo de algumas décadas, conseguiu impor noções de validade, tanto estética, cultural e educacional, quanto econômica, política e social, a uma boa parcela da população mundial. Isso aconteceu de modo que qualquer governante que não segue a sua cartilha, com a sua noção de sua democracia, é condenado pela imprensa mundial, alinhada a eles, como “ditadores sanguinários e opressores do seu próprio povo”. Não é um alinhamento ditado pela força hegemônica, coerente, dentro de uma concepção autentica, mas é um alinhamento que tem apenas o favorecimento econômico, unilateral. Os países latino-americanos, durante o período ditatorial em que viveram com governantes ligados umbilicalmente aos interesses estadunidenses, eram vistos pela grande mídia como livres. As torturas, os desaparecimentos, as perseguições políticas e a censura aos modos de expressão, nesse caso, não foram observados e os povos foram considerados livres. A partir dessa concepção, mais tarde, o Iraque - antes da invasão dos Estados Unidos, sem o consentimento da ONU - não eram livres e agora são; o Irã, nos tempos do Xá Reza Pahlevi era livre, agora, nos tempos dos aiatolás, não o são. Na Líbia, de Muammar Gaddafi, o povo não era livre, mas agora, vivendo o grande exemplo de anomia, com os grupos matando-se uns aos outros, são livres; explicação: a Líbia é um solo encharcado de petróleo, a ser explorado, valendo milhões de dólares. Cuba, desde a independência com José Matí, esteve atrelada aos Estados Unidos, inclusive constitucionalmente; cada governante tinha que pedir a bênção para o irmão do Norte e nessa concepção, o povo era considerado livre. Depois, quando a Revolução de 1959 pôs fim a esse mando, a imprensa estadunidense e boa parte da mundial, passou a enquadrá-lo como um povo não livre. O que define se um país é livre não deve ser a noção cultural ou política (ou interesse econômico) de um ou outro povo, mas a capacidade de autodeterminação. As pessoas, dentro de suas formações culturais, podem ou não aceitar os encaminhamentos de outras sociedades, mas não se pode com isso rechaçar, inferiorizar o outro só por ser diferente. A política de cada país diz respeito apena aos cidadãos do referente país.

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Santa Catarina de Alexandria

Catarina de Alexandria, canonizada pela Igreja Católica Copta, posteriormente pela Igreja Romana, empresta seu nome para província brasileira de Santa Catarina. Vivera no Egito, em Alexandria, na foz do rio Nilo, no início do século 4 da era cristã. Ela era uma princesa de origem macedônica e trazia no nome uma característica de persistência e dedicação naquilo que estabelece como suas metas: catarina – no Grego antigo, significa aquele que sobrevive em meio a ruínas. Alguns historiadores relatam que sua vida de cristã primitiva fora marcada por dificuldades; ela demonstrara com a vida tais características de tenacidade e dedicação frente às agruras na defesa da fé. Ainda jovem, convertera-se ao pensamento revolucionário vigente, o tal cristianismo, mas fora ordenada por Massimino, então imperador da Roma do Oriente, a abdicar de tais preceitos religiosos. Não foi possível; a moça se manteve firme na defesa de seus ensinamentos. Irado e sem entender a força desse novo pensamento, o imperador convocara 40 doutores renomados, naquela cidade de alta sapiência, para extirparem tais ideias estranhas da princesa Catarina, mas, num jogo reverso, conta-se que ela convertera os doutos pensadores alexandrinos ao cristianismo. Quando o imperador Massimino soubera da conversão de todos os seus 40 doutores, além de também a sua esposa e mesmo de alguns dos seus mais altos funcionários, determinou a morte imediata da bela Catarina. Era esse um período crucial para a fé cristã, a “Boa Nova”, um pensamento que se inseria por todos os recantos do antigo Império Romano (do Oriente e do Ocidente) que se esfacelava a cada instante. Uma nova concepção religiosa poderia ser fatal, pensavam eles. A partir desse ponto, ciência e fé, história e religião se fundem em um dogma católico para relatar o martírio da princesa. Contam antigos sábios que duas imensas rodas de madeira foram construídas, para, em movimentos opostos, levarem o corpo de Catarina a ser esgarçado de ponta a ponta. Antigos textos de Alexandria dão conta de que, nesse instante, um raio caíra espatifando por completo as tais rodas e os soldados mataram-na a golpes de espada. A seguir, anjos teriam transportado seu corpo ate o monte Sinai, onde um mosteiro fora construído em sua honra. Entre o mito, a religião e a história se sabe que persiste ate os dias de hoje o mosteiro em sua homenagem. Quando o navegador italiano, Sebastião Caboto, aportou no litoral catarinense, em dia 25 de novembro de 1503, era dia de Santa Catarina de Alexandria; ele não teve dúvida em nomear Terras de Santa Catarina.

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Os Sofistas e a Medida de Todas as Coisas

Um dos grandes embates, de ordem filosófica, na antiguidade, eram os ataques mútuos, entre socráticos e sofistas. Acontece que, para os socráticos (Sócrates, Platão, Aristóteles, e outros), existe de uma verdade absoluta a ser perseguida: uma verdadeira justiça, uma verdadeira ética, um verdadeiro amor etc. E isso era contrário ao que afirmavam os sofistas; para eles não existia algo definitivo a ser buscado como uma única verdade. Os sofistas questionaram a sabedoria recebida pelos deuses reverenciados por todos, assim como a supremacia da cultura grega. Eles argumentavam que as práticas culturais existiam em função das convenções humanas e que os atos morais ou imorais, não poderiam ser julgados fora do seu contexto na sociedade em que ocorreu. Eles ensinavam que todo e qualquer argumento poderia ser refutado por outro argumento e que a efetividade de um dado discurso reside apenas na verossimilhança perante uma dada platéia. Os sofistas, na antiguidade Grega, eram mestres pensadores que viajavam de cidade em cidade se apresentando em praças públicas e arenas, fazendo discursos e atraindo discípulos para seus ensinamentos. O foco do seu pensamento se concentrava no logos, ou discurso, ou estratégias de argumentação. Eles alegavam que podiam educar seus discípulos nesse pensamento, pois a virtude seria passível de ser ensinada. Entre os grandes nomes sofistas, Protágoras (492 aC. - 422 aC.) e Górgias (483 aC. - 376 aC.) estão entre os mais conhecidos. Protágoras foi o primeiro a aceitar pagamento por seus ensinamentos, o que seria uma desonra para os pensadores gregos. É dele a conhecida frase "o homem é a medida de todas as coisas” e retrata com clareza os ensinamentos sofistas. Para a história do Direito foram eles os primeiros advogados do mundo, pelo fato de cobrarem dos seus clientes para efetuar suas defesas, devido a sua alta capacidade de argumentação. Os sofistas são também considerados, por alguns cientistas políticos atuais, os guardiões da democracia na antiguidade, tendo em vista que aceitavam a relatividade da verdade; isso porque a aceitação do ponto de vista do pensamento alheio é a pedra fundamental da democracia moderna. Independente de qualquer preconceito formado contra os sofistas, eles foram os primeiros a romperem com a preocupação pré-socrática de uma constituição física da natureza em uma unidade originária (a physis), iniciada ainda com Tales de Mileto. Alem do que, foram eles os grandes provocadores do pensamento grego, que levaram Sócrates, e outros de sua época, a pensarem o homem e o seu meio.

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Partido Político

Apenas duas formas de gerir uma sociedade pairam diante do espectro da administração pública: só um indivíduo (um grupo, uma categoria) se impõe sobre os demais, ou se atua em coletivo, de uma forma participativa. O primeiro caso foi comum na antiguidade e veio até o início da era moderna, com governantes de poderes absolutos e legitimidade divina; o segundo, complexo e difícil de se manter, é o que se tem de mais grandioso da inventividade política humana. Esse último caso ficou conhecido como processo democrático, em que cada indivíduo é um cidadão, porque é o próprio indivíduo é único que pode decidir por si mesmo e, em nenhum momento entrega o destino de sua vida às mãos de alguém ou de um grupo, em especial. Só que, para isso, faz-se necessário a organização social já que é inviável todos os membros da sociedade reunirem-se a decidir suas necessidades. Aí surge o fenômeno partidário, como forma de escolher aqueles que vão representar o cidadão, chamado apenas de partido político. Esse nome se deve ao fato de ser uma agremiação que representa uma parte da sociedade com uma tal necessidade em pauta e que acabam se configurando nas bancadas parlamentares de deputados e senadores: sindicalistas, católicos, ambientalistas, evangélicos, gays, afro-descendentes, mulheres, índios etc. Seus temas vão: da preocupação com o meio ambiente, ou o respeito às diferenças raciais e às práticas religiosas, até ao investimento em educação, cultura e defesa salarial. Alguns desses temas perpassam vários partidos políticos, outros, se caracterizam por serem opostos uns dos outros. Nisso se configuram o que chamam como partido de esquerda, de direita ou de centro. A lógica é essa e uma democracia necessita disso para se atuar decisivamente na gestão de uma sociedade. A grande dificuldade para esse encaminhamento é a falta de instrução política que leva as pessoas a declinarem de seus direitos cidadãos e a entregarem suas vidas a “salvadores da pátria”. Na ignorância política o melhor mesmo é entregar o destino nas mãos de alguém e deixar que ele faça aquilo que melhor lhe prouver e resmungar pelas redes sociais. Caso contrário, deve atuar politicamente nos movimentos sociais, nos partidos, nas igrejas, nas escolas e nos sindicatos construindo a parte da história que lhe cabe.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

O Estado, o Capitalismo, a Ciência, a Imprensa e o Fim da Modernidade

O Estado, o Capitalismo, a Ciência, a Imprensa e o Fim da Modernidade Um a um, os alicerces da modernidade vão sucumbindo: a economia, baseada no modo capitalista de produção, o cientificismo mecanicista e suas pretensões de verdade enfraquecem dia a dia juntamente com o esfacelamento do estado burocrático e as suas divisões de poder bem como a imprensa, como um sustentáculo ideológico. As pretensões que o substantivo “moderno” carregou de novo, de atual, se perdeu e passou a definir aquilo que pertenceu a uma época, mas que já faz parte do passado. O modo capitalista de produção, que durante muito tempo lutou contra todas as iniciativas socialistas, como se fosse um confronto entre o bem e o mal, se esvai e deixa, como seu legado, apenas um fetichismo monetário e a sua correlata sede de ostentação. Falam-se muito, nos dias atuais, em empreendedorismo, mas o que de fato se encontra, cada vez mais, é uma vontade de possuir bens supérfluos e, assim, ostentá-lo. A ciência com seu racionalismo, que nesse período se apresentou como a “virgem vestal”, a única possuidora das chaves da sabedoria, já dá lugar a uma transdisciplinaridade em um pensamento que admite a falibilidade de qualquer método positivista. Então, fica cada vez mais evidente que se reproduziu na modernidade as pretensões de verdade tal qual a Idade Média. Por outro lado, o esfacelamento do dito estado moderno, organizado com os seus três poderes, torna visível hoje que essa instituição já não consegue mais assistir, proteger ou mesmo representar, o indivíduo. Isso porque a máquina estatal, em suas variadas áreas, virou um espaço de atuação ideológica e de interferência no setor político; além do que, virou em espaço em que filhos da classe média se aferram aos seus cargos, ressaltam “direitos adquiridos” e fecham-se em um espírito de corpo. Se a modernidade criou um burocratismo acéfalo, criou também um sistema de informação conhecido como imprensa, que durante muito tempo nada mais foi que um excelente nicho de mercado. Durante esse período, ricaços da comunicação viam suas contas bancárias crescerem, ao mesmo passo que, com suas forças jornalísticas, moldaram (ou ainda moldam) a política de determinadas sociedades. Com o advento da internet caíram as assinaturas e, com elas, os ganhos, o prestígio e as interferências políticas. Não é de hoje que os alicerces começaram a cair; acontece que nos últimos tempos tudo ficou mais evidente. Diante disso só resta repensar todos esses temas: economia, estado, imprensa e ciência; para ficar apenas nos principais sustentáculos.

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Liberdade

Quando Immanuel Kant, racionalista que era, se confrontou com o pensamento empirista de David Hume estava levantada uma das questões fundamentais que deu forma à filosofia moderna: a relação entre o homem e a sua liberdade. A pergunta que se formou foi: os homens são verdadeiramente livres, portanto responsáveis por seus atos, ou tudo que fazem são resultados de algo anterior? Na idade Média e na Idade Antiga já se falava em livre-arbítrio – não fosse assim não poderia haver a ideia da culpa, do pecado e de toda estrutura moral - mas o pensamento político, de um modo geral, estava atrelado ao religioso. Portanto, foi só na modernidade que o conceito, perseguido pelos iluministas, seria determinado pela a razão; somente a razão estaria a frente de todas as buscas por conhecimento, decisões e acordos. O homem seria, então, o único ser livre, já que dotado da razão. A raça humana se elegeu, nesse período, como aquela que encontrou a verdade, ou, que através da razão, teria os métodos necessários para encontrá-la; doravante, estaria coberta pelo “manto de aço” da razão, portanto, “condenada à liberdade”. A era moderna levou tão profundamente essa relação entre razão e liberdade que proclamou o momento como o período da maturidade humana e tudo que houve anteriormente como momentos de mentalidade adolescente ou infantil. E quando Kant se defrontou com o pensamento de Hume percebeu que o empirismo do pensador escocês não abria espaço para o conceito de liberdade. Se tudo se relaciona a partir de causa e efeito, tudo que é, só é por conta de algo que já acontecera anteriormente. Para o empirista, todas as decisões políticas e ideológicas de um indivíduo só acontecem por uma formação ocorrida a partir de tudo que recebeu em sua mente, através de seus aparelhos sensoriais. Kant, então, pensou na necessidade de enfatizar a existência da liberdade, uma tradição ocidental, construída há séculos, e sem ela não se poderia pensar a ética ou o direito. O pensador alemão reafirmou sua proposição afirmando que nem tudo que se pensa é resultado exclusivamente da recepção sensorial, mas também fruto da crítica e os juízos produzidos na mente. Portanto, pode haver liberdade, sim. Mas, mesmo assim, ele ressalvou que a liberdade é um daqueles conceitos paradoxais, impossíveis de ser destrinchado, o que chamou de uma das “antinomias da razão”.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Direita, Nacionalismo e Conservadorismo

Nesses tempos em que o mundo parece dar uma meia volta à direita, em que se elegem novos governantes, alguns assumem via golpe, ou assumem via armas, mas identificados com uma política conservadora, de manutenção da ordem e dos “bons costumes”, convêm que se repense, com cuidado, o conceito de nacionalismo. Principalmente se levar em conta que, sob a égide desse pensamento, já se libertou muitos povos, mas também já se matou, manipulou, invadiu e escravizou tantos outros povos. Em primeiro lugar, para se pensar a respeito é necessário que se conceitue antes o termo nação como, mais correntemente, se designa: um povo com identidade étnica e cultural; dessa forma, nacionalismo é uma corrente de pensamento de valorização dessas identidades. A auto-valorização dos costumes e ancestralidade dos povos remontam às sociedades mais antigas. No entanto, o nacionalismo, tal qual se desenha nos tempos atuais, remonta às teses político-ideológicas em que pesa um sentimento de valorização do mercado e a sua identificação com uma dada nação, surgidas após a Revolução Francesa. O nacionalismo, portanto, é uma ideologia fundamental na história, a partir da primeira fase Revolução Industrial, quando os estados nacionais se tornaram a forma de organização político-cultural que, no Ocidente, substituiu o sistema feudal. Os países, cujos povos foram formados a partir de uma multiplicidade de expressões nacionais, costumam substituir o termo por patriotismo, considerado mais uma manifestação de amor pelo território, bem com aos símbolos integradores como o hino, a bandeira, suas instituições e/ou representantes. Enfim, toda forma de aglutinação, de exaltação de um povo é bem-vinda. O grande problema é quando, qualquer pensamento dessa natureza, extrapola o sentimento de valorização do grupo para cair numa xenofobia. Nesses tempos de assunção de governos inclinados para direita – quando o Oriente Médio mantém líderes calcados na força e um estado como o de Israel opressor contra os Palestinos é aceito pacificamente, quando a América Latina é varrida por uma força conservadora, quando a Europa se surpreende com a ascensão de novas formas de nazismo e os Estados Unidos da América elege um declarado conservador teme-se que se repitam ações do passado, sabidamente erros de prepotências e crenças na superioridade de grupos.

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Para Repensar o Estado

Desde os tempos da Grécia antiga se pensa na fragmentação do poder em dois ou mais partes e que esses funcionem de maneira harmônica e independente como forma de impedir a um indivíduo, ou a um grupo de seus iguais, que assumam o comando da sociedade. No princípio da Idade Moderna, vários teóricos ocidentais debruçaram-se sobre o tema no esforço pela busca de uma solução que substituísse a centralização do sistema absolutista vigente. Foi quando o Barão de Montesquieu, em sua posição clássica afirmou em O Espírito das Leis que: "...tudo estaria perdido se o mesmo homem ou o mesmo corpo dos principais ou dos nobres, ou do povo, exercesse esses três poderes". O que ficou consolidado no Ocidente foi a sua proposta da divisão em três partes, Legislativo, Executivo e Judiciário, implementado de forma diferente em cada sociedade de acordo com as necessidades históricas. No entanto, essa fragmentação em três partes nunca fora comungada por todos os grandes pensadores; por exemplo: Georg Friedrich Hegel, em Filosofia do Direito, propõe que o Executivo abarque também o Judiciário. Nesse caso, se estabelece que os juízes não deveriam ter poder de mando, já que fazem um serviço social, o que seria diferente dos outros dois poderes que um tem o compromisso de administrar as necessidades do povo e, o outro, elaboração das leis e a fiscalização. Hegel faz essa proposta de um mando a partir de duas linhas, o Executivo e o Legislativo, seguindo o seu sistema dialético de uma relação entre o particular e o universal. Alguns sustentam que o estabelecimento do Judiciário como mais um poder autônomo se deve a desconfiança sobre os magistrados dos monarcas absolutistas. No entanto, nos tempos atuais, a ressalva que se faz é que a independência de indivíduos, escolhidos por meritocracia, mas sem um controle esterno efetivo e eficiente, criam uma casta de burocratas intocáveis. Além disso, vem o espírito de corpo e a defesa de “direito adquirido” etc. Diante de tudo isso se pode pensar que não existe um modelo de conduzir a sociedade que se possa pensar como perene: cada sistema é adequado para sua época. Os reis absolutistas cumpriram o seu papel, aceito e legitimado, em suas épocas e a atual tripartição de poder também cumpriu o seu papel até as últimas décadas. No entanto, nos tempos atuais, diante do esfacelamento dos poderes constituídos, só se pode pensar que o Estado precisa ser repensado na sua ossatura de poder.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Brasil, Democracia de Contradição

O Brasil vive, nos tempos atuais, uma profunda contradição no que diz respeito ao termo democracia; se por um lado burocratas, escolhidos através de um sistema meritocrático, vão aos holofotes clamar por mais e mais democracia; por outro, indivíduos escolhidos, dito “democraticamente”, insistem em pisoteá-la. Essas contradições, por certo, se dão devido a falta de um cultura política, de um conhecimento antropológico e das relações sociais do próprio povo. E essas contradições se mostram já nas práticas dos congressistas, nas ações dos representantes do Executivo, nas decisões dos juízes, dos ministros e dos desembargadores. Alguns usam de pesos e medidas diferentes, de acordo com as conveniências ideológicas. Na continuação, o cidadão comum, sem muita orientação política, pratica as mais estranhas aberrações sociais: de botar fogo no mendigo que dorme na beira da rua, a se achar no direito de fazer linchamento, ou mandar a presidente tomar no c... etc. Recentemente o País teve, como primeira mandatária, uma senhora sexagenária que foi vilipendiada pela turba, quando não por professores, por jornalistas e outros representantes da sociedade. Frases malcriadas foram escritas em carros e muros, além de adesivos fixados em carros com caricaturas dessa senhora, de pernas abertas ao redor do cano de combustível, passando a ideia de que, em seus órgãos sexuais entrava a gasolina. Em nome também da democracia nada foi feito. Com ninguém. Por mais que falem em direitos, em liberdades e em respeito, sabe-se pouco sobre a vida em grupo e a necessidade do outro para se completar na sociedade. Ubanidade. Os brasileiros não querem democracia. Eles falam muito sobre isso porque acreditam ser um termo importante, já que ouvem falar sobre a sua importância social e política. Nada sabem, já que pessoas foram torturadas e mortas em ditadura militar recente, mas uma parcela insiste que nada de mal aconteceu nesse período e alguns chegam a almejar o retorno. Em nome da liberdade de imprensa, jornalistas já não escondem mais as suas preferências partidárias e destilam ódio nas páginas dos jornais. No entanto, também em nome dessa mesma democracia, a polícia invade uma trupe de teatro que apresentava uma peça mostrando atitude da polícia, sob a acusação dos atores fazerem ”mal uso dos símbolos nacionais”.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Filosofia, Uma Filha do Espanto e da Aflição

Se a primeira forma de pensar, a primeira busca por respostas aos seus anseios foi através do mito, em algum momento ele não foi mais o suficiente e a humanidade buscou um pensamento mais concreto; e isso aconteceu com o surgimento da Filosofia. Nasceram assim os saberes filosóficos, não são saberes utilitários, como ensina o cientificismo moderno que para tudo deve ter um sentido, um direcionamento prático, mas um sentido para a existência. Para começar, uma primeira pergunta: porque o pensamento filosófico nasceu na Grécia, um amontoado de cidades-estado que não eram os mais fortes ou mais poderosos daqueles tempos? Por que não em Roma, na Pérsia, na Índia ou na China? Seria por sua posição geográfica, no centro do mar Mediterrâneo e contatos permanentes com culturas então conhecidas? Alguns estudiosos afirmam que a Filosofia nasceu na Grécia devido a isso e a algumas características próprias da cultura helênica: uma forma de fazer política calcada na democracia, seus governantes não possuíam a legitimidade divina, como os seus contemporâneos; possuíam uma religião de deuses antropomórficos com vícios e virtudes humanas; e não possuíam um livro sagrado, onde se pudessem buscar nele as explicações para tudo que desconheciam. Por que, então, a Filosofia não nasceu na China ou na Índia, povos de culturas milenares, com grandes pensadores existentes entre esses povos como Sidarta Gautama, Laotzé, Confúcio, entre outros? Ora, o que se diz é que toda a produção intelectual desses povos, ao longo dos séculos, foram textos catequéticos, textos de ensinamentos para uma vida de paz e de harmonia, mas isso não seria essa a essência da Filosofia. A Filosofia não é um pensamento apenas interessante e aceito pela maioria das pessoas, ela não traz respostas prontas, mas busca essas respostas e, quando as encontra, se depara com ainda mais perguntas. A Filosofia, ao mesmo tempo, que é um espanto por existir é também um aprendizado com a própria pequenez diante das indagações. E, na busca, o indivíduo, por não ter explicações absolutas e finais, sofre uma aflição continua. Esse ser espantado e aflito é o filósofo que procura, através do pensamento, uma cura para seu sofrimento.

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

O Mito, o Pensamento e a Fé

Uma das características dos humanos é o pensamento. Desde que criou essa coisa chamada consciência quis saber de onde veio e para onde vai. Depois quis saber mais: “quem somos nós esses seres que inventaram a escrita, a arte, a ciência e a religião?” Sem respostas finais, uma aflição penetrou e penetra em sua alma. Foi assim que, nos primórdios da humanidade, a primeira forma de pensar, de buscar essas respostas, foi o pensamento mítico. Sim, os mitos, essas narrativas ficcionais a partir da criação de seres fantásticos, mas que relatam a realidade vivida pelos grupos humanos. Por exemplo, um mito bastante conhecido no Ocidente, desde os tempos antigos é a história de Narciso, um indivíduo que se apaixona por sua própria imagem refletida nas águas de um lago. Esse homem de fato não existiu, mas o seu relato leva a indagações sobre o amor próprio, sobre o amor elo outro; bem como sobre o egoísmo e a própria idéia de mal. Mas é preciso tomar cuidado com o uso do termo, tendo em vista que pode conduzir a preconceitos e a um estranhamento ao diferente. Isso porque, quando as pessoas dão alguma explicação de ordem religiosa, ou cosmogônica, consideram como sendo mito o relato do outro: sua crença é fé verdadeira, a do outro é mito. Se o pensamento mítico é um primeiro passo para o entendimento concreto da existência, num determinado momento esse pensamento deu lugar ao filosófico. Estudiosos afirmam que essa mudança só aconteceu devido ao surgimento da escrita, à positivação da lei e à invenção da moeda. A escrita porque é um fenômeno que não é a coisa em si, mas que a representa e que teve o potencial de arrancar a humanidade da sua oralidade; a lei positiva porque codificou as relações, orientou e o ordenou os grupos; assim como a moeda que tem em si o valor da aquisição de um bem ou de um serviço, mas que não é o bem, nem o serviço. Se a humanidade busca continuamente um pensamento mais concreto e se isso se sedimentou com o surgimento da Filosofia, os mitos não morreram. Homens e mulheres continuam a se impressionar com sua existência, com o mundo a sua volta e estabelece explicações teológicas para a realidade que se defronta.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

O Colono e o Interesse Pelo Estrangeiro

Usado de forma inadequada no Brasil, o termo colono deveria afirmar algo muito diferente do que comumente é pensado, aquele mora no campo e dali arranca o seu sustento. Isso porque, nos primeiros tempos de imigração para a região sul, o trabalhador recém-chegado era estabelecido em núcleos coloniais organizados pelo governo; os quais recebiam um pequeno lote para cultivar. O termo é usado de forma inadequada tendo em vista que a origem e as várias vertentes dão conta que colono é aquele que vive em uma colônia; isso significa que não pertence à terra em que vive, mas àquela a qual a colônia representa. Nesse caso, o colono sabe pouco sobre o país onde vive e de forma atordoada tenta se inteirar de tudo que acontece no país de sua origem. Quando se usa a expressão colonialismo se quer usar o termo como analogia a uma dependência de um povo a outro; ou seja: se tem o corpo em um país, mas se tenta pertencer a outro, se inteirando sempre sobre o outro, vivendo o outro. Esse indivíduo é o colono no sentido de que seus interesses, suas vontades e até suas necessidades, estão direcionadas a um determinado país que não aquele em que nasceu, bem como seus pais e irmãos. Quando o brasileiro vê o seu próprio povo como o mais errado, o mais corrupto, o mais vadio, o mais malandro ou outros termos pejorativos, no mesmo passo que os países europeus e estadunidenses como os mais elevados é colono. Ou: se esse brasileiro não vê a importância na terra onde nasceu, mas tudo faz para conhecer e viver os países economicamente dominantes é colono. Aliás, algumas pessoas ao visitarem, ou manter alguma estada nesses países, chegam ao ponto de se sentirem pertencentes, como se ali fosse sua terra. Enfim, o colono é um sofredor porque é um desterrado, um apátrida. Esse colono é sim um brasileiro, com documento de brasileiro e direito ao voto, mesmo que sua mente queira viver o que acontece lá fora. É um sofredor porque não é, e nunca será, um estadunidense ou um europeu porque nunca serão aceitos como tal; mesmo que por ventura consigam visto de permanência ou até uma nacionalidade serão sempre cidadãos de segunda categoria. É um problema cultural porque muitos pensam dessa forma, mas é também um distúrbio mental, pois acarreta um sofrimento perene. A solução é largar esse sentimento de colono e assumir por completo a terra em que viu nascer e crescer.