segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Filosofia, Uma Filha do Espanto e da Aflição

Se a primeira forma de pensar, a primeira busca por respostas aos seus anseios foi através do mito, em algum momento ele não foi mais o suficiente e a humanidade buscou um pensamento mais concreto; e isso aconteceu com o surgimento da Filosofia. Nasceram assim os saberes filosóficos, não são saberes utilitários, como ensina o cientificismo moderno que para tudo deve ter um sentido, um direcionamento prático, mas um sentido para a existência. Para começar, uma primeira pergunta: porque o pensamento filosófico nasceu na Grécia, um amontoado de cidades-estado que não eram os mais fortes ou mais poderosos daqueles tempos? Por que não em Roma, na Pérsia, na Índia ou na China? Seria por sua posição geográfica, no centro do mar Mediterrâneo e contatos permanentes com culturas então conhecidas? Alguns estudiosos afirmam que a Filosofia nasceu na Grécia devido a isso e a algumas características próprias da cultura helênica: uma forma de fazer política calcada na democracia, seus governantes não possuíam a legitimidade divina, como os seus contemporâneos; possuíam uma religião de deuses antropomórficos com vícios e virtudes humanas; e não possuíam um livro sagrado, onde se pudessem buscar nele as explicações para tudo que desconheciam. Por que, então, a Filosofia não nasceu na China ou na Índia, povos de culturas milenares, com grandes pensadores existentes entre esses povos como Sidarta Gautama, Laotzé, Confúcio, entre outros? Ora, o que se diz é que toda a produção intelectual desses povos, ao longo dos séculos, foram textos catequéticos, textos de ensinamentos para uma vida de paz e de harmonia, mas isso não seria essa a essência da Filosofia. A Filosofia não é um pensamento apenas interessante e aceito pela maioria das pessoas, ela não traz respostas prontas, mas busca essas respostas e, quando as encontra, se depara com ainda mais perguntas. A Filosofia, ao mesmo tempo, que é um espanto por existir é também um aprendizado com a própria pequenez diante das indagações. E, na busca, o indivíduo, por não ter explicações absolutas e finais, sofre uma aflição continua. Esse ser espantado e aflito é o filósofo que procura, através do pensamento, uma cura para seu sofrimento.

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