sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Razão e Liberdade

Quando as pessoas agem, e nessa ação praticam algo, ou por conta disso se calam, o que também é uma ação, o fazem de duas maneiras: uma, quando não há determinação do indivíduo, quando ele faz não querendo fazer tal ação, portanto involuntária e, duas, quando sim, há uma determinação, há uma vontade de fazer. Para isso o idioma Português reservou dois conceitos: inconsciência e consciência. Os dois são o verso e o reverso de condições que acontecem na mente, que por sua conta dá, ou não, liberdade ao indivíduo em suas condutas.
A palavra consciência vem de uma raiz latina, conscientia, que por sua vez vem de consciens eentendida muitas vezes, como "ciência com". Quando aparece relacionada a algo, pode indicar que o indivíduo está ciente de que algo existe. Se vem precedido do prefixo in indica-se apenas uma negação. No entanto, no caso do inconsciente sabe-se que há uma complexidade muito maior e não apenas o de se estabelecer como contrário ao consciente.
Ora, o agir inconscientemente já ganhou uma série de estudos pelas várias ciências da psique humana, mas o que se pode assegurar é que bem pouco se sabe, com garantia, sobre os motivos de uma ação involuntária. Por outro lado, a consciência pensa a si mesma quando aquele que pensa sabe exatamente o que está a fazer, portanto, medindo cada passo, cada decisão tomada.
A pergunta que fica é: seria possível a consciência, dentro de um pensamento de exatidão, de que o ator, em algum momento, pode agir completamente isento, sem interferências emocionais ou culturais? E mais, essa pergunta se sustenta na percepção das naturais fragilidades da constituição humana, nas suas incapacidades de uma isenção total diante das tomadas de decisão.
Isso porque as pessoas, quando agem, mesmo conscientes, ou racionalmente, agem imbuídos de forças determinadas, estranhas ao processo. Disso se pode deduzir que o fato de a consciência ser sustentada como um saber que sabe que sabe pode se admitir, mas não enquanto autonomia da ação. Acontece que ninguém faz algo sem um motivo anterior, como se algo pudesse ser originado do nada. Em outras palavras: a consciência é um saber que se percebe, mas essa percepção vem carregada de estímulos outros que lhes retiram as condições de liberdade.

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

A Informação, os Dados e o Ignorante

A informação, os dados recebidos e enviados, é tão importante para humanidade que é possível pensar que sem ela os humanos não poderiam existir, ou que a formação da pessoa nada mais é que um acúmulo de conhecimentos recebidos ao longo dos tempos. Cada dia, cada instante, as pessoas ouvem, vêm, tateiam, cheiram e degustam e levam ao cérebro as informações recebidas do mundo externo.
Isso acontece de modo que essas tais informações podem se confundir com a própria cultura, assim como com as personalidades dos indivíduos, os seus valores, os seus quereres, as suas vontades etc. No entanto, nessa importância reside uma complexidade detentora de caracteres bastante estranhos entre sim, que tanto pode levar o entendimento do indivíduo a trilhar por um caminho, quanto por outro.
Acontece que se pode pensar a informação como verdadeira ou como falsa, mas também a partir de sua inexistência. Nos dois primeiros casos estão as variações dos dados informados, falsos ou verdadeiros que, se assimilados, darão direcionamentos na existência dos indivíduos. Esses dois vivem uma certa distância entre si que passa pela mentira intencional e todo um arco de subjetividades, todo tipo de interpretações. Por outro lado, a informação falsa,  em especial, seja intencional ou não, pode ser pior para o indivíduo que a detém do que a ausência total de informação, a ignorância.
Isso porque o desinformado, o ignorante, está em melhores condições existenciais que o mal informado, aquele que tem dados errados. Acontece que o desinformado tem a limpeza da alma, a ingenuidade livre dos dados pesados, que se pretendem verdadeiros ou mesmo mal intencionados.
Alias, quando a ignorância vem acompanhada de uma consciência de si, o ignorante estará a caminho de um crescimento do seu saber; apesar de que, para isso, é necessário  que haja uma fenda na ignorância, que possibilite uma desconfiança de que algo a mais existe para além daquilo que se detém. 
A humanidade está, portanto, em meio a complexidade do fenômeno da informação: de uma lado um conjunto de dados, verdadeiros ou falsos, e de outro a sua ausência, a ignorância, que com uma brecha se tem o caminho para a reconstrução cultural em uma sociedade e/ou da personalidade em um indivíduo. No mais, aqueles que detém informações mais próximas do real possível são os que não acreditam serem totalmente informados, detentores dos dados verdadeiros, mas ignorantes, sempre prontos para um outro saber, outros dados.

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Dadaísmo Político

O dadaísmo, uma corrente artística do início do século 20, se pretendia ser uma contra-corrente diante dos descaminhos que percorria a arte de então com a proliferação das inúmeras tendências que se pretendiam inovadoras, mas que se repetiam em si mesmas. 100 anos depois, parece que essa é a melhor expressão para os desmandos políticos e econômicos vividos, muito próximos do sentido que fora pensado em seu surgimento. 
Acontece que a arte é uma forma suprema de expressão, ligada diretamente com todas as outras, da ciência à religião, à comunicação, ao trabalho, assim como também com a política. Está ligada diretamente com a política porque o caminho que a arte segue é o movimento da história, no trilhar dos seus conflitos, das contradições,  das descobertas, dos avanços e dos retrocessos, e o faz como resposta aos anseios e às necessidades humanas.
Ora, o dadaísmo tem sua expressão máxima na origem da nomenclatura: "dadá", o balbuciar de um bebê, enquanto origem humana; e no caos, formado pela história política e social de tempos atuais, só resta o começar de novo. Diante do conceito, há quem fale em um dadaísmo político como a luta por um novo projeto de vida para a sociedade; um projeto que vá ao encontro dos anseios das pessoas, que dê conta das necessidades sociais e econômicas mais prementes.
Nesses tempos, em que se espera das instituições autonomia, isenção, coerência, desprendimento e obediência aos propósitos legais, mais se percebe que cada vez menos esses itens são levados a sério. Resta pensar que se vive uma infantilidade, "dá-dá-dá" e, assim, a necessidade de começar de novo. Não tem outra forma de pensar a política desses tempos de era moderna, patrocinado pelo capitalismo, e a luta humana pela sobrevivência, se não se levar para o deboche, diante da situação risível a qual a vida humana se encaminha.
Vive-se de uma busca insensata, apropriando-se, quando possível, do trabalho alheio, das contribuições públicas, cobradas rigorosamente pelas instituições. E o dadaísmo é uma espécie de "nadismo" diante das incoerências que se observa: trabalha-se cansado, à exaustão, pensando em um dia descansar e quando descansando, começa a morrer. O dadaísmo, começado em Zurique, com Tristan Tzara, em 1916, tem agora a dizer para a política que se vive um nada e se caminha para a morte.

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Nacionalismo, Conceito e Identidade Nacional

O que se chama nacionalismo é uma corrente político-filosófica por demais complexa, mas que, na prática, já impulsionou muitas ações políticas a direita do sistema e a esquerda: guerras, revoltas e revoluções. Acontece que os conceitos, como é esse o caso, são elásticos e se adequam conforme os interesses ou as necessidades dos agentes; ao mesmo tempo que se pode enaltecer, valorizando as expressões culturais locais, pôde-se dirigi-lo para um ideal de supremacia racial e xenofóbica.
Portanto, o conceito em especial precisa ser esmiuçado não só em seus significados políticos e ideológicos, mas em sua construção histórica, com fundamentações ontológicas e reflexão sobre o modus operandi nos tempos atuais. Se a valorização e a identidade do indivíduo com a sua terra natal faz parte do pensamento humano, desde os tempos mais remotos, a defesa do seu povo e do seu espaço geográfico sempre fez parte da formação de cada pessoa; mas foi na modernidade que tomou corpo com um conceito próprio com uma lógica e uma ideia própria.
Sim, a valorização extrema da condição nacional e o próprio conceito de nação, é fruto da era moderna, nascido de um anseio da economia capitalista dos séculos 15 e 16, como forma de estabelecimento de uma segurança jurídica para as transações comerciais. Em outras palavras: a economia capitalista necessitou o estabelecimento de um estado liberal com uma única legislação adequada, uma mesma força de segurança, em um mesmo território e os mesmos princípios morais. Tudo isso só seria possível se fosse alimentado por uma identidade nacional.
Acontece que identidade é um ponto de referência de um grupo de indivíduos, uma espécie de cumplicidade, em um território comum, construído historicamente por séculos e não pela força da vontade de alguns desse grupo. Nesse caso, fica a pergunta: como pode um indivíduo de Santa Catarina, por exemplo, ter aproximação e até cumplicidade com um outro do Acre, apenas porque está dentro de um mesmo cercado? Cercado esse imposto por uma elite política e militar, atendendo aos interesses mais diversos, mas principalmente interesse econômico. 
Ora, o mais coerente seria que as pessoas dos sul do Brasil se aproximassem de povos da região norte da Argentina, como de Missiones e Entre-rios ou de povos do Uruguai e do Paraguai. Independente das vontades políticas e econômicas, identidade nacional se constrói  na proximidade e passa por um conjunto de caracteres  próprios, oriundos dos contatos entre as pessoas, das relações e vivências comuns. E, assim, a identidade de um povo é como o caminho de um rio, forçado por um trajeto que não o seu, mas que em algum momento, tende a retomar o leito natural.

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Entre o Público e o Privado: a Demcracia

Por mais que se fale em democracia - e já se fizeram grandes obras históricas, sociológicas e filosóficas tratando do conceito - sempre há mais o que falar: questionamentos, afirmações, contrapontos, comparações etc. No entanto, o mais intrigante a esse respeito é que, se por um lado se tem tecido tantos comentários a sobre a participação popular e a legitimidade, nada ou pouco se tem dito sobre a subjetividade que envolve os dois lados da moeda, o governante é o governado.  
Se a sociedade é de todos, não há de se negar que a ação democrática expõe, por si só, uma mediocridade política; afinal, o escolhido representa também uma parcela dos desinformados, daqueles que não conseguem perceber sua importância. Eis aí, o grande debate: a maioria não pode se arvorar como a detentora da verdade. E isso fica claro nos entreveros que ocorrem nos vários espaços de discussão: pessoas sem qualquer leitura sobre o tema, sem qualquer capacidade de análise, se acham no direito de argumentar mesmo que esse seja sem nexo.
E surge então, a pergunta fundamental, e muitas vezes inesperada: alguém na sua individualidade subjetiva teria um direito moral, ou algo que o valha, que lhe dê legitimidade para se impor aos demais através de armas ou discursos ideológicos? E mais, de onde viria essa legitimidade? E caso haja, as ações  políticas dos membros da sociedade sobre essa governança deveria ser vigiada, organizada e instruída? Se assim fosse, ainda seria democracia?
Um dos pontos cruciais no caminho do fazer político é o número de indivíduos a decidirem ações, o que leva a uma demora nas decisões, ou a decisões abortadas, ferindo de vez o quesito eficiência. Por isso deve ser dito que há uma dicotomia no trato do conceito, tendo em vista que ninguém é o dono da sociedade, ninguém é um amo, um senhor, mas todos devem ser responsabilizados pelas ocorrências.
Se as pessoas são membros da sociedade e, se têm responsabilidades pela sua condução, cada um é, além de uma entidade pública, também uma entidade privada. Isso significa que a sociedade é formada por determinado número de humanos, seres conscientes, diante de duas linhas de ação: os interesses públicos e os privados. E aí, começa a complexidade, pois cada um tem como valor maior a sua própria vida e, em seguida, o valor da vida dos seus, o que pesa aí os interesses particulares, em detrimento dos coletivos.
É preciso então que haja nos cidadãos uma noção de tal modo que o interesse público seja ainda o interesse coletivo; quer dizer: as ações do coletivo devem ser boas porque no coletivo está também o interesse daquele que por hora pensa. Nesse caso, é preciso que o público e o privado encontre um ponto de intersecção, caso contrário, por mais que se use a nomenclatura, a sociedade estará vivendo uma aristocracia, uma oligarquia ou qualquer sistema desses, menos uma democracia.

segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Responsabilidades: Indivíduos e Sociedade

Os indivíduos existem em todas as suas particularidades, cada em um mundo nas subjetividades, cada um é uma realidade a parte e isso, em nenhum momento, se pode esquecer isso, mas fazem parte de uma sociedade com uma cultura, com costumes, com tradições. Se percebe isso quando determinados fatos ocorrem em repetidas vezes, caracterizando como realidades não de um indivíduo, mas do um grupo.
Para analisar essa relação indivíduo-sociedade é preciso considerar que o indivíduo está na sociedade tanto quanto a sociedade está no indivíduo e quando se analisa situações repetidas com membros de uma mesma sociedades isso precisa ser levado em consideração. Acontece que as pessoas desempenham papéis nos grupos e, dependendo desses papéis, terão tais e tais atitudes. 
A grande prova disso é o debate que se faz em torno do trânsito nas grandes cidades: a violência é imputada aos motoristas, como se esses fossem seres de fora da sociedade e, autonomamente, tomam a decisão de dirigirem de tal forma. Partindo dessa premissa, fazem-se campanhas pedindo a consciência no trânsito e os resultados  são nulos. 
Acontece que o mesmo indivíduo que, em algum momento, é motorista de automóvel, em outro é motociclista, ou é ciclista, ou é pedestre e todos são partidários de uma mesma concepção de mundo. Aquele que em algum momento tem dificuldades para atravessar uma rua a pé, quando está com o carro, ou com a motocicleta, praticará as mesmas ações de um motorista inconsequente, se for ele também uma pessoa irresponsável.
O mesmo se faz quando se tece críticas ao sistema político, quando as acusações são sempre para aqueles que estão à frente dos poderes constituídos, como se fossem pessoas decidas de um outro mundo, completamente apartadas do restante do povo. Ora, as atitudes indevidas, praticadas por aqueles que detém cargo público, são as mesma praticadas por empresários, por acadêmicos, por profissionais liberais, por operários e segue a extensa lista.
A divisão da sociedade entre bons e ruins prejudica a análise na sua profundidade, nas suas raízes. Podem-se dividi-la nos vários ramos de atuação que os indivíduos desempenham, mas não se pode esquecer de uma totalidade, nas praticas de ações de acordo com as oportunidades. Em uma análise da sociedade não pode haver um pensamento maniqueísta, como se houvesse uma luta entre o bem e o mal. Todos, cada indivíduo, fazem parte desses males, assim como todos fazem parte desse bens. 

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Arte ou Não Arte

Os humanos vivem e, enquanto vivem, necessitam se expressar, mostrar para ao mundo exterior os seus sentimentos e fazem isso como uma  forma de interpreta-lo em suas frustrações, em seus acertos e desacertos. E as formas de expressão podem ser de inúmeras maneiras: das orações do fiel ao seus deuses, às interpretações científicas, aos discursos políticos, às elocubrações filosóficas, às exposições de arte.
Mas se a filosofia nasceu do espanto e, a ciência, da necessidade, a arte nasceu da percepção de si e do mundo à sua volta. É como se o artista, ao contemplar o mundo, sentisse a necessidade de subtrai-lo para em seguida devolvê-lo com suas impressões, com suas marcas.
Os humanos fazem arte como característica de sua essência. Todos fazem arte. Acontece que alguns vivem para o ofício e esses são sensíveis para os fenômenos da natureza. Eles vivem para a função e oferecem ao mundo uma reinterpretação, ao desfazê-lo e refazê-lo e, por isso, o artista é rebelde por essência. 
A arte não tem como objetivo ser um cópia fidedigna das verdades, como o gravurista que não reproduz a paisagem com exatidão o que está exposto, ou os movimentos da dança que não pretendem ser reproduções exatas dos movimentos comuns dos humanos, ou a interpretação das personagens da sociedade que não pretendem ser verídicas. A arte, enquanto tal, pretende mostrar um novo movimento, uma nova interpretação das personagens ou uma nova pintura em novas distribuição de cores etc. A arte é, portanto, um constante experimento.
O grande conflito sempre foi o das possibilidades, ou o não, do  entendimento da expressão estabelecida pelo artista por parte dos cidadãos comuns que muitas vezes, desconhecem o que é expressado, da técnica usada ou ao tema em referencia, e rechaçam acusando a obra de uma não arte. Algumas expressões artísticas estão mesmo de acordo com os referências estéticos do espectador e, por isso, se mostram agradáveis, como é o caso daquilo que se dizem uma bela peça teatral, uma bela composição musical, uma bela pintura etc.
No entanto, algumas obras, ao contrário, existem para por "lenha na fogueira", provocar as questões da existência que, até então, não foram expostas e é aí que muitos a rechaçam. Nesse ponto a arte se aproxima da filosofia, já que ela não tem a pretenção de ser entendida, mas de ter provocado o debate. De ter provocado a pergunta e a busca por um, sempre novo, entendimento.
Portanto, é louco aquele que pensa poder entender um artista, ou sua arte, porque é impossível afirmar com convicção se um trabalho é ou não é arte. Para tal, seria preciso que se estabelecesse uma relação direta entre a obra executada, o artista executor, a sociedade em questão e  a necessidade do espectador, em especial. Impossível, pois a arte pode ser desde um quadro pintado com o motivos de deuses, anjos e imperadores, ou sons de árias produzidos por grandes orquestras, até rabiscos em pano velho, sons tirados com o sopro em uma chaleira ou batidas em uma lixeira.

quarta-feira, 13 de setembro de 2017

O Eu e o Nada

Muito já se falou dos comportamentos das pessoas, do que elas querem em seus grupos, ou nas suas particularidades, sobre as atitudes divergentes da maioria da sociedade e chamaram de doenças a essas divergências e produziram remédios ou procedimentos que prometem o reestabelecimento da "normalidade". Muitos cientistas psicólogos, psiquiatras, sociólogos, antropólogos e tantos outros, se debruçaram a explicar as variadas atitudes que levam a determinadas práticas humanas em grupos ou dos indivíduos nas suas particularidades.
A despeito do que já se descobriu da fisiologia cerebral, as teorias elaboradas sobre a psiquê humana são bem próximas de zero diante da complexidade que a estrutura mental se mostra. Mas é a própria mente que, na sua individualidade, tenta entender a si própria, mas se percebe como algo distante de alguma metodologia em uma justa medida que dê condições à compreensão de si.
E essa mente, ou esse espírito que anima a existência, o que percebe é que é prisioneiro de si mesma, que é detentora dos seus próprios conhecimentos apenas e que, no máximo, faz conjecturas sobre as outras mentes, sobre outros espíritos, mas nada muito profundo que consiga generalizar a ponto de entender não apenas a si própria, mas a totalidade dos seus iguais. Então: o que é a mente? Não a mente do João, da Maria ou do José, da Ana, mas uma generalidade da Mente que se possa pensar que entende o gênero humano.
Acontece que cada Joao, cada Maria, cada José têm uma carga de informações, de valores, de capacidades próprias, diferentes de cada um dos outros indivíduos que se apresentem. Mas cada um nunca consegue expor a essência do que propriamente sente naquele exato instante, ou de toda a sua existência. 
Esse espírito se percebe enquanto tal. E, assim, se percebe como sendo ele próprio um mundo imenso inexplorado e diferente dos demais mundos mentais a sua volta. Nasce, vive e morre sem conhecer a outra mente e, não conhecendo a outra, não conhece a si própria, apenas percebe que existe. E, aí, vive uma consciência que nada mais é que um espírito que se bate sobre a face do abismo, sobre a face do nada e vive à espera do fim; vive como expressa a oração Católica , "os degradados filhos de Eva, gemendo e chorando nesse vale de lágrimas".

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

A Existência, as Mudanças e o Controle

A partir de um criticismo kantiano, disseminado por todo o pensamento ocidental, alimentado pela dialética hegeliana e, ainda mais, refinado pelo pensamento marxista, a ideia de transformação foi alçada, chegando ao senso comum como uma necessidade incontestável. Mas para cada um dos três pensadores citados, a noção de transformação tomou um sentido diferente, cada um com uma nova interpretação da história. 
Se para um as mudanças acontecem dentro de uma naturalidade, de modo que tudo não passa de conhecimentos que se reelaboram, que se confrontam, transcendendo os fatos em si, para outro, são as ideias que se chocam e saltam dialeticamente, em continuas transformações, enquanto que para terceiro, as necessidades materiais é que entram em conflito com o sistema vigente e provocam a destruição do que está posto.
Acontece que essas noções chegaram ao senso comum como uma necessidade de mudança apenas pela mudança e passou-se a louva-la como tal, sem um nexo para que essas aconteçam. E aí, as pessoas passaram a cantar a mudança sem se perguntar o que deveria mudar e como deveriam ocorrer essas mudanças e os "slogans" se multiplicaram: "tente, invente, faça diferente".
O grande perigo quando um conceito é dito e repetido inúmeras vezes, é que se distancia do sentido e das nuances pensadas originalmente e toma rumos não só estranhos, mas contrários ao que se pretende. Certamente que todas as existência mudam constantemente e se faz necessário que se aceite como natural, mas entre entender como um fenômeno natural, e inevitável, e louvar as mudanças sem ter um porquê, um sentido, é muito diferente.
Se as mudanças são inevitáveis, se a roda da fortuna não para, convém que se saiba, ou pelo menos que se queira buscar algum entendimento no sentido de saber transitar por esse caminho. Com relação às transformações não se trata de querer, ou não, elas são inevitáveis, o que a existência de um ser dotado de consciência necessita é não impedir que as mudanças aconteçam. 
Ao contrário, o que precisa é entendê-la para, se possível, conduzi-la como quem conduz um barco a deriva em alto mar e o faz seguir seu caminho. Em outras palavras: aceitar que as mudanças aconteçam não significa louva-las, sejam elas quais forem, ou aceita-las, seja lá quem for que esteja no controle. Na história é preciso ação firme dos indivíduos na constante reelaboração dessas mudanças. 

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Circo: Espírito e Corpo

Se o teatro é uma forma de fazer uma espécie de arte complexa e elevada, tendo em vista que o que está em jogo é o espírito criativo a elaborar personagens a partir de formas adequadas de colocar o rosto, o tronco, os braços, as pernas e a voz em uma sincronia na sua totalidade, a atividade circense se eleva por colocar tudo isso a serviço da graça, da diversão e da empatia. Sem contar que faz tudo isso numa relação próxima e direta entre o artista e seu público.
Aliás, um dos fenômenos mais elevados que os humanos inventaram, e que os caracteriza enquanto tal, é a arte nas suas mais diversas formas. A arte é a condição de um espírito livre que possui apenas o corpo como ferramenta em forma de expressão. Uma comunicação direta e diferente, mas necessária, pois é nessa condição que se estabelece a relação direta entre as variadas formas de expressão do espírito e o corpo, tanto daquele que expressa, quanto daquele que recebe. Ou seja: um condição em que os espíritos são sintonizados.
Acontece que o artista expressa desde seus aparelhos sensoriais, as suas agilidades corporais, suas formas de sonoridades diversas, de imagens plásticas, de criações literárias, de construções arquitetônicas, de movimentos corporais e de interpretação de personagens etc. Isso porque o humano cria em uma relação direta entre a sabedoria do espírito e a agilidade do corpo. Os indivíduos expressam desde as artes e ofícios, em o seu labor do dia a dia, na transformação da natureza em bens de uso, até as mais variadas e difíceis formas de expressão artística.
Portanto, a diferença do circo para o espetáculo teatral é que, nesse caso, os movimentos corporais não estão a serviço da construção de uma personagem de modo que expresse o tipo de de indivíduo adequado para a história a ser contada. No circo o próprio movimento é  a arte: prender alguém por uma corda a voar pelo picadeiro ou alcançar a cabeça com o pé de uma forma a dar graça e, com ela, a beleza.
Sem contar que a graça e a beleza na maioria das vezes é feita em atividades de extrema periculosidade e diante de uma plateia embevecida que observa fixamente cada movimento. Portanto, é no circo que espírito do artista se expressa conectado diretamente  com o espírito do espectador quando põe o corpo a prova em extremas condições humanas, unindo criatividade, graça e perigo.

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

Entre Canalhas e Imbecis

Dois tipos de indivíduos se inserem na sociedade, deixam a normalidade de lado e prejudicam substancialmente a sua funcionalidade: o canalha e o imbecil. O primeiro, destoa motivado por uma série de interesses próprios e o segundo, sem noção do que acontece, segue porque a maioria disse que é por esse caminho que se deve seguir. Acontece que viver em sociedade é mais do que viver apenas, de maneira isolada; viver em sociedade é conviver - viver com alguém.
Significa que há a necessidade de levar em conta o outro, aquele que também tem as mesmas necessidades, vontades e frustrações e, diante disso, o canalha tem uma atitude e o imbecil tem outra. Enquanto um pensa em sempre em levar vantagem, alterando tudo conforme os seus interesses, o outro, se deixa persuadir e auxilia a prejudicar a si próprio e aos demais.
Isso porque há uma diferença essencial entre o caráter desses dois tipos de indivíduos frente ao que acontece às suas voltas. Enquanto um, o canalha, sabe que esse é sua condição e a essência de sua canalhice está em desrespeitar o outro na tentativa constante de levar vantagens; o imbecil, não sabe da sua imbecilidade e se por ventura vier a saber, por isso mesmo, deixará de ser imbecil.
Entre uma e outra condição parece não existir meio termo, um quase canalha, ou um meio imbecil, mas também não se é simplesmente ou uma coisa ou outra; no canalha há um pouco de imbecilidade em maior o menor grau por perceber, ou não, a importância de ser justo na sociedade e isso implica na eficiência, ou não, em sua malandragem. No caso do imbecil, também há, mais ou menos, um percentual de canalhice por preguiça mental de não se movimentar e tentar pensar diferente do que se tem pensado até então.
E as direções que uma sociedade toma, avança ou retrocede, tem a ver com o número de imbecis e de canalhas entre seus membros. Como pode tomar um rumo adequado, e necessário, uma sociedade composta de um grande número de canalhas, ou um grande número de imbecis? Enquanto alguns fazem tudo para levar vantagens, os outros contribuem para isso e pensam estar fazendo o melhor.
O que fazer? Os canalhas são mais facilmente detectáveis porque são em menor número e, ao quererem sempre vantagem, deixam rastros; os imbecis são uma esmagadora maioria, e mesmo que se detecte não tem como convencê-los de suas imbecilidades. A dificuldade é conviver entre canalhices e imbecilidades e se sentir um indivíduo comum, ou até se sentir um pouco mais para um lado ou mais para o outro.

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

O Judiciário, a Politca e a Impacialidade

Os ideólogos do estado moderno haviam pensado, inicialmente, dois poderes - legislativo e executivo - como autônomos e complementares, mas a desconfiança no executivo fez acrescentarem um terceiro, o judiciário.  Os dois primeiros foram pensados como setores propriamente da política, de modo que os seus integrantes deveriam ser recrutados através do voto da maioria da população; esse último não ficava claro, mas se sabiam que não pode sofrer influências política.
Os teóricos pensaram dessa forma como a única maneira de viabilizar um sistema que se pretendesse democrático; ou seja: se o legislativo e o executivo são por essência, canais de debate e da efervescência partidária, onde os anseios da população estão expressos, quem poderia fazer uma possível mediação se não um poder autônomo e alheio aos conflitos postos? O judiciário na essência não é democrático, mas é fundamental para que haja a democracia. 
E aí, surgem os pecados de cada um dos poderes que impossibilitam qualquer sistema que tenha como intenção ser plural, libertário, democrático: 1) executivo - o mandatário ser empossado por qualquer instância que não seja através do voto; 2) o legislativo - não estar fundamentado em pluralidade partidária e não haver uma oposição forte e bem intencionada; 3) o judiciário - não buscar uma neutralidade, tomar partido diante dos conflitos, ir para além do que reza, unicamente, a lei.
Certamente que os favorecidos, no caso do judiciário cambar para um lado, vão fazer sua defesa afirmando que a justiça fora feita, mas aí o que impera é um sistema viciado. Cabe, então, aos homens que estão a sua frente executarem os seus serviços com discernimento suficiente para entenderem que em uma sociedade a democracia só é possível com a existência do equilíbrio.
Em outras palavras, aquilo que não se aceita para o legislativo e para o executivo, a imparcialidade, é exatamente o que se espera do judiciário por um motivo lógico que é o de julgador do conflito. E não só deve ser isento, como deve tudo fazer para parecer isento, pois o setor subsiste da credibilidade; a sua legitimidade reside na crença da imparcialidade. A postura de seus membros diante das lente de fotógrafos e cinegrafistas, ou mesmo em rodas de amigos, pode destruir a imagem de isenção. Enfim, a democracia só é possível se esses poderes funcionarem de maneira harmônica, mas cada um na sua função: os dois primeiros se assumem como representantes de parcelas da população e, esse último, o judiciário, como árbitro, o representante da lei. Unicamente da lei.

sexta-feira, 1 de setembro de 2017

Os Humanos, Suas Existências e a Comunicação

O que diferencia os humanos dos demais animais é a sua capacidade de se perceber no mundo junto aos demais seres, animados e inanimados; ele se percebe como um ser que existe, entende os seus próprios medos e frustrações. E aí, a grande questão é, como se chegou a esse ponto de se diferenciar imensamente dos outros seres? Para ele, nesse estágio, já não bastava estar ao lado do outro igual, mas precisava transmitir a esse outro os seus entendimentos, os seus acordos e os desacordos. Eis que surge a comunicação.
Acontece que com essa percepção o humano desenvolve seu corpo (tronco, olho, boca, rosto, braços) para se expressar, juntamente com um complexo aparelho fonador e um sistema de sinais capaz de emitir dados ao seu interlocutor muito próximos de uma exatidão. E vai mais longe, percebe que não é só a fala que diz algo em uma comunicação, mas todo o corpo, sem contar com a firmeza, a entonação e mesmo a repetição de palavras. 
Com a comunicação o humano aprofundou a sua maneira de pensar, tornando-a cada vez mais ampla, mais detalhada, possibilitando maior entendimento de temas complexos, até então desconhecidos. E foi a partir da língua falada que esses humanos desenvolveram um sistema significativo de linguagem escrita, o que possibilitou sair então da oralidade e registrar, desde as suas contabilidades, seus poema, suas histórias e expressões de fé, até as mais intrincadas equações matemáticas e questionamentos existenciais.
Com essa capacidade comunicacional as pessoas se organizaram e se desenvolveram politicamente, fizeram arte, fizeram filosofia, uma complexa estrutura científica e variadas concepções de crenças. Certamente que arte, filosofia e ciência não são propriamente a comunicação em si, são expressões iminentemente da essência humana, mas só foi possível externar essas descobertas, críticas, conceitos e indignações a partir da comunicação.
Pensando, esse indivíduo que se percebe, passou a se comunicar e assim, se comunicando, ele se construiu e se reconstrói a cada comunicação que faz. Isso porque em cada reafirmação que recebe, em cada nova informação que que obtém, mas também em cada contrariedade que enfrenta realimenta, nele acontece um processo de contínua sua transformação. Em outras palavras: desenvolvendo essas aptidões os humanos perceberam-se como seres da razão, seres complexos, portanto de difícil entendimento e perceberam, por tanto, que mesmo com toda a estrutura comunicacional, a compreensão dessa existência se mantém inatingível.