sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Nacionalismo, Conceito e Identidade Nacional

O que se chama nacionalismo é uma corrente político-filosófica por demais complexa, mas que, na prática, já impulsionou muitas ações políticas a direita do sistema e a esquerda: guerras, revoltas e revoluções. Acontece que os conceitos, como é esse o caso, são elásticos e se adequam conforme os interesses ou as necessidades dos agentes; ao mesmo tempo que se pode enaltecer, valorizando as expressões culturais locais, pôde-se dirigi-lo para um ideal de supremacia racial e xenofóbica.
Portanto, o conceito em especial precisa ser esmiuçado não só em seus significados políticos e ideológicos, mas em sua construção histórica, com fundamentações ontológicas e reflexão sobre o modus operandi nos tempos atuais. Se a valorização e a identidade do indivíduo com a sua terra natal faz parte do pensamento humano, desde os tempos mais remotos, a defesa do seu povo e do seu espaço geográfico sempre fez parte da formação de cada pessoa; mas foi na modernidade que tomou corpo com um conceito próprio com uma lógica e uma ideia própria.
Sim, a valorização extrema da condição nacional e o próprio conceito de nação, é fruto da era moderna, nascido de um anseio da economia capitalista dos séculos 15 e 16, como forma de estabelecimento de uma segurança jurídica para as transações comerciais. Em outras palavras: a economia capitalista necessitou o estabelecimento de um estado liberal com uma única legislação adequada, uma mesma força de segurança, em um mesmo território e os mesmos princípios morais. Tudo isso só seria possível se fosse alimentado por uma identidade nacional.
Acontece que identidade é um ponto de referência de um grupo de indivíduos, uma espécie de cumplicidade, em um território comum, construído historicamente por séculos e não pela força da vontade de alguns desse grupo. Nesse caso, fica a pergunta: como pode um indivíduo de Santa Catarina, por exemplo, ter aproximação e até cumplicidade com um outro do Acre, apenas porque está dentro de um mesmo cercado? Cercado esse imposto por uma elite política e militar, atendendo aos interesses mais diversos, mas principalmente interesse econômico. 
Ora, o mais coerente seria que as pessoas dos sul do Brasil se aproximassem de povos da região norte da Argentina, como de Missiones e Entre-rios ou de povos do Uruguai e do Paraguai. Independente das vontades políticas e econômicas, identidade nacional se constrói  na proximidade e passa por um conjunto de caracteres  próprios, oriundos dos contatos entre as pessoas, das relações e vivências comuns. E, assim, a identidade de um povo é como o caminho de um rio, forçado por um trajeto que não o seu, mas que em algum momento, tende a retomar o leito natural.

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