Mas se a filosofia nasceu do espanto e, a ciência, da necessidade, a arte nasceu da percepção de si e do mundo à sua volta. É como se o artista, ao contemplar o mundo, sentisse a necessidade de subtrai-lo para em seguida devolvê-lo com suas impressões, com suas marcas.
Os humanos fazem arte como característica de sua essência. Todos fazem arte. Acontece que alguns vivem para o ofício e esses são sensíveis para os fenômenos da natureza. Eles vivem para a função e oferecem ao mundo uma reinterpretação, ao desfazê-lo e refazê-lo e, por isso, o artista é rebelde por essência.
A arte não tem como objetivo ser um cópia fidedigna das verdades, como o gravurista que não reproduz a paisagem com exatidão o que está exposto, ou os movimentos da dança que não pretendem ser reproduções exatas dos movimentos comuns dos humanos, ou a interpretação das personagens da sociedade que não pretendem ser verídicas. A arte, enquanto tal, pretende mostrar um novo movimento, uma nova interpretação das personagens ou uma nova pintura em novas distribuição de cores etc. A arte é, portanto, um constante experimento.
O grande conflito sempre foi o das possibilidades, ou o não, do entendimento da expressão estabelecida pelo artista por parte dos cidadãos comuns que muitas vezes, desconhecem o que é expressado, da técnica usada ou ao tema em referencia, e rechaçam acusando a obra de uma não arte. Algumas expressões artísticas estão mesmo de acordo com os referências estéticos do espectador e, por isso, se mostram agradáveis, como é o caso daquilo que se dizem uma bela peça teatral, uma bela composição musical, uma bela pintura etc.
No entanto, algumas obras, ao contrário, existem para por "lenha na fogueira", provocar as questões da existência que, até então, não foram expostas e é aí que muitos a rechaçam. Nesse ponto a arte se aproxima da filosofia, já que ela não tem a pretenção de ser entendida, mas de ter provocado o debate. De ter provocado a pergunta e a busca por um, sempre novo, entendimento.
Portanto, é louco aquele que pensa poder entender um artista, ou sua arte, porque é impossível afirmar com convicção se um trabalho é ou não é arte. Para tal, seria preciso que se estabelecesse uma relação direta entre a obra executada, o artista executor, a sociedade em questão e a necessidade do espectador, em especial. Impossível, pois a arte pode ser desde um quadro pintado com o motivos de deuses, anjos e imperadores, ou sons de árias produzidos por grandes orquestras, até rabiscos em pano velho, sons tirados com o sopro em uma chaleira ou batidas em uma lixeira.
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