sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Circo: Espírito e Corpo

Se o teatro é uma forma de fazer uma espécie de arte complexa e elevada, tendo em vista que o que está em jogo é o espírito criativo a elaborar personagens a partir de formas adequadas de colocar o rosto, o tronco, os braços, as pernas e a voz em uma sincronia na sua totalidade, a atividade circense se eleva por colocar tudo isso a serviço da graça, da diversão e da empatia. Sem contar que faz tudo isso numa relação próxima e direta entre o artista e seu público.
Aliás, um dos fenômenos mais elevados que os humanos inventaram, e que os caracteriza enquanto tal, é a arte nas suas mais diversas formas. A arte é a condição de um espírito livre que possui apenas o corpo como ferramenta em forma de expressão. Uma comunicação direta e diferente, mas necessária, pois é nessa condição que se estabelece a relação direta entre as variadas formas de expressão do espírito e o corpo, tanto daquele que expressa, quanto daquele que recebe. Ou seja: um condição em que os espíritos são sintonizados.
Acontece que o artista expressa desde seus aparelhos sensoriais, as suas agilidades corporais, suas formas de sonoridades diversas, de imagens plásticas, de criações literárias, de construções arquitetônicas, de movimentos corporais e de interpretação de personagens etc. Isso porque o humano cria em uma relação direta entre a sabedoria do espírito e a agilidade do corpo. Os indivíduos expressam desde as artes e ofícios, em o seu labor do dia a dia, na transformação da natureza em bens de uso, até as mais variadas e difíceis formas de expressão artística.
Portanto, a diferença do circo para o espetáculo teatral é que, nesse caso, os movimentos corporais não estão a serviço da construção de uma personagem de modo que expresse o tipo de de indivíduo adequado para a história a ser contada. No circo o próprio movimento é  a arte: prender alguém por uma corda a voar pelo picadeiro ou alcançar a cabeça com o pé de uma forma a dar graça e, com ela, a beleza.
Sem contar que a graça e a beleza na maioria das vezes é feita em atividades de extrema periculosidade e diante de uma plateia embevecida que observa fixamente cada movimento. Portanto, é no circo que espírito do artista se expressa conectado diretamente  com o espírito do espectador quando põe o corpo a prova em extremas condições humanas, unindo criatividade, graça e perigo.

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