segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Vila da Glória, Uma Experiência Socialista

Um experiência socialista ocorreu no Brasil, na década de 40 - do século 19, quando algumas dezenas de famílias francesas foram alocadas na parte continental do município de São Francisco do Sul e formaram ali o que ficou conhecido como Falanstério do Saí. A colônia fora projetada e dirigida por um tempo pelo um médico homeopata francês, chamado Benoit Jules Mure baseando-se nas ideias do pensador socialista francês, Charles Fourier. O pensamento de Fourier fora enquadrado como socialismo utópico, conforme escreveu Karl Marx dizendo que essas tentativas de criar um sistema tal (Saint-Simon - 1760/1825, Charles Fourier - 1772/1837, Louis Blanc - 1811/1882, Robert Owen - 1771/1852, entre outros) seriam todas fracassadas, já que o socialismo deveria ser pensado sob o ponto de vista científico. A denominação "socialismo utópico" tomaria corpo, mais tarde, na obra de Friedrich Engels quando escreveu Do Socialismo Utópico ao Socialismo Científico, publicada em 1892. Os assim chamados socialistas utópicos foram vistos pelos pensadores sociais como querendo expandir os ideais da Revolução Francesa com o intuito de criar um sistema econômico, social e político mais racional. Entretanto, mesmo rotulados como utópicos pelos marxistas, seus objetivos não eram sempre, necessariamente, utópicos e seus valores incluíam frequentemente suporte científico e almejavam a criação de uma sociedade baseada em tais princípios. O certo é que a utopia do Dr. Mure, a experiência socialista pensada para o sul do Brasil, mais precisamente em terras de Santa Catarina, não chegou a duas décadas e as várias famílias retornaram à França ou seguiram para outros rumos. O que se sabe é que a colônia francesa às margens da Babitonga sofreu dissidência logo nos primeiros anos de sua existência, levando conflito aos recém-chegados e ao surgimento de outras colônias. Enfim, o sonho socialista de construir um mundo novo em que as pessoas vivam segundo o suor do seu rosto, sem explorados ou exploradores, acabou em apenas alguns anos; sobre os motivos fala-se além das dissidências, problemas para escoar a produção e a dificuldades para a obtenção de alimentos, já que não eram agricultores - pois a ideia era de se criar uma colônia industrial. Se muitos debandaram da região, sabe-se que uma família - os Ledoux, permanecem até os dias de hoje por Joinville, na ilha de São Francisco ou mesmo na atual Vila da Glória.

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

O Ocidente, a História e Seus Limites

As denominações dos períodos históricos como Idade Antiga, Idade Média ou Idade Moderna foram feitas pelos eruditos iluministas da modernidade, dentro de uma visão racionalista. Alem desses três períodos, outros momentos foram sendo denominados como a Idade Contemporânea ou a Pré-História e assim, todos os pontos da história foram classificados; esse ultimo - por exemplo - fora divido em Neolítico e Paleolítico que, mais uma vez, fora divido em Superior e Inferior. Esses períodos foram sendo estabelecidos com datas de seu início e seu fim e fixados a partir de um fato histórico marcante; por exemplo: a mudança da Idade Antiga para Idade Média tem a queda do Império Romano do ocidente com a invasão pelos povos bárbaros no ano de 472 aC. Já, marcando o final da Idade Moderna e o início do que fora chamado de Idade Contemporânea encontra-se a Revolução Francesa e, mais precisamente, a Tomada da Bastilha, em 14 de julho de 1789 - quando a população invadiu a prisão que continha os presos inimigos da monarquia e soltaram-nos. Interessante que essas divisões não são consenso em todo o mundo, sendo usadas basicamente pelo Ocidente e pelos países ditos ocidentalizados (colonizados pelos europeus): a América, a Oceania, parte da África e da Ásia. Nesse caso, quando os países ocidentalizados falam de Idade Média ou Antiga, falam do período que fora vivido pela Europa e pelo Oriente Médio e começam suas histórias pelas suas colonizações, já na Idade Moderna. Também não há consenso entre os historiadores dos diversos países com relação ao fato histórico que delimita o fim da Idade Moderna e o início da Idade Contemporânea. Os historiadores brasileiros sempre tiveram uma ligação direta com seus colegas franceses, portanto usam como marco que sinaliza a mudança desses períodos pela Revolução Francesa. Entretanto, há diferenças com relação a outros países. Os ingleses usam a Revolução Inglesa, os alemães a Unificação Alemã, os Russos a Revolução Soviética, enquanto outros usam eventos importantes ocorridos em seus países. O que denota de tudo isso é que essas classificações com datas delimitadoras, não passam de frágeis tentativas de estabelecimento de critérios para entendimentos da história sob a égide ocidental; a história contada pelos europeus e por seus colonizados. Não se pode pensar que isso concretamente seja algo absoluto de entendimento e aceito pela erudição de toda a humanidade.

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

Os Modernos São Medievais

A modernidade, esse conceito para além do período chamado de moderno tem significado uma atitude de rompimento à teocracia medieval e ao poder da Igreja, um momento em que a humanidade se pensou atingindo uma racionalidade plena. Mas mesmo assim, mesmo se pensando em um rompimento com a obscuridade da "Idade das Trevas", o que se fez até agora foi apenas reproduzir um outro período com as mesmas tendências medievais. Ora, se a Idade Média fora marcada por uma religiosidade segregacionista e prepotente, a modernidade inteira tem seguido essa mesma trilha com profunda arrogância e intransigência contra todo aquele que não comunga a mesma fé ou da mesma forma. Por outro lado, os eruditos modernos simplesmente trocaram o deus Jaweh e sua depositária do sagrado, a Igreja, pelo deus Razão, suas sociedades científicas e universidades como depositários da verdade. Se num primeiro momento, depois de se decidir nos grandes concílios, a Igreja impunha aos fiéis as suas noções de certo e errado, num outro, da mesma forma, o que se decidem nos grandes congressos científicos sobre o que faz bem ou não para a saúde, se os atros celestes são ou não são dessa ou daquela forma, ou como se forma a matéria será aceito como verdade absoluta por todos, mesmo para o homem comum. Se o homem medieval necessitasse saber a verdade sobre qualquer área não teria dúvida e perguntaria a um representante da Igreja, o sacerdote; o homem moderno se quiser saber sobre essa mesma verdade perguntará ao cientista. Ou seja, o comportamento não mudou, mas apenas as direções e nomenclaturas e a humanidade continua com um pensamento teocêntrico, à espera de um mesmo sentido, um grande pai organizador. Assim, as diversas áreas da ciência moderna se transformaram em congregações medievais com geógrafos, médicos, juristas e sociólogos se achando os únicos depositários da verdade. Esquecem que por milhares de anos a humanidade existiu sem suas presenças, sem suas corporações de ofício e suas reservas de mercado. Corporações essas que para ser admitido o iniciado precisa frequentar os mosteiros modernos por quatro, cinco ou seis anos, fazer reverência a todos os santos e santas, como antigos sacerdotes que fundamentaram o ofício, ler todos os livros sagrados e concluir os ensinamentos em uma grande cerimônia marcada por muitas luzes, discursos, largos vestidos, agradecimentos a família e aos deuses, ruidosas músicas e juramentos convencionais. Ainda se vive a era das trevas, ainda se dorme a noite de mil anos. O homem que se diz moderno ainda é medieval.

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

O Não Saber e o Não Saber Que Não Sabe

A humanidade se caracteriza pela eterna busca por mais conhecimentos e nessa jornada, sempre encontra três dificuldades básicas: num primeiro momento essa dificuldade pode residir em quem ensina, num outro, em quem aprende e, por fim, no conteúdo que se ensina e se aprende. Sendo assim, se a dificuldade de compreender não estiver no conteúdo e nem nas habilidades do mestre, resta tentar entender o processo de compreensão daquele que está disposto a aprender. Nesse caso, a grande dificuldade pode se dar por problemas de saúde e aí figuram doenças mentais e físicas ou simples problemas de ordem cognitiva, mas pode haver também falta de base de dados, de conteúdos anteriores ou simplesmente desconhecimentos de certos conceitos importantes. Por fim, o problema pode ser de ordem comportamental em que o indivíduo acredita já saber algo, criando assim uma barreira e, por isso, não podendo desenvolver os seus conhecimentos. Esse último ponto é de estrema importância e faz pensar no filósofo ateniense, Sócrates. Quando lhe falaram que o oráculo havia dito ser ele o mais sábio ficara perplexo, pois a única certeza que possuía era exatamente que nada sabia. Platão mostra que, depois de muito meditar, Sócrates conclui: certamente deveria ser mesmo o mais sábio de todos, mas isso porque a única certeza que detinha era exatamente que nada sabia. Ora, o mesmo exemplo se tem quando se pensa em Jesus de Nazaré. Segundo os evangelhos, ao ser questionado por pessoas da multidão sobre como deveriam fazer para entrarem no reino do céu, ele afirmara que era preciso se fazer criança; era preciso nascer de novo. Em outra palavras, o aprendizado só acontecerá na medida em que aquele que aprende admite que nada sabe e, por isso busca conhecer. Acontece que há uma diferença básica entre os dois indivíduos: aquele que nada sabe, e se admite como tal, e aquele que sabe algo (nesse caso sabe pouco) ou acredita já saber (geralmente acredita saber muito). Assim, o primeiro, está limpo de alma na espera e na busca do novo saber, o que é diferente do outro que, por crer que já sabe, cria uma barreira o que dificulta a absorção de novos saberes pelo simples fato de serem novos ou de serem saberes que contradizem os anteriores. Ou seja: pior que o não saber é não saber e pensar que sabe.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

O Facebook, a Comunicação e o Caos

A linguagem sempre teve sua importância definida na filosofia, mas foi só nós dois últimos séculos que ela tomou força pelo mundo a fora - provocando nas comunidades acadêmicas os mais acirrados debates e revelando grandes pensadores como Pierce, Wittgenstein, Saussure, Chomsky, além de outros. A conclusão que se chegou é que o humano - enquanto tal - é formado pela comunicação que experimenta a partir de um conjunto de linguagens, ao qual está submetido em toda a sua existência. Um grupo de pessoas vivendo lado a lado, sem qualquer tipo de linguagem que os una, que amarre os interesses comuns, será para sempre um amontoado de seres humanos sem qualquer construção social; nunca será uma sociedade. Isso porque na vida de uma pessoa há uma constante reformulação da personalidade e acontece na totalidade das informações que são recebidas constantemente do mundo externo. Se todos os seres só se relacionam se possuírem algum tipo de comunicação, o problema dos humanos começa quando essa não se dá de forma a construir um alguém integrado (íntegro) à sociedade. Acontece que na comunicação humana, quando estudada, se percebe suas estruturas lógicas, sistemas racionais, mas também rodeada de cultura, de preconceitos, de religiosidades e de toda um conjunto de interesses comuns e particulares. Quando a comunicação se dá diretamente, de pessoa para pessoa, acontece o diálogo (dois logos) de forma natural; diferente será se essa comunicação for feita em veículos de imprensa com estruturas empresariais levando, junto com as informações elaboradas, os interesses corporativos do lucro. Nesse caso é mais fácil para o estudioso a percepção dos jogos de interesses e o controle dos fatos, tendo em vista que é possível entender os objetivos, já que se expõem dentro de uma lógica política e econômica. O que não acontece, mais recentemente, quando se usam indiscriminadamente as redes sociais para exporem um emaranhado de fatos e dados fictícios em uma constante dilaceração de informações às quais o emissor não tem a mínima noção do que emite. O caos. Ora, se a comunicação se formar a partir do caos, de interesses de uns e de desconhecimentos de outros, a sociedade em referência não terá outro caminho para seguir se não o do caos; ou seja: uma massa de desinformados se achando informados. Assim, se o saber é poder - o não saber, ou o saber truncado, é um não poder; e isso deve ser entendido como a realidade de uma parcela expressiva da sociedade levada a uma situação de submissão e, consequentemente, de manipulação e de dominação.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

O Presente e o Ser

Se o tempo não existe e se o que existe são apenas percepções racionais de uma permanente passagem do que se convencionou chamar de passado para aquilo que chamam de futuro, a pergunta necessária é: o que venha a ser o presente? Sim, porque entre essas duas posições o que há é uma lâmina fina que corta o passado do futuro e assim tudo segue o seu caminho do começo rumo ao fim. Mas, nesse caso, se forma uma outra pergunta difícil e, aparentemente, sem resposta: onde começa e onde termina o presente? Ou seja: quais os limites do agora? Esse agora que é marcado pela constante reconstrução do passado e elaborado a partir de uma perspectiva para com o futuro. Como tudo que já aconteceu, esse artigo começou a ser escrito no passado, mas somente será terminado no futuro e ao terminar virará passado. Assim, o certo é que se vive em um eterno momento; afinal, é isso que é o agora, um momento, o presente. Tendo descrito isso, pode-se perguntar: porque se dá o nome de presente a condição de um objeto que se entrega a outro, em estado de graça? O que não ocorre em outros idiomas, no Português tem a mesma palavra para designar as duas condições, o que permite traçar uma conjectura que ligue o "regalo" do Espanhol, o "Gift" do Inglês ou o "Geschenk" do Alemão ao que se entende como o momento que a coisa acontece, o "Zeit", o "Time" ou o "tiempo". A intensidade de tudo está na unicidade do momento com o prazer ou a tristeza que se vive em cada experiência dos sentidos - o conjunto das cores, os sons, a misturas dos cheiros, o envolvimento com outras pessoas e, com isso, o estado de espírito que se forma em cada instante. Foi pensando isso que o Poetinha falou no seu Poema da Fidelidade, "...que seja infinito enquanto dure". Acontece que aquilo que se diz, quando se fala em viver por anos, nada mais é que experimentar incontáveis momentos com todas as possibilidades de percepções. Ou seja: não se vive anos e anos, se vive momentos e momentos. Desta forma, cada momento é um presente um "regalo", um "Geschenk" ou um "Gift"; um presente que deve ser segurado e experimentado como único. Afinal, todos momentos devem ser recebidos como dádivas e vividos como únicos, pois tudo acaba quando um certo momento, um certo presente acabar. E agora acabou o texto.

domingo, 9 de agosto de 2015

Política, Economia, Governo e Oposição

Estudiosos da política sempre souberam que na complexidade da democracia (tanto nos tempos da Grécia antigo, quanto na modernidade ocidental) o jogo das oposições existe com os mais variados tipos de participações. Complexidade, já que não existe um conceito final, absoluto, que unifique todas as noções; talvez o único ponto convergente em toda e qualquer ação política não resida mesmo no conceito em si, mas na sua natureza, a necessidade de oposição. Alguns se opõem apenas porque percebem que uma parte da população assim o faz e, para não ficarem de fora, também querem participar, repetindo palavras de ordem sem saber muito bem o que os que estão próximos dizem; outros, fazem oposição porque percebem que as políticas públicas em curso prejudicam - ou prejudicarão - a sua categoria profissional em particular - baixando seus ganhos ou impossibilitando aumentos. Poucos são aqueles que fazem oposição acompanhando atentamente o desenrolar das políticas governamentais e relacionando-as a situação momentânea do país em questão e comparam a cada passo com a situação econômica dos demais países. A verdade é que as ciências econômicas e sociológicas são complexas o que dificulta um maior entendimento por uma representativa parte da população, favorecendo a existência de uma massa que não sabe para onde vai, mas segue o sinuelo. A verdade é que países - outrora potentes como Estados Unidos e Europa nos últimos anos se arrastam por uma crise interminável e mais recentemente a China - começaram a apresentar sinais de fraqueza; países que há uma década compravam em larga escala, agora cortam drasticamente seus gastos. O resultado das mudanças de suas políticas econômicas é que os países, ditos "em desenvolvimento", têm suas exportações diminuídas e a taxa de câmbio fugindo do controle. Nesse caso, os governos não conseguem manter suas metas de crescimento e/ou investimentos propostos em campanha fazendo crescer naturalmente as vozes de uma oposição que acompanha com atenção os caminhos da sociedade. Essa oposição é salutar, indispensável na ação política; o que não se pode aceitar é essa oposição incauta, desconhecedora da dinâmica econômica, mas que vive apenas preocupada com seus bolsos; pior que essa, só a parcela da população que que segue a ôla, sem a mínima noção do que está acontecendo.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Democracia: Conceito e Prática

A democracia tem vários problemas: a lentidão nas decisões, a imposição da maioria, a escolha de pontos que não necessariamente são os melhores para a sociedade - em geral, não passa de um disfarce de quem está no poder e assim segue em uma série de falhas, mas nada que disso se compara à sua fragilidade na manutenção das instituições. Essa fragilidade acontece porque em um momento ou outro pode ser dominada, manipulada e destruída por qualquer governante - muitas vezes com discurso democrático. Em primeiro lugar há lentidão porque havendo democracia em uma sociedade, nenhum governante pode ou deve se arvorar como depositário da verdade e responsável único pela execução das ações. Pelo contrário, mesmo legitimado no voto é necessário que obedeça uma sequência de trâmites, seguindo a legislação posta como forma de respeitar as vontades da população e com isso proporcionar a todos transparência nas ações. Entretanto, por mais que se possa inserir ao conceito a noção de liberdade, de transparência ou de igualdade política, o certo é que a maioria dos membros da sociedade não necessariamente está certa das suas escolhas e alguns - por desinformação - votam e agem contra suas próprias vontades. Por mais que se busque a democracia, não se pode negar que qualquer estrutura política que se convém chamar por tal adjetivo vive a eterna dicotomia: qualidade versus quantidade. Acontece que na era moderna o conceito trazido dos antigos gregos antigos se tornou simpático para as elites pensantes e para todos os entendidos da Ciência Política; talvez por isso todo governante se pretenda democrático. Alias, o conceito se tornou tão importante na legitimidade da ação política que o pior ditador mandará prender qualquer cidadão que por ventura se árvore em chamá-lo de antidemocrático. Mas se há legitimidade isso significa que ali está consolidada uma noção de que os membros da sociedade tem ganho real dentro dentro da democracia. O que se está querendo dizer é que, por mais falhas que possa ter e por mais frágil que possa ser, em uma sociedade que se pretenda madura, é necessário cultivo da democracia. Afinal, ela existe como qualquer outra atividade humana, mesmo aquelas para além das atividades político partidárias: quem não pratica democracia na própria casa, na escola, na igreja ou no sindicato, como poderá pensá-la na atividade político-partidária? As falhas e as fragilidades da democracia só podem ser eliminadas no passo a passo, exercitando-a ininterruptamente.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Violência: os Humanos e a Sociedade

A violência é um daqueles temas debatidos exaustivamente nas academias e nos meios de comunicação de massa, mas nunca o suficiente para assim chegar a um resultado satisfatório na busca de solução. Já os pensadores contratualistas divergiam a respeito: se um afirmava que o homem é bom por natureza, mas que é o sistema o deixara perverso, o outro dizia diferente, o homem é sim mau por natureza, necessitando constantemente da força coercitiva do estado. Entretanto, não cabe aqui o debate contratualista se o homem, num estado de natureza é bom ou mau, mas traçar algumas ideias sobre a dinâmica social que desemboca no fenômeno da violência. Para começar, o conceito é por demais complexo e isso dificulta a compreensão do objeto em si; etimologicamente a palavra violência designa-se como o ato de violar. Nesse caso, a resposta desemboca em outra pergunta: violar o que? Ora, a dignidade do outro. Em geral são determinados como violentos os atos que provoquem a mutilação de corpos ou sangramentos, ocorridos através de acidentes ou provocados criminosamente por alguém etc. Entretanto, a violência é mais que isso: uma fala, um olhar e mesmo um silêncio pode ser enquadrado como parte desse fenômeno. Da mesma forma que um carinho de quem não se deu tal permissão é uma violência; assim como pode não ser violência se um corpo for mutilado, se houver sangramento, e mesmo o ato de matar, caso seja feito pensando-se no bem estar da pessoa envolvida. Na problematização residem dois pontos complicadores para o entendimento da violência: primeiro, a indústria que se formou entorno do tema - são inúmeras as empresas de segurança, de blindagem de veículos, de cercas elétricas, de câmeras de segurança etc; segundo, o estado não investe em políticas públicas que visem agir preventivamente para uma maior interação social, assim como não investe propriamente na segurança pública. Enfim, a violência é uma realidade própria de todas as sociedades humanas e, mais intensamente, dos grupos urbanos; assim, mais que uma discussão conceitual, o objeto deve ser pensado como um fenômeno social próprio das relações. Portanto, não se trata de erradicar a violência do meio social, mas de estudar a intensidade e as origens, para que assim, agindo nos pontos causadores, se possa diminuir sua intensidade.