segunda-feira, 24 de agosto de 2015
Os Modernos São Medievais
A modernidade, esse conceito para além do período chamado de moderno tem significado uma atitude de rompimento à teocracia medieval e ao poder da Igreja, um momento em que a humanidade se pensou atingindo uma racionalidade plena. Mas mesmo assim, mesmo se pensando em um rompimento com a obscuridade da "Idade das Trevas", o que se fez até agora foi apenas reproduzir um outro período com as mesmas tendências medievais.
Ora, se a Idade Média fora marcada por uma religiosidade segregacionista e prepotente, a modernidade inteira tem seguido essa mesma trilha com profunda arrogância e intransigência contra todo aquele que não comunga a mesma fé ou da mesma forma. Por outro lado, os eruditos modernos simplesmente trocaram o deus Jaweh e sua depositária do sagrado, a Igreja, pelo deus Razão, suas sociedades científicas e universidades como depositários da verdade.
Se num primeiro momento, depois de se decidir nos grandes concílios, a Igreja impunha aos fiéis as suas noções de certo e errado, num outro, da mesma forma, o que se decidem nos grandes congressos científicos sobre o que faz bem ou não para a saúde, se os atros celestes são ou não são dessa ou daquela forma, ou como se forma a matéria será aceito como verdade absoluta por todos, mesmo para o homem comum.
Se o homem medieval necessitasse saber a verdade sobre qualquer área não teria dúvida e perguntaria a um representante da Igreja, o sacerdote; o homem moderno se quiser saber sobre essa mesma verdade perguntará ao cientista. Ou seja, o comportamento não mudou, mas apenas as direções e nomenclaturas e a humanidade continua com um pensamento teocêntrico, à espera de um mesmo sentido, um grande pai organizador.
Assim, as diversas áreas da ciência moderna se transformaram em congregações medievais com geógrafos, médicos, juristas e sociólogos se achando os únicos depositários da verdade. Esquecem que por milhares de anos a humanidade existiu sem suas presenças, sem suas corporações de ofício e suas reservas de mercado. Corporações essas que para ser admitido o iniciado precisa frequentar os mosteiros modernos por quatro, cinco ou seis anos, fazer reverência a todos os santos e santas, como antigos sacerdotes que fundamentaram o ofício, ler todos os livros sagrados e concluir os ensinamentos em uma grande cerimônia marcada por muitas luzes, discursos, largos vestidos, agradecimentos a família e aos deuses, ruidosas músicas e juramentos convencionais. Ainda se vive a era das trevas, ainda se dorme a noite de mil anos. O homem que se diz moderno ainda é medieval.
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