quinta-feira, 13 de agosto de 2015

O Presente e o Ser

Se o tempo não existe e se o que existe são apenas percepções racionais de uma permanente passagem do que se convencionou chamar de passado para aquilo que chamam de futuro, a pergunta necessária é: o que venha a ser o presente? Sim, porque entre essas duas posições o que há é uma lâmina fina que corta o passado do futuro e assim tudo segue o seu caminho do começo rumo ao fim. Mas, nesse caso, se forma uma outra pergunta difícil e, aparentemente, sem resposta: onde começa e onde termina o presente? Ou seja: quais os limites do agora? Esse agora que é marcado pela constante reconstrução do passado e elaborado a partir de uma perspectiva para com o futuro. Como tudo que já aconteceu, esse artigo começou a ser escrito no passado, mas somente será terminado no futuro e ao terminar virará passado. Assim, o certo é que se vive em um eterno momento; afinal, é isso que é o agora, um momento, o presente. Tendo descrito isso, pode-se perguntar: porque se dá o nome de presente a condição de um objeto que se entrega a outro, em estado de graça? O que não ocorre em outros idiomas, no Português tem a mesma palavra para designar as duas condições, o que permite traçar uma conjectura que ligue o "regalo" do Espanhol, o "Gift" do Inglês ou o "Geschenk" do Alemão ao que se entende como o momento que a coisa acontece, o "Zeit", o "Time" ou o "tiempo". A intensidade de tudo está na unicidade do momento com o prazer ou a tristeza que se vive em cada experiência dos sentidos - o conjunto das cores, os sons, a misturas dos cheiros, o envolvimento com outras pessoas e, com isso, o estado de espírito que se forma em cada instante. Foi pensando isso que o Poetinha falou no seu Poema da Fidelidade, "...que seja infinito enquanto dure". Acontece que aquilo que se diz, quando se fala em viver por anos, nada mais é que experimentar incontáveis momentos com todas as possibilidades de percepções. Ou seja: não se vive anos e anos, se vive momentos e momentos. Desta forma, cada momento é um presente um "regalo", um "Geschenk" ou um "Gift"; um presente que deve ser segurado e experimentado como único. Afinal, todos momentos devem ser recebidos como dádivas e vividos como únicos, pois tudo acaba quando um certo momento, um certo presente acabar. E agora acabou o texto.

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