quinta-feira, 31 de julho de 2014

A Bíblia, o Cristianismo e a Sociedade

Alguns religiosos cristãos, tentam sustentar suas convicções políticas, sexuais, gastronômicas etc, a partir de descrições bíblicas de forma literal, ou seja: sem qualquer sustentação crítica. Enquanto uns deixam de comer carne de porco, outros não trabalham no sábado, ou são contra o aborto ou são contra a eutanásia; alguns não fazem sexo antes do cansamento, outros não servem ao Exército e, por hora, alguns se mostram racistas ou sexistas.  Sem dúvida, há uma profunda importância histórica, política e sociológica dos textos bíblicos e em toda a tradição cristã; aliás, a civilização ocidental está calcada na Igreja Católica Apostólica, romana ou ortodoxa e em toda linha protestante posterior. Nao se pode pensar a educação, o sistema penal, as artes, a ética, a política e a economia, sem levar em consideração toda a estrutura bíblica cristã. Durante a Idade Media, o analfabetismo impediu a divulgação da Bíblia, afinal os bárbaros germanos desconheciam, qualquer sistema de escrita, tudo dependia da tradição e da oralidade. Na era moderna isso se alterou com o uso da grafia latina em suas línguas pátrias, possibilitando a alfabetização dos povos e, juntamente com o surgimento da imprensa, o acesso popular aos textos bíblicos. Mas é preciso que se diga que todos os povos antigos tambem possuíam os seus textos, mais ou menos sagrados, e estes contavam a formação do povo, as suas regras, os governos e as práticas religiosas. Os romanos - por exemplo - possuíam os livros sibílicos, os egípcios possuíam o Livro dos Mortos - ou Hino Para Osiris, os hindus, os livros védicos, os hebreus, o Talmude e o Torah, assim como os muçulmanos possuem o Al Corão e os cristãos, a Bíblia Sagrada.  Os gregos antigos também  possuíam livros basilares como História, de Heródoto, ou Odisséia e Ilíada, de Homero; livros importantes na formação do povo heleno, apesar de não possuírem a força ascética dos outros povos do entorno. Em geral eram histórias que foram compiladas por intelectuais que passavam a vida a recolher fatos relevantes e - por vezes - fantasiosos, difundidos pela tradição mnemônica. Enfim, se cada povo tem os seus livros sagrados, todos eles retratam um momento histórico, político, militar e religioso, vividos em um determinado momento, isso mostra que tais textos revelam uma realidade estanque. O que se quer dizer com isso? Não se pode moldar uma vida atual, moderna, digital e racionalista, a partir de uma realidade oral, pré-cientifica e mítica.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Estado, Pátria e Nação

   Para se constituir um país, ou uma sociedade complexa - como alguns preferem - é necessário a composição de três elementos: o estado, a pátria e a nação. Três elementos iguais em importância e inseparáveis na formação de qualquer civilização.  Alguns falam de povo, mas este é apenas um aglomerado de indivíduos, sem algo que os ligue; afinal, um grupo de pessoas, vindas de lugares diferentes pode ser um povo, mas sem identidade.    O primeiro destes elementos é a pátria, o chão onde se está localizado, uma parte do planeta em que cada pessoa nasce, vive e morre. Um indivíduo, como ser material que é, ocupa um lugar no espaço e com ele se relaciona, se identifica e se diferencia. Aliás, homens e mulheres que vivem como beduínos no deserto árabe, são diferentes dos esquimós que vivem na calota polar.    A seguir, vem a nação, uma população com identidade étnica e cultural, o elemento primordial na formação de uma sociedade, mas que resulta em uma extrema complexidade, dificultando a compreensão. Por identidade étnica se quer dizer pessoas com algum laço de parentesco e daí, a semelhança física; por identidade cultural, se diz de um grupo com uma mesma tradição religiosa, lingüística e um sentimento de unidade. Alguns generalizam e chamam por nação qualquer grupo de pessoas em um país, mas é uma definição deficiente; elementos humanos, um do lado do outro, sem qualquer identidade, não podem ser definidos como nação.    Por fim, o terceiro elemento se resume ao estado: uma estrutura político-jurídica autônoma, onde se inserem os poderes constituídos em uma sociedade moderna: a constituição e toda a legislação, de um modo geral. Entretanto, o estado não se resume a uma estrutura legal, é preciso se levar em consideração tambem a cultura política de um povo, formada no desenvolvimento da sua história.     Certamente que o estado é tão importante num debate desta natureza, como é o chão em que a sociedade está plantada, quanto é a própria idéia de nação. Mas alguns legisladores e juristas elevam o conceito para além da estratosfera do aceitável e convencionam-se a escrevê-lo com a primeira letra em caixa alta, ou letra maiúscula - Estado, como se isso o elevasse; do mesmo modo como se escreve a palavra Deus.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Fátima: a Mãe de Deus e a Filha do Profeta

  Duas mulheres, duas religiões, um mesmo deus e uma mesma cidade, Fátima: duas histórias de fé, de abnegação, de amor e de lealdade para o próximo. Um fato quase nada difundido entre cristãos católicos e muçulmanos, de modo que pouco ou nada se sabe sobre esse possível elo existente; o fato é que essa devoção arrasta multidões de crentes das duas concepções religiosas  em torno do mundo.   Fátima era a filha mais nova do profeta Maomé, aclamada como al-Zahra que em Árabe que dizer, a resplandecente e ainda hoje é alvo de veneração dos xiitas, uma das principais correntes islâmicas. Conta-se que ela fora casada com o califa  Ali ibn Abi Talib, que teve quatro filhos e que é vista como um modelo para as mulheres muçulmanas  de todas as correntes, devido às suas virtudes morais e religiosas.    Acontece que com a expansão pelo norte da África e a invasão da península ibérica, os muçulmanos - também chamados de mouros - ocuparam a maior parte do território que hoje compreende os países europeus, Portugal e Espanha. Foi quando, em honra à grande representante feminina do islamismo, os mouros fundaram a hoje cidade portuguesa e deram o nome de Fátima.   Conta-se que mesmo com o fim do islamismo e a cristianização da região, a veneração a uma mulher admirável, de pura bondade e dedicação famíliar, fora transferida para a Maria de Nazaré que no cristianismo é a mãe de Jesus e que ficara conhecida também como a Nossa Senhora, a grande mãe de todos os humanos. Isso porque alguns estudiosos falam que o inconsciente coletivo teria preservado na cidade e região uma cultura herdada dos tempos dos mouros, ou seja: a visão de uma senhora da luz, como os mouros pensavam Fátima, a filha do profeta.    Acontece que no ano de 1917, nessa cidade, três crianças - filhos de camponeses, Lúcia, Francisco e Jacinta -  teriam recebido as aparições de Maria, a Nossa Senhora, que conversara com eles e que teria feito algumas confidências e até alguns pedidos. Em fim, a cidade que fora fundada pelos islâmicos, se transformara agora  em um dos principais locais de peregrinação dos cristãos e Fátima se transformou em um nome comum em mulheres seguidoras de Cristo e em mulheres seguidoras de Maomé.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

O Vinho, o Uísque, a Cachaça e a Lenda

Sempre se disse que o paladar é o primo pobre da família dos cinco sentidos; isso porque grandes artistas debruçaram-se na produção de belas imagens - as chamadas artes visuais, ou na produção de sons lindos e melodiosos, criando as mais belas canções. Mas não se deve esquecer que cozinheiros e produtores de bebida têm produzido os pratos mais deliciosos e as bebidas mais variadas que hoje são verdadeiras obras de arte. Além do que, uma certa classe social brasileira, em ascensão (ou nem tanto), tem encontrado, também na comida, mas principalmente na bebida, uma possibilidade de ostentação.  Sim, nas últimas décadas, as pessoas bebem vinho ou uísque, mesmo sem o hábito, mesmo preferindo uma outra bebida, mas o fazem porque acreditam obter, com essa bebida, algum status, alguma possibilidade de admiração e prestígio entre seus conhecidos. Essas situações se revelam facilmente nas conversas que as pessoas fazem sobre o consumo de bebia: aquele que afirma beber vinho e demonstra algum conhecimento da bebida dionisíaca é bem visto de imediato pelos espectadores; já, se esse alguém - por ventura, disser que consome água-ardente de cana ou, se for mais afoito - chamando-a de cachaça, será de imediato, motivo de risos e, aos poucos, mal visto pelos demais. Aliás, há adjetivos bem vistos, todos bastante cultuados, para os conhecedores de vinho, o sommelier, enólogo, ou enófilo, e um outro, decadente, pejorativo, para os degustadores da água-ardente, o cachaceiro, o pinguço, o manguaceiro etc. Ora, sendo o paladar um dos sentidos, o estudo dos valores que aceita como saboroso um determinado alimento, ou uma determinada bebida, faz parte também de uma das  divisões da filosofia, a estética. Assim, o gosto por algo, depende dos valores estéticos adquiridos como parte de uma dada cultura, vivida socialmente. Se não há o hábito de consumo de uma dada bebida, mas há o hábito de consumir outra e mesmo se o consumo é feito desta forma ou daquela, isso se faz dependendo dos valores estéticos, não porque assim é o certo ou porque aquilo é errado. O gosto por vinho, uísque, cachaça, tequila, depende de uma construção cultural; se a cerveja pode ser preta ou clara, servida gelada ou fora de gelo, depende de uma construção cultural. Fora disso, nada mais há a não ser uma tentativa colonialista de imitar os senhores da metrópole, pensa-se com isso elevar o prestígio. Saúde!

quinta-feira, 17 de julho de 2014

A Era das Paixões

Quando eu ando, pego um taxi, vou à universidade, leio um livro e tudo o mais que eu venha a fazer, faço motivado por três elementos: razão, paixão ou tradição. Essa é a linha básica do pensamento de Max Weber, o objeto de sua sociologia. Ele não quer dizer que em uma hora se é só tradicional, noutra, completamente racional e, em ainda outra, totalmente passional. Também não quer dizer que alguns sejam apenas racionais, enquanto outros, somente tradicionais ou passionais, mas que as pessoas interagem com as três possibilidades, o tempo inteiro.  A tradição é uma simples a repetição daquilo que já ocorria com outras gerações, como é o caso de alguém dar um "bom dia" ou "boa noite", ou um "até logo" e mesmo, até o gesto de um "aperto de mão". Quando se dá "bom dia" não se para a pensar - "oh, como eu quero que tal pessoa tenha um dia bom"; quando faço, apenas repito uma formalidade já realizada por aqueles que vieram antes de mim. Restam os dois outros motivadores das ações - a razão e a paixão - elementos divergentes entre si, mas os grandes responsáveis pelos erros e acertos humanos. A razão é uma atividade mental em que o indivíduo, ao agir, o faz de modo a usar os meios visando os fins: calculando e medindo os prós e os contras. Mas o perigoso nisso, é que a consciência sempre se investe de razão como primeira possibilidade; é ela que aparece sempre no momento da ação; ou seja: todos pensam estar agindo racionalmente. Por outro lado, o amor, o ódio e o medo, fazem parte de uma mesma família, a emoção, a passionalidade: um fenômeno físico e cultural que ocorre entre os humanos de forma automática, impulsionando-o para a ação ou impedindo-o de agir. A ação motivada pela paixão obedece aos instintos mais insurgentes, levando o indivíduo ao descontrole, a uma incapacidade de discernimento, em que o agente pratica suas ações de forma impensada.  Dependendo da história de uma dada sociedade, da sua cultura ou das instituições  de um modo geral, as pessoas agem motivadas mais ou menos pela razão, ou mais ou menos pela paixão. Assim, se os japoneses possuem uma tendência a serem mais tradicionais, os alemães tendem a serem mais racionais e a passionalidade fica com os latino-americanos. Dizem que a modernidade fora, ate agora, racionalista, cientificista, mas que o que vem pela frente será a era dos sentimentos, das paixões. Ora, se a razão leva ao discernimento e, com isso, à organização, ao conhecimento profundo e à cientificidade, a paixão não leva a nada disso, mas leva à criatividade e à  construção de soluções.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Imprensa, Dominação e Sociedade

Antes da imprensa moderna, ainda na Grécia arcaica, os ditirambos traziam ao povo  as novidades do momento, assim como no medievo foram os trovadores e os goliardos que cantavam as realidades seculares. Mas foi só no alvorecer da era moderna que se inventou a imprensa e com ela, a difusão racionalizada das informações e a massificação do pensamento; sistema esse que  parece hoje,  com os dias contados. Se num primeiro momento os jornais escritos informaram os fatos ocorridos no dia a dia de homens e mulheres, também serviram para difundir ideias  políticas, filosóficas e literárias. Mas a arte - ou a técnica - da comunicação social mudou: logo após a sua racionalização, foi comercializada, cresceu e se diversificou com o surgimento de novos veículos de publicação: o cinema, o rádio e a televisão.  Parece com os dias contados, por conta de alguns encaminhamentos que se tem vivido nos últimos tempos; o mundo entrou numa era da interação e não se aceita algum instrumento social que provoque a passividade nas pessoas. Num prmeiro momento veio o controle remoto e a seguir a internet, proporcionando sempre uma maior interatividade; essa última, além embutir o jornal, a revista, o rádio, o cinema e a tevê, é capaz de fazer tudo isso de uma só vez. Morre, em parte pelo surgimento de novas tecnologias e, em parte, por ser forçada a tomar do seu próprio veneno, a prepotência, a arrogância, a imposição de um senso comum, o mercantilismo e a tendência político-partidária. Não se entendeu que um jornal, uma revista, o rádio, ou mesmo a televisão, podem ser captados pelo interlocutor mais sem instrução ou desinformado, como pelo sábio, o grande conhecedor.  O resultado é que já não é mais um bom negócio investir em uma tevê fechada ou em um jornal impresso: prova disso é o Washington Post que está a venda, sem um comprador em vista, assim como o brasileiro, O Estado de São Paulo que também não acha comprador e o parisiense, Lê Monde que faz peripécias com sua linha editorial, mas que a cada dia perde mais leitores. Isso, só para lembrar alguns órgãos de comunicação que já foram fortes, fizeram ou fazem história  n'algum canto do mundo. Mas isso, sem contar  também com a penúria vivida por rádios, jornais impressos e tevês regionais. Ainda são muito fortes, ditam as regras políticas, econômicas e sociais, mas já dão mostras da falta de fôlego. Quanto tempo ainda persistirão, ou de que forma acabarão? Impossível de dizer. O que se vislumbra num horizonte nao muito distante, é a volta dos ditirambos, dos goliardos, dos trovadores, a partir das chamadas mídias sociais: totalmente impensáveis, improváveis, mas interativas, sem a prepotência de um senso unilateral.  

quinta-feira, 10 de julho de 2014

A Mão Esquerda de Deus

Sempre se soube que o ser divino das três religiões do deus único, Cristianismo, Judaísmo e Islamismo, denominado Jaweh, celebrado como onipotente, onisciente e onipresente é, para os cristãos, uno e trino; divisão essa feita em Pai, Filho e Espírito Santo. E assim, conforme prega a Teologia - pelo menos a da maior parte das divisões do Cristianismo - o Filho, quando retorna à morada celestial, senta-se "à direita de Deus Pai todo poderoso".  O ser que fez tudo, que está em volta da humanidade, os oceanos, as montanhas, o sol, as estrelas, todas galáxias e os próprios humanos, como suas criaturas, chamam-no de Pai. A seguir, vem o que as teologias declaram  apenas como, mistério: um dia o "verbo se fez carne", ele mesmo veio a terra combater a iniqüidade praticada pelos humanos e, por isso, tambem chamam-no de Filho, mas lembram sempre que este ser divino ainda se manifesta entre suas criaturas, só que agora a manifestação é como Espírito. Sendo assim, pode-se estabelecer politicamente - conforme conceitos forjados na  Revolução  Francesa: Jaweh posiciona-se como centro que pode se manifestar como Filho que o estabelece como sua direita e como Espírito, que estabelece como sua esquerda.  Este é o tema central do livro de Adolf Holl, A Mão Esquerda de Deus - Uma Biografia do Espírito Santo; uma história das manifestações  espirituais, da festa de Pentecostes na Palestina ás manifestações pentecostais em árias seitas cristãs atuais e mesmo em religiões históricas, passando pela festa católica do Divino, pelo kardecismo e pela umbanda.  Na política a direita quer a perpetuação das coisas do jeito que estão colocadas, centro - pode pender para um ou para outro lado e a esquerda, uma tendência a busca de mudanças. Se o espírito é a mão esquerda de Deus a intervir nas ações humanas, auxiliando e corrigindo-os, diante de suas tarefas mundanas, a esquerda política se caracteriza pela interferência social em buscando melhores condições para a vida humana. Enfim, está estabelecido uma relação direta entre a trindade divina, Pai, Filho e Espírito Santo e as posições políticas de centro, direita e esquerda; só lembrando, a tradição mostra o Espírito Santo representado por uma bandeira vermelha.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

A Crítica e o Querer Bem

A grande dificuldade na comunicação, no ato de exposição de uma ideia, é o estabelecimento dos conceitos; alias, para alguns pensadores contemporâneos, fazer filosofia é mesmo definir conceitos. Isso se pode dizer do conceito de crítica que acabou saindo do rigor filosófico e se fortalecendo no senso comum, com um sentido muito diferente do que fora pensado originalmente. Quem pôs  tal conceito na filosofia foi Immanuel Kant, quando estabeleceu que as informações recebidas pelos aparelhos sensoriais necessitariam, dentro da mente, que se fizesse um processamento e a esse processamento ele chamou de crítica. Assim também fez o jovem Marx,  que a pensou como uma busca metodológica, em que o entendimento de um fato é posto a prova, num sentido de fuga daquilo que é dogmático. Ora, o conceito de crítica, num rigor filosófico, pode-se dizer que é o ato de analisar profundamente um dado objeto, levando em conta os dados prós e contras. Sim, a crítica, estabelecida racionalmente como método, aponta aquilo que funciona a contento, mas junto busca também extirpar todos os pontos que danificam o objeto em referencia. Muito distante disso, o senso comum simplificou-a, rejeitando completamente a expressão, dando um sentido maldoso - ou dois outros encaminhamentos: um, a crítica pode ser construtiva e outro, a crítica pode ser destrutiva. Nesse caso último, não se está em referência a condução da mesma, mas o lado que está quem a pratica: todos que a fazem dizem que a sua crítica é construtiva e quem a recebe, entende-a como destrutiva. Entretanto, seja quem a emita ou quem a receba, o conceito deve ser uniforme e mais: a crítica é sempre construtiva; a outra coisa é apenas um falar mal, algo que satisfaz o interlocutor frustrado diante do sucesso do outro. Não se pode aceitar a confusão entre a satisfação do falar mal de algo, com a rigorosa busca metódica daquilo que se quer a apuração e o entendimento. Trazendo isso para o entendimento prático, pode-se dizer que faz verdadeiramente a crítica: um pai que quer o bem ao filho, se preocupa com seus erros e acertos, analisa a sua conduta e assim a expõe; da mesma forma quem presa pela sua religião, ou pelo seu partido, ou pelo seu país. Criticar é amar o objeto da crítica, de forma a  analisá-lo com profundidade, apontando seus erros e acertos, para que este assim, possa se elevar. 

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Imperialistas, Fascistas, Comunistas e o Grande Conflito

A ideia de que as duas grandes guerras mundiais caracterizaram o século 20, reforça aquilo que Éric Hobsbawm chamara de "a era dos extremos".  Por alguns, elas são vistas como separadas e, por outros, como um único grande evento, mas todos ressaltam a profundidade dos conflitos criados e os resultados econômicos, políticos e humanos. Sendo assim, o entendimento das duas guerras não pode acontecer a partir de uma razão em si, mas  de uma configuração político-econômica, em um jogo de interesses representativos para a política mundial.  Essa configuração deve ser percebida, a partir de três posições: os imperialistas, os comunistas e os fascistas. Ou seja, o mundo estava mapeado e cada grande potência econômica, assegurava para si uma parte do Planeta, de acordo com seus interesses; prova disso foi a doutrina Monroe, praticada pelos Estados Unidos - "a América para os americanos". Já as divisões territoriais, promovidas pelos europeus, foram feitas no século anterior e ficaram conhecidas como a Partilha de África e a Partilha de Ásia. Ou seja: os imperialistas se caraterizavam por fazerem um capitalismo expansionista, em que o estado não interfere diretamente na sua própria economia, mas invade belicosamente, ou culturalmente, com o fim de se impor para satisfazer suas necessidades econômicas. Isso acontece quando o território já não agüenta o seu próprio peso e necessita a aquisição de novas fronteiras de mercado consumidor e de fonte de matéria-prima.  O outro grupo era o dos fascistas, cujo conceito só seria elaborado anos antes da  Segunda Guerra, mas que já se manifestara desde o começo do século. Nesse caso, a economia é capitalista, de mercado, mas em uma segunda grandeza. Com a necessidade de proteção de seu próprio mercado, o estado  voltou-se para a defesa de seu espaço interno, sustentando e difundindo um nacionalismo tão intenso que  caiu numa xenofobia.  Por fim, estavam os comunistas, uma tendência de política econômica planificada que defendia a exclusão da propriedade privada dos meios de produção, voltando-se para os próprios conflitos sociais. Sendo assim, os comunistas travavam um  enfrentamento ideológico contra os interesses dos mercados imperialistas e da xenofobia fascista.  Ocorre que os fascistas, com seu nacionalismo, defesa de um elite econômica nacional e perseguição ao estrangeiro,  angariaram a repulsa dos dois outros. Em fim, travaram-se os conflitos, os fascistas foram vencidos e o mundo foi dividido entre comunistas e capitalistas - ou imperialistas, como alguns preferem.