segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Samba e Oração

Ja se falou que os humanos não vivem sem as inúmeras possibilidades de expressões  artísticas. Pode-se dizer que a música é uma daquelas expressões bastante presentes no dia a dia das pessoas e, no Brasil, entre os seus mais populares ritmos, desponta o samba como um gênero emblemático. Acontece que a música brasileira, e o samba em particular, trás nas ruas raízes as contribuições sócios culturais dos vários povos que ajudaram a formar o que se chama hoje de povo brasileiro. Se por um lado essa forma de arte trás na sua essência uma complexidade, restringindo o samba - as boas composições - a alguns iluminados, por outro, é uma expressão democrática, cuja estética  possibilita a execução e apreciação das mais variadas formas. Nesse primeiro quesito pode-se citar grandes nomes, como Chico Buarque, Noel Rosa, Lamartine Babo e Ari Barroso, entre outros, que se destacaram na confecção dos mais belos sambas e de seus derivados como o choro, o partido alto, o samba canção, a bossa nova etc. O samba tem ritmo basicamente dois por quatro, com andamento variado e aproveitamento consciente das possibilidades dos estribilhos. Esse gênero tanto pode ser cantado ao acompanhamento de grandes orquestras, em grandes teatros, como ao som  de palmas e ritmo batucado na mesa de um botequim. Tradicionalmente o samba é tocado por instrumentos de corda e variados instrumentos de percussão, como o pandeiro, o surdo e o tamborim. Esse gênero é uma expressão musical brasileira, genuinamente urbana e soma traços que atende as características das canções africanas, das canções de rodas portuguesas e das cadências dos cantos indígenas dessas bandas da América. A urbanidade do estilo se dá tanto pelo ritmo, quanto pelas letras, retratando as crenças, o trabalho, o esporte, os relacionamentos amorosos e até os momentos de violência na periferia das cidades.   Enfim, samba é isso: percebe-se nele a preocupação com a existência humana em Lamartine Babo, quando canta Lua Cor de Prata, "Pela estrada do passado / Vou perdendo a mocidade /Na saudade que ficou..."; da mesma forma a preocupação política, em Apesar de Você, de Chico Buarque ao cantar,  "Apesar de você / Amanhã há de ser / Outro dia..." Ou mesmo, a feitura do próprio gênero, quando Vinícius de Moraes explica no seu Samba da Benção que "Fazer samba não é contar piada / E quem faz samba assim não é de nada / O bom samba é uma forma de oração..."

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