segunda-feira, 3 de novembro de 2014
O Brasil e Uma Guerra Para Chamar de Sua
A concepção de mundo do brasileiro precisa contar com as lutas e o sofrimento no trabalho, vivido por sua população, ao longo dos 500 anos de existência do País. Assim, para buscar um entendimento daquilo que é chamado Brasil, é preciso levar em conta que nunca se viveu uma guerra avassaladora em seu território ou um desastre natural, tão intenso, que tenha levado o mais endinheirado dos brasileiros a dividir um mesmo prato de comida com o mais pobre.
Alguém poderia argumentar: "mas as famosas Guerra dos Farrapos, Guerra das Balaiadas, Guerra das Sabinadas, a Confederação do Equador ou a Guerra dos Emboabas, o que foram então?" Ora, todas elas foram nada mais que revoltas pontuais e cada uma, solucionada a partir de acordos que levaram vantagens aos dois lados do conflito.
Sim, a exploração do homem sobre o homem ocorreu ao longo da história brasileira, com todo o requinte de opressão e mandonismo. Mas isso aconteceu, sempre de forma sublimada: a escravidão, até bem pouco tempo, fora mostrada como algo que ocorrera na tranqüilidade; em Casa Grande e Senzala, Gilberto Freire parece querer mostrar os negros, todos de branco, sorrindo e felizes.
Entretanto, a escravidão brasileira fora escravidão como se é uma escravidão: o indivíduo é propriedade, instrumento de trabalho de um senhor. O que se quer dizer é que o Brasil construiu sua história sob a égide de uma elite branca que calcou na opressão de negros, índios e brancos pobres, assim como a sua tão propalada democracia racial precisa ser revista.
Se por um lado negou-se a crueldade de um sistema escravocrata, por outro, construiu-se uma história de heroísmos com pouco alicerce que lhe dê sustentação. O heroísmo mineiro de Tiradentes que se quis impor como exemplo de amor a pátria, carece de explicações; assim como precisa ser explicado o heroísmo de Duque de Caxias e seus conflitos com o Conde D'Eu.
Ou seja: a elite econômica brasileira, branca viveu por estas terras - até os dias de hoje - com uma mentalidade voltada para a Europa ou para a América do Norte. Uma mentalidade colonial (o que se produz na metrópole é melhor). Talvez seja essa a grande divida: uma grande guerra que envolva cada um. Assim, quem sabe, todos quererão pensar o Brasil, com olhares verdadeiramente de brasileiros.
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