sexta-feira, 23 de junho de 2017

Depois Que Ines é Morta?

Algumas personagens históricas são invocadas quando se quer sustentar, contrariar ou negar situações do tempo presente: Savonarola, Luiz XIV, César Borgia, Gandhi, Che e tantos outros. No momento que brasileiros foram para as ruas pedir a saída de governantes, acusados de corrupção e, como consequências, viu a chegada ao poder de outros mandatários, mas percebe que o corrupto era, na verdade, o que entrou - muito mais do que o que saiu - só resta chorar o leite derramado. Se buscar na história uma personagem para refletir a situação, enfrentadas pelo Brasil desses tempos e os conflitos vividos pela classe média, deve-se ater a Inês de Castro, aquela, cantada por Luiz Vaz de Camões n'Os Lusíadas, "depois de morta foi rainha". Relacionar Ines de Castro com a situação política é, mais ou menos, fazer pergunta: "de que adiantaria o desespero, as lamentações depois que Ines é morta". A história remonta o século 14 da era cristã, ainda em plena Idade Média, durante a formação do reino português, e o fim do reino da Galícia, quando Dom Pedro, o herdeiro do trono, se apaixona por Ines, uma galega, com quem decide se casar contra as vontades de seu pai, Afonso IV, influenciado pela nobreza. O rei sentindo-se contrariado e mandou matar a amada de Pedro, para o desespero do infante. Mas eis que, alguns meses depois o rei Afonso falece e quem sobe ao trono é o jovem amante, como Dom Pedro I que, de imediato, mandou executar os assassinos de Ines. Em seguida - para a festa de coroação - mandou retirar os restos mortais da amada, arruma-la com as melhores vestes, para, sentada ao seu lado, ser entronada como rainha. Luiz de Camões conta que, como parte final da cerimônia, todos os nobres presentes foram obrigados a beijar a mão do novo rei, como era de costume, e de sua esposa, a Dona Ines de Castro. Por longos séculos a história da audácia do jovem Pedro e a lealdade a sua amada Ines foi contada pela tradição oral, de vilarejo em vilarejo, por toda a península ibérica, de modo que a ficção e a realidade se misturaram e o que se sabe são informações dispersas. Mas se tem como certeza de que um príncipe, chamado Pedro, teve sua amada assassinada e, ao subir ao trono, desenterrou-a e fez os nobres beija a mão da defunta rainha. A verdade é que em meio às intrigas políticas, defesa de interesses particulares, quer sejam os nobres do início do reino português, ou do Brasil atual, manipulam-se as informações e levam-se as pessoas mais incautas a agirem conforme as suas vontades. Um frase popular diz: "depois do mal feito, chorar não é proveito"; ou: não adianta coroar rainha, depois que Ines é morta.

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