quarta-feira, 28 de junho de 2017

O Indivíduo, Entre o Público e o Privado

Dois universos giram em torno do indivíduo humano, de onde emanam todos os seus saberes, assim como todas as suas vontades, felicidades e frustrações: o mundo público e o mundo privado. Por mais que o conceito de indivíduo seja "o que não se divide", esse ser vive, em si, duas entidades, uma carregada das suas necessidades e vontades particulares, portanto privada, que em grande parte são amainadas para dar lugar ao público, ao que é aceito pelo outro indivíduo. No entanto, esses dois universos interferem um no outro, simultaneamente, com maior ou menor intensidade, dependendo de uma pessoa para outra, levando em conta seu modo de pensar, seu grau de instrução, faixa etária, cultura e diferenças de toda ordem. A administração dessas interferências acontece em cada indivíduo a partir de sua capacidade de se perceber no grupo como um ser que se reconhece como indivíduo, um ser em si, mas que tem a necessidade do grupo para manter sua existência com razoável conforto e dignidade. No recôndito de um quarto de dormir a pessoa solitária pode experimentar as suas mais tranquilas particularidades como cantar, mirar-se no espelho em caretas e sorrisos, assim como contemplar seu próprio corpo nu etc. Na medida que uma segunda pessoa adentrar no recinto, por mais íntima que essa seja da primeira, desfaz-se de imediato o mundo privado e começa uma interação com esse outro. No espaço público nunca se é um só - uma pessoa, duas três ou uma multidão estão a volta e isso interfere diretamente nas decisões de cada ação que se vai tomar. Certamente que precisa ser levado em consideração a noção de posse de cada sociedade (propriedade privada ou coletiva), para se pensar o que se pode decidir por uma ação ou outra. Por outro lado, a maior parte das pessoas, quando saem da sociedade, essa sociedade permanece dentro delas. Por exemplo: numa ilha deserta, um náufrago pode ter dificuldades para tirar as roupas molhadas e ficar nu por um período até que as seque. Ou seja: os valores, fenômenos recebidos socialmente, estarão presentes mesmo isoladamente. É a consciência desses dois universos, público e privado, que forma um indivíduo, tanto da pessoa em si, para uma vida de entendimento e dignidade, quanto para o cientista social que busca conhecer esse fenômeno, quanto para o profissional das áreas humanas que busca o conhecimento social para a execução dos seus trabalhos. Acontece que a condição de pessoa, a sua construção, só acontece com mais pessoas, mas no recôndito do seu quarto, ou na ilha deserta, esse continuará a ser pessoa.

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