quinta-feira, 3 de abril de 2014
Terrorismo, o conceito e o medo
O pensador francês Gilles Deleuze, em seu livro O que é a Filosofia? argumenta que o objeto central da discussão filosófica é o conceito. O sentido que eu atribuo à palavra é o que forma o entendimento do discurso. Immanuel Kant propõe que antes de qualquer conversa é preciso discutir os conceitos: "Todos os conhecimentos, isto é, todas as representações conscientemente referidas a um objeto, são ou intuições ou conceitos..." (verTugendhat, Lição 11, Apêndice).
Penso em conceito quando ouço, com tanta facilidade, as pessoas atribuírem a determinados ativistas políticos, religiosos ou ambientalistas a pecha de terroristas. E se é para discutir conceitos, vamos por parte: o que venha a ser terror? Para alguns a invocação do mal, qualquer coisa de aspecto feio, horroroso, ou seja: algo que provoca o medo. Quando se ameaça o outro, acusando-o de terrorista esta-se impondo o medo a alguém em especial, ou a um grupo de pessoas.
Ora, algumas palavras são usadas com sentidos diferentes por aqueles que fazem parte do grupo e por aqueles que não fazem parte. Por exemplo: mito é sempre o de outros povos, nunca é o meu - o meu é sempre religião, é fé; da mesma forma o folclore, é sempre as danças e os folguedos de outros povos ou de outras épocas, nunca as minhas, nunca as de hoje. Da mesma forma a palavra terrorista, ela é sempre dita por grupos adversários, contrários às ações. Já os membros do grupo envolvido, os têm como heróis, como guerreiros, mártires e assim por diante.
Em O Suicídio, Emile Durkheim diz que o indivíduo pode chegar a um estagio de anomia altruísta, qual seja: colocar o valor de uma causa acima de um valor maior, a própria vida. A Historia está carregada de casos de personagens cristãos, santificados por colocarem a sua causa acima da própria vida, o mesmo pode-se dizer dos kamikazes japoneses, ou dos homens bombas muçulmanos.
Enfim, analisando o caso mais de perto: chamar alguém de ladrão é, de imediato, já ter julgado e condenado o tal indivíduo envolvido; assim também, é chamar alguém de terrorista. Quer dizer, é - de prontidão - posicionar-se politicamente de um dos lados do conflito. Ou seja: se digo que são terroristas, estou de um lado do conflito, se digo que não são terroristas, estou do outro lado. Uma questão de conceito, ele expressa os meus valores.
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Puxa, acho que nunca havia pensado, nesse caso específico, de como o jeito de DIZER define meu posicionamento. Muito bom para refletir!!
ResponderExcluirPior é que às vezes nos posicionamos, não pela causa em si a ser defendida por um e outro lado, mas pela proximidade que estamos desse ou daquele, pela empatia do credo, da descendência, do estilo de vida...
ResponderExcluirE quando nos colocamos em um determinado lado por sermos massa de manobra de quem controla as informações, a nossa educação?
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