segunda-feira, 22 de junho de 2015
Belchior: Filosofia, Canção e Existência
"Eu sou apenas um rapaz latino-americano / sem dinheiro no banco, sem parentes importantes / e vindo do interior"; assim se define Antônio Carlos Gomes Belchior Fontenelle Fernandes, um dos autores das mais belas e inteligentes letras músicais no Brasil. Esse rapaz latino-americano é um cearense de Sobral, estudou Filosofia, Ciências Humanas e fez quatro anos de Medicina - trancando a matrícula para se dedicar integralmente à carreira que se mostrava como promissora.
Belchior, como é conhecido, expõe nas suas letras a própria existência na luta pela sobrevida de um nordestino - como ele mesmo descreve: "jovem que desce do norte / disso o Newton já sabia / cai no Sul, grande cidade". Diz ele que naqueles dias de sofrimento, muitas vezes dormiu nas ruas de São Paulo e do Rio de Janeiro, quando cantou em cabarés, teatros, escolas, hospitais e presídios, sempre retratando uma preocupação com a própria sobrevivência e sua perspicaz observação das relações sociais.
Suas musicas são lembradas pelo público em geral nas vozes de vários intérpretes da música popular brasileira - de Elis Regina, a Jair Rodrigues e Engenheiros do Hawai, entre outros - mas poucas são as pessoas que lembram das músicas gravadas pelo próprio autor. Alias, poucas são as pessoas que conhecem as letras das suas canções ou as identificam como de sua autoria; mesmo os cantores de bares, em geral, não conhecem suas letras na íntegra.
Sem o pedantismo de alguns eruditos, Belchior constrói suas letras demonstrando um profundo entendimento da sobrevida humana, a partir das contradições modernas, sob a ótica dos conflitos sociais. Ele evidencia não só as contradições sociais, mas também as lutas pela sobrevivência, os amores, os anseios, os medos e as frustrações de homens e mulheres. Assim também ele afirma o papel da música, e da arte de um modo geral, nessa luta dos deserdados pelo regime econômico vigente.
"Eu não estou interessado em nenhuma teoria / nessas coisas do oriente, romances astrais / Minha alucinação é suportar o dia-a-dia / meu delírio é a experiência com coisas reais", escreve ele em Alucinação, demonstrando a sua intensa veia poética em uma profundidade filosófica. Ou em Como Nossos Pais, quando canta: "Minha dor é perceber / que apesar de termos / feito tudo, tudo, tudo / tudo o que fizemos / ainda somos os mesmos - e vivemos / ainda somos os mesmos / e vivemos / como os nossos pais".
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