segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Colares ao Pescoço: a Fé e a Vaidade

Para sociólogos, antropólogos, arqueólogos e pré-historiadores o que caracterizaria o surgimento da humanidade – o homem moderno - seria o achado de ossadas que traziam ao pescoço colares de contas e de dentes dos animais dos animais encontrados na região. Acreditar que esses seres com colares presos ao pescoço poderiam ser definidos como os primeiros humanos leva-se, inevitavelmente, a uma definição própria do que são essencialmente os humanos. Para os estudiosos os colares poderiam ser postos ao pescoço por dois motivos: por vaidade ou o início de alguma crença religiosa. Acontece que os humanos são dotados de consciência da sua existência e de tudo que o cerca - tanto uma noção de vida e de morte - quanto da própria aparência, o que o leva a uma tentativa de domínio das situações. Se o colar fora posto ao pescoço por razões estéticas acreditando-se que com ele o usuário seria mais belo diante dos seus semelhantes, essa prática é, por si, uma interferência diante do corpo. Nesse caso, o ato expressa uma complexidade de pensamento, tendo em vista que se conhece a diferença entre a noção de belo e de feio e que poderia levá-lo a ser aceito diante dos demais. Se não for por base estética, mas de cunho religioso muda-se da noção de belo e de feio e encaminha-se para outra complexidade de pensamento; agora apela-se para a proteção de um deus, dos espíritos dos antepassados, ou das mais variadas entidades. Reside aqui também uma tentativa de controlar o que está posto; agora o colar no pescoço representa a necessidade de ajuda. Com o colar solicita-se a ajuda de forças superiores, também uma forma de interferência diante do que está dado. O bicho humano ao dotar-se de consciência se percebeu no mundo e isso significa que teve noção dos fenômenos da natureza que o cercam, e até de que faz parte da mesma, e se desesperou diante do desconhecido. No seu espanto, diante dos fenômenos a que está submetido, esse humano criou os mitos como forma de explicar e de controlar o que está a sua volta; mas em algum momento essas explicações já não são mais suficientes e caminhou para explicações, diante do espanto caminhou para a filosofia. Dispensando agora colar, a ciência e a religião – canais que diluem a vaidade, cada uma a seu modo, expressam essa necessidade de interferência que o humano tem na própria natureza; a diferença é que a religião espera que essa interferência ocorra a partir de uma ação externa – uma divindade - e a ciência, uma forma de se impor do individuo.

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