quinta-feira, 29 de maio de 2014

O Sábio, o Tolo e a Sabedoria

Sócrates, quando andava ele pelas ruas de Atenas, questionando seus interlocutores, fazia perguntas,  levando-os a perceberem o quanto não sabiam; para ele, o saber está ligado diretamente á percepção da própria ignorância. Pensando assim, um dia, o grande ateniense expressou sua mais famosa frase, "Só sei que nada sei"; nesse momento, estava mesmo era inaugurando a história da epistemologia ocidental. Quando seus discípulos consultaram o oráculo e perguntaram, quem era o homem mais sábio, a resposta foi: Sócrates é o homem mais sábio. Este, ao saber, ficou sem entender, como poderia ser ele o homem mais sábio, se tudo o que sabia era o quanto não sabia. Mas, após alguma reflexão, aceitou; sim, o homem verdadeiramente sábio é aquele que percebe o quanto não sabe. Essa mesma máxima ficara incrustada também no pensamento cristão quando Jesus de Nazaré afirmara aos seus ouvintes que era preciso nascer de novo para entrar no "reino de Deus". Foi quando o fariseu Nicodemos teria dito, "porventura poderia eu novamente entrar no ventre de minha mãe?" E o mestre Jesus lhe teria dito, é preciso nascer do espírito. Afinal, a busca pelo conhecimento somente será possível se o indivíduo percebe o quanto ainda não sabe, se percebe o quanto necessita saber; como é possível por algo em um recipiente que estiver cheio?  Alias, essa é uma das premissas mais importantes no campo da pesquisa cientifica, a busca pelo conhecimento só acontecerá quando se tiver a consciência da ignorância. Ou seja: o sábio não é aquele que sabe o quanto sabe, mas aquele que sabe o quanto não sabe; assim, o tolo é aquele que não sabe o quanto não sabe. E esse não é apenas um jogo de palavras, mas uma cruel realidade que se percebe nos discursos das pessoas - quando se expressam sobre os mais variados temas. Curioso é que o tolo não é alguém que nada sabe; sim, pois aquele que nada sabe, nem mesmo tolo poderia ser. Então o tolo é aquele que sabe algo - mas sem qualquer comprovação racional, um saber que é comprometido por verdades ideológicas, políticas ou religiosas. Ou seja: ele acredita que os seus saberes são já necessários o bastante para satisfaze-lo e inseri-lo nos debates em pauta. Por isso, tanto Jesus quanto Sócrates, enfatizavam que era preciso nascer de novo, era preciso admitir que nada sabe.

Um comentário:

  1. Perfeito.... Coube como uma luva na atual situação de discussões político-partidárias que fervilham nas ruas e redes sociais... muitos tolos se julgam doutores da verdade suprema, esbravejam com arrogância frases prontas sem nem ao menos se dar conta de que simplesmente reverberam o que a mídia, tendenciosa, tenta propagar....

    ResponderExcluir