segunda-feira, 28 de março de 2016

Entre o Reino do Senso Comum e a Ignorância

Por mais que se relacione modernidade com racionalidade e por mais que nos tempos atuais se desenvolvam equipamentos de alta tecnologia, o que se percebe em tempos recentes é o senso comum como um fenômeno crescente, real e determinante na análise de situações sociais, políticas e culturais. Cada vez mais as pessoas se lançam em opiniões despidas de qualquer segurança de comprovação sobre relacionamentos, sobre governos e suas decisões econômicas, políticas etc. Apesar de que isso não é algo próprio da era moderna. Na antiguidade Platão já sabia muito bem separar o que chamou de “doxa” - um conhecimento não elaborado, uma mera opinião e “episteme” - um conhecimento que é emitido a partir de uma investigação produzida com métodos rigorosos, hipóteses definidas e suas comprovações, o que mais tarde se chamaria de científico. A explicação que se pode dar é que o conhecimento acontece com tal complexidade que o indivíduo acredita que as informações até então por ele retidas são suficientes para emitir juízos sobre as mais variadas situações. Isso porque todos os indivíduos ou são pais ou filhos, irmãos, vivem a economia, assistem televisão, ou acompanham as redes sociais, e acreditam que isso deva ser suficiente para saber sobre algo. Diante das mais variadas situações o cérebro reage e tira suas conclusões de imediato e se a pessoa não tiver um controle psíquico ou neurológico vai agir ou emitir os mais estranhos pareceres, ridículos, mas que para ele é o real. Se todos são pais, filhos ou irmãos, se todas as pessoas se relacionam, seguem suas crenças, se vivem a economia ou se vivem a política da sua sociedade - são as áreas que tratam dos relacionamentos humanos as mais afetadas pelo senso comum. Que todos pensem sobre o que está a sua volta é algo humano, mas há um distancia entre o que se pensa e a ação que se realiza diante do que se pensa, ou que se fala ou escreve diante de veículos que podem levar tais afirmações a milhões de pessoas. De uma forma superficial pode-se dizer que sim, as pessoas sabem algo sobre aquilo que o rodeia, mas não o suficiente para pareceres tão categóricos. Por isso um sábio tenha tanta dificuldade em fazer juízos de valor, mesmo sendo ele quem efetivamente sabe, enquanto o tolo grita aos quatro ventos aquilo que não sabe. Isso porque o sábio sabe o quanto sabe e o quanto não sabe, se assusta diante do quanto não sabe e opta por aquietar-se; o tolo não sabe o quanto não sabe, por isso pensa que sabe e põe-se a tecer meras opiniões. Doxa.

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