segunda-feira, 11 de abril de 2016

A Razão, o Espanto e o Mercado

A filosofia é genuinamente humana e ela nasce com o espanto, a estranheza, uma sensação que ocorre quando as pessoas olham ao seu redor e buscam explicações como uma forma de estabelecer um cosmo em meio ao caos. Sem o espanto não haveria o pensar e, conseqüentemente, os conhecimentos daí originados. Isso fora o que disse o pensador estagirita, o macedônio Aristóteles, ao analisar os conceitos formulados por seu mestre, Platão: doxa e episteme. O primeiro conceito fora entendido como uma mera opinião, desprovido de análise, de estudo e de qualquer comprovação e, o segundo, o seu contrario - o conhecimento elaborado, investigado, comprovado etc. Buscando dos pensadores antigos pode-se pensar os tempos atuais e a possibilidade, ou não, de os humanos se chocarem, se apaixonarem ou se indignarem com o que ocorre ao redor. Estaria o homem do século XXI impossibilitado de se espantar diante do que está a sua volta, essa que é a condição primordial e que, portanto, dá aos humanos a possibilidade de transformar o mundo? Certamente que não todos, mas uma parcela considerável suficiente para continuar a mudar a cara do mundo atual e selar os destinos. Se uma parcela da humanidade perdeu a capacidade de se indignar, de se espantar ou de se apaixonar, duas perguntas se tornam inevitáveis: para onde caminha a maioria desses humanos? ou, quais as causas desse fechamento em si, vivido pelas pessoas? A primeira pergunta não tem resposta, já que não existem profetas a dizerem os caminhos e todos os saberes são voltados apenas ao passado. Restando a segunda pergunta. Sendo assim, faz-se necessário que se volte para essa tal modernidade construída a base da razão, mas que foi corroída pelo mercado; inventaram-se os meios de comunicação, mas transformaram-no pela busca incessante de lucro. O que deveria informar passou a ser muito mais um formatador de pensamentos e as pessoas param cada vez mais de se espantarem, acreditando já saberem. E assim, as hordas de tolos se avolumam a caminharem pelas ruas, “tentando vencer na vida”, crentes de que são livres, que dão a melhor de si para educação dos filhos e que, ao morrerem, merecerão o galardão celestial. Qual nada. Reproduzem um sistema injusto e que se volta sempre contra si e contra os seus filhos.

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