quarta-feira, 27 de abril de 2016

Classe Média e Contradição

Entre os mais ricos e os mais pobres de uma dada sociedade, reside uma parcela chamada, desde o século 18, como classe média. Comumente se reserva a denominação ao sistema capitalista, mas bastante já se usou para designar a parte da sociedade medieval que pairava entre os senhores proprietários de terra e os camponeses despossuídos, ou um pequeno grupo de homens livres entre os senhores feudais e os servos da gleba. Por estar no centro das contradições, essa parcela da sociedade acaba experimentando parte das mordomias da classe superior, tanto quanto parte das dificuldades da inferior. E, nessa contradição, vive um eterno paradoxo: almeja viver como os indivíduos da classe alta – fazer grandes viagens, almoçar em restaurantes caros, usar roupas caras ou comprar carros da ultima linha, mas faz isso contando os trocados, e se apavora quando vislumbra a possibilidade de ter que viver em meio a pessoas da classe baixa. Em qualquer sistema social essa parte intermediária vive o seu paradoxo, espremida entre as duas outras possibilidades, mas, na sociedade capitalista, em que as classes vislumbram a mobilidade, as disputas são ainda mais acentuadas. Nos tempos atuais, pensando em ascensão, mas sem capital, os indivíduos pertencentes a esse grupo procuram as profissões liberais, os pequenos negócios ou fazem concurso para algum cargo na burocracia estatal. Também politicamente esse grupo vive uma contradição: ao se sentir prejudicado por decisões governamentais, recorre sempre aos indivíduos da classe baixa para, juntos, lutarem contra tais encaminhamentos. E faz isso com relativa facilidade porque detém em suas mãos os instrumentos formadores de opinião, desde as salas de aulas, o consultório ou o escritório, até os jornais, as rádios, as televisões etc. Assume um discurso político de defesa de um sistema social favorecedor da classe rica e, em nenhum momento, percebe que os seus males vêm do privilégio desses a quem defende. O estranho é que quando visitam países ricos - que já fizeram as suas reformas de base e que as suas desigualdades sociais já foram amenizadas - acham tudo muito lindo, mas se posicionam contrariamente quando os governos locais tentam desenvolver alguma política social que resolva resgatar a dignidade dos mais carentes. E fazem isso com seus discursos sociais moralizantes (em geral, homofóbicos e racistas), defendendo a família, os bons costumes, a pátria e a igreja. Como precisam ostentar, prezam pelo meio termo, pelo imediato, pelo superficial e tudo que dê algum retorno rápido. Enfim, o indivíduo da classe média nasce, vive e morre em meio a uma guerra existencial; não consegue saber para onde vai nem de onde vem, ou o que faz aqui.

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