quarta-feira, 7 de janeiro de 2015
Brasileiros: os Colonos e a Metrópole
Uma dificuldade na crítica ao modo de ser do brasileiro é quando se quer chamá-lo de colono; a primeira idéia que chega e se forma é que está se referindo ao homem do campo. Bem dizia o pensador alemão, Immanuel Kant, quando discutia a formação do conhecimento: antes de qualquer debate é preciso que se combine o conceito. Nesse caso, o conceito de colono que se quer tratar nao é o que se entende pelo senso comum.
Desde muito cedo a palavra é usada indevidamente no Brasil; o fato de ser agricultor, de ser um camponês ou um lavrador, nao é o que determina a condição de colono. Os dicionaristas da Língua Portuguesa definem como colono os indivíduos que, agrupados, povoam uma dada região sem deixar de manter relações com sua sociedade de origem. Ou seja: um indivíduo inserido em uma nova terra, mas que mantém ligações com a metrópole, sua terra de origem, preservando seus costumes e com dificuldade de se inserir em um contexto novo.
Passou-se a usar a palavra como sinônimo de homem do campo nos tempos da imigração européia, quando os agricultores recém-chegados fechavam-se em determinados círculos de acordo com as suas origens étnicas. Esses imigrantes eram colonos pelo fato de viverem no Brasil, mas distantes das condições culturais, econômicas e políticas locais. Alguns falavam de viverem num estado dentro de um outro estado: os colonos alemães no Brasil viviam as condições da Alemanha, os italianos, as condições da Itália e daí por diante.
Assim se pode afirmar agora que uma linha colonialista perpassa a mentalidade geral do brasileiro porque se tenta construir uma realidade local, atrelada a antigos laços europeus. Ora, desde os primórdios, os primeiros a chegarem no Brasil tiveram a intenção de acumular riquezas e na primeira oportunidade voltar para gastar na Europa; não conseguiram, mas passaram essa visão de mundo para os filhos que também nao conseguiram, mas que transmitiram aos filhos dos filhos.
Então, tem-se hoje uma massa de colonos: pessoas nascidas e criadas no Brasil, vivendo como cidadãos brasileiros, mas que para elas o melhor é o que está lá fora e na primeira oportunidade vai para a metrópole gastar, tirar retrato em espaços públicos e até se sentir europeu. Isso faz lembrar o que disse a economista portuguesa, Maria da Conceição Tavares: muitos brasileiros analisam seu País com a traseira virada para o Brasil e a frente para a Europa.
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