quarta-feira, 14 de janeiro de 2015
França, Charlie e a Política Mundial
Enquanto uns afirmam "je suis Charlie" - outros, "je ne suis pas Charlie", entretanto, parece que poucos se dão conta da dimensão do que o atentado de Paris provoca nos rumos político-ideológicos pelo mundo a fora. Não se quer aqui buscar um determinismo histórico e social, mas seguir um entendimento de que o assassinato dos cartunistas franceses, os fatos que sucederam e os que ainda deverão advir, devem ser entendidos dentro de um espectro da política mundial.
Não se trata de condenar assassinatos ou publicações desrespeitosas, mas de verificar o que representam as duas atitudes diante de uma conjuntura que já vem se formando há décadas, assim como os desdobramentos. Também nao se trata de antever a união das potências ocidentais contra um ato cruel, entendendo como necessidade comum, um ato contra a "civilização".
A importância do fato está nas franjas do acontecimento. Afinal, o que representa Paris para o mundo? Ou, o que representa a imprensa para a modernidade e a tal liberdade de imprensa? Ora, a revista Charlie Hebdo surgiu em 1970, com publicações irreverentes, politicamente incorreta, de cunho anarquista e com a distinção: "Um jornal irresponsável". Mesmo simpática para a esquerda francesa, suas publicações titubearam entre visões políticas esquerdistas e direitistas, fazendo e desfazendo adeptos e inimigos.
Um outro ponto: qualquer assassinato deve ser condenado, mas se os disparos tivessem ocorrido em Trinidade e Tobago ou no Timor Leste não haveria essa convulsão internacional, mas foi na França, o palco da grande revolução que separou o antigo do novo regime. O atentado ocorreu na França que ensinou ao mundo as regras da etiqueta, assim como ensinou que deve ser "proibido proibir", que é preciso mudar o mundo, transformá-lo.
Quando as pessoas afirmam que são ou não são Charlie não se dão conta de que tanto membros da esquerda mundial, quanto da direita, não são unânimes em seus blocos na defesa ou ataque a linha editorial da revista. Aliás, a marcha de repúdio ao atentado reuniu democratas, liberais e os maiores ditadores sanguinários pedindo paz. E aí, atônitos, socialistas revolucionários, liberais capitalistas e fascistas xenófobos, buscam um sentido político para os ocorridos.
O interessante é que as grande ideologias que movem os dois lados do atentado de 07/01/2015 não são provenientes do confronto capital-trabalho, mas de uma frenética necessidade de vender mais e mais revistas para assim acumular capital, de um lado e um fundamentalismo religioso, intransigente, de outro. Enfim, nesses tempos de pós ou neo-guerra fria, nesses tempos em que essa mesma França - outrora revolucionária - se vê "endireitando", o atentado aos cartunistas vem com um grande legado, uma chamada de atenção de que é preciso redefinir as políticas mundiais: o que se entende por autonomia dos povos, por liberdade religiosa e o que se entende por liberdade de imprensa? E outras mais.
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