quinta-feira, 9 de julho de 2015

A História, os Homens e suas Lutas

Os primeiros relatos históricos contam a origem dos povos, as façanhas dos governantes e a bravura dos deuses, se confundem com o pensamento mítico e o nascimento das grandes religiões. Aquilo que num primeiro momento era apenas um conjunto caótico de relatos - propagados pela tradição oral, mnemônica, aos poucos foi sendo compilado e substituído por textos escritos, agora elaborado por profissionais especializados. Assim, dos grandes feitos de deuses, imperadores e generais - dos relatos de guerras, revoluções, batalhas, invasões e entradas triunfais - a história mudou o rumo nos últimos tempos e pôs-se a enxergar também as pessoas e os fatos comuns da vida em sociedade. Foi sob esse prisma que no início do século 20 os franceses, através da Escola dos Annales começaram a relatar outros pontos importantes na vida humana, como a história do quarto de dormir, a história dos loucos, a história da comida, a história da música e assim por diante. Acontece que as pessoas vivem e, para manterem-se vivas precisam comer, beber, abrigar-se sob um teto, vestir-se, além de suprir outras tantas necessidades e, para isso, precisam trabalhar. Trabalhando as pessoas transformam a natureza produzindo bens de uso, realizam serviços e se relacionam. Ora, na intensa luta pela existência as pessoas amam, odeiam, esperam, se desesperam, fazem guerra proclamam a paz, produzem a arte, a ciência e todo um conjunto de técnicas e manejo das ferramentas. É daí que surgem suas instituições: a igreja, o estado, a família, a escola e tantas outras, responsáveis pela modelagem do indivíduo a um tipo de vida aceitável pelo seu grupo. E a história nada mas é que os relatos de tudo o que as pessoas realizam, pensam, acreditam e escrevem nas suas árduas tarefas de existirem. Assim, todos os humanos fazem história, mas somente esses a fazem. Isso porque é somente essa espécie que quando transforma a natureza num bem o faz com consciência; quer dizer: as pessoas só são pessoas porque possuem uma lembrança do seu passado, do seu labor no dia a dia. Seres animais, mesmos constituídos como sociedade, que não possuam consciência do grupo ao qual pertencem, que não possuam um pensamento sobre seus antepassados ou uma noção de onde vieram e pra onde querem ir, não podem ser chamados de humanos. Os humanos são - necessariamente - políticos, possuidores de memória e, assim sendo, constroem todos os dias os seus próprios destinos.

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