segunda-feira, 20 de julho de 2015

Ainda Medievais

A era moderna para os historiadores é um período datado com o início em 1453, na Tomada de Constantinopla pelos turcos otomanos, e o fim em 1789 - com a Revolução Francesa, quando então começaria a Idade Contemporânea. Entretanto, para os estudiosos da cultura, das artes e da filosofia essas datas estabelecidas como fixas, não são muito levadas em conta tendo em vista que o conceito de moderno transcendeu o que fora estabelecido originalmente. Modernidade passou a ser muito mais um modo de vida humana que vem sim desde o período medieval, mas que caminha até as últimas décadas e se caracteriza por uma pretenção ao extremo racionalismo. Um período marcado por uma forma de viver em que se buscou desenfreadamente um antropocentrismo, mas que acabou caindo em um outro teocentrismo - a moda do medievo - em plena era moderna. Quanto mais o homem moderno buscou por afastar-se das verdades teológicas, se pretendendo mais racional que outrora, mais construiu outros dogmas, outros conceitos tão fortes e tão fechados quanto o que já ocorrera no período medieval. De modo que se um ser extraterreno por ventura aqui parasse, como observador externo, certamente não veria diferenças e diria que o medievo vem até as últimas décadas e o início do terceiro milênio. O que os estudiosos caracterizam como sendo modernidade é uma visão de mundo que tem como pano de fundo uma autonomia burguesa, uma pretensa independência em ralação a tudo que está a volta do indivíduo e um pretenso domínio sobre toda a constituição da natureza. Essa independência e esse domínio se construiria a partir de uma profunda racionalidade política, econômica e científica. As congregações medievais dos agostinianos, dos franciscanos e dos beneditinos enfraqueceram e deram lugar às congregações modernas dos biólogos, dos físicos, dos astrônomos e dos sociólogos; todas agora, também pensando que são as únicas que devem ser aceitas como necessárias. Por outro lado, o Deus - senhor do universo - que fez o céu e a terra e que julga as pessoas no final dos tempos sucumbiu, dando lugar a um deus - senhor que individualiza as pessoas por igrejinhas e possibilita ascensão social e liberação de bens materiais. As pessoas ainda querem ser denominadas por suas corporações de ofício: juristas, pedagogos, biólogos, engenheiros e ninguém pode atuar fora da confraria, apenas depois de iniciado por quatro, cinco ou seis anos em uma faculdade credenciada pelo estado. Enfim, verdadeiramente a Idade Média ainda não acabou. Não acabou porque os humanos continuam com os mesmo cacoetes existenciais: mudaram-se as posições dos deuses, mudaram-se os focos das vontades pessoais, criaram-se máquinas maravilhosas, mas a estrutura de pensamento não mudou: ainda somos medievais.

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