quinta-feira, 30 de julho de 2015

Espaço Urbano e Conservadorismo

Em pouco tempo, com uma intensa migração interna, a sociedade brasileira mudou profundamente suas características, transformando-se de rural em urbana. Há, mais ou menos, seis décadas havia no Brasil por volta de 80% da população no campo e em pequenas localidades e o restante nas cidades de médio e grande porte. Passado esse tempo tudo se inverteu e o país passou a ter essa população nos grandes centros ávidas de todas as "benesses", próprias do espaço urbano. Ocorre que a grande concentração urbana, mormente com pessoas oriundas do campo, tem alguns pontos a serem levados em conta em qualquer análise política que se queira séria. Um primeiro ponto a ser levantado é a própria concentração que, como em todos os países não desenvolvidos, significa a formação de bolsões de pobreza, de segregação social, de falta de equipamentos públicos adequados para servir a população (escolas, postos de saúde e praça de lazer), além de saneamento básico, transporte público etc. Afinal, todos os países hoje ditos desenvolvidos, só conseguiram sair dessa situação com esforço conjunto de toda a população. Outro ponto a ser destacado é que o deslocamento populacional do campo para a cidade leva, necessariamente, a uma alteração da cultura desses indivíduos; da vida pacata, conservadora e interiorana, para uma existência conturbada, caótica e frenética das grandes cidades. Acontece que o homem do campo foi moldado em seu meio há muitas gerações, portanto tem um tipo próprio de camponês que ao deslocar-se para os grandes centros vai estar fragilizado diante das várias ofertas do mundo urbano: a intensidade das mídias, o imenso cardápio de diferentes religiões, a oferta fácil de drogas, as doces promessas políticas etc. Mas o problema maior é que parte dessa população camponesa - agora urbanizada - tornou-se classe média e como tal, tudo faz para ostentar a sua condição através do carro novo, da casa, ou precisa desesperadamente viajar para os Estados Unidos a fim de conhecer a Disney ou copiar as últimas modas do exterior e, se possível, sem muito esforço, conquistar um diploma de formação superior. O resultado disso é uma sociedade conservadora, medrosa, legalista e patriarcal que pensa ser possível tornar-se desenvolvida (com diminuição da violência, com saúde eficiente, com educação de qualidade e investimento em estradas e portos) sem o menor esforço.

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