quinta-feira, 2 de julho de 2015

Despedida e Saudade: Sofrimento

A vida humana não é feita somente de sangue, ossos e carne, nem só de arte, razão e ciência, mas também de encontros e desencontros, de chegadas e partidas, de tristezas e saudades. Em algum momento a felicidade do convívio, as brincadeiras, o conforto dos encontros, a certeza e a satisfação pela partilha, num outro - tudo desfeito - a tristeza da partida e a dor pela ausência e pela distância. "Oh, pedaço de mim / Oh, metade adorada de mim / Leva os olhos meus / Que a saudade é o pior castigo / E eu não quero levar comigo / A mortalha do amor..." Talvez os versos de Oh, Pedaço de Mim, de Chico Buarque, possam ser os que mais tenham se aproximado da verdade sobre o sofrimento pela ausência. Mas as relações humanas são assim mesmo: os grandes amores um dia acabam, os pais morrem e os filhos - um a um - vão-se para outros lugares, outras paragens a procura de seus próprios sonhos e assim a vida segue do começo em direção ao fim. O certo é que a prosa, mesmos os melhores romances, as melhores crônicas ou os melhores discursos, por mais bem escritos ou falados, não conseguem descrever a dor da partida, a angústia que se trás no peito pela ausência dos seres amados. Apartar daí se constrói pontos de fuga que lembram a própria tristeza: a imagem das estradas distantes, das águas longínquas nos grandes oceanos e até os ares do céu passam a retratar a ausência. É assim, os humanos são racionais e passionais ao mesmo tempo. Tem-se a certeza da necessidade de trabalho na luta diária pela vida, mas sofre-se com a despedida de quem se quer bem. E sofre-se tanto que se passa a ver as coisas, o mundo todo ao seu redor, sem seus contornos que lhe são próprios, sem a beleza do brilho; tudo em preto e branco. Sim, algumas partidas são diferentes das outras, já que as pessoas são diferentes: algumas relações são mais intensas e outras não - algumas até indesejáveis. Tudo depende da intensidade de amor (ou do seu reverso) que se deposita no ser que parte, na necessidade que se tem de tal convívio. Enfim, se a vida humana não é feita só de ossos, carne e sangue, de razão, arte ou ciência, a verdade é que a dor da partida de um ser amado altera o sangue e dói na carne e nos ossos. Nesse momento a razão se dissipa e não há lógica científica que mostre qualquer caminho para o entendimento. Na partida de um ser que se ama só há espaço para a paixão e com ele o sofrimento; e mais, a razão manda que se cale.

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