quinta-feira, 19 de novembro de 2015
Desgraça, Sofrimento e Felicidade
Pessoas se aproximam do local onde ocorreu a tragédia e, em silêncio, colocam velas, flores e cartazes com frases lembrando os feitos dos mortos ou confortando os seus familiares. Os portões das suas casas, as portas das embaixadas de seus países e mesmo o espaço, diante de monumentos históricos, viram - do dia para a noite - verdadeiros altares em memória aos falecidos. E todas essas pessoas permanecem com olhares fixos, demonstrando tristeza diante do ocorrido, de tal forma que se um extra-terrestre - naquele instante - por ali chegasse juraria que os humanos, verdadeiramente, sofrem diante de tais situações.
No entanto, basta que algumas velas aqueçam os vidros, onde foram plantadas e os estouros ecoem por todos os lados, para que a turba ensandecida perca a concentração de pessoas entristecidas, para correr desesperada por sobre velas, flores e cartazes. Isso ocorre porque, ao estourarem os vidros, desfaz-se de imediato a cena montada e algo de terrível vem-lhe a mente: a desgraça ocorrida com aquelas pessoas, concretamente, pode acontecer consigo agora.
Acontece que os humanos aproximam-se das catástrofes não por estarem verdadeiramente condoídos, diante do sofrimento alheio, mas para reforçarem a ideia feliz de que consigo tal situação não aconteceu. Percebe-se, assim, a necessidade de ver desgraças nos jornais e na televisão. Como não fora possível ver in loco, as mídias se encarregam de mostrar, e todos querem ver o motorista esmagado nas ferragens, o traficante baleado no chão ou a mãe faminta que tenta amamentar o filho desnutrido e assim por diante.
Isso explica porque surgem os engarrafamentos nas vias públicas quando, em uma delas, ocorre algum acidente e mesmo que os veículos envolvidos estejam parados fora da pista; nesse instante os motoristas conduzem seus veículos muito lentamente, já que não podem deixar de ver a desgraça ali acontecendo diante dos seus olhos. E se, por ventura, o sinistro não foi tão grandioso, a desgraça não foi tremenda, de imediato vem a desolação e o expectador exclama, "não foi tanta coisa!".
Interessante ainda que a mídia, mesmo mostrando um fato que ocorreu em um lugar distante, pode levar os expectadores a uma maior ou menor comoção, dependendo da força interpretativa do apresentador. Da mesma forma com relação ao local e as personagens envolvidas: a desgraça ocorrida com pessoas famosas ou em lugares glamurosos levam a pessoa comum à necessidade de demonstrar tristeza, como se isso a levasse a um laço de parentesco, a uma aproximação com os envolvidos.
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Às vezes, o humano necessita fazer parte desses momentos de comoção generalizada, mesmo que no íntimo não esteja assim tão condoído, mas porque deseja ser visto por outros humanos em atitude de compaixão e solidariedade... nos dá a sensação de pertencimento. Portanto, desgraça pouca é bobagem, queremos evidência e notoriedade no sofrimento e na morte, desde que não sejamos protagonistas....
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