quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Brasil: a Paz e o Comodismo

Para alguns, o fato de o Brasil nunca ter vivido internamente um conflito de grandes proporções é a maior benção que um país pode querer, mas – para outros – as grandes dificuldades econômicas, políticas e sociais vividas, num constante arranjo e desarranjo, se deve a um pacifismo comodista. Os dois lados podem ter alguns pontos de razão tendo em vista que os países que hoje se firmam em economias estáveis, com grandes investimentos em ciência, cultura e educação, outrora viveram momentos cruciais de guerras com seus visinhos ou conflitos intestinos intermináveis, mas que outros, experimentaram guerras internas e externas e hoje não sustentam fortes economias, possuem deficiências em investimentos sociais e culturais. Se alguém afirma que o Brasil não experimentou conflitos relevantes outro poderá questionar: “o que dizer de uma Guerra dos Farrapos, Guerra do Contestado ou das Balaiadas etc.” Acontece que esses conflitos ocorreram de forma localizada e, geralmente, entre forças regionais contra o poder central, sendo movimentadas por soldados leais e rebeldes; o cidadão comum ficava sabendo pelos jornais. Além do que, em geral, terminavam em acordos a medida que as elites locais conseguiam do governo central aquilo que os levaram a pegar em armas. As outras experiências foram a Guerra do Paraguai e a Segunda Guerra Mundial, mas essas aconteceram fora do território brasileiro e não levou o cidadão comum a vivenciar diretamente o conflito; a não ser pela necessidade de produzir mais e mais para manter os gastos. A população, em nenhum momento presenciou uma intensa mortandade, com forme, doença e toda a miséria, própria de uma grande guerra civil, por exemplo. Os livros escolares até dão algum destaque para esse ou aquele entrevero; e as crianças são levadas a decorarem nomes e datas como importantes para a história. Algumas províncias tentam enaltecer determinadas convulsões sociais que ocorreram internamente, dão a elas um coroamento, mas não passam de tentativas de se construir heróis e fatos como relevantes com o intuito de fortalecer um sistema de dominação. Esses conflitos aconteceram apenas quando os lucros ou os privilégios de um pequeno grupo de poderosos estiveram em perigo. Acontece que os povos que enfrentaram guerras intermináveis viram morrer não só os seus entes mais queridos, mas também os seus preconceitos, as soberbas, a prepotência e o egoísmo. As pessoas que viram seus países envolvidos completamente em um grande conflito perceberam a necessidade de coesão e solidariedade. Isso, porque aqueles que enfrentaram as mais cruéis guerras sentiram no seu próprio corpo a finitude de uma existência: em algum momento tiveram de dividir o cobertor, ou um prato de comida, com o desconhecido ao lado.

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