quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Mito

Um conceito muito usado pelos antropólogos para definir a produção de conhecimentos pelos povos mais antigos, como forma de explicar fatos da realidade e fenômenos da natureza, as origens do mundo e do homem e que não eram compreendidos por eles, é o mito. A complexidade desse conceito está na utilização de personagens especiais, de deuses e de heróis e todos carregados de simbologias; componentes esses que são misturados a fatos reais e a pessoas que, historicamente, sabe-se que existiram. Dessa forma, o objetivo primeiro do mito é transmitir conhecimentos e explicar fatos que a ciência de um povo ainda não explicou e faz isso através de rituais, de cerimônias com danças, sacrifícios e orações. Dizendo de outra forma, um mito pode ter a função de manifestar conhecimentos teológicos, mas também o de explicar temas desconhecidos e tornar o mundo conhecido ao Homem. Entretanto, o mais estranho é que mito é sempre o do outro e nunca o de si próprio; o seu é sempre religião, é verdade a ser seguida, é fé viva. Por exemplo: quando se fala em origem do universo, do céu e da terra, os gregos antigos falavam de Urano e Gaia que deram origem aos titãs, seus filhos, Oceano, Céos, Crio, Jápeto, Hiperião, Tétis, Teia, Febe, Reia, Mnemosine e Têmis, assim como suas façanhas; isso se considera personagens e fatos míticos ou mitológicos. Até porque isso foi uma crença tão antiga e que deixara de existir, há tanto tempo. Mas, quando se fala de um ser onipotente, onisciente e onipresente, que fez o céu e a terra e tudo o que nela há, que mandou seu unigênito filho para livrar a humanidade dos seus pecados, necessariamente, se diz que é uma religião e não mito. Pelo menos quando for analisada por um indivíduo de cultura cristã ocidental. O mesmo acontece com respeito aos mitos dos indígenas brasileiros, quando falam de Tupã e Jaci, representando o sol e a lua e suas relações com as origens do universo, bem como com os fenômenos da natureza. Para o homem branco há um desprestígio para com essa expressão cultural, rebaixando-a a uma condição mítica e, de certa forma, a um degrau inferior. Aí reside a semente das discórdias e guerras por motivos religiosos: todos acham que têm razão, todos pensam que são os únicos que estão no caminho certo e, conseqüentemente, os outros, aqueles que não possuem a mesma compreensão, seguem por um caminho errado.

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