segunda-feira, 22 de agosto de 2016
Os Sertanejos e a Guerra do Contestado
Uma grande prova de que a história serve como instrumento de dominação - contada pelos vencedores - é o pouco, ou nada, que se sabe sobre a Guerra do Contestado, um conflito armado entre uma população cabocla e os representantes da recém-instalada república brasileira. O evento foi travado entre outubro de 1912 e agosto de 1916, numa região rica na produção de erva-mate e madeira, disputada pelos estados brasileiros do Paraná e de Santa Catarina e saldo final de milhares de sertanejos mostos.
Pouco ou nada se sabe sobre a Guerra do Contestado porque os heróis foram sertanejos, analfabetos e pobres que se armaram e resistiram bravamente aos os interesses imperialistas do governo brasileiro. Acontece que esses sertanejos foram capazes de se armarem como puderam e enfrentaram o exército brasileiro que esse teve de usar armamentos pesados, até avião para reconhecimento.
O conflito originou-se basicamente nos problemas sociais da região, decorrentes da falta de uma reforma agrária e da insatisfação com a República. A ausência do Estado era algo notório: o governo abriu as portas da a economia local para as multinacionais estadunidenses sem levar em conta as condições do seu próprio povo ao longo do território.
A única esperança era uma religiosidade sincrética que esses sertanejos, abandonados a própria sorte, a utilizaram como instrumento de aglutinação para a luta. Assim, em torno de uma força popular religiosa, militar e popular, eles enfrentaram os interesses entreguistas do governo da época. Aliás, todo o conflito aconteceu porque os sertanejos contestaram a doação que o governo brasileiro fez aos madeireiros e à empresa dos Estados Unidos, Southern Brazil Lumber & Colonization Company, expropriando madeiras e terras que legitimamente os sertanejos entendiam como seus.
E os fatos desembocaram num entrevero de grandes proporções: um monge, chamado São João Maria que visitara a região havia morrido e o surgimento de um outro, com o nome de José Maria, mas que para os sertanejos era o mesmo que retornava e que também morreu. Um terceiro, também chamado de Jose Maria que apareceu na região, seria o retorno dos outros dois ou era um mesmo monge. A religiosidade desses caboclos era a expressão de um povo abandonado, uma mistura de Catolicismo Romano com expressões religiosas dos povos indígenas e afros da região.
Se pouco ou nada se sabe sobre a Guerra do Contestado, isso talvez seja porque os vencedores sintam vergonha dos resultados do que tivera fim do conflito: além dos milhares de brasileiros mortos, as terras e as madeiras foram sim passadas para a multinacional estrangeira.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário